sexta-feira, 24 de junho de 2011

CARTA ABERTA A JOÃO BOAVENTURA: SERÁ A CRIAÇÃO DA ORDEM DOS PROFESSORES UMA UTOPIA?

“As realidades importantes do presente já foram utopias no passado; assim acontecerá no futuro a todas as utopias” (António Feliciano de Castilho, 1800-1875).

Em resposta ao comentário de João Boaventura, ínsito no meu post, “Um comentário sobre a Ordem dos Professores” (23/06/20111), apraz-me escrever, porque, como escreveu Irene Lisboa, “assim me apetece/ que o entendam ou não/ que o admitam ou não”.

Meu bom amigo João:


Daquilo que me conheces (e conhecemo-nos há longos anos que a nossa condição de ”jovens” octogenários consente e a nossa amizade justifica), sabes bem que nunca me moveram intenções pessoais nas lutas por mim travadas em defesa daquilo em que acredito, ainda que, por vezes, venha a reconsiderar, de braço dado com o passar do tempo que tudo clarifica, e a abandonar tudo o que possa ser simples teimosia. Mas está longe de ser este o caso, numa altura em que comentários de apoio à criação de uma Ordem dos Professores se vão avolumando, quais pequenas bolas de neve que se não derretem com os raios de sol escaldantes dos seus detractores, porque força humana alguma as pode deter, a exemplo das avalanches provocadas pela Natureza.

Como deves estar recordado, referindo-se à minha pessoa, julgo que na intenção amiga de me enaltecer, escreveu um grande amigo, Augusto Cabral, falecido anos atrás, no prefácio a um dos meus livros de início dos anos 70: “Não é de admirar que tenha defendido, desde que o conheço, a sua posição, em particular, e da sua classe em geral. Defesa essa em que tem sido intransigente, mesmo quando fica sozinho e luta até ao último alento. Mesmo, até, quando lhe falta o apoio daqueles que sobre estes assuntos se deviam pronunciar, e o não fazem, limitando-se a colher os benefícios, quando os há, da luta que ele tem travado”.


Finalmente, embora fosse meu desejo ter essa criação com corolário de uma acção constante do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados, de cuja presidência da Assembleia Geral me demiti, passada uma dúzia de anos, por discordância frontal com a sua adesão a uma "Plataforma Sindical", de tristíssima memória, tanto se me dá como se deu, ser ela criada através da Pró-Ordem dos Professores ou de qualquer outra associação sindical ou entidade associativa ou não.

Venha, portanto, a Ordem dos Professores que será muitíssimo bem vinda por mim, que me basta a companhia de apoios a favor da sua criação, como alguns comentários de estímulo aqui publicados, e em outras locais e ocasiões, que se perdem ou esquecem com o passar dos anos, mas mantêm em mim, todavia, a certeza de se não se tratar de uma utopia transformada em realidade, apenas, lá para as "calendas gregas”. De entre eles, o teu comentário bem estruturado e devidamente clarificador de uma acção e de um período que bastantes pessoas desejavam esquecido ou mesmo enterrado na memória, sejam elas a favor ou contra a criação de uma desejada, e sempre adiada, ORDEM DOS PROFESSORES!

Um grande e grato abraço, meu caro João, a que associo todos aqueles que lutam por essa hora que há-de chegar mesmo sem ser em dia de nevoeiro num país sebastianista por mau fado e tradição contumaz.

8 comentários:

Anónimo disse...

Chama-se isto... "morrer com a fé"! JCN

Rui Baptista disse...

Caro JCN: Será que a fé já não move montanhas?

Cordiais cumprimentos,

Anónimo disse...

Acaso alguma vez... as moveu? JCN

José Batista da Ascenção disse...

E quando a Ordem vier, problemas de muita e variada ordem se hão-de levantar. Tantos, que corre o risco de depressa se transformar numa desordem.

Falo por experiência própria, relativamente a uma Ordem a que pertenci e a que devolvi o cartão de membro quando os actuais programas de Biologia e Geologia para o ensino secundário foram aprovados, com a colaboração dessa Ordem. Foi um desapontamento. Um "crime", como então lhe chamei. Um "crime" que muitas centenas de alunos, desde há meia dúzia de anos a esta parte, pagam caro. Com as culpas a cairem em cima dos professores, pois então.

Mas que venha a Ordem. Que venha. Pelo menos assim, os professores terão mais uma oportunidade. Que seria bom aproveitarem...
E aqui, eu desejo e temo.
Gato escaldado...
Mas que venha, repito.

Rui Baptista disse...

Meu Caro José Batista da Ascenção:

De acordo consigo, também eu sei bem que a Ordem dos Professores não será um "abre-te Sésamo" para todos e graves problemas que afligem os professores, uma espécie de párias de si mesmo, sem título profissional, sem um “corpus” coeso que os una e defenda sem peias políticas ou de grupos específicos dos milhares de indivíduos que exercem a docência.

E, principalmente, seara farta de todos aqueles que a dar aulas possam preferir pertencer à classe dos sindicalistas (as honrosas excepções, de sindicalistas que o são por simples amor à camisola, confirmam a regra), em que surgem sindicatos mais fáceis de abrir portas do que qualquer modesta chafarica de bairro.

Já reparou (e reparou pela certa) quantos sindicatos ou associações sindicais pululam por esse pais fora? Dando, à partida, o benefício da dúvida, julgo que os corpos dirigentes das ordens profissionais (uma única por cada profissão) não sobrecarregam o erário público por não serem pagos pelos impostos de todos nós, cidadãos de um país em tempos de vacas magras.

Em resumo, aceito e comungo de algumas das suas dúvidas sobre os benefícios (qual maná caído do céu) das ordens profissionais e das suas virtudes comparáveis a uma panaceias universal que cura todas as mazelas.

Mas não quero fugir à questão por si posta, com bastante coragem e não menos actualidade, acerca da Ordem dos Biólogos. Muitas vezes me tenho perguntado sobre a percentagem de biólogos que não têm o seu múnus nos ensinos básico, secundário ou superior. Será esse número, por si só, justificativo que a representação dos biólogos se faça melhor através da existente Ordem dos Biólogos e não de uma futura Ordem dos Professores? Pergunto, não afirmo!

Mas afirmo que muito me custa ver a apatia dos docentes em discutir os prós e os contras da criação da Ordem dos Professores, com honrosas excepções, algumas delas expressas em comentários neste blogue, sempre que se ouve falar ou se lê sobre a sua criação.

Continuar a fugir ao problema, qual avestruz que esconde a cabeça na areia, não serve o País, não serve os docentes, não serve os alunos, não serve os encarregados de educação. Não serve inclusivamente os sindicatos (cuja existência é necessária) que devem estar acantonados nas suas obrigações de defesa laboral sem incursões abusivas numa terra de ninguém pela inexistência de uma Ordem dos Professores.

Não será uma altura soberana para que a voz dos docentes se fala ouvir alto e bom som. Julgo que sim, ou melhor, tenho a certeza de que sim. Como escreveu alguém, “não fazer é deixar que os outros façam por nós!” E quase nunca o fazem bem. E, pior do que isso, por bem…

Gratos cumprimentos pelo seu comentário.

Rui Baptista disse...

Errata: Na 1.º linha do último §, onde está ecrito "a voz dos docentes se fala", corrijo para "a voz dos docentes se faça".

Semisovereign People at Large disse...

uma aberração e um couto de previlégios

como se já não houvessem bastantes nos professores
e directores que se dizem professores

e gajos em sabática algures no extremo oriente

e em bolsas de doutoramento e mestrado que eram grátis para o pessoal do quadro nos seus 50 e tantos e à espera da reforma

subirem na escala salarial^?

tenha dó...a ordem dos engenheiros já é o aborto corporativo que é

a ordem dos biólogos nem se fala

mais uma instituição com laivos de mesa censória e de inquisição...tch

Rui Baptista disse...

Comentário (29 Junho; 21:29): Sempre que me falam em corporativismo e dele arredam os sindicatos, tenho dificuldade em compreende de que espécie de corporativismo falam.

O resto, é uma questão de gostar ou desgostar das ordens profissionais, criticando eu a tentativa em desresponsabilizar os sindicatos de servirem de pernas de mesa censória… etc., etc.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...