Quando em Setembro de 2007 publiquei, neste blogue, o texto Quem abre uma escola fecha uma prisão estava longe de imaginar que as nossas escolas continuariam a fechar às dezenas, às centenas: neste ano são 701 e, tanto quanto me é dado perceber, o número aumentará no próximo ou próximos anos.
Só nestes dias tive conhecimento de que a reorganização da rede escolar a que temos assistido foi traçada há já cinco anos. Nessa altura, a discussão pública entre os parceiros directamente implicados – ministério da educação, pais e encarregados de educação, autarquias, professores e outros educadores, especialistas em ensino… – a ter sido feita, aconteceu em círculos restritos e dela pouco transpareceu, de modo que o país tem sido mais ou menos apanhado de surpresa.
O momento é de apreensão: autarcas que não sabem como resolver a questão dos transportes, pais e mães que mostram receios de mandar os filhos muito pequenos para longe de casa, especialistas que advertem para os múltiplos problemas que as escolas grandes levantam…
Atitude que contrasta com o imperturbável entusiasmo da tutela. Nada de positivo a salientar no funcionamento das escolas que tínhamos – algumas das quais haviam sido qualificadas como excelentes –, tudo a elogiar nos novíssimos centros e grandes escolares, como se neles estivesse a salvação para a educação nacional.
O discurso repetido até à exaustão assenta em dois argumentos:
Um argumento, mais geral, é que esses centros estão mais de acordo com as exigências da aprendizagem do século XXI. É uma grande frase, reconheço, mas só faria sentido se fossem explicadas clara e inequivocamente quais são, afinal, essas exigências.
Outro argumento, que parece concretizar o anterior mas que, em rigor, não o faz, é que tais centros garantem mais e melhores condições de sucesso aos alunos, uma vez que proporcionam uma socialização alargada, a inclusão social e vivência de cidadania, alimentação, transporte, biblioteca escolar, salas de informática, espaços para o ensino do inglês, da música e da prática desportiva.
Ainda que cada um destes aspectos mereça ser analisado em pormenor, detenho-me no seu conjunto para fazer notar que nele falta o que para alguns é essencial numa escola: assegurar, antes de mais, através da qualidade das orientações curriculares e programáticas e do ensino veiculado pelos seus professores, a aquisição de conhecimentos fundamentais, e que, nessa aquisição, se estimule a inteligência dos alunos.
Na imagem: Novo Centro Escolar de Seia
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1 comentário:
Compreendo a reacção generalizada, das populações, aos profissionais, até certa comunidade científica. Tudo o que muda incomoda. Mas como diz tudo já estava previsto desde há - pelo menos 5 anos!- e o que é que se fez entretanto para contrariar o movimento? A classe política - do lado do governo à oposição, não esquecendo os oportunistas dos autarcas - joga o seu papel e já não se pode acreditar no que diz. A comunidade científica mais próxima deste sector anda mais preocupada com a sua vida académica pessoal, infelizmente - por exemplo qual tem sido o papel dos departamentos de ciências da educação das várias universidades a este respeito e a outros em geral de âmbito curricular, mesmo que o governo não lhes dê ouvidos? Não existe uma posição pública assumida!
Não somos um país rico para manter simulacros de escola como casos que conheci (bem perto de Coimbra, há 8 anos atrás havia uma escola com 1 aluno e 1 professor e o Conselho Pedagógico do Agrupamento reflectia na possibilidade de manter essa escola aberta! Convenhamos!... Não sou adepto do fechar pelo fechar, mas vir agora argumentar que fechar uma escola é fechar uma aldeia - pra sermos mais imediatos na expressão - é conversa fiada - essas aldeias há muito que fecharam: fecharam quando se deixou de investir nelas através dum plano de desenvolivmento sustentável e se permitiu que as pessoas dali continuassem a sair como antes do 25 de abril e continuem... portanto tudo não passa dum modelo de sociedade por que se optou - não estou a dizer se o melhor - e deixemo-nos de hipocrisias e de argumentos tipo mais-do-mesmo como se ouve e vê nos media. Com o conhecimento científico que dominamos nas mais variadas áreas da acção, todos somos responsáveis pelo actual estado da situação e cada qual tem de assumir o que (não) fez/faz na devida altura. Não adianta, agora, continuar a chover no molhado...
jose costa
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