terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O país dos 475 euros



Este é o valor do salário mínimo em Portugal em Dezembro de 2010: 475 euros. É uma vergonha! Não é possível viver com 475 euros. Olhem à volta, vejam os preços da habitação, do vestuário, da educação e de todo o tipo de produtos. Vão ao supermercado e vejam o preço da comida. Falem com um Sueco, um Inglês ou um Alemão. Vejam as caretas que fazem quando ouvem 475 euros. Ou falem com um Irlandês, onde o salário mínimo é 1460 euros (1250 euros depois dos recentes cortes salariais), e tentem sentir-se Europeus.

Tudo começa por aqui. Como é que se pode motivar uma população, exigir produtividade e dedicação, exigir que sejam competitivos e apostem na sua formação, se não diferenciamos pela qualidade e se aceitamos que o salário mínimo seja este?

Querem reformar Portugal? Comecem pelas pessoas. Pelo respeito que lhes é devido. Quando ouço organizações patronais a falar na competitividade do país tendo por base a redução salarial fico abismado e fora de mim. Como é possível tamanha mediocridade e desfaçatez? A competitividade não se obtém dessa forma. É ilusório.

O que queremos é pessoas criativas, dedicadas, que trabalhem 8 horas (não é preciso mais) por dia com afinco, porque sabem que aquilo que estão a fazer é a coisa mais importante do mundo. Pessoas que sintam que são importantes. Porque são, de facto. Pessoas que sintam que fazem parte de um todo nacional que tem objectivos, que é justo e redistributivo, onde todos temos o nosso papel. E isto não é utópico. Falem com o Gonçalo, com o Basílio, com o Pedro ou com o João, entre outros. Perguntem-lhes como é que eles motivam as pessoas daCritical, da ISA, da Take the Wind ou da MedicineONE, de forma a obter os resultados que essas empresas têm obtido. É pagando 475 euros por mês? É tratando todos por igual, qualquer que seja a sua dedicação? Ou é fazendo com que sintam que fazem parte de uma organização exigente que valoriza o seu esforço, que está atenta, que diferencia pela produtividade e pelo impacto da actividade de cada um no sucesso da organização? Perguntem-lhes.

Não é aceitável ser o país dos 475 euros, 36 anos depois do 25 de Abril.

Como é possível ser presidente da república, primeiro-ministro ou deputado, e conseguir dormir todos as noites? E discutir, cheio de doutas opiniões, se devemos, ou não, aumentar o salário mínimo para essa verdadeira fortuna que são 500 euros. Ok. É mais redondo. Mas igualmente humilhante.

Como é possível aceitar o brutal aumento da carga fiscal resultante da incompetência de quem nos governa, sem uma mensagem clara de esperança, sem um plano para o futuro?

O país dos 475 euros precisa de rupturas urgentes. Não pode aceitar continuar assim. A ruptura faz-se com pessoas novas, fora do sistema, conscientes do mundo e dos seus desafios. Pessoas honestas e competentes. Pessoas da melhor e mais competente geração da nossa história colectiva.

Quero e exijo um país assim. Um país em que o presidente, o primeiro-ministro e os deputados prestam um serviço com dedicação à causa pública, estão atentos e são livres. Um país servido por pessoas que amam Portugal e os Portugueses. Um país, como dizia Almada Negreiros, que seja alguma coisa de asseado. PIM.

J. Norberto Pires

5 comentários:

Anónimo disse...

VILIPÊNDIO

A que estado chegámos de torpor,
em que abismo caímos tão profundo,
nós que já dominámos meio mundo
desfeiteando o próprio Adamastor!

Ao que chegou a pátria de Camões,
não nos dando ao respeito hoje e agora
nem dentro de fronteiras nem lá fora,
onde somos o gáudio das nações!

E dizia o Poeta da Mensagem
que já vinha a caminho o Quinto-Império,
que não passou de utópica miragem!...

Quando o país um dia for julgado
num tribunal independente, a sério,
não deixará ninguém de ser culpado!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Anónimo disse...

ODE À VIDA

Quero uma pátria ao nível dos meus sonhos,
de rosto limpo e corpo bem lavado,
cioso do seu mítico passado,
sem governantes mórbidos, bisonhos!

Quero para os meus netos um país,
além de respeitado, enaltecido,
por gente nova e válida gerido,
mas nunca por políticos senis!

Quero uma terra cheia de crianças
que sejam, no futuro, a esperança
de uma nação de nível europeu!

Quero ter a afoiteza... de rezar
sem respeitos humanos no meu lar
com todo o clã que Deus me concedeu!

JOÃO DE CASTRO NUNES

José Batista da Ascenção disse...

Realmente, como se pode viver com tão pouco?
É por produzirmos pouco? Será.
Mas porque é que o Estado alimenta vencimentos tão desproporcionais a pessoas que gerem empresas públicas e que dão prejuízos colossais sucessivos?
E porque é que se engordam instituições que para pouco servem senão para dar emprego bem pago a tantas pessoas banais (de que é exemplo a maioria dos nossos parlamentares)? Quem (ou quais) são as pessoas que usufruem de tantas fundações? Porque fizemos estádios de futebol que são sumidouros de dinheiro não (apenas) dos apaniguados mas dos contribuintes (caso de Braga)?
Responda quem souber...
Eu só queria saber como vamos sair disto, ou pelo menos acreditar que vamos sair...

Anónimo disse...

JNP tem alguma razão, mas não toda.

Tem razão quando diz que não é possível viver com 475 Euros.

Não tem razão quando diz que «tudo começa por aqui».
Não, o salário não é pai/mãe da qualidade e da produtividade.

Se não acredita responda a esta pergunta: Acha que duplicar os salários a toda a nossa administração pública hoje, significaria o dobro da produtividade/qualidade amanhã?

Claro que não.

É mais ao contrário: quem conseguiu construir em si boas quantidades de qualidade e produtividade, consegue exigir bons salários para si.

A produção de um país tem, resumidamente, 5 destinos: salários, juros, rendas, lucros/dividendos e impostos (que serão depois recolocados no circuito económico sob várias formas, que incluem todas as anteriores mais subsídios).

Estas são, resumidamente, as 5 formas legais de sacar dinheiro a outrem no nosso sistema económico.

Portanto, a distribuição do produto «dentro do caldeirão económico» por estas 5 categorias/forças será maior ou menor conforme (1) o tamanho do caldeirão e (2) a força relativa de cada um dos seus beneficiários face aos restantes.

A pergunta-chave é, portanto, como é que os assalariados podem aumentar o seu peso relativo neste caldeirão?

Responda a esta pergunta, encontre respostas válidas e implementáveis, implemente-as e você terá solucionado o problema dos assalariados portugueses.

Consiga isto e terá o problema do salário mínimo resolvido.

Anónimo disse...

Sir James Goldsmith - “If you pay peanuts, you get monkeys.”

JCSilva

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