Ainda que a abordagem histórica indique que no Ocidente se tem atribuído, desde a Antiguidade, alguma especificidade à infância, nomeadamente no que respeita à estruturação dos currículos de estudos, foi só em finais do século XIX e no século XX que essa idade teve um reconhecimento generalizado nos planos científico, político, social, médico, escolar, judicial, etc.
Não obstante, ao longo do século que passou muitas crianças não puderam beneficiar desse reconhecimento, continuando a ser encaradas como “adultos em miniatura” sobretudo no mundo do trabalho, ainda que esse trabalho se tenha revestido de formas que por vezes nos parecem douradas.
Temo que neste século não estejam a acontecer grandes progressos e que, pelo contrário, o direito à infância esteja em franca regressão.
Ao mesmo tempo que a escola nega conteúdos fundamentais, desvirtuando também estratégias de aprendizagem que favorecem o desenvolvimento cognitivo e moral das crianças, acriançando-as a estes níveis, e que a sociedade lhes rouba tempo desprovido de tarefas e lhes nega a possibilidade de brincarem espontaneamente entre iguais, inúmeros grupos de pressão exigem que sejam sensibilizadas para todos os perigos e ameaças deste e do outro mundo, e empresas comerciais avançam sem tréguas propondo ou impondo vestuário, adereços, entretenimentos, máquinas e brinquedos vários, cada vez mais arrojados, cada vez mais próximos do mundo dos adultos…
Isto tudo a propósito de um boneco e respectivos apetrechos recentemente lançados, que tiveram grande destaque na comunicação social, pelo hiper-realismo que denotam.
Ouviram-se pediatras, psiquiatras e psicólogos que primaram pela discordância. Entretanto, os pais e os avós, indiferentes a polémicas, compram. Afinal já compraram tudo o que consta das prateleiras dos hipermercados, este é apenas mais um boneco para comprar…
E não, não é só para meninas. Ouvi um psicólogo, comentador permanente numa estação de televisão, que os meninos, mais do que poderem brincar com um destes bonecos, devem fazê-lo.
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1 comentário:
Não sei muito bem o que pensar sobre isto. A única certeza que tenho é que as opiniões de Bill O'Reilly, citado no artigo do Público, são só mais tele-lixo da Fox News.
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