sábado, 4 de junho de 2011

A norma é...

"Mais uma vez o que a norma pretende proteger é a privacidade, a intimidade, o direito à reserva da vida privada da criança e das suas famílias."
Com estas palavras termina o documento Promoção dos Direitos das Crianças: Guias de Orientações para os profissionais da acção social na abordagem de situações de perigo, assinado pelo Presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco e pelo Presidente do Instituto de Segurança Social. Mas não é apenas na página 236 que tais palavras surgem. Na verdade, elas são uma constante ao longo do documento, em vários passos destacadas em maiúsculas.

Trata-se de uma norma que urge ser incorporada no sistema educativo, dada a intromissão na privacidade e na intimidada das criança e das suas famílias que vários procedimentos e materiais didácticos facultam. Retomo factos concretos, sobre os quais já escrevi no De Rerum Natura:

- questionários/inquéritos e fichas para caraterização de cada aluno e da turma, que fazem um levantamento exaustivo de aspectos sociais e pessoais (e cujos dados, depois de apurados, podem aparecer na internet);
- actividades propostas às escolas por entidades que lhes são externas ou actividades que a própria escola desenvolve numa lógica de contextualização nas vivências dos alunos;
- manuais escolares que exploram até ao mais ínfimo pormenor, e de modo cada vez mais acentuado, o que só aos alunos diz respeito;
- publicitação de actividades de sala de aula, de escola, de viagens de estudos, de trabalhos escolares ilustradas com imagens de alunos em blogues de acesso livre.

6 comentários:

Anónimo disse...

É claro que não concordo com a publicitação de dados pessoais relativos às crianças e jovens que frequentam a escola. No entanto, há informações de sobremaneira importantes, que poderão ajudar ao apoio dessas mesmas crianças, por vezes em situação de risco e que, se não forem fornecidas ao professor responsável pela turma, o impedirão de o fazer, promovendo assim o isolamento e o calar de situações que podem estar a ser muito prejudiciais para as mesmas. O que fazer então? Se puder, responda-me. Será preferível fazer de conta que não se sabe para não se perguntar e, assim, não melindrar ninguém?

cs disse...

A vida privada vasculhada.

Assim se formata.

Qual Foucault; quais "corpos dóceis"; qual Panóptico;Vigiar e Punir; etc etc etc

Fartinho da Silva disse...

Cara Helena Damião,

Infelizmente há muitos professores formatados pelo eduquês que ainda não perceberam que devem agir como profissionais do ensino e não como voyers...

Luís Palma de Jesus disse...

do que sei os alunos são ponderados - sobretudo nos seus blogues ou etc. as excepções serão muito menos numerosas do que pensamos e muito mais controladas pela comunidade local. as excepções normalmente acabam na imprensa nacional

parece-me preocupante a devassa desnecessária feita em Conselhos de turma ou noutros espaços mais informais - e que as guerras entre pais desavindos potencia

parece-me preocupante as parcerias institucionais ou empresariais aceites cada vez mais por mais e mais escolas e que acabam por usar imagens e dados abusivamente

parece-me mais preocupante, porque atentória da intimidade, a violência entre alunos ou contra funcionários e que tem andado silenciada a todos os níveis

Anónimo disse...

Os professores voyers!... Sinceramente.
O melhor será despedi-los todos e substituí-los por pessoas superiores, muito bem formadas... e que estão completamente arredadas do dia-a-dia das escolas, mas que têm todos muito boas opiniões. É também para isto que servem os blogues... para dar uma imagem estúpida dos professores, tomando por todo aquilo que é apenas a parte. Ninguém como os professores quer o bem e a protecção dos alunos.

Anónimo disse...

Está visto que a poesia... não passa mesmo! JCN

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