quarta-feira, 1 de junho de 2011
Há bolsas mas faltam empregos
Entrevista, saída ontem, que dei ao jornalista Bernardo Esteves do "Correio da Manhã":
Portugal Real: "Há bolsas mas faltam empregos"
Carlos Fiolhais diz que faltou a Sócrates ligar ciência à economia.
Correio da Manhã - Como avalia a política para a ciência nos últimos seis anos de governo Sócrates?
- A expansão da ciência foi uma das poucas coisas boas dos maus anos de Sócrates. Mas têm faltado duas coisas essenciais: a ligação às Universidades - foi montado um sistema de ciência em boa parte à margem das universidades - e a ligação à economia - o sistema científico tem algum dinamismo mas ainda não conseguiu empurrar a economia.
- A fuga de cérebros para o estrangeiro foi estancada ou continua a ser uma realidade?
- A fuga de cérebros é, infelizmente, real: há bolsas mas faltam empregos nas universidades e nas empresas. O governo deu bolsas, mas não deu vidas aos jovens. Quando eles fazem vidas noutro lado, é riqueza que se perde.
- E no ensino superior? Houve ou não uma evolução positiva?
- Tem sido dada mais atenção à ciência do que ao ensino superior quando os dois sectores podiam ter sido entrelaçados. Houve coisas que melhoraram no nosso ensino superior, mas o espaço para melhoria ainda é grande. Há instituições a mais, há cursos a mais. Universidades e politécnicos competem, por vezes, de uma maneira absurda.
- A criação da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior foi uma boa ideia? Funciona bem?
- Foi boa ideia, embora pecando por tardia. Vamos a ver se funciona bem. Durante muito tempo fez-se avaliação sem efeitos. Vamos a ver se produz efeitos.
- De que a forma a crise que o País vive afecta a área da ciência e como perspectiva que possa vir a afectar nos próximos anos?
- O País dispõe de menos dinheiro e esse défice está já a afectar a ciência. Seria, porém, um erro enorme se deixássemos de apostar na ciência e na tecnologia, pois estes são precisamente os meios que, a prazo, nos podem garantir um futuro melhor. Só podemos ter um mundo melhor se conhecermos melhor o mundo e, com isso, formos capazes de o mudar.
- Quais as medidas prioritárias para a área da ciência nos próximos anos?
- Trazer as Universidades mais para o centro do sistema científico. Trazer a ciência mais para o centro da economia.
- Os programas eleitorais dos partidos contemplam essas medidas?
-Não sei. Não leio programas dos partidos e não sei se alguém lê.
- Que mudanças podem surgir caso a direita suba ao poder?
- A ciência não é de esquerda nem de direita. É uma matéria importante demais para ser alvo da politiquice. Nunca percebi porque é que não procuramos consensos em áreas como esta que são críticas para o nosso futuro.
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8 comentários:
"A ciência não é de esquerda nem de direita. É uma matéria importante demais para ser alvo da politiquice" Lê-se e não se acredita. O que se deve fazer a respeito da Ciência depende de quê e de que ideias, de que valores? De nenhuns, ou melhor, o que interessa é mandar massa para a Ciência e depois logo se vê!!
"Não leio programas dos partidos e não sei se alguém lê." Estará aqui a explicação? Se lesse, talvez percebesse que esquerda e direita não é a mesma coisa. E para perceber às vezes não basta ler, é preciso reler, descobrir relações...meditar.
Também posso dizer: o meu vencimento não é de esquerda nem de direita, é demasiado importante para ser alvo de politiquice. Quero é que mo aumentem, o resto que se lixe. Como dizem os banqueiros: nada de politiquices, o que interessa é aumentar os lucros da banca e diminuir os impostos. Começo a acreditar que C. Fiolhais ainda vai a Ministro de Passos Coelho. Se for vai ver que os problemas da política (não gosto da palavra politiquice) são um bocado mais sérios do que pensa.
Se foi ao Correio da Manhã está bem, bate a bota com a perdigota.
Joana Silva
Abaixo a poesia, viva a baboseira!
A. P. Rego
"-Não sei. Não leio programas dos partidos e não sei se alguém lê."
"- A ciência não é de esquerda nem de direita. É uma matéria importante demais para ser alvo da politiquice."
Ficamos a saber que a ciência é uma matéria demasiado importante para a politica. Bravo. Já agora, que outras matérias o são? O quais é que são da politica? E então o que fazemos com a Ciência, um estado à parte? O Cientistão? Não, porque isso também seria um acto politico. Mas é claro, quem diz que a ciência é demasiado importante para a politica mas faz uma revisão das politicas para a ciência, o que se pode esperar? Olhe, a mesma seriedade de alguém que diz que não lê programas partidários e parece ter até raiva a quem os lê. Como será que decide o voto? Possivelmente, por um qualquer critério estético. Que pela politica não. Que horror! talvez tal politica tal ciência...
"Só podemos ter um mundo melhor se conhecermos melhor o mundo e, com isso, formos capazes de o mudar." Mais uma teoria para mudar o mundo. Se Marx lesse...
Caro Luís: é óbvio que o autor não sabe o significado de política. Custa a crer como diz o anónimo das 22:45 pois pensava-se que o autor era um homem de cultura. E sabemos onde conduz o desprezo pela Política. Vivemos tempos horríveis, por vezes tento adivinhar o que se avizinha.
O Correio da Manhã da Manhã não cultiva as notícias de desastres e crimes? Isto é só mais um desastre (não sei se lhe chame crime).
Joana Silva
Estou em condições de garantir que ainda há quem leia programas de partidos. O povo português não é muito dado a leituras como o Senhor Fiolhais. Mesmo assim programas de partidos são mais lidos que textos de Física. O que não admira, são mais importantes para as nossas vidas.
Ainda bem!
A gerência das ciências não passar pela política...
Crise por crise, há quem priorize o mau gosto.
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