quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

COMO OBTER FINANCIAMENTO PARA UM PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO


Agora que está prestes a expirar novo prazo para a submissão de projectos de investigação à Fundação para a Ciência e Tecnologia transcrevo uma parte de uma conferência que fiz há anos a convite da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e que visava introduzir a pessoas das ciências da saúde sem grande experiência em investigação nos "segredos" dos projectos de investigação. O que disse, além de se manter actual, aplica-se em geral a outras áreas:

(...) Para aumentar as hipóteses de financiamento o investigador responsável deve procurar escrever muito bem o projecto, enunciando claramente os objectivos do trabalho (nomeadamente no caso das ciências médicas, a hipótese que se pretende testar), descrevendo os meios humanos e materiais à disposição ou a adquirir para os alcançar (os avaliadores valorizam naturalmente os meios humanos e materiais já existentes e a contenção nos meios a adquirir) e indicando um orçamento que seja adequado aos fins em causa.

Não existe, em português, uma compilação de regras para a escrita de projectos. Mas é útil atender-se às seguintes regras válidas para o National Institut of Health (NIH), o principal organismo de apoio à investigação médica nos EUA:

~- “The original how to write a research grant application” (documento do NIH).

- Hints for Wiriting Successful NIH grants, Ellen Darrett, Outubro, 1995 (recomendações de um Professor do Departamento de Fisiologia e Biofísica da Facudade de Medicina da Universidade de Miami).

Vale a pena transcrever algumas das recomendações que contam desses documentos, acrescentando alguns comentários que são particularmente aconselhados pela experiência do signatário.

- Esteja atentamente aos anúncios de concursos de projectos de investigação, que são normalmente publicados nos meios de comunicação social ou na Internet.

- Leia com atenção as instruções do edital e dos formulários. Se puder, consulte propostas de projectos na mesma área que obtiveram sucesso.

- Assegure-se que a sua equipa de investigação, muito em particular o seu responsável, é a adequada para conseguir os fins pretendidos. A equipa e o responsável têm de mostrar experiência e competência na área em causa. O respectivo laboratório deve ter as condições adequadas. Junte-se a outras pessoas ou equipas quando houver vantagem nessa sinergia (a colaboração de várias equipas é sempre bem vista no processo de avaliação!).

- Escolha um tópico de investigação bem delimitado que seja de interesse e actualidade (em ciência há muitas vezes modas, que gozam dos favores dos avaliadores). A investigação em ciências da saúde é muito dirigida por hipóteses. Formule uma hipótese precisa a ser investigada e assegure-se, consultando a literatura especializada (a Internet pode ser muito útil) ou especialistas (nacionais ou internacionais, que podem depois ser indicados como consultores do projecto), que a hipótese é não só nova como consistente. No campo da medicina uma hipótese deve lançar luz sobre processos biológicos, doenças, tratamentos ou processos de prevenção. Mostre na proposta que conhece a literatura sobre o assunto (indique referências correctas pois nada há de mais arreliador do que não conseguir acesso a um documento por ele estar mal referenciado) e, se for o caso, que conhece, através de contactos pessoais, trabalhos não publicados. Indique dados anteriores, nomeadamente os que originados por trabalhos da equipa, que possam abonar em favor da hipótese escolhida. Indique com pormenor suficiente a metodologia que vai usar para certificar (ou não) a hipótese de base. A experiência no assunto por parte da equipa de investigação ajuda ao êxito na avaliação. Também um bom enquadramento do projecto na instituição de acolhimento (a instituição onde se integra a equipa) assim como na estratégia global da equipa é um ponto favorável.

- O título do projecto deve ser breve mas revelador do conteúdo. O resumo do projecto é muito importante. Deve dizer o essencial em poucas palavras, uma vez que esse resumo poderá ser lido por não especialistas. Apresente currículos adequados, embora resumidos, para todos os investigadores envolvidos no projecto e indique qual vai ser o seu envolvimento no projecto (tempo correspondente à participação no projecto e tarefas a executar). O esforço humano deve ser adequado à “ambição” do projecto. Um cronograma do projecto, que elenque a execução das várias tarefas ao longo do tempo, é sempre útil.

- Solicite só o financiamento necessário para realizar o projecto. Exageros na solicitação de fundos são normalmente penalizados. O orçamento deve ser devidamente discriminado por rubricas (justifique o máximo que puder, não pensando que certas despesas são óbvias!). Indique outras fontes de financiamento quando as houver, nomeadamente a participação da instituição de acolhimento.

- No caso particular da investigação médica ou biomédica há que ter os habituais cuidados com consequências éticas, nomeadamente na experimentação que envolva pessoas ou animais.

- Reveja várias vezes a proposta antes de a submeter. Peça a outros para a ler em busca de eventuais erros ou inconsistências. O respeito do prazo limite é fundamental.

- Normalmente a avaliação demora algum tempo. Se houver uma defesa da proposta prepare-a com cuidado, procurando convencer a comissão de avaliação da validade do projecto e do seu empenho em o realizar (a auto-confiança, sem assomos de arrogância, costuma revelar-se compensadora!). Se tiver entretanto realizado avanços no campo em causa não hesite em os anunciar, pois isso pode funcionar como um ponto favorável.

- Respeite a decisão da comissão avaliadora se ela for negativa. Em geral, só uma pequena parte das propostas submetidas é aprovada. Leia bem a carta que foi recebida contendo a avaliação. Use o seu conteúdo para melhorar a eventual resubmissão da mesma proposta ou para formular outras. O Prof. Darrett é taxativo a este propósito:
“If your first application is rejected, read the reviewer's comments carefully. When you first read them you will be sad and angry, so spend a week being angry - write nasty rebuttal letters, but DON'T SEND THEM TO ANYONE - they are for therapy only! Don't call anyone at the funding agency. Then a week later, after you have calmed down somewhat, re-read the critique and your application. Gauge whether or not the reviewers show any enthusiasm for your study - a senior investigator skilled in reading critiques will be helpful for this. (...) Figure out what parts of your application might have confused or misled them.”
(..)Recomenda-se a pessoas sem experiência o contacto/parceria com parceiros já activos na investigação em ciências da saúde, uma vez que o “saber de experiência feito” é o melhor saber. Mesmo a pessoas com experiência recomenda-se a colaboração interdisciplinar nomeadamente entre médicos e pessoas das ciências biológicas, bioquímicas ou biofísicas. A interdisciplinaridade é uma das molas propulsionadoras da ciência mais moderna.

5 comentários:

Anónimo disse...

Esqueceu-se do essencial. Se disser que aquilo que quer testar vai ser um grande rombo no criacionismo, terá o financiamento garantido.

Anónimo disse...

Ora essa! Pensei que na verdade os projectos científicos fossem aprovados em função do apadrinhamento? Pelo menos...

Zeca andrade disse...

Exmos,
AELA- Associação da Etnia Lunda e Amigos, carrega na sua carteira de actividades projectos enormes no consernente à cooperativas de Agricultura, projectos de montagem de fabrica de escoamento de mel, fornos de cal, pomares,etc.
estes monstros actividades não encontram arranque por falta de finanças para aquisição do material. aliais, a Organização possui areas já legalizadas para o efeito.

sem outro assunto de momento

Zeca Andrade
Secretario Geral
aelaimperiolunda@hotmail.com

Cláudia S. Tomazi disse...

A principal referência da tecnolgia na atualidade tem sido a capacidade de chegar em "distantes lugares", é facto, agregar, acolher e despertar iniciativas que disponibilizam ou, em melhor dizer do recutamento, por captar de quando estudantes em potencializar cientistas investigadores amanhã. Pois ao que tange deste desdobramento na rede, possibilita a solução e converge no elaborar arranjos de competência e sociabilidade, e que permitem o avanço da integração, fortalecendo a pesquisa ao tratamento diferenciado e criterioso que pondera o incremento investigativo em partilhas, que elucidam por atentas de novas descobertas.

Cláudia disse...

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