domingo, 15 de fevereiro de 2009

O sindicalismo docente em Portugal


Novo post sobre educação de Rui Baptista:

O despotismo da igualdade é o mais insuportável e o mais feroz dos despotismos, porque tem a sua origem na vontade dos impotentes,dos estúpidos, dos insignificantes” (Camilo Castelo Branco).

Um estudo publicado este mês da responsabilidade das "Selecções do Reader’s Digest”, incidindo sobre populações de 16 países europeus, coloca a profissão de líder sindical entre as profissões menos confiáveis em Portugal. Por seu turno, Marçal Grilo, antigo ministro da Educação e actual administrador da Gulbenkian, aponta como solução para a crise que se abateu sobre o Ensino a seguintes proposta: “Menos sindicatos e mais professores” (“Correio da Manhã”, 10.Fev.2009).

Desta forma é posto em causa o papel desempenhado pelos sindicatos dos professores e seus líderes no que se reporta a “conquistas” assentes em frágeis caboucos de igualdade entre desiguais, através, por exemplo, das formações para o exercício da docência da Matemática no 2.º ciclo do ensino básico, a cargo simultâneo de licenciados universitários e escolas superiores de educação. Ora, não é possível melhorar o ensino diminuindo a formação dos professores, como reconhece Ron Aharoni, professor universitário em Israel com experiência de aulas a alunos israelitas do 1.º ciclo (o nosso antigo ensino primário), na “9.ª Conferência Internacional da Educação da Fundação Calouste Kulbenkian”, levada a efeito no mês de Novembro do ano passado, ao afirmar: “Para aprender Matemática é preciso bons professores”.

Falemos claro de uma vez por todas:

O pinta-monos e uma pintora consagrada como Vieira da Silva fazem trabalho igual? Ambos pintam, na verdade! O pianista que martela o teclado do piano e uma pianista como Maria João Pires fazem trabalho igual? Ambos tocam piano, é certo! O poetaço e um poeta como Manuel Alegre fazem trabalho igual? Ambos fazem versos, realmente! O licenciado por uma escola superior de educação e um licenciado universitário no magistério da disciplina de Matemática, ambos na docência do 2.º ciclo do ensino básico, fazem trabalho igual? Ambos dão aulas, sem dúvida! Mas o respectivo desempenho pedagógico-científico será o mesmo?

Aquando da discussão do Estatuto da Carreira Docente (Decreto-Lei 139-A/90, de 28 de Abril), trinta sindicatos ou organizações afins, em benefício dos seus associados e, em alguns casos, dos próprios dirigentes, pressionaram Roberto Carneiro, então ministro da Educação, numa mesa de negociações em clima tumultuoso, estando-se pura e simplesmente a marimbar para a qualidade do ensino e exagerando nos direitos concedidos aos professores menos habilitados. A título de mero exemplo, a aposentação por inteiro para os bacharéis na docência do 1.º ciclo do ensino básico com menos anos idade e de serviço que os licenciados dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário. Esta situação deu azo a uma conferência de imprensa, promovida pela Associação Nacional dos Professores Licenciados (génese do actual Sindicato Nacional dos Professores Licenciados, integrado na “Plataforma Sindical” com a Fenprof e outros sindicatos), de que extraio um elucidativo excerto: “Os professores licenciados não querem ser tratados como os outros docentes que dispõem de menos habilitações académicas e sentem-se lesados com o actual estatuto da carreira docente que, segundo afirmam, favorece quem tem menores habilitações” (“Correio da Manhã”, 22.10.91).

Surge agora a Fenprof em defesa de um princípio que subjaz a uma doutrina sem mácula: “Ao contrário do que defende o Ministério da Educação, a Fenprof defende que, às escolas e à qualidade do ensino, interessa garantir que todos os professores sejam altamente qualificados, competentes e estejam aptos a desempenhar todos os cargos e funções, para além, claro está, de deverem desempenhar bem o que de mais importante integra o seu conteúdo funcional: ensinar” ( “Site” da Fenprof, 11.Fev.2009).

Pena é que as actuais palavras da Fenprof não encontrem correspondência com as suas acções passadas. Aliás pecha nacional que povoa e polui diversos sectores da sociedade portuguesa em que se reivindicam direitos sem proclamar obrigações. Ora, a satisfação desta exigência, segundo Raymon Polin (“O Homem e o Estado”, Europa América, 1976, p. 144), “é jogar às utopias ou às catástrofes”.

Rui Baptista

22 comentários:

Fartinho da Silva disse...

E o problema serão mesmo os sindicatos? Para o medíocre poder político é muito mais fácil tratar tudo por igual do que se dar ao trabalho de diferenciar!

Há quantos anos não ouve os professores protestar contra a existência de salários iguais entre professores do 1º Ciclo e professores de Biologia do 12º ano, por exemplo? Alguma vez viu algum ministro dar-se ao trabalho de resolver estes problemas óbvios e evidentes? Claro que não! Dá muito trabalho... e como o dinheiro do Orçamento de Estado não é dele...

Este é que é o problema.

cafe46 disse...

Estimado Rui Baptista,

Estava eu do alto do monte onde moro tentando ver ainda mais longe, perscrutando, lá no fundo, o recorte das montanhas com neve no Gerês, quando dei por mim a pensar que custa ver longe; é preciso apurar a vista, focar. Venho para dentro, vou ao De Rerum Natura e o que vejo? Um homem que já esteve no alto da montanha, que não precisa de binóculos, e que não se importa de partir pedra na subida, e que assume os riscos.

No post que nos reservou para este belo dia de Sol, não há absolutamente nada de que possa discordar. Aqui mesmo, neste sítio, já tenho discordado de outros artigos, mas dos seus, não; não consigo! Deve ser da minha ingenuidade. Tenho um colega que se reformou há dois anos e diz-me que eu, com 42 anos, a bem dizer, sou uma criança, portanto deve ser por isso. Por conseguinte perdoe-me, desde já, alguma afirmação menos própria que, a seguir, o possa ofender (mas se o ofender a si ou a alguém sempre se pode recordar o artigo do Desidério sobre liberdade e insulto).

O prezado Rui Baptista decide falar dos sindicatos. E eu pergunto que estranho fenómeno é este de me ler os pensamentos, assim à distância de um clique? Ainda há pouco me questionava se dois ou três sindicatos (para a educação) não seriam bastantes para negociarem com a tutela que lhes paga o almoço? É que cada vez mais admiro os sindicalistas que se auto financiam (como as uniões de trabalhadores do Reino Unido ou da República Alemã). Isto é: vivendo das quotas dos associados, os sindicalistas não precisam de negociar prebendas dentro da mesma gamela.

Cá, a FNE entrou nas graças do ME. A FENPROF (que está nas graças do PCP) escreve isto no seu sítio: "Independentemente de todos os procedimentos, e os Professores sabem isso, o mais importante é continuar a combater esta avaliação." E, face a isto, eu digo o que já disse: porreiro, pá, a luta continua, ninguém entrega nada… vai-se entregando, vamos todos para rua, vai-se concorrendo (parecendo ou esquecendo que não), e, camarada amigo, não te deixes prejudicar, que a gente aqui, faz a luta, está bem, pá? Prá frente… e cada um trata da sua vidinha, porreiro pá.
O ME recebe FNE e FENPROF à vez, na velha lógica da divisão. FNE e FENPROF qual o mais coerente? Prefiro acreditar que existem torradeiras voadoras à volta de Marte. Após a assinatura do acordo de entendimento, e esgotado o circo de manifestações, moções, apelos e greves, fecha-se agora um círculo. Para o ME os sindicatos são necessários, pois, enquanto grupo social grande (embora pseudo-representativo) cumprem a sua função de almofada para que os professores não venham para a perigosa rua desestabilizar sozinhos — numa espécie de terapia de grupo. Para os sindicatos o ME é importante, pois, pelo que se tem visto, o ME é a razão da sua existência.

Chegou uma altura em que avançar com uma Ordem de Professores é mais que uma utopia, outrossim evitaria continuar a catástrofe em que o sindicalismo docente tem — irresponsavelmente e numa lógica de dupla espessura (faz o que eu digo, não olhes para o que eu faço) — premiado os desiguais.

Fala o Rui Baptista de Camilo, de Igualdade e de desigualdade. De sindicatos e de orientações políticas. E — permita-me o relativo desvio — perguntamo-nos, em breve, em quem votar? Fica aqui o meu exercício —ou número, se quiser.
Perante a demagogia instalada ele há quem diga que vai votar PS. Mas, eu — a minha falecida avó que me perdoe, que me dizia que se não comesse a sopa que vinha o bicho papão ou um senhor comunista e me levava num saco! (é preciso dizer que a minha avó era madeirense, nada e criada no Funchal, e nós já sabemos o que é que essa gente liberal [que corre no meu sangue] pensa dos comunistas —, mas eu, dizia, vou engolir um sapo: vou votar no PCP! É claro que podia votar no bacano do Garcia Pereira (se ele for às legislativas, tal como nele já votara, instrumentalmente, o ex-bastonário da Ordem dos Advogados, Pires de Lima), mas não. O homem é valente mas os seus votos diluem-se. E no CDS/PP? Também não. É claro que fiquei sensibilizado com a acção do P. Portas, aquando do petroleiro Prestige, na Galiza. Era ministro e mandou para lá uma fragata e agradeceu muitíssimo à Senhora de Fátima por ter intercedido a favor dos portugueses. Eu tenho isso em grande consideração. Aliás, pergunto-me como é que poderia ter festejado, ontem, o dia dos amantes, com a minha mulher, para a Galiza, deliciar-me com vieiras e demais marinhas iguarias se não fosse o Paulo Portas? Mas como sei que ele é de agradecer, já se sabe que se pode coligar com o PS socratino, e, depois, tudo o que lhe parecer ir contra a lei instituída vai para trás (ECD incluído). E tal como foi mais uma fragata para o barco do aborto, vem mais uma ter connosco... Ou um submarino!

É claro, temos o PSD. Mas, será que temos? Os tipos não se entendem; o Cavaco esvaziou a ideologia do partido e temos cacos. O meu amigo Carlos, do Alentejo, também diz que eu devia votar no PCP, pois os tipos jamais serão governo e, assim, retira-se força ao centrão. E o BE, perguntei-lhe eu (ao meu amigo)? E ele disse-me que era o mesmo que eu votar no CDS/PP, só que em vez de enviarem fragatas o Bloco envia cannabis para acalmar o pessoal e isso não lhe parecia bem. E perguntou- me, ainda, o Carlos Lopes, se não tinha sido eu que lhe tinha dito que não tinha gostado de o Bloco ter apresentado, em Lisboa, uma proposta na Assembleia Municipal, para geminar Lisboa com Gaza? Eu — desarmado — disse-lhe que sim. Olha, ainda por cima — lembrei-me agora — que os modernaços correram com a Joana Amaral Dias (por ter apoiado o M. Soares), e como ela é toda gira, queque, levemente snob e eu gosto dela, pensei que o Bloco estava a perder o caviar... Mais: eu não gosto de disciplina de voto quando se é deputado ou mesmo militante de um partido, porque ninguém é nosso dono. Portanto, está visto que não voto neles. Ah, e o PRN (Partido Nacional Renovador)? Bem, os tipos são extrema-direita, a sério, há lá simpatizantes do nazismo. Ora, quem me conhece sabe que eu sou germanófilo (adoro a Alemanha e os alemães, principalmente a Claúdia Shiffer e a Heidi Klum), mas não nutro qualquer simpatia pelos nazis e por comissários políticos pidescos e goebelianos. Está visto: PCP. (É claro que vou dar um desgosto ao meu pai que é um homem do Norte, mas o mundo já não é o que era e até o meu tio padre diz que vai votar no PCP porque não está para votar em larilas que aprovam o casamento gay... mas isso já são outras histórias e eu — que fique claro — não sou homofóbico).

Leve um grande abraço,
Carlos Félix Fernandes

MM disse...

Os sindicatos são parte do problema.

Não lhes reconheço genuíno interesse em melhorar o quer que seja que não os salários, os privilégios ou as condições para se ganhar mais ou perder o menos possível.

Zangam-se com os políticos que foram eleitos para governar mas não têm coragem para se zangar com o povo que os elege e que no fundo tem responsabilidade indirecta pelo que o governo faz.

Os professores não podem ser uma profissão, como em muitos casos é, escolhida em último recurso por não haver mais soluções de empregabilidade. É lógico que depois não existe grande margem de manobra para a qualidade, ficando o sistema à mercê da volatilidade da empregabilidade em outras áreas.

Marcelo Melo
www.3vial.blogspot.com

Anónimo disse...

Para mim os sindicatos bem podiam desaparecer, pois, em Portugal, os da educação, nada têm feito. Se não fossem os movimentos independentes dos professores...
Si, é preciso por Ordem na casa...

Roberto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roberto disse...

Peço desculpa pela intromissão neste ambiente universitário, mas como sou professor formado numa ESE fico um pouco alarmado com o que parece ser a excelência do ensino universitário. Primeiro o próprio Ron Aharoni reconheceu a dificuldade em trabalhar no 1º Ciclo e realçou o papel dos professores desse ciclo de ensino lembrando que as formações que ele orientou muitas das vezes estavam desenquadradas com as necessidades dos professores e da escola. Isto dito por um reconhecido professor universitário, logo não sei como podem as universidades reivindicar tamanha qualidade de ensino.
Como segundo ponto quero realçar os estudos que vieram a público em que está patente o maior número de licenciados, mestrados e doutorados na pré-escola e primeiro ciclo, assim também não entendo essa dita falta de habilitações e de conhecimentos dos professores "primários" (os mestrados e doutoramentos são de instituições universitárias). Por último estes professores trabalhavam menos anos devido à monodocência. Bom quanto aos professores do secundário ganharem mais que os do primário, nem sei o que dizer, conheço professores que gostam tanto do primeiro ciclo que nunca pensaram em concorrer para outros ciclos de ensino apesar de terem habilitações para isso e até recusaram dar aulas em universidades. Será que isso fez deles maus professores. E até aos 15 anos qualquer animador serve para dar aulas e onde fica o ensino estruturante definido por Ron Aharoni que se processa por "camadas" (etapas) bem definidas.
Penso que todos reconhecemos a importância de uma boa formação inicial de professores e igualmente contínua, mas também nos lembramos de muitos professores pouco "relevantes" no nosso percurso académico, desde o secundário ao universitário, mas muito raramente do primário. Quererá isto dizer algo?

Má ideia! disse...

impotente e insignificante
não são
o mesmo saco
que estúpido.

in-significante é que não tem significado. Mas o significado pode ser roubado.

im-potente, é o atributo do insignificante, do alienado

estúpido é estupido, e ai estaremos sempre de acordo

Anónimo disse...

Roberto,
Compreendo a sua indignação, pois bons e maus profissionais existem em qual quer lado. Você, apesar de lhe faltarem umas vírgulas, até se vê que é esforçado. Mas como também sei que existem alguns que tiram licenciaturas ao Domingo defendo uma prova de acesso para o início da docência. Ora, isto dará crédito à escola pública, a longo prazo.
Mas, como já aqui vi escrito, tenho dúvidas da necessidae de se ter uma licenciatura para se ser Educador de Infância.
Quanto à lembrança dos professores primários... pope-nos!
Maria Z.

Anónimo disse...

Queria dizer "poupe-nos". Ponha uma vírgula a seguir a Domingo.

Anónimo disse...

Fica a promessa de resposta aos outros comentários. Pelo direito que lhe reconheço ao contraditório, o comentário de Roberto, relativamente ao meu post e aos comentários concordantes que lhe foram feitos, merece um, tanto quanto possível, breve esclarecimento que se identifique, desde já, com algo tão importante como isto: o que é igual deve ser tratado como igual; o que é diferente deve ser tratado como diferente.

É neste princípio, assente na máxima de Cícero "suum cuique", que procurei fundamentar a minha argumentação. Sofismar este princípio levou a um retrocesso socioprofissional de que a carreira docente ÚNICA deve ser responsabilizada.

Suponhamos, num exemplo absurdo, que, por pressão dos professores licenciados por universidades, era criada uma carreira docente única para todos os docentes: do ensino infantil ao ensino universitário. E mais absurdo que se estabeleciam os mesmos vencimentos para os respectivos docentes. E mais absurdo, ainda, que educadores de infância e os professores do 1.º ciclo do básico se reformavam bastante mais cedo que os professores universitários por estes terem menos horas de serviço docente.

Claro que esta pressão nunca se fez, nem se fará, porque os professores licenciados por universidades tem um sentido ético-profissional que se foi cimentando ao longo de anos norteados pelo sentido das proporções que se não compadece com um sindicalismo político e/ou ou ao serviço das respectivas clientelas, em que as conquistas foram feitas na sombra da noite e com baionetas caladas de um declarado oportunismo.

Mas isto são contos largos merecedores da análise de um post (desde já prometido) que esclareça a própria opinião pública que desta forma têm sido maltratadas as elites que, segundo a voz insuspeita de António José Saraiva, nome grado da Cultura Portuguesa, que cito uma vez mais, “assustam muitos democratas por julgarem que as sociedades podem ser superfícies rasas”.

Anónimo disse...

Onde escrevi (3.ª linha, 4.ª §)"norteados pelo sentido das proporções", deverá ser substituído por "norteados por princípios de honra".

Anónimo disse...

Fartinho da Silva: "O medíocre poder político" cedeu à força irracional de um sindicalismo feroz que se aproveitou do "laisser faire laissez passer" dos professores mais habilitados para deles fazer suas vitimas no redondel em que resfolega o touro da injustiça. Chorar sobre o leite derramado não é o mesmo que evitar que o leite se derrame. Desta forma, parece-me haver um trio de responsáveis: "o medíocre poder político", os sindicatos e os professores que assistiram à derrocada do sistema educativo em que se tranaformaram gigantes em anões e anões em gigantes. Estes os culpados.As vítimas directas os alunos e o próprio país.

Anónimo disse...

Meu bom amigo Carlos Félix Fernandes: Obrigado pelas elogiosas palavras que me dirigiu e que se ficam a dever (parafraseando Edison no que se refere ao génio), apenas, a 1% de verdade e 99% de amizade. Mas entremos no assunto directamente.

Com grande clarividência, põe o Carlos o dedo na ferida, quando escreve: “Para o ME os sindicatos são necessários. (...) para os sindicatos o ME é importante, pois, pelo que se tem visto, o ME é a razão da sua existência”.

Nesta duplicidade de interesses que gerou a assinatura de um entendimento entre ambos, de triste memória, se foram passando os verões, os invernos e as estações intermédias, em que os verdadeiros interessados, os professores, como que ficaram num estado de estupor que estiolou as suas vontades tornando-os agentes passivos de um processo que lhes dizia directamente respeito. Entretanto, os dirigentes sindicais iam tratando da sua vidinha: se não fossem eles a fazê-lo quem o faria por eles. Felizmente que os professores acordaram organizando-se entre si, através de movimentos independentes coadjuvados por blogues que tocaram o clarim da revolta e o fizeram ecoar na planície dos indiferentes.

Põe-me o Carlos perante o dilema em quem votar nas próximas eleições. Dilema idêntico perpassou pelo pensamento de Sócrates (o filósofo, ou até por ambos: o filósofo grego e o político nacional), quando escreveu: “Quer te cases, quer não te cases tem por certo o arrependimento!” Ou seja, votar no espectro político que nos põem à frente em vistosa bandeja de comida intragável pode ser gerador de arrependimento futuro. Vozes se levantam, agora, nesse sentido por parte de professores filiados ou não no PS que dizem estarem arrependidos de terem votado no partido, numa espécie de juras de amor que a realidade tornou em discussões caseiras de partir a loiça toda. Que fazer então? O voto em branco por não existir o voto em preto de uma viuvez com o PS? E lá voltamos ao dilema socrático: votemos em quem votarmos teremos quase sempre o arrependimento à nossa espera. Devia suceder o que se passa com os adeptos do futebol que acenam com lenços brancos a sua vontade em despedir o treinador que caiu em desgraça. Mas como nos diz o povo, “atrás de mim virá quem de mim bom fará”. E este círculo vicioso dá-nos cabo do juizo em “ajuizar” o voto a lançar nas urnas!

Anónimo disse...

Caro MM:Os sindicatos cumprem a sua função quando defendem questões laborais dos associados. Até aqui, tudo bem. Mas dada a especificidade que devia nortear os sindicatos dos docentes, o que eu reprovo é o facto de atropelarem aspectos científico-pedagógicos da profissão em benefício descarado dessa sua função.

Quanto à escolha de um curso para o exercício da docência, ela torna-se, muitas vezes, num (re)curso devido ao numerus clausus. Ter uma vocação contrariada pelo não acesso a uma vaga em Medicina, por exemplo, não pode dar um professor de Biologia verdadeiramente interessado e dedicado a este mister. O inverso também é verdadeiro. Ou seja,teias que o numerus clausus tece e que aprisionam verdadeiras vocações impedindo-as de seguirem o seu caminho em vias desejadas, obrigando-as a caminhar em veredas ou,mesmo, verdadeiros e penosos caminhos de cabra.

Anónimo disse...

Caro Anónimo (15 Fev.,21:11): Não sou tão radical. Os sindicatos atidos às suas funções específicas são necessários. Coexistem na profissão médica com a respectiva ordem profissional.No caso dos professores, como muito bem diz,´" só é preciso pôr Ordem na casa". Aliás, é esse também o entendimento do Colega Carlos Félix Fernandes expresso no seu comentário acima. Felizmente que esta opinião deixou de ser tabu encontrando, todos os dias, novos e entusiastas adeptos para uma causa que defendi num dos meus livros, intitulado "Do Caos á Ordem dos Professores", saído do prelo em 2004, com artigos de opinião da minha autoria cujo início remonta ao início da década de noventa("Correio da Manhã", 12.Nov.1991).

Anónimo disse...

Uma gralha pousou no meu texto. No comentário dirigido ao Colega e Amigo Carlos Félix Fernandes, escrevi "como escreveu" [ Sócrates ]. Com as minhas desculpas, que o adiantado da hora em que o escrevi poderá justificar parcialmente, emendo para "como disse". Como é sabido,as fontes que nos chegam de Sócrates devem-se a textos escritos por Platão, Xenofonte e Aristóteles.

Fartinho da Silva disse...

Caro Rui Fonseca,

Depois de ter lido os seus comentários aos comentários fiquei bem mais esclarecido e agora posso afirmar que concordo consigo.

Apenas quero reforçar o meu espanto de existir uma carreira ÚNICA de professores e educadores de infância (!!!) e, mais espantoso, ainda o facto de um docente de educação física do 2º Ciclo ter exactamente o mesmo salário de um docente de Ciências Físico-Químicas do 12º ano!!

Se o Ministério da Educação gere deste forma os seus parcos recursos, deduzo que assim seja na grande maioria dos restantes ministérios. Imagine-se uma empresa governada desta forma; era a falência em menos de nada...

Anónimo disse...

Caro Fartinho da Silva:

O 3.º § do seu comentário carece de um esclarecimento.

Os docentes do ensino infantil e do 1.º ciclo do ensino básico estão habilitados com um bacharelato do ensino politécnico.

A docência para a Educação Física, ou qualquer outra disciplina do 2.º ciclo do ensino básico, exige uma licenciatura politécnica. Os docentes da disciplina de Educação Física, por vezes, são havidos, indevidamente, por terceiros, quanto se não intitulam a si próprios,como professores de Educação Física, embora estejam apenas de posse de uma licenciatura do politécnico para a docência do 2.º ciclo do ensino básico, na variante de Educação Física. Ou seja, são docentes do 2.º ciclo do ensino básico, na variante de Educação Física. Havendo outras variantes para a docência das outras disciplinas.

Por seu lado, os professores do 12.º ano, quer ministrem Fisico-Quimicas, Educação Física ou qualquer outra disciplina do respectivo currículo, devem ser possuidores de uma licenciatura universitária.

Em resumo: Os docentes do ensino infantil e do 1.º ciclo do básico (antigo ensino primário) têm um bacharelato politécnico. Os professores do 2.º ciclo do básico tanto podem ter uma licenciatura politécnica como uma licenciatura universitária (esta promiscuidade será tratada, com mais detalhe, no post por mim prometido) . Para os docentes do ensino secundário é exigida, como condição “sine qua non”, uma licenciatura universitária.

Donde, se o caso que apresenta dos docentes do 2. ciclo do básico, na variante de Educação Física, é, como diz com razão, espantoso, não é, todavia, tão espantoso quanto a igualdade entre um bacharel do politécnico e um licenciado universitário. São o resultado de conquistas que se ficam a dever a um sindicalismo docente que teima em continuar escravizado a orientações políticas e/ou às respectivas clientelas que lhes enchem os cofres do vil metal. E desta forma, sem qualquer respeito por um ensino de qualidade, sem venerarem a deusa Minerva prestam vassalagem ao rei Midas!

Anónimo disse...

Ao reler este meu último comentário, verifiquei que ficou no tinteiro (ou melhor, no teclado) o respectivo parágrafo final. Com as minhas desculpas, segue agora:


Mais deve ser esclarecido que os graus académicos, aqui exemplificados, se reportam a um ensino a.B (antes de Bolonha) e não a um ensino d.B (depois de Bolonha) que esbate, ainda mais, estas diferenciações em graus académicos e os identifica, a papel químico, em questões de vencimento!

Anónimo disse...

Acerca deste post e de alguns dos temas que lhe estão subjacentes apenas poderia acrescentar que não aceito, argumentos de autoridade e antiguidade como os pergaminhos essenciais para participar num debate sobre os feitos e defeitos do sindicalismo docente.
Penso mesmo que a arrogância de alguns é uma estratégia activa para afastar da discussão as vozes críticas apontado-lhes um dedo em riste por não terem estado na Comuna de Paris ou na vigília nº 34 à porta do ME.

Anónimo disse...

Caro paulo g.: Embora em pleno Entrudo, a Fenprof vai deixando cair a máscara de estar ao serviço dos professores e dos verdadeiros interesses da Educação que se não devem circunscrever a questões meramente laborais. Ainda que importantes!

Anónimo disse...

Rui Baptista e Carlos Félix Fernandes têm razão na denúncia de um sindicalismo parasitário. Eu já entreguei o meu cartão...
paulo g, não compreendo esse argumento da recusa da autoridade. Mas de que autoridade fala? Temos aqui mais um defensor de Rousseau, como diz o Crato?

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