terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

SOS CHOUPAL


Há uma velha canção de Coimbra que canta "Do Choupal até à Lapa". A "Lapa" é um belo parque-jardim desconhecido da cidade e do país pois, embora visitável, se encontra dentro de um quartel, na margem esquerda do Mondego. Um pouco mais à frente, na margem direita do Mondego, o Choupal ainda se pode visitar, mas talvez por pouco tempo. Está previsto um novo atravessamento por um enorme viaduto (já há um outro, além de uma ponte ferroviária e de se falar de uma travessia pelo TGV), não se sabendo se as acções em curso de muitos cidadãos, nomeadamente o "abraço" de 1500 pessoas ao Choupal no domingo passado, serão suficientes para impedir a anunciada tragédia.

Segundo o botânico Jorge Paiva, um dos nossos maiores divulgadores de ciência, se se consumar essa obra (que as motas-engis do país já dão como adquirida) na mata do Choupal, esta, que tem vindo a diminuir nos últimos anos, desaparecerá pura e simplesmente dentro de poucas décadas. Transcrevo do "Diário de Coimbra" de 14 de Fevereiro:
"Mata cor­re o ris­co de desa­pa­re­cer nes­te sécu­lo "O bió­lo­go Jor­ge Pai­va aler­tou que a mata do Chou­pal cor­re o ris­co de desa­pa­re­cer nes­te sécu­lo, recor­dan­do que nos últi­mos anos suces­si­vas obras públi­cas des­tru­í­ram 20% da sua área. «O Chou­pal tinha 89 hec­ta­res e ficam ape­nas 73», decla­rou à agên­cia Lusa o cate­drá­ti­co da Uni­ver­si­da­de de Coim­bra. Jor­ge Pai­va expli­ca­va, numa visi­ta gui­a­da, a impor­tân­cia ambien­tal da mata do Chou­pal, de que ele pró­prio é fre­quen­ta­dor assí­duo. «Temos aqui uma ele­va­da bio­di­ver­si­da­de e uma bio­mas­sa vege­tal enor­me», dis­se, numa alu­são à exis­tên­cia de milha­res de árvo­res de dife­ren­tes espé­ci­es, sen­do «mui­tas cen­te­ná­ri­as e de gran­de por­te». O Chou­pal «é a mai­or fábri­ca de oxi­gé­nio natu­ral que Coim­bra tem», onde «há ani­mais pro­te­gi­dos por lei», como a lon­tra e a rapo­sa, além de águias e outras aves. «Ain­da por cima, está a Oci­den­te da cida­de e os ven­tos marí­ti­mos empur­ram esse oxi­gé­nio para den­tro da cida­de», sali­en­tou o ambien­ta­lis­ta. Jor­ge Pai­va lamen­tou que, em três déca­das, diver­sas obras públi­cas tenham sub­tra­í­do 16 dos 89 hec­ta­res que cons­ti­tu­í­am o Chou­pal. Em cau­sa, recor­dou, estão a regu­la­ri­za­ção do Mon­de­go, o canal de rega, estra­das jun­to ao rio, o sis­te­ma muni­ci­pal de tra­ta­men­to de esgo­tos, as con­du­tas do gás natu­ral e a Pon­te-Açu­de."
Lembro que se trata da mesma cidade onde, no século XIX, se cortou um bocado de uma igreja românica na Baixa coimbrã, a Igreja de S. Tiago, para passar uma avenida (Camilo escreveu que o progresso "é gordo - alarga ruas e deita casas abaixo")! Agora, quer-se cortar um bocado de uma mata nacional para passar uma IC2. Admiro-me como é que a Câmara, tão activa no caso da co-incineração de Souselas, não tenha agora um papel proeminente de oposição ao desvario. Posso ser só mais um, mas junto-me às muitas vozes, já são mais de 7000, dos que querem salvar o Choupal.

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