sábado, 25 de setembro de 2010

AINDA HAWKING E DEUS


O habitual destaque aos sábados para a coluna do físico Robert Park:

"MEMO TO SCRUTON: AT LEAST HAWKING GOT THE RIGHT ANSWER.
An op-ed by Roger Scruton in The Wall Street Journal this morning was  titled,
"Memo to Hawking: There’s Still Room for God." An English philosopher, Scruton
is a visiting scholar at the ultraconservative American Enterprise Institute
in Washington, DC. "Almost no one" he writes, "believes there is a rational
scientific theory that tells us how the universe emerged from nothingness."
No one, that is, except those that might be expected to know, physicists,
who labor to make such a theory possible. In addition to Kant, Scruton invokes
Newton and Einstein to make his point, but unlike philosophy, physics is tightly
bound to observation."
.
Robert Park

34 comentários:

Anónimo disse...

Acerca desta questão
e do seu vocabulário,
Deus não possui secretário,
a ninguém passa cartão!

JCN

Ana disse...

São interessantes as tentativas de atribuir uma crença em deus a Einstein ou S.H... :)

Ana disse...

Na verdade, S.H. nunca disse acreditar em deus (como circula por aí, que S.H. primeiro dizia acreditar e depois já dizia não acreditar...)! Quando Hawkins e os seus pares utilizam o termo deus, não se referem ao deus tradicional ou mesmo à ideia do deus criador. Referem-se à unidade, àquilo que deu origem ao resto, não necessariamente a uma entidade inteligente. Trata-se de uma metáfora e de uma questão de trazer poesia a um campo muito vasto e complicado. Foi com a mesma intenção que o bosão de Higgs recebeu a "alcunha" de "Partícula de Deus".

‎"Hawking is by no means the only scientist who has associated God with the laws of physics." é dito. Mas logo a seguir: "Weinberg notes that traditionally the word "God" has meant "an interested personality". But that is not what Hawking and Lederman mean."

Então, queriam dizer o quê?

"Their "god", he says, is really just "an abstract principle of order and harmony", a set of mathematical equations."

Portanto, ele nunca disse ser pro-deus, no sentido que o teísmo dá ao termo. Tratou-se sempre de uma questão abstracta: nunca foi em relação a um deus criado pelos homens. Era esse deus, contudo, que S.H. queria nomear quando afirmou, recentemente (a tal afirmação que deu origem à polémica de "primeiro diz que sim, depois diz que não") que a forma como o Universo e a Natureza estão organizados não implica, necessariamente, a existência de uma entidade inteligente e criadora...

Ana disse...

Já Einstein, a quem tem sido erronenamente atribuída uma fé religiosa, afirmou que:

“A palavra Deus para mim é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia é uma colecção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis. Nenhuma interpretação por mais subtil que seja pode (para mim) alterar isso. […] Para mim, a religião judaica, como todas as outras, é a encarnação de algumas das superstições mais infantis. E o povo judeu, ao qual tenho o prazer de pertencer e com cuja mentalidade tenho grande afinidade, não tem qualquer diferença de qualidade para mim em relação aos outros povos. Até onde vai minha experiência, eles não são melhores que nenhum outro grupo de humanos, apesar de estarem protegidos dos piores cancros por falta de poder. Mas além disso, não consigo ver nada de ‘escolhido’ sobre eles.”

Ana disse...

Paul Dirac foi o mais contundente:

“Eu não consigo entender porque perdemos tempo a discutir religião. Se formos honestos – e os cientistas têm de o ser – temos de admitir que a religião é uma confusão de falsas asserções, sem qualquer base na realidade. A própria ideia de Deus é um produto da imaginação humana. É bastante compreensível o porquê das pessoas primitivas, que estavam muito mais expostas às forças dominantes da natureza do que nós, terem resolvido personificar estas forças por medo e tremor. Mas hoje em dia, quando entendemos tantos processos naturais, não temos qualquer necessidade desse tipo de soluções. Eu não consigo entender como postular um Deus Todo-o-Poderoso nos pode de alguma forma ajudar. O que consigo ver é que esta suposição leva a questões improdutivas tais como o porquê de Deus permitir tanta miséria e injustiça, a exploração dos pobres pelos ricos e todos os outros horrores que Ele podia prevenir. Se a religião continua a ser ensinada, não é pelas suas ideias ainda nos convencerem, é porque alguns de nós desejam manter as classes inferiores silenciadas. Pessoas caladas são muito mais fáceis de governar do que as clamorosas e descontentes. São também muito mais fáceis de explorar. A religião é uma espécie de ópio que permite a uma nação tranquilizar-se com sonhos cobiçados e esquecer-se das injustiças que são perpetuadas contra as pessoas. Daí a aliança próxima entre essas duas grandes forças políticas, o Estado e a Igreja. Ambas necessitam da ilusão de que um Deus benevolente recompensa – no Céu se não na Terra – todos aqueles que não se elevaram contra a injustiça, que cumpriram com o seu dever sossegadamente e sem reclamar. É precisamente por isso que a asserção honesta de que Deus é um mero produto da imaginação humana é condenada como o pior de todos os pecados mortais.”

(Consta que Wolfgang Pauli quando questionado sobre a sua opinião disse: “Bem, eu diria que também o nosso amigo Dirac tem uma religião e que o primeiro mandamento dessa religião é ‘Não existe Deus e Paul Dirac é o seu profeta’” Ehehehe.)


A questão ciência vs religião é polémica e a celeuma é inevitável. No entanto, penso que Feynman (o grande Feynman) foi quem mais tentou conciliar estes dois lados da dimensão humana:

"Deus foi inventado para explicar o mistério. Deus é sempre inventado para explicar aquelas coisas que não se compreendem. Agora, quando finalmente se descobre como funciona algo, arranjamos algumas leis que são roubadas a Deus; Ele já não é preciso. Mas continua a ser preciso para os outros mistérios. Portanto deixamo-Lo para criar o Universo porque ainda não esclarecemos isso; Ele é preciso para entender aquelas coisas que não se acredita poderem ser explicadas pelas leis, como a consciência, ou porque apenas se vive durante um certo período de tempo – a vida e a morte – coisas assim. Deus está sempre associado às coisas que não se compreendem. Portanto não acho que se possa considerar que as leis sejam como Deus porque elas já foram esclarecidas."

É caso para dizer, a deus o que é de deus, à ciência o que e da ciência...


Ps - peço desculpa pela vaga de citações (bem como ao meu colega que mas deu a conhecer, por lhas ter "roubado" eheheh), mas para quê repetir o que os grandes tão bem já afirmaram antes?...

Anónimo disse...

A não ser inteligente
esse ser que nos criou,
há que pôr na nossa mente
que de parvo não passou!

JCN

Anónimo disse...

Que obsessão, cara senhora, em escrever Deus com letra minúscula! Faz-lhe comichão?... JCN

Anónimo disse...

"No one, that is, except those that might be expected to know, physicists, who labor to make such a theory possible. In addition to Kant, Scruton invokes Newton and Einstein to make his point, but unlike philosophy, physics is tightly bound to observation.""

Questão de Deus à parte (já agora, que conceito de de Deus se discute aqui?) este Park é de uma ignorância e de uma ingenuidade filosófica tal que faria corar, por exemplo, o próprio Newton.

Anónimo disse...

Agora algo mais a sério. Para reviews competentes ao livro deixo os seguintes links:

Craig Callender

Fred Bortz

Roger Penrose

Sean Carroll

John Horgan

Hamish Johnston

Estes links baseiam-se neste post do blog Not Even Wrong (de Peter Woit).

Cara Vani, essas citações sem referência às fontes deixam muito a desejar. Não li as citações, mas sei do lixo que anda para aí.

joão boaventura disse...

A este propósito convém saber porque é que os ateus devem acreditar em Deus, sob penas muito severas.

Anónimo disse...

À margem do termo em si,
segundo as línguas diverso,
Deus, conforme o entendi,
cabe todo num só verso!

JCN

Anónimo disse...

No final da mimha vida
não penso mais do que em Deus,
não o Deus dos fariseus,
mas o da mulher perdida!

JCN

Anónimo disse...

Se a ciência em poesia
alguma vez se expressasse,
tudo mudava de face,
outro galo cantaria!

JCN

Anónimo disse...

Quem será este JCN? Que tristeza de versalhada?!!!

Ana disse...

JCN, é somente preguiça de clicar no caps lock. Como ateia, lamento, mas não tenho necessidade desse cuidado adicional, dado que Deus (na minha perspectiva, note) é somente mais um deus entre muitos.

João Boaventura, eheheheheheh! NO que me respeita, sei que já tenho lugar reservado na primeira fila das torturas intemporais dos infernos (da mente humana...) :p.

Anónimo disse...

Sugeria duas coisas ao postador:

- que não censurasse o comentário que eu submeti. Comentário cujo conteúdo daquilo para onde remetia creio ser muito mais informativo e interessante do que meses e meses de posts deste blog;
- olhasse para o texto deste post: a transcrição está com problemas graves de competência.

Anónimo disse...

Como fazem com Baal,
nada impede que os ateus
o nome escrevam de Deus
com critério desigual!

JCN

Anónimo disse...

No que à preguiça respeita,
tenho mais em que pensar
que seu perfil indagar,
sem desprimor nem desfeita!

JCN

Anónimo disse...

Sempre admirei a ideia de Deus, acho umas das obras mais belas da loucura e, loucura por loucura, ninguém tem a verdadeira sanidade sobre a questão.
O problema disso tudo é pq querem dar sanidade a loucura, sendo que a loucura só é bela quando é loucura, a partir do momento que quiseram intender a loucura, ela se perdeu e causa indiferenças e desastres nestes nossos campos de "sanidade." Viva a sua loucura, não viva a loucura dos outro.

L Cabral...

José Batista da Ascenção disse...

JCN são as iniciais de João de Castro Nunes.
E os versos de JCN são sentidos e autênticos como suponho terá sido a sua vida.
E como a vida já longa (e que o seja por muitos anos ainda)de JCN ensina mais do que a sabedoria de tantos, que talvez se julguem deuses, eu aprecio as suas intervenções, como os seus versos. Porque sentidos, porque autênticos, porque musicais, e por isso verdadeiros.
Desculpe meter aqui o bedelho, Professor João de Castro Nunes. É que me habituei a lê-lo com agrado e ternura. De Homens assim não vem mal ao mundo. Bom era que houvesse muitos como o Senhor.
Tosos sabíamos melhor com o que contar. E o facto de eu não o conhecer não invalida, antes reforça, o que penso (e sinto).
Peço-lhe desculpa outra vez. E peço-lhe também o favor de não comentar este meu comentário, porque me sentiria muito bem assim.

Ana disse...

Caro anónimo, como pode classificar de lixo algo que nem sequer se deu ao trabalho de ler? É que, se lesse, reconheceria...

Ana disse...

É interessante, mais uma vez, constatar o fenómeno social dos que se sentem cheios de si somente quando passam atestados de incompetência aos outros...

"Não li as citações, mas sei do lixo que anda para aí"

-Ah?! "Não li". Portanto, pseudo-classifica sem sequer ler.

-"Sei do lixo" - ah, sabe, eu também sei umas quantas coisinhas...e parto do princípio que os meus interlocutores também sabem.

Note que blogues, só por si, não são referências propriamente ditas. Mas olhe, dê-se ao trabalhinho de colocar as citações que eu inclui no Google. Vai ver que encontra qq coisinha rapidamente.

Enfim, eu de lixo tb sei umas coisinhas, por isso tb não li as referências que fornece...

Ana disse...

Ah, só mais uma coisa... se LER, com ATENÇÃO, há-de reparar que eu disse EXACTAMENTE a mesma coisa que o senhor/senhora.

Criticar só por criticar, tb "eu sei"...

Ana disse...

Em resposta à pergunta do anónimo, "que conceito de Deus se discute aqui": LEIA. E talvez, depois de LER, a resposta lhe surja...

No entanto, o anónimo tem razão quando afirma que as citações deveriam vir acompanhadas da referencia, se possível a original. No entanto, estes dizeres saíram de colectâneas de entrevistas, cartas que foram a leilão, conversas que foram reproduzidas, etc, etc. E que circulam entre a comunidade científica. Lixo, portanto...

Anónimo disse...

Para mim, quanto circula
com segundas intenções
e o ser humano macula
é puro lixo aos montões!

JCN

Anónimo disse...

Cara Vani,

peço-lhe que releia o que escrevi, não há motivo para essas reacções. Eu não disse que o que transcreveu era "lixo". Eu disse:

(i) há muito lixo por aí;
(ii) referências, e em particular citações (uma vez que os típicos criadores de lixo adoram citações e aforismos), são do lixo que mais abunda.

Desta forma, essas reacções que tem só as consigo compreender se eu tivesse dito uma de duas coisas:

(i) todas as citações sem referência às fontes são lixo;
(ii) as citações que a Vani colocou são lixo.


Quanto a não olhar para os links que deixei. O motivo que dá é fraquinho, uma vez que:

(i) têm origem num blog de um professor da univerisdade de Columbia (pode verificar pelo domínio em que está alojado o blog Not Even Wrong, se tem dúvidas);
(ii) as entrevistas são de jornais e outros meios que me parecem perfeitamente fidedignos;
(iii) pode ver também o blog do Sean Carroll (alojado no domínio da Discover Magazine, e que curiosamente aparece na coluna de ligações deste blog.

Ana disse...

Mas, continuando com as referências (peço desculpa pela interrupção, mas a labuta quotidiana está sempre em primeiro lugar :) ), porque neste ponto o anónimo referido está correcto. Fui ingénua ao ponto de achar que o facto de ter referido que "roubei" as citações a um colega de área bastaria (não referi o colega nem o seu site uma vez que ele não busca publicidade grátis...).

- Citação de Einstein: http://www.guardian.co.uk/science/2008/may/13/peopleinscience.religion

("An abridgement of the letter from Albert Einstein to Eric Gutkind from Princeton in January 1954, translated from German by Joan Stambaugh.")

Portanto, escrito pelo próprio punho do cientista. É um belo lixo, não é?...


- Citação de Dirac: ^ a b Werner Heisenberg (1972). Physics and Beyond: Encounters and Conversations. New York: Harper & Row. ISBN 0061316229.

(mais lixo)


- Superstrings : A Theory of Everything (1988) Edited by Paul C. W. Davies and Julian R. Brown ISBN 0521354625

(mais lixo)


-citações e interpretações do que terá sido dito por S.H. : http://abcnews.go.com/WN/Technology/stephen-hawking-religion-science-win/story?id=10830164; http://www.telegraph.co.uk/science/science-news/7976594/Stephen-Hawking-God-was-not-needed-to-create-the-Universe.html; http://www.pbs.org/faithandreason/intro/cosmohaw-frame.html

Ana disse...

São somente reacções ao que postou, anónimo. Releia-se e não esqueça que, daqui, só o posso avaliar pelo que diz. O motivo que eu dou é "fraquinho"? eheheh... pois é, é fraquinho... tendo em conta que apenas o copiei, anónimo...relembre que afirmou que não tinha lido as citações e acrescentou que "de lixo sei eu". Quer que isso seja interpretado como?...

Ana disse...

Outra coisa, porque é que eu terei de aceitar o "as entrevistas são de jornais e outros meios que me parecem perfeitamente fidedignos;" ou o facto de o anónimo achar o professor de columbia fidedigno e o caro anónimo não aceitar (e com toda a razão, contudo) que eu tenha retirado as citações a um colega de área e ao círculo académico?... percebe onde quero chegar?

Mas tem toda a razão, deveria ter fornecido as referencias logo de inicio.

Ana disse...

Na verdade a minha reacção teve mais a ver com a sua postura, anónimo. Perdoe então a minha reacção, mas foi somente isso, uma reacção à sua acção... no que respeita às fontes, avalie -se quiser- se são lixo ou não...

joão boaventura disse...

À interrogação que acompanha a humanidade, Deus existe?, desde o alfa até o omega, e desde que nascemos até que morremos, vejamos, a propósito, ou despropósito, como se pode utilizar a fórmula do livre arbítrio aos impostos que prometem uma ascensão sem apelo.

Anónimo disse...

Dizer mal é por si só
uma prova de interesse,
pois o pior que acontece
é deixarem-nos no pó!

JCN

Ana disse...

João, belo comercial, que só peca por um facto: Einstein não acreditava em Deus. :) "“A palavra Deus para mim é nada mais que a expressão e produto da fraqueza humana, a Bíblia é uma colecção de lendas honradas, mas ainda assim primitivas, que são bastante infantis." - palavras dele, escritas pelo punho dele, que constam numa carta que foi recentemente a leilão (cuja referencia -ou melhor, link para uma referencia à carta- já referi acima :) ). Einstein tem sido invocado por muitos crentes como sendo um deles, mas tal facto é erróneo.

joão boaventura disse...

Cara Vani

O discurso de Einstein quando aborda Deus é um discurso redondo ou descomplexado, um quase jogo de palavras e ideias, em que nos deixa nas franjas da indecisão, ou talvez ele tenha pretendido esse efeito, sobre a credibilidade deística. Ora nos contempla com a subjectivação de que "o espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica", como, em contraponto esclarece que "ela se distingue da crença das multidões ingênuas que consideram Deus um Ser de quem esperam benignidade". E neste jogo de palavras fico com a sensação de que há dois deus, o de Einstein, e o das multidões.

E neste jogo em que se comprazia e se deleitava, tinha a asserçao de que "sua religiosidade [a dos sábios] consiste em espantar-se, em extasiar-se diante da harmonia das leis da natureza, revelando uma inteligência tão superior que todos os pensamentos humanos e todo seu engenho não podem desvendar, diante dela, a não ser seu nada irrisório", como se esse observatório o dispensasse de averiguar quem o autor da "harmonia das leis".

Diz-me que no seu último escrito terá declarado, à hora da morte, ao contrário do ateísta Voltaire que, quando pensava estar no último suspiro, acreditava em Deus, que era, como Bertrand Russell, ateísta. É verdade que o documento oferece alguns dúvidas quanto à sua fiabilidade, mas agradeço a informação que me proporcionou a ocasião de lhe oferecer, sobre a matéria de que ora se fala, o que o seu biógrafo Walter Isacson adianta.

Cordialmente

"A escola pública está em apuros"

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião   Cristiana Gaspar, Professora de História no sistema de ensino público e doutoranda em educação,...