terça-feira, 16 de junho de 2009

HIPÁTIA NO COSMOS


A reedição recente e muito cuidada de "Cosmos" de Carl Sagan em português, na Gradiva, levou-me a reabrir o livro, que já tantas vezes abri. E reabri nesta passagem (p. 433):
"O último cientista a trabalhar na biblioteca [de Alexandria] foi... uma mulher! Distinguiu-se na matemática, na astronomia, na física e foi ainda responsável pela escola de filosofia neoplatónica - uma extraordinária diversificação de actividades para qualquer pessoa daquela época. O seu nome, Hipátia. Nasceu em Alexandria em 370. Numa época em que as mulheres tinham poucas oportunidades e eram tratadas como objectos, Hipátia moveu-se livremente e sem problemas nos domínios que pertenciam tradicionalmente aos homens. Segundo todos os testemunhos, era de grande beleza. Tinha muitos pretendentes mas rejeitou todas as propostas de casamento. A Alexandria do tempo de Hipátia - então desde há muito sob o domínio romano - era uma cidade onde se vivia sob grande pressão. A escravidão tinha retirado à civilização clássica a sua vitalidade, a Igreja Cristã consolidava-se e tentava eliminar a influência e a cultura pagãs.

Hipátia encontrava-se no meio dessas poderosas forças sociais. Cirilo, o arcebispo de Alexandria, desprezava-a por causa da sua estreita relação com o imperador romano, e porque ela era um símbolo da sabedoria e da ciência, que a Igreja nascente identificava com o paganismo. Apesar do grande perigo que corria, continuou a ensinar e a publicar até que, no ano de 415, a caminho do seu trabalho, foi atacada por um grupo de fanáticos partidários do arcebispo Cirilo. Arrastaram-na para fora do carro, arrancaram-lhe as roupas e, com conchas de abalone, separaram-lhe a carne dos ossos. Os seus restos foram queimados, os seus trabalhos destruídos, o seu nome esquecido. Cirilo foi santificado."
Imagem: "Hypatia", 1885, de Charles William Mitchell (1854 – 1903), um pintor inglês pré-rafaelita. Esta obra foi inspirada pelo romance de Charles Kingsley "Hypatia or New Foes with an Old Face".

23 comentários:

Anónimo disse...

O problema da Igreja Cristã foi a adopção da lógica imperial e o afastamento da conduta exemplar de Jesus e dos seus discípulos.

A verdade é esta: quando condenamos a Igreja Cristã pelas suas práticas inquisitoriais estamos, na prática, a afirmar a existência de um padrão moral objectivo a partir do qual essas práticas podem ser criticadas.

Se esse padrão objectivo não existe, então as nossas críticas à Igreja não passam de opiniões pessoais, tão válidas como aquelas em que a própria Igreja se baseava para perseguir os pagãos, os heréges, os apóstatas e os cismáticos.

Se Deus não existe um Deus justo e bom não existe nenhuma razão objectiva com base na qual a justiça e a bondade são moralmente superiores à injustiça e à bondade.

Anónimo disse...

As habituais banalidades de um "anónimo" cristão ...

Maurício S disse...

Er, esse comentário anônimo está querendo dizer que só existe bondade se existir um Deus? Visão deveras equivocada. É o problema ocidental de misturar filosofia com religião.

Anónimo disse...

"É o problema ocidental de misturar filosofia com religião."

Na "mouche" .

Anónimo disse...

Hipátia, em filme

www.agorathemovie.com

Anónimo disse...

A igreja católica, sobretudo a inquisição cometeu verdadeiras atrocidades para com as mulheres ( saliento a caça às bruxas, perseguição religiosa e social que começou no final da Idade Média e atingiu o seu apogeu na Idade Moderna. Antigas religiões pagãs e matriarcais eram tidas como satânicas. Mulheres eram queimadas em fogueiras sob o menor pretexto. Um tipo de paranóia social).

Imcompreensível? terá sido a imposição do patriarcado? ou a inveja do útero?
Não será a mulher o Santo Graal, porque ela possui o poder de gestação?

Madalena Madeira

Anónimo disse...

corrijo: incompreensível e não imcompreensível

Isabel Saraiva disse...

No século VII, o bispo João, de Nikiu, nos escritos "Crônicas", justificou o massacre de judeus e o assassinato de Hipátia, ocorridos no ano 415 d.c. , alegando tratar-se de medidas necessárias para a sobrevivência e o fortalecimento da Igreja. É através dos escritos que conhecemos os detalhes da morte daquela que viria a ser chamada de Mártir do Paganismo.

Isabel Saraiva disse...

nota: o texto citado deveria estar entre aspas.

Anónimo disse...

Link: Agora

Anónimo disse...

Assassinos em nome de deus

Roménia: Freira crucificada, logo liberta do Mal


”Comecei por ler esta incrível história no «Diário Ateísta» e acabei por segui-la neste jornal online.

O padre Daniel, de 29 anos, é o superior do mosteiro cristão ortodoxo da cidade de Tanacu, no nordeste da Roménia.

Aqui há uns dias o bom e santo padre Daniel decidiu que uma das freiras do mosteiro estava possuída pelo Demónio.

De facto, os sinais eram absolutamente claros e inequívocos: Maricica Irina Cornici, uma jovem freira de 23 anos de idade, e que tinha entrado no mosteiro somente três meses antes, tinha discordado em público do padre Daniel durante uma missa de domingo.

Face a tão óbvios sintomas, e como é absolutamente natural, o que se impunha era um exorcismo.

E o bom do padre Daniel não se fez rogado em tomar tão nobre encargo sob a sua responsabilidade.

Provavelmente seguindo os cânones oficiais de tão pia tarefa, que estas coisas são muito sérias, o padre Daniel começou por amarrar e amordaçar a freira possuída por Satanás, e durante vários dias privou-a de qualquer alimento e de água.

Mas, por qualquer motivo, o raio do Demo não havia meio de libertar a freira da sua possessão.

Era preciso fazer algo mais!

Foi então que o padre Daniel, acompanhado de quatro das mais piedosas freiras do convento, decidiu crucificar a jovem freira.

Como alguns dias depois o estado de saúde de Irina se deteriorasse a olhos vistos, algumas outras freiras decidiram chamar uma ambulância.

Mas já não a tempo de lhe salvar a vida.

No sábado, realizou-se o funeral da freira.

Sem demonstrarem qualquer emoção, 13 outras freiras assistiram ao funeral de Irina, tendo a missa sido celebrada pelo próprio padre Daniel!

À entrada do seu caixão na igreja, Irina nem sequer teve direito a que os sinos tocassem, e o funeral realizou-se no mais profundo e constrangedor silêncio, à excepção do som de uma trovoada distante, logo interpretada pelo padre Daniel como «um sinal de que a vontade de Deus tinha sido cumprida».

O porta voz do patriarca da Igreja Ortodoxa, em Bucareste recusou-se terminantemente a condenar a actuação do padre Daniel, explicando a sua posição:
«...pois nós nem sequer sabemos o que a moça fez...».

Interrogado sobre os motivos que o tinham levado à crucificação e à morte da freira, o padre Daniel declarou que tudo tinha sido inteiramente justificado:

«Deus realizou um milagre por ela. Finalmente a Irina está liberta do mal».”


Luis Grave Rodrigues, Random Precision, Junho 20, 2005


Ver em:

http://www.blogger.com/email-post.g?blogID=8664610&postID=111922797770770154

Anónimo disse...

Lapso ! , fui buscar à wikipédia:
"perseguição religiosa e social que começou no final da Idade Média e atingiu o seu apogeu na Idade Moderna. Antigas religiões pagãs e matriarcais eram tidas como satânicas. Mulheres eram queimadas em fogueiras sob o menor pretexto. Um tipo de paranóia social"


Madalena Madeira

Anónimo disse...

" Malleus Maleficarum" ( explica a feitiçaria da seguinte forma): " a razãHipádia era Matemática ! e Miléva Einstein (cujos cálculos permitiram ao marido provar a teoria da relatividade ), o que era ?

o é que a mulher é mais carnal que o homem, o que é claro pelas suas abominações carnais"

Madalena Madeira

Anónimo disse...

Corrijo :

Hipádia era Matemática e Miléva Einstein (cujos cálculos permitiram ao marido provar a teoria da relatividade ), o que era ?

" Malleus Maleficarum " ( Explica as feitiçarias da seguinte forma):"a razão é que a mulher é mais carnal que o homem, o que é claro pelas suas abominações carnais"

Madalena Madeira

Anónimo disse...

corrijo : Hipátia e n Hipádia

Anónimo disse...

«Miléva Einstein (cujos cálculos permitiram ao marido provar a teoria da relatividade ), o que era ?»

Mileva não teve quase nada que ver com a Relatividade Restrita. Pode ver um vídeo do Buescu onde ele fala sobre RR. A matemática envolvida é trivial (e não era nada de excepcional na altura) e o verdadeiro busilis foi a "interpretação" física e a intuição do que aquilo queria dizer. Não existe qualquer indício de que Mileva tenha tido um papel preponderante nisso.

Mesmo que tivesse tido, na Relatividade Geral (altamente não trivial e com matemática avançada na altura) já o Alberto se tinha divorciado dela de forma pouco amistosa. Aí então o seu contributo deve mesmo ter sido nulo.

Estou espantadíssimo com os seus comentários on-topic sem nos querer impingir uma petição para a protecção das baleias (fêmeas apenas como é claro).

Anónimo disse...

Caro anónimo,

Não foi preciso ir muito longe , apenas à Wikipédia:

Mileva Marić (19 de Dezembro de 1875 – 4 de Agosto de 1948; Em sérvio cirílico: Милева Марић) foi uma matemática sérvia e primeira esposa de Albert Einstein, com quem teve três filhos: Lieserl Einstein, Hans Albert Einstein e Eduard Einstein. Divorciaram-se em 1914.
Mileva (Marić) Einstein.Nasceu em 19 de Dezembro de 1875 na cidade de Titel na atual Sérvia. Filha de mais velha de um oficial do Governo do Império Austro-Húngaro, nasceu com uma luxação nas pernas que não poderia ser corrigida pela medicina da época. Por causa disso mancou pelo resto da vida. Em 1894 foi enviada pelo pai para Zurique para completar sua educação. Em 1896 entrou na Universidade de Zurique para estudar Medicina. Entretanto no mesmo ano mudou de planos e mudou para o Polytechnikum de Zurique (renomeado ETH em 1911) para estudar física e matemática, onde conheceu Einstein.
Mileva servia como uma especie de caixa de ressonancia para as idéias cientificas de Einstein e checava a parte matemática de seus artigos, mas o relacionamento enquanto casal acabou se deteriorando. Einstein quis se separar, e numa negociação longa e complicada, acabou prometendo que se ganhasse o prêmio Nobel algum dia, lhe daria o dinheiro do prêmio, em troca do divórcio, para pagar ao menos alguma parte de sua dívida científica perante os cálculos matemáticos da mesma. Ganhou efetivamente o prêmio, em 1922 (referente a 1921) e ela recebeu.


Afinal foi a grande "bengala" ( apesar da luxação nas pernas)do rapaz!!

Quanto às baleias: Cuidado! Estão mesmo em extinção:

Algumas espécies de baleias, golfinhos e botos estão tão ameaçadas que podem estar extintas em dez anos, segundo cientistas.

O aviso partiu de especialistas em cetáceos da entidade Organização Mundial de Preservação (ICUN).
Os especialistas publicaram o aviso no livro Dolphins, Whales and Porpoises: 2002-2010 Conservation Act Plan for the World's Cetaceans (Golfinhos, Baleias e Botos: 2002-2010 Plano de Conservação para os Cetáceos do Mundo).

A drástica redução no número desta e de outras espécies deve-se à ação de pescadores que pescam esses cetáceos ou que os matam deliberadamente para assegurar a abundância dos cardumes de peixes.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/030514_baleiabg.shtml

Na verdade, uma petição online para combater a extinção das baleias e golfinhos era bem útil, humana e ecológica !!

Anónimo disse...

Esqueci-me de assinar ( o comentário precedente)!

Madalena Madeira

Anónimo disse...

Que dueto !!! Até "parece" jogo duplo ...

Anónimo disse...

"Agora": 2 abordagens


Rachel Weisz to Play Atheist (?) in New Movie


"Agora" and Hypatia - Hollywood Strikes Again

Anónimo disse...

Hypatia and Her Mathematics - Michael A. B. Deakin

Anónimo disse...

Hypatia of Alexandria: Defender of Reason - by Jim Haldenwang

Anónimo disse...

Astrolábio

“O astrolábio é um instrumento naval antigo, usado para medir a altura dos astros acima do horizonte.

Convenciona-se dizer que o surgimento do astrolábio é o resultado prático de várias teorias matemáticas, desenvolvidas por célebres estudiosos antigos: Euclides, Ptolomeu, Hiparco de Nicéia e Hipátia de Alexandria.”

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...