domingo, 19 de setembro de 2010

O "melhor" aluno do país entrou na faculdade sem terminar o liceu


"Não destruam. Não cedam. Não tenham medo porque a Universidade não pode ser uma instituição de caridade. Para isso há os asilos e a Mitra. Não pode ser uma um hospital de alienados” (Aníbal Pinto de Castro, professor jubilidado da Universidade de Coimbra, “Diário de Coimbra”, 27.Nov.2005).

O título deste post foi “copiado” da 1.ª página do semanário Expresso, publicado ontem, que nos dá conta deste escândalo num país de escândalos:

“Tomás desistiu da escola sem ter concluído o secundário. Graças ao programa criado pelo Governo para aumentar as qualificações dos portugueses, teve equivalência ao 12.º ano em poucos meses e entrou na universidade com uma média de 20 valores, conseguida com apenas um exame de Inglês. Ainda assim, concorreu em igualdade de circunstâncias com todos os outros. Oficialmente, é o aluno com a mais alta nota de candidatura ao ensino superior. Admite que beneficiou de uma injustiça”.

Tenho publicado neste blogue posts sem conta a criticar as Novas Oportunidades ou Novos Oportunismos, em crisma que lhes dei. Reproduzo aqui excertos de um dos mais recentes, intitulado “A Caixa de Pandora das Novas Oportunidades” e publicado em 9 de Julho deste ano:

“Quando me foi pedido pelo Público um pequeno artigo de opinião sobre as “Novas Oportunidades”, a inserir numa reportagem a duas páginas a publicar nesse jornal, no dia seguinte, 7/Julho/2010, sabia eu estar a abrir uma verdadeira Caixa de Pandora numa altura em que “perante centenas de pessoas”, duas delas com cargos ministeriais, Valter Lemos, ex-secretário da Educação e actual secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional, iria, em declarado dia de júbilo para a nação, fazer a entrega e o panegírico (como quem de uma só cajadada mata dois coelhos) de centenas de diplomas outorgados pelas Novas Oportunidades.

(…) Ou seja, vivemos num país a duas velocidades. Uns viajam em comboios a vapor, com incomodidades pelo caminho e paragens em vários apeadeiros; outros na comodidade do TGV que os transporta, à velocidade de um raio, rumo à obtenção de diplomas dos vários graus de ensino. O TGV é representado pelos exemplos das "Novas Oportunidades" para maiores de 18 anos e do "Acesso ao Ensino Superior para Maiores de 23 anos", com o respectivo e escandaloso facilitismo. Como é óbvio, quem faz o seu percurso escolar regular viaja em comboios do século XIX. Claro que, com isto, não estou contra as “Novas Oportunidades” ou acesso ao ensino superior, dependente da data de nascimento escarrapachada no B.I, de quem, por motivos vários, se viu obrigado a desistir dos respectivos estudos, mas... desde que esta forma de obtenção de diplomas se não torne num bodo aos pobres para quem não quer arcar com os sacrifícios que isso acarreta. Exigindo, assim, direitos sem cumprir deveres na atitude egoísta de defender os direitos para si e os deveres para os outros!

(…) Em presença do actual panorama educativo, que degradou o ensino superior (mesmo universitário) para níveis de acesso e frequência de pouca credibilidade humanística e científica, é louvável que o país, ou mesmo o simples cidadão anónimo em dever de cidadania, recrimine o actual poder político.

(…) Num país com maus alunos de matemática mas com a tendência de quem nos governa em reduzir tudo à expressão mais simples, assistiu-se com Bolonha à tradução de “bachelor” para licenciado. Desta forma engenhosa, Portugal passará a poder ostentar grande número de licenciados que em termos estatísticos nos equipare a países europeus mais avançados.

Escrevi no ano de 2001: “Durante um certo período da monarquia portuguesa, a atribuição de títulos de nobreza a granel fez com que Almeida Garret, antes de ter sido feito visconde (1851), reprovasse essa benesse de forma jocosa: “Foge cão que te fazem barão! / Para onde se me fazem visconde?’ Com idêntica ou até maior razão, hoje, na vigência da III República, desajustado me não parece parafrasear: ‘Foge gato que te dão o bacharelato! / Para que lado se me fazem licenciado?”(Diário de Coimbra, 26/07/2001).

Até posso conceder que a análise por mim feita no meu post anterior, “Novas Oportunidades ou Novos Oportunismos?”, possa ter causado um certo desconforto nos formadores e diplomados pelas "Novas Oportunidades". Sem razão, por eu próprio ter aí escrito “não querer generalizar a todos estes cursos efeitos perversos”. Todavia, nada melhor do que analisar a opinião de formadores destes cursos, numa notícia assinada por André Jegundo, intitulada “Exigência pode variar”, e saída, outrossim, no Público (07/07/2010), em que se lê que "eles rejeitarem a imagem de facilitismo, que foi associada ao programa", mas que, simultâneamente, admitem que "o grau de exigência varia de centro para centro" estando, muitas vezes, relacionado com “a necessidade de as escolas obterem financiamento” . Idêntica análise é feita pela directora do curso profissional de técnico de secretariado da Escola Secundária de Arganil , Fátima Teixeira, quando considera, também, “que a menor qualidade está muitas vezes relacionada com a necessidade de financiamento das escolas porque se os alunos desistirem ou abandonarem o curso o financiamento para as escolas é cortado”. Ou seja, o vil metal condiciona a respectiva qualidade, situação tanto mais gravosa em plena vigência do “Programa de Estabilidade e Crescimento” (PEC). Mas será só ele, o vil metal?

Por outro lado, segundo, ainda, a referida notícia, todos os formadores reconhecem a má imagem destes cursos passada para a opinião pública: “Existe a ideia errada de que as pessoas vêm aqui escrever uma historiazinha de vida e que isso dá equivalência ao 9..º ou ao 12-º ano”. Não é bem assim, afirma Fernanda Coimbra, coordenadora do "Centro de Novas Oportunidades" da Escola Secundária Dr. Manuel Laranjeira, em Espinho. Concedo que não seja bem assim, embora me permita duvidar, por testemunho público de um formador de um destes cursos, como, por exemplo, o autor da carta (por mim já citada no meu post anterior “Novas Oportunidades ou Novos Oportunismos?”) dirigida ao Presidente da República, Prof. Aníbal Cavaco Silva, em denuncia ao que por lá se passava: “Estes frequentadores da escola aparecem nas aulas sem trazer uma esferográfica ou uma folha de papel. Trazem o boné, o telemóvel,os “headphones” e uma vontade incrível de não aprender e não deixar aprender” (Expresso, 08/12/2007).

Opinião bem optimista tem Fátima Mateus, formadora no "Centro Novas Oportunidades" da Escola Secundária Avelar Brotero, em Coimbra, quando diz que "a imagem de facilitismo que foi associada ao programa é, sobretudo injusta, para as pessoas que foram certificadas ‘com todo o mérito’”. Poderá haver, porventura, "mérito absoluto" (!) , mas o que dizer do mérito relativo quando numa mesma escola secundária se exige aos alunos regulares do secundário um ensino sério, persistente, valioso com a duração de três longos e trabalhosos anos e, simultaneamente, aí se passam diplomas de "Novas Oportunidades" que levaram Maria do Carmo Vieira a formular a seguinte pergunta:“Quem acredita na qualidade do ensino das Novas Oportunidades quando em três meses se conclui o 9.º ano e em seis meses o ensino secundário, 10.º, 11.º e 12.º anos?” (Notícias Magazine, 14/Setembro/2008).

A autora desta incómoda inquirição é uma distinta professora de Português com longa vivência do ensino secundário e luta sem quartel contra “o estado de deterioração em que se encontram a escola e o ensino”, como refere no prefácio do seu livro “O Ensino do Português” que inaugurou, com inegável lustre, os “Ensaios Fundação Francisco Manuel dos Santos”, ensaios tendo a finalidade de “conhecer Portugal, pensar o país e contribuir para a identificação e resolução dos problemas nacionais, assim como promover o debate público”. Um muito necessário e animado debate público sobre "As Novas Oportunidades" porque, para Séneca, “viver significa lutar”. Lutar contra o facilitismo, o oportunismo, o laxismo que tomou conta do sistema educativo português”.

Em resumo, o pior cego é aquele que não quer ver. Assim como o pior governo é aquele que pretende fazer passar as Novas Oportunidades como se fosse lebre e não gato que se serve à mesa de um país com um sistema educativo criticado, décadas atrás, pelo falecido Francisco Sousa Tavares desta forma contundente: “Estamos a formar não um país de analfabetos, como até aqui, mas um país de burros diplomados”. Resta-nos o consolo de que o exame de inglês de 20 valores do aluno referenciado no Expresso foi presencial e não enviado por fax!

30 comentários:

Sérgio O. Marques disse...

Onde vais tu, sem demora,
Ó justiça, alienada?
-Vou-me pôr daqui p'ra fora
Porque cá, não valho nada!

Está tudo atascado
Neste imenso lamaçal.
Vou morar p'ra outro lado,
Bem longe de Portugal.

Anónimo disse...

A educação foi de férias,
foi de f+érias no estrangeiro:
vive-se agora de lérias
neste país... sem dinheiro!

JCN

Anónimo disse...

Só tenho duas ou três perguntas: sabe em que consiste a iniciativa novas oportunidades? Já se deu ao trabalho de investigar para além da babujem do (pré)conceito? Sabe verdadeiramente o que está a ser feito para além do reconhecimento de competências? É capaz de me explicar porque é que o mérito de um aluno, a quem faltavam apenas duas disciplinas para concluir o ensino secundário, em obter, num exame a que todos os outros também foram submetidos, um nota de 20 valores é menor do que aqueles que fizeram todas as disciplinas? É capaz de me explicar porque é que o acesso ao ensino superior desta forma é mau, denigre a escola, etc., mas o acesso ao ensino superior por via dos maiores de 23 (que nada teve a ver com a novas oportunidades e que apenas veio substituir a antiga forma de acesso com exames ad hoc) não é? É capaz de, razoavelmente, me dizer porque é que o testemunho da professora que trabalha num Centro Novas Oportunidades tem menos mérito argumentativo de que a professora de português que citou, e que pela citação, não sabe do que é que está a falar, o que apenas é visível para quem já se deu ao trabalho de saber um pouco mais do que a superfície? É capaz de me apresentar uma solução para os milhares de portugueses que ficam pelo caminho, muitos deles vítimas de uma escola incapaz de lidar com a desigualdade social e económica dos que, por muito que estudassem, estavam à partida votados ao abandono escolar? E, se realmente forma baldas e agora querem continuar os seus estudos, tem uma solução? É capaz de me provar que os milhares de alunos que entram no ensino superior por via regular sabem mais e são mais competentes do que aqueles que, não podendo ou não querendo estudar no devido tempo, o querem fazer agora e o fazem aproveitando as inúmeras vias que a INO lhes permite?

Anónimo disse...

Em contraponto:

Foi de férias a justiça,
foi de férias no estrangeiro:
só voltará para a missa
quando estiver sem dinheiro!

JCN

Ana disse...

Anónimo das 21h57: mais uma vez, totalmente de acordo.

Desculpem, mas aqui continuam a martelar a mesma tecla de sempre: criticam um sistema que não conhecem... assim, só se pode deduzir que criticam somente por criticar, pois apenas atendem a um lado da história...

Com isto não se pretende afirmar que o sistema funciona, porque está afectado -como já se disse- pelo eduquês e política de estatísticas que afecta TODO o sistema educativo do país. TODO.

E se eu, por acaso, falo com conhecimento de causa? Falo. Porquê? Porque conheço o funcionamento de TODOS os sistemas educativos. E porque me dei ao trabalho -coisa que, desculpem-me a sinceridade, não me parece que os críticos mais acérrimos das NO tenham feito, pois caso contrário não emitiriam determinadas perspectivas formatadas- de procurar conhecer cada um desses sistemas, seus méritos e seus erros incluídos.

Ana disse...

Já agora, se o/a anónimo das 21h57 não se importar, subscrevo-o/a.

Ana disse...

Ah...e, mais uma vez: o aluno referenciado não fez o mesmo exame que todos os outros que vieram do ensino regular?...ou acaso fez um exame concebido especificamente para quem vem das NO?...

Ana disse...

Já agora (outro agora): acho interessante que as pessoas (adultos) que me chegam às mãos vindas de um ensino regular que não as soube/quis ajudar, com o 7o ou 8o ano (e que, neste caso, estejam a tirar um curso -q muitas vezes dura ano e meio, com exames e estágio incluídos-com conteúdos semelhantes aos dos cursos cientifico-naturais) nem sequer saibam escrever... interessante... e no entanto, fizeram o 8o ano no ensino regular. Isto é, passaram 8 anos no ensino regular e chegam-me às mãos dizendo coisas como "os membros inferiores dos pés" e os "membros inferiores das mãos". Tenho pena que tenha de ser eu, uma reles formadora de um sistema a quem todos atiram pedras, a explicar-lhes que o nome correcto é "plantas/solas dos pés" e "palmas das mãos"...

- sarcasmos à parte, percebem onde quero chegar?...

Rui Baptista disse...

Em casos idênticos, por princípio, desagrada-me responder a anónimos. Mas responderei ao comentário das 21:57, em devido tempo.

Os comentários anónimos, deste género, trazem-me à lembrança os versos de Augusto Gil, na “Balada da Neve”: "Batem leve, levemente,/Como quem chama por mim./Será chuva? Será gente?”(…)

Gente é certamente: mas quem? Um dos parteiros das Novas Oportunidades, em defesa da sua dama? Um dos seus formadores? Um dos seus diplomados? Um dos seus frequentadores?

A resposta por mim prometida atingiria o alvo com maior precisão evitando perder tempo com coisas de “lana caprina” com um destinatário que se perde em considerandos “pour épater le bourgeois”.

Fartinho da Silva disse...

"Já se deu ao trabalho de investigar para além da babujem do (pré)conceito?"

Se o apelidar alguém de preconceituoso apenas porque não concorda com o status quo pagasse imposto, o "anónimo" já tinha resolvido o problema das contas públicas...

"É capaz de me apresentar uma solução para os milhares de portugueses que ficam pelo caminho, muitos deles vítimas de uma escola incapaz de lidar com a desigualdade social e económica dos que, por muito que estudassem, estavam à partida votados ao abandono escolar? E, se realmente forma baldas e agora querem continuar os seus estudos, tem uma solução? É capaz de me provar que os milhares de alunos que entram no ensino superior por via regular sabem mais e são mais competentes do que aqueles que, não podendo ou não querendo estudar no devido tempo, o querem fazer agora e o fazem aproveitando as inúmeras vias que a INO lhes permite? "

Se o sofismo pagasse imposto, este "anónimo" já tinha resolvido o problema das contas públicas...

Ana disse...

Rui Baptista, e se for um formador da área?... não terá o direito de defender um trabalho que conhece a fundo, uma ideologia que conhece (e que não é única de Portugal, se reparar num comentário anterior, num post anterior, que inclui referências) e a luta diária para endireitar algo que está sendo corroído pela política podre que tomou conta de TODO o sistema educativo de Portugal (e se fosse só de Portugal...)?...
É natural que esses profissionais, que já têm de lidar com mentes mesquinhas e tacanhas, de um lado, e engravatados defensores do eduquês e das estatísticas, do outro, sintam estes ataques constantes ao sistema das NO como críticas destrutivas e, não construtivas.

O sistema está podre, já todos sabemos isso... mas é o sistema na íntegra, no seu todo.

E estar constantemente a apedrejar um desses sistemas é, mesmo sem querer, um apedrejar de colegas de profissão que lutam por um mesmo objectivo.

joão boaventura disse...

Cara Vani

O problema talvez parta do Estado que não informa a estrutura e funcionamento das NO.

As pessoas têm acesso aos currículos escolares, aos programas, e a toda uma legislação que suporta o ensino regular.

Das NO não há um conhecimento preciso do seu funcionamento, da sua estrutura, a quem se dirige, quais os tipos de ofertas, em que circunstância, condições e tempo, mas sabemos apenas os seus resultados retumbantes, espampanantes, alucinantes, partenogenéticos.

Não dá. E os que concordam com as NO não explicam, não elucidam, não dão o testemunho, afrontam os opositores, e os opositores afrontam os concordantes.

Conclusão: ninguém tem razão, nem de um lado, nem do outro, uns porque desconhecem a engrenagem e os outros porque parece conhecer mas não desvendam os mistérios insondáveis dos repentinos aparecimentos de 20 valores, quando, ao fim de extenuante estudo de 12 anos os alunos v~eem-se em papos de aranha para arrancar um vinte e entrarem descontraídos na Universidade.

Dá para entender a diferença ? Não dá. E logicamente, embora as pessoas desconheçam os segredos herméticos das NO, quando a fartura é grande, o pobre desconfia.

Eu tirei um curso como professor estudante trabalhador e porque tirei 15, fui admitido a entrar noutro curso no ISCTE, sem exame, outra vez como professor estudante trabalhador. Toda a gente conhece esta oportunidade e sabe que funciona nestes moldes.

As NO são reveladas como factos consumados: distribuição de canudos, estudos em dois ou três anitos, e quem quiser saber que se habilite, e fica a saber que possivelmente funcionará conforme o fato de cada um, isto é, fica-se com esta percepção:

- se lhe falta duas cadeiras, vai fazê-las, suponhamos, em seis meses;
- se tem o 5.º ano, o arranjo do fato vai ser diferente, e o NO oferece vários hipóteses (um estudo em dois anos, ou ano e meio, ou três, de acordo com as disponibilidades de tempo)
- se tem o 7.º ano o NO tem duas hipóteses.

A Vani veja a percepção que as pessoas têm, face às notícias, despidas de notícias. Obrigam a juntar todas as peças do puzzle, e a construção da NO fica sempre incompleta. Faltam muitas peças.

É por isso que esta troca de opiniões não chega a lado nenhum. Falamos e não nos entendemos. Limitamo-nos a manter um duelo inglório, insípido, repetitivo, inócuo, e não vamos a lado nenhum.

Não construímos, desconstruimos.

A Vani, pelos seus comentários, parece conhecer toda a engrenagem das NO, mas não faz revelações e acaba, inadvertidamente, por fazer o mesmo papel dos contraditores.

Tudo se resume a "sim", de um lado, e a "não", do outro.
Vale a pena continuar ?

Codialmente

Anónimo disse...

Que eu saiba, as ideias defendem-se e suportam-se com argumentos racionais e não com pessoas. Ter um nome, neste sistema, vale tanto como nada, pois podemos inventar qualquer um e não percebo qual é a diferença entre aparecer como anónimo ou como "fartinho da silva" (sem ofensa para quem usa este nome). Porque raramente quem se apõe ao que é dito consegue ter um diálogo sério, é que deixei de participar neste blogue. E não estou a falar de argumentos delirantes anti-criacionistas, estou a falar de analisar e argumentar racionalmente e com base em conhecimento factual Qual é o interesse se, sempre que alguém defende uma ideia oposta, não é a ideia que é analisada, mas a pessoas que é posta em causa? Porquê o argumento ad hominem de que quem defende ou faz perguntas sobre um sistema, neste caso a INO, está a defender a sua dama? E, se estiver, isso é relevante se o diálogo for com base numa análise séria, argumentada e bem fundamentada de ideia e não apenas num conjunto superficial de ideias?

Anónimo disse...

"Novas oportunidades"
são para os oportunistas
que nas suas entrevistas
encontram facilidades!

JCN

joão boaventura disse...

Cara Vani

Para concluir, permita-me só acrescentar o seguinte:

Com a difusão que o Estado faz dos benefícios da NO, através dos media, onde os concorrentes saem com a valoração máxima, provavelmente, os efeitos podem ser:

A - Perversos.

Porque os alunos que frequentam o ensino normal, regular, formatado, perante tais resultados obtidos com as NO, começam a pensar que o melhor será abandonar os estudos ao 5.º ou 6.º ano, e saltar para as NO, porque além de encurtar os 7 ou 6 anos que faltam para atingir o 12.º, encontrará ali a explicação da inutilidade dos 7 ou 6 anos ainda a percorrer. A tendência será a dos alunos, logo que chegam ao 5.º ano, transferirem-se para as NO.

B - Benéficos.

O Estado, ao eliminar lentamente tantos anos de estudo, irá economizando em gastos supérfluos com ordenados a professores, pessoal auxiliar, gastos de água e luz nas escolas, despesas em obras necessárias, e talvez concluir com a eliminação das escolas e do Ministério da Educação, pela superpovoação burocrática. A tendência será formar hiper-escolas até ao 5.º ano.



Eu sei e reconheço que este raciocínio parece um absurdo, o absurdo de que nos Fala Kafka e Camus, mas mais absurdo e inexplicável é o silêncio que ecoa das NO, como se de uma sociedade secreta se tratasse. O silêncio que Kafka retrata na "Investigações de um cão", onde o animal cogita:

"As minhas interrogações servem apenas de aguilhão para mim mesmo. Só quero ser estimulado pelo silêncio que se ergue à minha volta como resposta derradeira. «Até quando conseguirás suportar o facto de que o mundo dos cães, tal como demonstram cada vez com mais evidência as tuas pesquisas, está para sempre votado ao silêncio?".

Cordialmente

Ana disse...

Rui Baptista, em alguns comentários deixei alguns dados de que tenho conhecimento. Digo alguns, porque não tenho todos, logicamente. Referi inclusivamente a filosofia e objectivo principal das NO. Referi que o aluno visado não foi o melhor exemplo escolhido para apontar a dedo as NO, e expliquei o meu ponto de vista. Isto, em postes anteriores, pareceu-me irrelevante voltar a dizer o mesmo.
Contudo, quando as pessoas que tentam chamar a atenção para o outro lado da história são atacadas por alguns trolls que abundam neste Blogue -facto que tem feito muitos comentadores desistir de comentar.
Como pode esperar que um profissional da área queira elucidar ou descrever parte do processo, se de cada vez que abre a boca para defender as NO, no sentido de mostrar o outro lado, se semelhantes trolls de imediato se dedicam a insultar sem sequer conhecer ou ler?...
Parece-me que nos meus comentários ao longo desta discussão, que já vem de postes anteriores, deixei bastante informação -e no entanto um certo troll acusou-me de nada dizer.

De facto, tem toda a razão: a discussão é inútil. Mas não diria que pela falta de vontade em dar a conhecer, mas mais pela falta de vontade em querer conhecer. Eu não pertenço às NO nem nunca trabalhei num CNO, repare... e no entanto possuo mais informação que alguns dos acérrimos críticos, vendo para além da podridão que está instaurada no sistema NO. Note que não conheço toda a engrenagem porque não estou no seu seio, mas admito não conhecer algo antes de o criticar.
Refiro que a informação está disponível online.

Porque, numa coisa todos concordamos: as injustiças são muitas. Especialmente quando de repente todos recebem ORDENS DIRECTAS para passar todos e mais alguns, quer mereçam, quer não mereçam. Mas...isso não acontece tb no ensino regular?... é a podridão que infecta todo o sistema educativo que traz ao de cima aquilo que as NO têm de pior, enterrando o que poderia ser de bom e enforcando em praça pública (que mais chamar a alguns comentários?) uma filosofia distinta que visa somente adultos que enriqueceram e assimilaram conhecimentos através da experiência de vida. As NO não visam ensinar, propriamente: trata-se de validar as competências quem já foi ensinado mas que devido às vicissitudes da vida não pode obter a qualificação via ensino regular.

Logicamente que é um sistema facilmente deturpável e manipulável, e que está cercado pelas ordens de passar todos os que lá aparecerem. Ordens essas que vieram da própria UE.

E com isto assiste-se à decadência de um sistema que poderia ter funcionado -e que em alguns casos ainda funciona, graças à resistência, resilência e dedicação de quem lá trabalha. Que são colegas de profissão e lutam pelo mesmo objectivo que os colegas do ensino regular, e com mais adversidades e insegurança.

Enfim, Rui, peço desculpa mas retiro-me desta discussão - devido aos anteriores trolls que são permitidos neste canto que poderia ser mais enriquecedor.
Agradeço-lhe, contudo, a cortesia. O Rui é um senhor. :)

Ana disse...

Eh pah, desculpem a troca de nomes, já estou zonza com tanta celeuma (e tantos trolls :p)... eu queria dirigir o anterior comentário ao João... desculpe...

Mas o Rui, se quiser, tb pode ser um senhor :p :D

Ana disse...

Rui Baptista, para que não haja lapsos de entendimento: era uma brincadeira, o último comentário... a troca deve-se ao facto de, infelizmente, deste lado estar um ser humano falível, lol, e acabei por misturar o joão e o rui, dado que os tenho em igual consideração (não é que isso lhes faça "grande abalo", mas é somente para se evitarem mal entendidos :) ).

Rui Baptista disse...

Cara Vani: Acredite que é com pena que verifico a sua vontade em se retirar de uma discussão em que não é juíza em causa própria com a vantagem, portanto, de encarar os factos sob uma perspectiva desinteressada. Obrigado pelos seus delicados comentários que se reflectem na forma como os tenho tentado retribuir.

Em vários aspectos (ou mesmo quase todos: basta ler o meu post) estamos de acordo: quando acusamos o facilitismo que tem orientado (de “motu proprio” nacional ou em cumprimento de orientações, como diz, da União Europeia) o nosso ensino do básico ao universitário em que se abrem universidades privadas de lápis e papel (as excepções confirmam a regra) em que só o escândalo gerado por uma delas em admitir provas de exame por fax e diplomas passados ao domingo teve o efeito terapêutico de um diagnóstico seguido da devida terapêutica: o seu encerramento.

Não fosse a denúncia pública dos media em dar a conhecer situações destas ainda teríamos indivíduos da nomenklatura a licenciarem-se do dia para a noite, indivíduos a quem não bastavam os elevados e rendosos cargos políticos desempenhados.

Nunca, por nunca, foi minha intenção recriminar os formadores que leccionam nas Novas Oportunidades para ganharem o pão que o diabo amassou com vencimentos que rondam a iniquidade quando comparados com os auferidos por professores do chamado ensino regular. Mas porque “abyssus abyssum invocat”, o próprio ensino secundário que restava como último baluarte de exigência terá que ceder o passo, mais dia menos dia (manda quem pode, obedece quem deve), ao facilitismo que grassa no ensino nacional, seja ele de novas ou velhas oportunidades, tornando, neste alvor de século e milénio, Portugal cadinho de experiências que tiveram a sua época na Revolução Cultural Chinesa em meados do século passado. Quanto à satisfação de estatísticas que atestem a “excelente” obra educativa levada a efeito nestas últimas décadas, são elas merecedoras da análise de Leite Pinto, antigo ministro da Educação do Estado Novo e professor catedrático do IST: “Há duas formas de mentir: uma é não dizer a verdade; outra, fazer estatística”.

Cordiais cumprimentos, pedindo-lhe que reconsidere a sua decisão de se retirar dos comentários que tem tecido com o intuito construtivo. Sem sombra de lisonja, o declaro. Assim como lhe peço que excepcione a sua decisão para que eu não corra o risco de lhe atribuir intenções que, abusivamente,embora não intencionalmente, possa ter retirado das seus oportunas intervenções.

Rui Baptista disse...

Cara Vani: Não tem que pedir desculpa de eu me ter "apropriado" de um comentário que me não era dirigido.As desculpas cabem-me todas inteirinhas. As minhas desculpas, também, para o João.

Ana disse...

Rui Baptista, tal como eu disse, o Rui é um senhor e sabe ler. :) Melhor que ler, consegue compreender o que lê (acredite que são casos muito raros). Infelizmente nem todos os comentadores/bloggers são como o Rui, o João, Helena Damião, entre outros e acabou por se instalar uma celeuma desnecessária.

A minha opinião é, como diz, desinteressada. Na medida em que tenho por hábito tentar ver todos os lados das questões e das histórias. Daí que tenha tentado fazer o papel de advogada do diabo. Infelizmente nem todos o interpretaram assim, motivações à parte.

Sim, concordamos no facto do facilitismo ter tomado conta de todos os nossos sistemas de ensino, no entanto, tenho achado que a as NO se converteram no bode "respiratório" de todo esse processo. Mas, tb é claro que é um processo onde a fraude é muito mais fácil de realizar.

Os formadores são, literalmente, os irmãos pobres dos professores :(. Não há contrato, não há subsídios nenhuns, não há segurança. São obrigados a ceder às exigências superiores (e são estes casos e exemplos que são noticiados, nunca os casos em que pessoas com mérito e valor conseguiram dar um rumo à sua vida) caso queiram continuar a ter um sustento. No meu caso, felizmente tenho encontrado equipas que resistem a essas ordens de aumentar estatísticas. Tal como tenho colegas das NO que se despediram de inúmeros centros onde a rebaldaria imperava. Ou colegas desse sistema que são tratados pelos directores dos mega-agrupamentos como se de funcionários administrativos se tratassem. É um sistema podre, é, e os que acreditam na filosofia do processo são os únicos que vão garantindo que nem todos os chicos espertos obtenham um diploma não merecido.

Mas esse problema existe igualmente nos cursos de formação EFA ou CEFs (e outros...). Muitos deles cheios de mentalidades tacanhas partidárias do esforço mínimo, pessoas com circunstancias de vida terríveis e deprimentes (olhe, ainda na semana passada uma ex-formanda se suicidou...), e onde os formadores são obrigados a ser assistentes sociais, psicólogos, disciplinadores, educadores, formadores, tudo ao mesmo tempo...é incrivel como as turmas de adultos conseguem ser piores, em termos de comportamento, que uma turma de crianças (pasme: até um pacto para não entrega de trabalho de recuperação/melhoria de nota fizeram...)...e é formador que tem de lidar com este tipo de turmas e tentar remodelar as mentalidades. Muitos chegam ali contaminados com a ideia de que "isto é só um curso EFA!", achando que será muito fácil e que não terão de se incomodar muito...quando chegam à conclusão que é exactamente o contrário (pelo menos nos cursos por onde tenho passado), revoltam-se, tornam-se estupidamente reivindicativos...é cansativo...um profissional competente acaba por se ver confrontado com um tipo de mentalidades bem ao estilo das caixas de comentários do público online lol. E o que deveria ser um processo de aprendizagem, torna-se um processo de remodelação de comportamentos e atitudes extremamente esgotante. Juntando a isso a insegurança financeira, e não só, que arrasa a "classe" de formadores (que, afinal, são professores, somente lidam com outro tipo de publico-alvo)... enfim...!!

No meu caso torna-se ainda mais complicado porque sou portadora de um handicap (olhe, ontem foi o "meu" dia mundial, eheheh) que me atrapalha o trabalho, por vezes (no entanto, acredita que os meus alunos/formandos, nunca me faltaram ao respeito nesse aspecto?...) e acabo por ter de estar sempre a dar provas extra...e tem sido o motivo pelo qual tenho evitado o ensino regular (não sei se seria bem recebida... :D); por outro lado, como me habituei a lidar com este tipo de turmas, fui-me deixando seduzir pela hipótese de poder fazer alguma diferença na vida e educação de alguém. Ao mesmo tempo acabo por ter liberdade para alguma divulgação científica, a minha área predilecta (sou bioquímica de formação ;-) ).

Ana disse...

A "culpa" foi minha, mesmo, ao me ter enganado nos nomes. Conhece-se muita gente, tem-se a mesma (boa) opinião, e no fim começa-se a trocar nomes... :D (o que não significa que se coloque todos no mesmo saco, note-se ;) ). Cumprimentos cordiais e que se possa continuar a aprender neste canto (mas mais uma vez "chamo a atenção" para a perda de comentadores devido à falta de moderação; provavelmente não estou isenta de "culpas", uma vez que sou humana e reajo a insultos e injustiças...). :)

Em todo o caso, somente "peço" que se tente dar uma (nova) oportunidade à filosofia de validação de competências (aquilo a que chamamos de NO é na verdade um Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, o processo RVCC) a que, por princípio, só deveriam poder aceder candidatos com determinado perfil. Contudo, em muitos CNOS (centro de novas oportunidades), as ordens são para recrutar e passar...uma vergonha, nisso estamos totalmente de acordo. Contudo, vendo por outro prisma, há casos de pessoas competentes e sábias, somente com a 4a classe, com os seus 50, 60, 70 anos, para quem tal filosofia representou realmente uma nova oportunidade de vida.

Imagina a quantidade de população activa de 50 anos que procura educar-se e aprender mais? são muitos, e vários até preferem os cursos técnico-profissionais (mesmo possuindo competências e perfil para o processo de RVCC, preferem tirar um curso). É para esses que esta filosofia deveria estar direccionada, dado que em 50 anos se acumula saber que merece ser certificado e tendo em conta que é muito difícil integrar estas pessoas no ensino regular, que não está desenhado para as receber.

No caso do aluno da notícia em questão, segundo entendi, tinha somente algumas disciplinas em atraso (do 12º). Refiro igualmente que a notícia chama módulos a algo que não o é (a informação está disponivel em referenciais de cursos EFA, é semelhante). E, não menos importante, o rapaz fez o mesmo exame que os colegas do ensino regular (embora os colegas tenham sido obrigados a fazer muitos mais...) e "safou-se". Também somos obrigados a questionar que tipo de de universidade pede somente o exame de inglês para ingresso num curso de tradução...

Claro que é injusto que esse rapaz tenha feito "o curso" em menos tempo e com melhores resultados. Extremamente injusto. Repare, eu tenho quase 30 anos de estudos académicos (pré-bolonha e da mal afamada geração rasca eheheh - que hoje se vê à rasca...) em cima! :D não é de ânimo leve que aceito que se possa ser facilmente "encanudado"!
A questão contudo, reside no mérito do candidato: para conseguir uma média daquelas, mesmo que vindo das NO, tem de ter algum mérito. Claro que, num mundo perfeito, não deveria ter tido acesso ao processo RVCC... mas as ordens partiram da própria união europeia.

O ensino, seja ele qual for, na sua maioria, transformou-se numa corrida à qualificação - quer se tenha competências, quer não. E ai de quem tentar contrariar o processo...

Rui Baptista disse...

Cara Vani: A melhoria do ensino nacional, seja do básico ao universitário, seja de novas ou velhas oportunidades, merece ser criticado construitivamente. Se reparar, os respectivos responsáveis, que dele tiram dividendos, muitas vezes, de novas e rendosas sinecuras,, fecham-se em copas adoptando o princípio: deixá-los falar (uma forma de eufemismo) que eles calar-se-ão. E a caravana passa por caminhos de um escandaloso facilitismo.

Assistir impávido e sereno a este "status quo" ao serviço de dados estatísticos, viciados à partida, é com ele pactuar não assumindo a responsabilidade de uma cidadania que a democracia consente, mas olhando para o lado como se tudo corresse no melhor dos mundos. E não corre!

Ana disse...

Rui Baptista, plenamente de acordo. :) Somente afirmo que há muitos que grassam criticar somente por criticar, sem olhar ao outro lado da questão; daí tentar introduzir outro prisma. Contudo, ao introduzir esse outro prisma, não quero invalidar o facto de ser um sistema educativo muito fácil de sabotar. Temos contudo de concordar que a má publicidade, muitas vezes não fundamentada ou pesquisada, também afecta o sistema (seja ele qual for). Claro que deve ser criticado! Construtivamente, como penso que estamos fazendo.

Rui Baptista disse...

Anónimo (19 Set., 21:45):

Escreveu este anónimo um comentário em que me sujeita, segundo ele próprio, a duas ou três perguntas. Oito contei eu, num texto corrido com 1828 caracteres.

A resposta às suas oito perguntas (para que ambos não corramos o risco de sermos juízes em causa própria) poderá encontrá-las num post em que irei transcrever, ainda hoje, a reportagem do Expresso (18/09/2010) que deu azo a este meu post e ao seu comentário.

Seja como for, as críticas são necessárias, como escreveu Manuel Laranjeira (1908), “numa sociedade, onde o pensamento representa um capital negativo, um fardo embaraçoso para jornadear pelo caminho da vida, num povo, onde essa minoria intelectual, que constitui o capital de orgulho de cada nação se vê condenado a cruzar os braços com inércia desdenhosa, ou a deixá-los cair desoladamente sob pena de ser esterilmente derrotado”.

Por esse facto, tenho escrito, de há anos para cá, inúmeros post’s neste blogue em denúncia daquilo que tenho como escandaloso: as Novas Oportunidades e o Exame de Acesso ao Ensino Superior para Maiores de 23 anos.

Esta a resposta à sua pergunta sobre a minha opinião acerca do Exame de Acesso que tem, igualmente, por mim sido criticado, como provo, com este exemplo, colhido de entre muitos:

“Volto a abalançar-me a uma descida às profundezas do inferno do actual sistema educativo português. O estado calamitoso do ensino nacional é revelado, entre outros exemplos, pelas “Novas Oportunidades”, por mim apelidadas, em textos anteriores, de “Novos Oportunismos”, e pelas “Provas de Acesso ao Ensino Superior para Maiores de 23 anos” (parágrafo inicial, do meu post, “Novos Oportunismos”, 12/Maio/2009).

Mais parco em perguntas (apenas uma), não me dirijo, no entanto, directamente a si, mas a possíveis leitores: mas como foi isto possível? A resposta é-nos dada pelo italiano Mario Perniola, professor de Estética na Universidade Tor Vergata de Roma, quando escreve:

”Os fautores da tradição, que apelam para os valores, para o classicismo, para o cânone, são postos fora de jogo por esses funâmbulos, esses equilibristas, esses acrobatas, que também querem ser eternizados no bronze e no mármore. E quem diz que o não conseguem? Há sempre uma caterva de ingénuos prontos a escrever a história da última idiotice, a solenizar as idiotices, a encontrar significados recônditos nas nulidades, a conceder entrada às imbecilidades no ensino de todas as ordens e graus, pensando que fazem obra democrática e progressista, que vão ao encontro dos jovens e do povo, que realizam a reunião da escola com a vida”.

(CONTINUA)

Rui Baptista disse...

(CONTINUAÇÃO)

A resposta às suas outras perguntas e inquietações podem ser encontradas no post prometido, em que irei transcrever integralmente a notícia do Expresso sobre esta temática e em que, em tudo isto, a única pessoa que sai bem no retrato é o próprio aluno que lhe deu azo, Tomás Bacelos. Com conhecimento de causa do que se passa nas Novas Oportunidades, teve a hombridade de reconhecer ter sido favorecido por um processo de facilitismo que o Expresso considera uma “via verde” e que eu tive neste meu post da forma seguinte: “Ou seja, vivemos num país a duas velocidades. Uns viajam em comboios a vapor, com incomodidades pelo caminho e paragens em vários apeadeiros; outros na comodidade do TGV que os transporta, à velocidade de um raio, rumo à obtenção de diplomas dos vários graus de ensino. O TGV é representado pelos exemplos das Novas Oportunidades para maiores de 18 anos e do Acesso ao Ensino Superior para Maiores de 23 anos, com o respectivo e escandaloso facilitismo. Como é óbvio, quem faz o seu percurso escolar regular viaja em comboios do século XIX”.

“Last but not least”, chamo a atenção para três opiniões de muito peso que constam da reportagem do Expresso, emitidas por quem está bem dentro e com responsabilidades institucionais neste processo:

1. “Há uma discriminação positiva destes alunos” [das Novas Oportunidades] – António Boaventura, do Centro de Novas Oportunidades da Secundária Henrique Medina, que Tomás frequentou.

2. “Virgílio Meira Soares, admite que possa haver uma ‘injustiça’”, mas rejeita responsabilidades e lembra que os candidatos vindos das Novas Oportunidades também podem acabar por sair prejudicados com esta legislação. Isto porque só concorrem ao superior com uma única nota de exame, sem outras classificações a pesar na média, o que pode prejudicá-los, caso a prova não corra bem”.

3. “Luís Capucha, presidente da Agência Nacional para a qualificação e um dos responsáveis pelo Programa Novas Oportunidades, recusa comentar as regras de entrada no ensino superior, por não serem da sua competência. Ainda assim, afirma que ‘não faz sentido aferir a dificuldade de ingresso pelo número de exames exigidos’ aos estudantes”.

Nada justifica, portanto, perante esta argumentação querer ser mais papista que os três papas que a apresentaram e que vem dar razão às críticas que são feitas às Novas Oportunidades.

Quem melhor do que eles para fundamentá-las depois de terem sido cantadas loas à sua excelência pelo actual secretário de Estado do emprego e Formação Profissional, Valter Lemos?

Daniela Silva disse...

Começo logo por admitir que desconheço os meandros e as especificações das Novas Oportunidades, venho simplesmente dar o meu testemunho pessoal, do que se passa comigo e pela razão com que discordo de todo com o sistema de ensino que se pratica neste País, desde das NO até Bolonha.
Conclui o meu ensino secundário em 99, com média de 16 valores com as disciplinas específicas de Matemática, Geometria A, Química e Física, entrei no mesmo ano no IST em Engenharia com um percursos escolar até aí exemplar, sem uma única negativa.
Prolonguei o meu curso mais anos que o devido (5 na altura) por motivos de saúde, que me fizeram ter que interromper o curso por 2 anos. Quando regressei "apanhei" Bolonha, faltava-me 2 cadeiras e a partir daquele momento uma Dissertação que fiz com muito facilidade e até agrado.
Devido à minha idade a vida somente de estudante seria quase impossível, por isso tentei procurar emprego.
Devido à minha formação no IST uma empresa quis os meus serviço pois na minha Cidade (periférica) era a única pessoa disponível para trabalhar nessa área. No Centro de Emprego disseram-me que não podia me candidatar a um estágio profissional porque não tinha nem grau superior (O IST não dá Licenciatura ao fim de 3 anos), nem o ensino secundário profissionalizante, por isso mesmo, com o curso quase completo, como mestre, mas para o Centro de Emprego eu tenho o grau mais inferior possível...trabalhei durante 9 meses a fazer trabalho de Engenharia a receber ordenado mínimo enquanto tentava conciliar com os estudos, numa faculdade em que não existe regime pós laboral e o grau de dificuldade mantém-se muito elevado, exigindo muito estudo e muita dedicação para um 9,5 numa cadeira.
Por isso sim...concordo que neste País uns andam a pé e outros de TGV. No meu local de trabalho eu, aluna de média de 16, aluna do IST com média de 14valores e 16 na Dissertação recebo o ordenado mínimo, enquanto tenho colegas que terminaram o secundário à noite, com média de 10, têm um licenciatura de 3 anos e recebem o dobro do meu ordenado pelo Centro de Emprego.
Por isso hoje digo...o meu percurso académico só me serve para valorização pessoal e tenho que me concentrar nisso, senão deveria ter feito um secundário nas NO, uma licenciatura de 3 anos e estava melhor do que estou agora.

Rui Baptista disse...

Cara Daniela: Na verdade, o seu comentário é bem elucidativo da injustiça que as "reformas" no sistema educativo (do básico ao universitário) têm criado nos que não pactuam com as Novas Oportunidades, Bolonha e quejandos.

Tivesse abdicado do seu valioso percurso académico optando por uma licenciatura em engenharia na extinta Universidade Independente o seu destino teria sido bem mais risonho. Mas a dignidade em defender princípios de um ensino sério tem os seus custos...

O seu comentário merece ser tratado mais detalhadamente. É minha intenção escrever um post sobre esta temática por se tratar de uma questão de cidadania em denunciar publicamente casos como estes.

O seu reparo, quando escreve "começo logo por admitir que desconheço os meandros e as especificações das Novas Oportunidades", justifica o pedido que lhe faço. O de ler o meu mais recente post "O Expresso, as Novas Oportunidades e o Acesso ao Ensino Superior". Nele encontrrá o testemunho de um ex-aluno das Novas Oportunidades, testemunho corajoso sobre as iniquidades aí geradas, e de três responsáveis sobre esta forma de "ensino" que não conseguem defender o indefensável.

Cordialmente

Anónimo disse...

Não é por muito escrever
que se leva a água ao moinho:
o difícil é dizer
muita coisa em poucochinho!

JCN

Anónimo disse...

"Neste momento não tenho tempo paraq ser breve":

Quando tenho de ser breve,
de muito tempo preciso:
só se pode ser conciso
quando com tempo se escreve.

Quem não tem tempo se espraia
em longas divagações,
incapaz de pôr travões
às ondas banhando a praia.

JCN

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...