sábado, 9 de outubro de 2010

Fertilização in vitro: R.G. Edwards ganha Nobel Medicina


Destaque para a coluna do físico Robert Park, desta vez (traduzido em português) sobre a fertilização in vitro que valeu o Prémio Nobel da Medicina deste ano:

A qualificação mais importante para o Prêmio Nobel é muitas vezes a longevidade. Agora é 85 anos e com a saúde debilitada; o Prof. Edwards era um estudante dena Universidade de Edimburgo, na Escócia, quando concebeu a ideia de fertilização in vitro (FIV). O seu colega cirurgião Patrick Steptoe morreu em 1988. A Igreja Católica, que se opõe a FIV, criou a superstição de que, no momento em que os gâmetas haplóides masculino e feminino se entrelaçam no útero para formar uma zigoto diplóide, o Espírito Santo atribui-lhe uma alma, surgindo assim uma pessoa. O Presidente da Academia Pontifícia para a Vida, que é o porta-voz do Vaticano sobre ética médica, criticou a escolha de Edwards como "completamente disfuncional. Sem Edwards não existiriam frigoríficos cheios de embriões à espera de ser usados para pesquisa ou à espera de morrer abandonados e esquecidos por todos. " Coitados. Mas ele não está a falar sobre uma pessoa ou mesmo sobre um embrião, porque se trata de uma única célula indiferenciada, que é humana apenas na medida em que contém DNA humano. O mesmo acontece com as aparas das minhas unhas - mas eu não faço luto por elas. O mundo não precisa nem das superstições arcaicas da religião, nem de mais crianças indesejadas. Toda a criança FIV é uma criança desejada."

Robert Park

Na imagem: O Prof. Edwards, a mãe da primeira bebé-proveta, a primeira bebé-proveta (Louise Brown) e a filha desta (nascida de parto natural), numa foto de há dois anos.

2 comentários:

Carlos Albuquerque disse...

O que o físico Robert Park escreveu é uma mistura de opiniões e superstições. Ser físico dá autoridade na física. Pretender extravasar essa autoridade para tudo o que se escreve pode satisfazer o ego mas não tem nada a ver com rigor científico.

Vejamos:

"A Igreja Católica, que se opõe a FIV, criou a superstição de que, no momento em que os gâmetas haplóides masculino e feminino se entrelaçam no útero para formar uma zigoto diplóide, o Espírito Santo atribui-lhe uma alma, surgindo assim uma pessoa."

A Igreja Católica nunca afirmou que o zigoto diplóide tivesse uma alma humana ou fosse uma pessoa humana. A menos que haja algum documento doutrinário muito recente que tenha passado despercebido a toda a gente menos a Robert Parks.

"Mas ele não está a falar sobre uma pessoa ou mesmo sobre um embrião, porque se trata de uma única célula indiferenciada, que é humana apenas na medida em que contém DNA humano. O mesmo acontece com as aparas das minhas unhas - mas eu não faço luto por elas."

No limite qualquer pessoa não é mais do que um conjunto de células diferenciadas contendo DNA humano. E não é por isso que deixamos de fazer luto pelas pessoas.

Entre o zigoto diplóide e o adulto, qual o momento em que passamos a considerar que há uma pessoa humana? Trata-se de um problema humano e filosófico, mas a ciência tem dado contributos muito mais sérios do que confundir o embrião com as unhas. Há diversas abordagens mas o embrião, porque já tem a capacidade de se desenvolver até ser um bébé, merece sempre mais protecção do que as unhas.

"O mundo não precisa nem das superstições arcaicas da religião, nem de mais crianças indesejadas. Toda a criança FIV é uma criança desejada."

Pode-se considerar a religião uma superstição arcaica mas a convicção de que no zigoto pode estar uma pessoa não é arcaica. Quanto mais não seja porque estas noções têm pouco mais de um século.

Em contrapartida é arcaico achar que as crianças e as mulheres não são pessoas e o cristianismo lutou contra isso. E na Idade Média os teólogos acreditavam que a alma só era infundida ao fim de uns meses de gravidez.

Quanto à questão das crianças desejadas ou indesejadas, isso é apenas uma superstição. Há muitas crianças que foram desejadas num momento e depois rejeitadas e há crianças indesejadas que depois foram aceites e felizes.

O Rerum Natura é um blogue de pensamento rigoroso ou é um blogue de opiniões de profissionais das ciências, sejam essas opiniões racionais ou superticiosas, informadas ou ignorantes?

alfredo dinis disse...

Para quem gostar de ciência pura e dura aconselho a leitura de um artigo publicado há já uns anos na Nature, do qual se indicam a seguir as primeiras linhas:

Nature 418, 14-15 (4 July 2002)

Your destiny, from day one
Helen Pearson

Abstract: The mammalian body plan starts being laid down from the moment of conception, it has emerged. Helen Pearson considers the implications of a surprising shift in embryological thinking.

Your world was shaped in the first 24 hours after conception. Where your head and feet would sprout, and which side would form your back and which your belly, were being defined in the minutes and hours after sperm and egg united.


Alfredo Dinis

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...