domingo, 4 de abril de 2010

O céu na poesia portuguesa

Informação recebida da Editora Temas e Debates:

O Círculo de Leitores e a Temas e Debates têm o prazer de o (a) convidar para a apresentação do livro

"Mitos, Mundos e Medos. da tradição popular ao século XX"

da autoria de Joaquim Fernandes, que se realiza no dia 9 de Abril, às 18.30 horas, no centro Comercial Dolce Vita Porto, Loja n.º 112, na Rua Campeões Europeus, 28/198 (junto ao Estádio do Dragão).

O livro, com Prefácio de Manuel António Pina, será apresentado por Salvato Trigo, Reitor da Universidade Fernando Pessoa.

A poesia portuguesa em digressão pelos céus

“Joaquim Fernandes conduz o leitor não só ao longo de lugares selectos da presença (mítica, filosófica, científica) das realidades astronómicas na tradição popular e na literatura poética, ingénua ou “erudita”, portuguesas mas também ao longo do convulso percurso do conhecimento científico e das rupturas por ele sucessivamente produzidas na nossa percepção do Universo e de nós mesmos. O que, para alguém, como este prefaciador, curioso tanto do Céu como da Poesia, fica no final da viagem é principalmente um estimulante sobressalto acerca das relações (de “enlace” fala Joaquim Fernandes na Introdução) entre a criação poética e a criação científica”.

Manuel António Pina, do “Prefácio”.

“A nossa retrospectiva recupera alguns tópicos de uma mitologia popular enraizada no tempo profundo, pontilhada de superstições, conjuras e ritos associados aos corpos celestes, passando pela descoberta de um novo céu e uma nova astronomia, já reconhecidos, por exemplo, pelo nosso bem informado Camões, na viragem do Renascimento, graças aos trabalhos notáveis de Pedro Nunes; percorremos depois a galeria dos poetas da Arcádia, dos pré-românticos, românticos, simbolistas e demais sensibilidades do século XIX, em retratos ora mais científicos ora mais líricos do firmamento e do céu, para nos determos na atribulada recepção popular ao cometa de Halley, na Primavera de 1910, em Portugal”.

Joaquim Fernandes, da “Introdução”.

10 comentários:

Anónimo disse...

O NOSSO SHANGRI-LÁ

(O céu na terra)

Se não passar de pura fantasia
o reino ou paraíso prometido
após a morte como referia
o mais antigo tesxto conhecido;

se tudo não passar de uma utopia
como outras tantas, sem qualquer sentido,
produto de ancestral teologia
de livro em livro santo transmitido;

se tal promessa for uma mentira,
embora piedosa, arquitectada
para que a vida não acabe em nada;

que importa, amor! que não exista céu
se em tantos anos, que ninguém nos tira,
a gente já na terra o conheceu?!

JOÃO DE CASTRO NUNES

joão boaventura disse...

Agora que se festeja o centenário da República talvez se enquadre na referência do "céu na poesia portuguesa" estes excertos da "Irradiações", do primeiro Presidente da 1.ª República, Manuel d'Arriaga:

Ao Sol

Oh maravilha esplêndida engastada
Na fronte augusta do azul profundo,
Qual lamina brilhante onde gravada
Se visse a face de quem fez o mundo,

Eu te saúdo oh Sol? qual religioso
O Índio quando viu a vez primeira
Surgir do mar teu facho luminoso
E alegrar com a luz a terra inteira!
... ... ...

Aos Astros

Quando ergo à noite os olhos cismadores
Á cúpula do céu, cheia de mundos,
E perco-me nos páramos profundos
D'um mar sem fim de trémulos fulgores:

O céu, qual templo levantado à Vida,
Armado de riquíssimo tesouro,
De par em par descerra as portas d'ouro,
E atrai a si minha alma embevecida!...
... ... ...

joão boaventura disse...

Considerando que Manuel de Arriaga também era filósofo, cabe nele o aforismo de António Pereira de Figueiredo:

"Os poetas foram os primeiros filósofos da terra."

António Pereira de Figueiredo
"João de Barros. Exemplar da mais sólida Eloquência Portuguesa. Dissertação Académica, escrita e recitada no ano de 1791"
In
Memórias de Literatura Portuguesa, publicadas pela Academia Real das Ciências de Lisboa,
Tomo IV, Lisboa, 1793, p. 193

Anónimo disse...

Manuel d'Arriaga... também era filósofo... ou também era poeta?!... JCN

Anónimo disse...

A COR DO CÉU

O céu não é inutilmente azul:
se Deus assim o fez, foi certamente
para nos envolver de norte a sul
num halo de safira transparente.

Podia tê-lo feito de outra cor,
verde, cinzento, roxo ou encarnado,
mas ao fazê-lo assim Nosso Senhor
antes do mais em nós terá pensado.

Quis esconder-se por detrás do sonho
que nos inspira o azul do firmamento,
a mesma cor dos versos que componho.

Azul é a cor da condição divina,
a cor que mais nos fala ao sentimento
e mais que qualquer outra nos fascina!

JOÃO DE CASTRO NUNES

joão boaventura disse...

Caro JCN

Manuel d'Arriaga era advogado, filósofo e poeta

ou vice-versa

Manuel d'Arriaga era advogado, poeta e filósofo

ou ainda

Manuel d'Arriaga era presidente da República...

donde se podem fazer muitas combinações porque combinam com os festejos do Centenário da República.

A mal não me leve
não ter versejado
não estou inspirado
só faltou a verve

Anónimo disse...

Caso para se dizer, meu caro João Boaventura, que a ordem dos factores... é arbitrária! JCN

Anónimo disse...

Ser poeta e presidente
não liga lá muito bem:
o poeta alberga a mente
que o político não tem.

JCN

Anónimo disse...

Sem destinatário:

Quem deseja versejar
como quem fala ou respira
deve primeiro afinar
as cordas da sua lira!

JCN

Anónimo disse...

De Manuel de Arriaga, poeta, pode ler-se "Cantos Sagrados", de 1899. Interessante pelo tonalidade panteísta-espiritualista.

Joaquim Fernandes

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