domingo, 22 de fevereiro de 2009

A actualidade do Darwinismo

O António Bracinha Vieira, um dos primeiros investigadores a procurar desenvolver o estudo das bases biológicas do comportamento entre nós, escreveu um belissimo texto de homenagem a Darwin para o Expresso. Publicamos no De Rerum Natura a versão integral, por gentileza do autor.

"No dia 24 de Novembro de 1859 foi lançada a primeira edição do livro de Charles Darwin A origem das espécies por selecção natural. Nele, Darwin formulava a teoria – chamada ‘darwinismo’ por Alfred Russel Wallace, que de modo independente também a descobrira – segundo a qual as espécies evoluem a partir de um antepassado comum por efeito da selecção exercida pelo ambiente favorecendo reprodutivamente os indivíduos melhor adaptados. Construíra esta teoria após longa e atenta reflexão, a partir de factos observados durante a sua viagem a bordo do Beagle. Grande parte da comunidade científica reconheceu desde logo os fundamentos sólidos do darwinismo e Darwin obteve a consagração em vida.


Hoje, os que se opõem à teoria da evolução não se baseiam em fundamentos científicos mas em preconceitos. O que mais fortifica a teoria selectiva é a sucessiva refutação de todas as teorias competidoras: mesmo os trabalhos de ilustres investigadores anti-evolucionistas (Pasteur, von Baer, von Uexküll, T.H. Morgan, entre outros) acabaram por lhe trazer firmes e renovados argumentos. Mas a posição do Homem na natureza sempre provocou um campo de forças deformante da realidade, propício a manipulações ideológicas e religiosas da ciência, suscitando assaltos premeditados à lógica da investigação e da interpretação dos dados. O sistema de crenças interfere então com o de provas, espalhando uma atmosfera de obscuridade. Na última página da Origem das espécies, Darwin escrevera: «Muita luz será lançada sobre a origem do Homem e a sua história». Esta frase foi suprimida na primeira edição alemã da obra!

Decorrido um século e meio sobre o aparecimento deste livro, o preconceito continua a guiar os que recusam a evolução. Posto que os argumentos inúmeros e convergentes que a comprovam lhe conferem o mesmo grau de credibilidade que à órbita heliocêntrica da Terra, só por ignorância ou má fé é possível hoje rejeitá-la. A evolução não é mais uma simples teoria, mas um imenso programa de investigação que unifica todas as disciplinas da biologia e ciências da natureza: geologia, tectónica de placas, paleoclimatologia, biogeografia, genética, sistemática, anatomia e fisiologia comparadas, embriologia, paleontologia, etologia, biologia molecular, recebem da perspectiva evolucionista justificação mútua dos seus saberes. Estas disciplinas, que tinham crescido em separado, encontraram na teoria sintética da evolução (assim chamada pelo seu poder integrador dos conhecimentos) um eixo organizador que as reuniu, como aos ramos de uma árvore, numa totalidade coerente. Desde Darwin, não houve em biologia nem ruptura nem crise científica (no sentido do célebre filósofo da ciência Thomas Kuhn), antes clarificação de uma imensa constelação de fenómenos através da mesma matriz disciplinar.

Supusera Leibniz que a manus emmendatrix (a mão providencial) de Deus resolvia os erros que surgissem na construção do mundo. Oposta é a natureza do processo evolutivo: a partir de erros de replicação genética chamados mutações aumenta a diversidade sobre a qual vai operar a selecção natural. O processo evolutivo joga-se em dois tempos: a recombinação genética, aleatória; e a triagem dos organismos (fenótipos) resultantes. A estes dois lances encadeados chamou Jacques Monod «o acaso e a necessidade». Do seu resultado, obtido em interacção com o meio, provêm os indivíduos, sempre diferentes, de cada espécie. A teoria sintética da evolução, proposta em 1942 por Julian Huxley, a que se seguiram os contributos de Mayr e Dobzhanski, incorporou a genética no processo evolutivo e clarificou vastos domínios de todas as ciências geográfico-naturais. Decerto que alguns importantes fenómenos permanecem em parte inexplicados (mas não inexplicáveis) pelo darwinismo e aguardam futura investigação: essa é a condição da ciência.


A biologia molecular, última das disciplinas biológicas a entrar em cena, completou a demonstração da homologia (origem a partir de um antepassado comum) de todos os seres vivos. Desde as formas mais elementares às mais complexas, todas têm um código genético nos mesmos moldes do dos vertebrados, provando a unidade da frondosa árvore dos seres viventes. A engenharia genética permitiu passar genes de uns organismos para outros, p. ex. genes humanos para bactérias de modo a que produzam insulina humana. E os níveis de homologia (incluindo os cérebros) de todos os vertebrados, mamíferos e, mais intimamente ainda, primatas, levam a que se ensaiem com eficácia os medicamentos destinados a seres humanos – incluindo os psicofármacos – em ratos e chimpanzés (hoje felizmente protegidos por legislação da UE), provando-se o que é óbvio: no primeiro caso, a estrutura semelhante e permutável dos genomas entre espécies tão distantes como homens e bactérias; no segundo, a semelhança biológica profunda entre os mamíferos.

No limite, é possível obter embriões híbridos, por exemplo humanos e não-humanos. Como, sendo assim, excluir uma comum matriz de origem? Encontramo-nos inseridos na radiação da vida, sendo parentes mais ou menos próximos de todos os seres vivos, actuais ou extintos. A nossa presença na biosfera é casual e recente, puro acidente decorrendo do ‘oportunismo insensível da evolução’ de que falava Dobzhanski. O ‘relógio molecular’, hoje minuciosamente calibrado, mostrou que a origem de Homo sapiens ascende a cerca de 200.000 anos, tempo breve em termos de idade geológica. Por isso, a espécie humana actual (porque houve outras que a precederam, hoje extintas) mantém grande homogeneidade genética, não tendo decorrido tempo suficiente para a formação de raças humanas, conceito hoje destituído de valor operacional em ciência (apesar das variações exteriores de aspecto fenotípico). Não temos o monopólio da inteligência, do uso intencional de ferramentas, nem sequer da linguagem.

O desenvolvimento embrionário, provou August Weismann, repete em traços gerais a história natural dos antepassados. Assim se retêm traços e características que perderam função mas, não sendo contra-adaptativos, persistem. É o caso da cauda, funcional em muitos primatas não-humanos e ausente nos antropóides, genética e evolutivamente muito afins conosco. Estes animais (gibões, siamang, orangotangos, gorila, chimpanzés, bonobo) e o Homem não têm cauda livre: mas as vértebras caudais fundiram-se num órgão residual, o cóccix, onde a configuração vertebral é bem visível. Pertence à categoria dos órgãos vestigiais que, persistindo por inércia filogenética, revelam estruturas do passado evolutivo. De longe em longe nascem mesmo crianças com cauda livre, rara e interessante anomalia reversiva que uma redundância genética actualiza. Também o núcleo inato do comportamento, que evolui por selecção natural, conserva traços arcaicos: um recém-nascido humano prematuro agarra-se firmemente com mãos e pés a um fio horizontal do qual pode suspender o peso do próprio corpo, num reflexo de preensão provindo de antepassados arborícolas.

Críticos mal avisados afirmaram não ser possível presenciar a selecção natural em acção. Enganam-se. Não poderão ver o que decorre nos tempos geológicos (como não verão o movimento dos ponteiros dos minutos e horas nos relógios, sem duvidarem de que se movem). Mas podem testemunhar, no tempo das suas vidas, efeitos selectivos. No caso da malária, grave doença humana, o vector (mosquito) transporta o agente (plasmódio) ao hospedeiro (Homem). Em cada um dos três vértices deste triângulo se exerce a selecção. Os plasmódios seleccionam sucessivamente estirpes resistentes aos novos anti-maláricos descobertos; os mosquitos seleccionam estirpes imunes a renovados insecticidas; e as populações humanas nas áreas endémicas seleccionam e fixam formas de hemoglobina (como a hemoglobina s, regida por um só par de alelos) que o plasmódio não digere e por isso protegem da doença. A área de distribuição da hemoglobina s coincide rigorosamente com a faixa de repartição da malária em África, na Ásia, Insulíndia e Américas Central e do Sul. Mas, sendo a heterozigose adaptativa nestas regiões, a homozigose comporta riscos, e nos EUA, país ao qual os descendentes de escravos negros levaram os genes mutantes, a percentagem destes reduz-se a cada geração, por não haver já malária e os custos da hemoglobina s serem ali superiores aos benefícios.

Enquanto os detractores religiosos do pensamento evolucionista tentam denegá-lo, voltando ao que parece inconcebível – um cenário criacionista para os seres vivos! – no domínio das ‘ideologias progressistas’ permanece uma nostalgia das ideias de Lamarck, de uma evolução orientada tendo o Homem por alvo e objectivo final e pressupondo a hereditariedade de traços adquiridos. Assim, através de endoutrinação as ‘vanguardas revolucionárias’ imprimiriam o seu cunho a um ‘processo histórico’, mudando a sociedade em poucas gerações e conduzindo-a a um destino optimista. Por seu lado, correntes cristãs de obediência papal tentam reabilitar modelos evolutivos vitalistas e finalistas, como o do jesuíta Teilhard de Chardin. Num hemiciclo imaginário onde as convicções ideológicas fossem cotejadas com as ideias sobre a origem das espécies, a extrema direita seria hoje ocupada por cristãos fundamentalistas de convicção fixista e neocriacionista, por um grupo menos radical de orientação vitalista, e também por alguns evolucionistas ateus, eventualmente racistas, defendendo um determinismo genético da evolução; enquanto a chamada ala esquerda se repartiria entre evolucionistas variacionais sem crença religiosa (darwinistas) e evolucionistas transformacionais (neo-lamarckistas) ligados ainda ao marxismo histórico.

Ideólogos e fanáticos religiosos procuram na natureza caução para os seus dogmas: por isso censuram, deformam ou manipulam a teoria da evolução. Num momento em que o preconceito se eleva como uma tempestade e uma vaga de irracionalidade desaba a contagiar a multidão, justifica-se um comentário sobre o alcance da obra de Darwin e suas consequências. Se nalguns países o ensino do darwinismo fosse nivelado com o de modelos obscurantistas (fixistas, neo-creacionistas, vitalistas), então a História seria uma aventura falhada, negando as ideias que lhe serviram de fundamento. E Homo sapiens, assim denominado por Carl von Linné (que ao arrumá-lo junto com os outros antropóides já acedia à ideia implícita de evolução), antes mereceria o nome específico de Homo stupidus (espécie conjectural proposta e assim denominada por Ernst Haeckel, poucos anos após o aparecimento da Origem das espécies).

Porque evoluem as formas vivas? Porque a Terra não é estática: o meio-ambiente está em modificação contínua – deriva continental, clima, solos, vegetação, recursos alimentares, predadores e presas, parasitas e simbiontes – e, sem evolução, a breve prazo os elementos de cada população de cada espécie estariam inadaptados. Assim, encontramos Darwin como a figura decisiva que divide a história da biologia em duas épocas e em duas vertentes, uma de sombra e outra de luz. Ernst Mayr, grande teórico da evolução, escreveu recentemente: «Os argumentos [contra o darwinismo] baseiam-se numa tal ignorância da biologia evolucionista que não vale sequer a pena referir os escritos que os contêm. (...) Os princípios básicos do darwinismo estão mais firmemente estabelecidos do que nunca.» Eis como a biologia, após a síntese evolucionista – e ao contrário da física, dividida ainda entre as teorias da relatividade geral e da mecânica quântica – se tornou numa ciência exemplar, integrada em torno de uma teoria central unificadora capaz de dirigir e aprofundar a investigação em todas as frentes. "

7 comentários:

Anónimo disse...

RESPOSTA CRIACIONISTA AO POST DE PAULO GAMA MOTA


"No dia 24 de Novembro de 1859 foi lançada a primeira edição do livro de Charles Darwin A origem das espécies por selecção natural. Nele, Darwin formulava a teoria – chamada ‘darwinismo’ por Alfred Russel Wallace, que de modo independente também a descobrira – segundo a qual as espécies evoluem a partir de um antepassado comum por efeito da selecção exercida pelo ambiente favorecendo reprodutivamente os indivíduos melhor adaptados. Construíra esta teoria após longa e atenta reflexão, a partir de factos observados durante a sua viagem a bordo do Beagle. Grande parte da comunidade científica reconheceu desde logo os fundamentos sólidos do darwinismo e Darwin obteve a consagração em vida. “

Sucede que Darwin nunca viu o hipotético antepessado comum. Ele inferiu-o.

No entanto, os criacionistas inferem um Criador comum a partir da mesma evidência.


A selecção natural não acrescenta informação genética ao genotipo. Ela opera a nível do fenotipo.

“Hoje, os que se opõem à teoria da evolução não se baseiam em fundamentos científicos mas em preconceitos. “

Falso. Dizer isso é que exprime um preconceito.

As mutações e a selecção natural degradam e reduzem os genomas.

Essa é uma objecção científica dirigida à teoria da evolução, facilmente comprovável mediante a observação.

“O que mais fortifica a teoria selectiva é a sucessiva refutação de todas as teorias competidoras: mesmo os trabalhos de ilustres investigadores anti-evolucionistas (Pasteur, von Baer, von Uexküll, T.H. Morgan, entre outros) acabaram por lhe trazer firmes e renovados argumentos.”


Uma coisa não foi refutada: a lei da biogénese, de acordo com a qual a vida só vem da vida.

“Mas a posição do Homem na natureza sempre provocou um campo de forças deformante da realidade, propício a manipulações ideológicas e religiosas da ciência, suscitando assaltos premeditados à lógica da investigação e da interpretação dos dados. “


A realidade é esta: o ser humano tem competências racionais e morais práticas que o distinguem de todos os demais seres vivos.

Isso é assim porque o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus.


“O sistema de crenças interfere então com o de provas, espalhando uma atmosfera de obscuridade.”

Isso aplica-se plenamente a Darwin, que não fez mais nada do que interpretar a realidade à luz das suas crenças naturalistas.

“Na última página da Origem das espécies, Darwin escrevera: «Muita luz será lançada sobre a origem do Homem e a sua história». Esta frase foi suprimida na primeira edição alemã da obra! “

A verdade é que a origem do homem continua a ser inferida especulativamente pelos naturalistas evolucionistas, sem qualquer evidência empírica.

Ninguém sabe quem era o hipotético antepassado comum entre os seres humanos e os macacos.


“Decorrido um século e meio sobre o aparecimento deste livro, o preconceito continua a guiar os que recusam a evolução. “

O preconceito continua a guiar os evolucionistas.

A dependência da vida de informação codificada refuta o seu modelo naturalista, porque a informação é um grandeza imaterial que tem sempre origem inteligente.

“Posto que os argumentos inúmeros e convergentes que a comprovam lhe conferem o mesmo grau de credibilidade que à órbita heliocêntrica da Terra, só por ignorância ou má fé é possível hoje rejeitá-la. “

É falso. Todos podem ver e estudar a órbita da Terra.

Mas nunca ninguém viu a vida a surgir de químicos inorgânicos ou uma espécie menos complexa a evoluir para outra mais complexa.

“A evolução não é mais uma simples teoria, mas um imenso programa de investigação que unifica todas as disciplinas da biologia e ciências da natureza: geologia, tectónica de placas, paleoclimatologia, biogeografia, genética, sistemática, anatomia e fisiologia comparadas, embriologia, paleontologia, etologia, biologia molecular, recebem da perspectiva evolucionista justificação mútua dos seus saberes.”


Muitas das disciplinas mencionadas nada dizem sobre se as mutações e a selecção natural criam informação genética nova, capaz de codificar novas e mais complexas estruturas e funções.

Este argumento é pura mistificação sem sentido.

No entanto, todas essas disciplinas podem ser compreendidas perfeitamente à luz de um paradigma criacionista bíblico.

Por exemplo, a tectónica de placas catastrófica pode ajudar a esclarecer o dilúvio global.

A embriologia pode demonstrar que o desenvolvimento embrionário se deve à execução precisa de informação codificada.

“Estas disciplinas, que tinham crescido em separado, encontraram na teoria sintética da evolução (assim chamada pelo seu poder integrador dos conhecimentos) um eixo organizador que as reuniu, como aos ramos de uma árvore, numa totalidade coerente.”

O criacionismo bíblico permite uma leitura de todas essas disciplinas ainda mais coerente.

Por exemplo, ele permite compreender porque é que não existe evidência de evolução gradual no registo fóssil, porque é que existe fósseis vivos, fósseis polistráticos, etc.

“Desde Darwin, não houve em biologia nem ruptura nem crise científica (no sentido do célebre filósofo da ciência Thomas Kuhn), antes clarificação de uma imensa constelação de fenómenos através da mesma matriz disciplinar.”


Mas isso não significa que a origem acidental da vida ou a evolução de uma espécie menos complexa para outra mais complexa tenham sido efectivamente demonstradas.

Não foram. E esse é um problema sério.

“Supusera Leibniz que a manus emmendatrix (a mão providencial) de Deus resolvia os erros que surgissem na construção do mundo. Oposta é a natureza do processo evolutivo: a partir de erros de replicação genética chamados mutações aumenta a diversidade sobre a qual vai operar a selecção natural.”

Engana-se. As mutações são relativamente raras, raramente são benéficas, e quando são benéficas para um indivíduo raramente o são para uma população.

A genética demonstra que as mutações são essencialmente responsáveis pela perda de funções celulares, deficiente formação de proteínas, doenças, cancros, etc.


“O processo evolutivo joga-se em dois tempos: a recombinação genética, aleatória;”

A recombinação genética não cria informação genética nova, mas recombina informação pré-existente.

“…e a triagem dos organismos (fenótipos) resultantes.”

Esta triagem elimina informação genética.

Como se vê, não existe mecanismo que permita explicar devidamente a origem da quantidade, qualidade, densidade e complexidade da informação codificada nos genomas.

Na verdade, uma coisa é certa: Informação codificada é sempre evidência de inteligência, não se conhecendo excepções.

“A estes dois lances encadeados chamou Jacques Monod «o acaso e a necessidade». Do seu resultado, obtido em interacção com o meio, provêm os indivíduos, sempre diferentes, de cada espécie.”

Mas também aí isso só é possível porque já existe informação codificada com as instruções todas para a sua produção, reprodução e adaptação.

“A teoria sintética da evolução, proposta em 1942 por Julian Huxley, a que se seguiram os contributos de Mayr e Dobzhanski, incorporou a genética no processo evolutivo e clarificou vastos domínios de todas as ciências geográfico-naturais. Decerto que alguns importantes fenómenos permanecem em parte inexplicados (mas não inexplicáveis) pelo darwinismo e aguardam futura investigação: essa é a condição da ciência.”

A grande questão que continua por explicar é: como é que surge a informação codificada nos genomas.

A única resposta empiricamente sustentável é: mediante uma acção inteligente e intencional.

É que não se conhece outra maneira de produzir informação codificada.

“A biologia molecular, última das disciplinas biológicas a entrar em cena, completou a demonstração da homologia (origem a partir de um antepassado comum) de todos os seres vivos. “

A homologia é evidência de um Criador comum (origem a partir de um Criador comum).

“Desde as formas mais elementares às mais complexas, todas têm um código genético nos mesmos moldes do dos vertebrados, provando a unidade da frondosa árvore dos seres viventes. “


Isso é compatível com um Criador comum. A mesma coisa sucede com o código genético.

É que a informação codificada tem sempre origem inteligente.


“A engenharia genética permitiu passar genes de uns organismos para outros, p. ex. genes humanos para bactérias de modo a que produzam insulina humana.”


Isso é, quando muito, um caso de design inteligente.

“E os níveis de homologia (incluindo os cérebros) de todos os vertebrados, mamíferos e, mais intimamente ainda, primatas, levam a que se ensaiem com eficácia os medicamentos destinados a seres humanos – incluindo os psicofármacos – em ratos e chimpanzés (hoje felizmente protegidos por legislação da UE), provando-se o que é óbvio: no primeiro caso, a estrutura semelhante e permutável dos genomas entre espécies tão distantes como homens e bactérias; no segundo, a semelhança biológica profunda entre os mamíferos.”


As homologias só provam homologias. Elas são compatíveis com um Criador comum.

No entanto, nem tudo são homologias.

É por isso que os evolucionistas são forçados a dizer que muitos órgãos evoluiram de forma convergente ou paralela.

Eles fazem-no quando muitos órgãos funcionalmente semelhantes não se podem explicar com base em homologias.

Ou seja, quando existem homologias, isso é evidência de evolução.

Quando não existem, isso é evidência de evolução paralela.

Em ambos os casos a evolução é pressuposta e imposta aos factos.


“No limite, é possível obter embriões híbridos, por exemplo humanos e não-humanos. Como, sendo assim, excluir uma comum matriz de origem?”


Os criacionistas não negam uma matriz comum de origem. A existência de um Criador comum explica essa matriz.

“Encontramo-nos inseridos na radiação da vida, sendo parentes mais ou menos próximos de todos os seres vivos, actuais ou extintos. A nossa presença na biosfera é casual e recente, puro acidente decorrendo do ‘oportunismo insensível da evolução’ de que falava Dobzhanski.”


Isso é pura interpretação ideológica.

A verdade é que a quantidade de coincidências antrópicas necessárias à vida afastam, razoavelmente, qualquer ideia de acidente.


“O ‘relógio molecular’, hoje minuciosamente calibrado, mostrou que a origem de Homo sapiens ascende a cerca de 200.000 anos, tempo breve em termos de idade geológica.”


Os “relógios” moleculares estão tudo menos calibrados, o que é demonstrado pelos muitos casos em que ele não bate certo com os “relógios” dos isótopos.

Acresce que esses relógios são construídos partindo da premissa de que houve evolução.


“Por isso, a espécie humana actual (porque houve outras que a precederam, hoje extintas) mantém grande homogeneidade genética, não tendo decorrido tempo suficiente para a formação de raças humanas”


Não existem raças humanas. O que existe é pessoas com mais ou menos melanina, como o demonstram os múltiplos casos de gémeos louros e negros que se conhecem.

“…conceito hoje destituído de valor operacional em ciência (apesar das variações exteriores de aspecto fenotípico). “


A Bíblia diz que todos descendemos de Adão e Eva e de Noé e a Sua família.

O isolamento posterior à dispersão de Babel é responsável pelo fraccionamento do pool genético humano e ao surgimento de populações com diferentes características, mas todas elas igualmente humanas.


“Não temos o monopólio da inteligência, do uso intencional de ferramentas, nem sequer da linguagem.”


Se todos os seres vivos foram criados por um Deus inteligente, intencional e comunicativo é natural que essas características se vejam na sua Criação.


“O desenvolvimento embrionário, provou August Weismann, repete em traços gerais a história natural dos antepassados.”


Este argumento é pura e simplesmente falso e fraudulento, tendo sido já há muito descartado pelos próprios evolucionistas mais esclarecidos.


“Assim se retêm traços e características que perderam função mas, não sendo contra-adaptativos, persistem. É o caso da cauda, funcional em muitos primatas não-humanos e ausente nos antropóides, genética e evolutivamente muito afins conosco. Estes animais (gibões, siamang, orangotangos, gorila, chimpanzés, bonobo) e o Homem não têm cauda livre: mas as vértebras caudais fundiram-se num órgão residual, o cóccix, onde a configuração vertebral é bem visível. Pertence à categoria dos órgãos vestigiais que, persistindo por inércia filogenética, revelam estruturas do passado evolutivo.”


Hoje sabe-se que todos os “órgãos vestigiais” humanos afinal têm função.

Este argumento também já é rejeitado por muitos evolucionistas mais esclarecidos. É de admirar que os mesmos ainda persistam. Eles só podem revelar uma profunda ignorância e desactualização científica de quem escreve.

“De longe em longe nascem mesmo crianças com cauda livre, rara e interessante anomalia reversiva que uma redundância genética actualiza.”

Mais argumentação desactualizada, e sem sentido.

Um verdadeiro disparate que pode ser corrigido lendo as edições mais recentes da Anatomia de Gray.


“Também o núcleo inato do comportamento, que evolui por selecção natural, conserva traços arcaicos: um recém-nascido humano prematuro agarra-se firmemente com mãos e pés a um fio horizontal do qual pode suspender o peso do próprio corpo, num reflexo de preensão provindo de antepassados arborícolas.”

A evolução é sempre pressuposta, mas não demonstrada.

“Críticos mal avisados afirmaram não ser possível presenciar a selecção natural em acção. Enganam-se.”


A selecção natural foi um conceito desenvolvido pelo criacionista Edwin Blyth antes de Darwin.

Ninguém nega a selecção natural. Ela pode ser observada a todo o instante.

Os criacionistas só dizem que ela explica a eliminação de seres vivos e não a sua origem.


“Não poderão ver o que decorre nos tempos geológicos (como não verão o movimento dos ponteiros dos minutos e horas nos relógios, sem duvidarem de que se movem). Mas podem testemunhar, no tempo das suas vidas, efeitos selectivos.”

Os tempos geológicos são inferidos por interpretação da coluna geológica.

No entanto, existe uma outra interpretação compatível com o dilúvio global.


No fundo, trata-se de duas interpretações alternativas: “pouca água ao longo de milhões de anos” ou “muita água ao longo de pouco tempo”.


“No caso da malária, grave doença humana, o vector (mosquito) transporta o agente (plasmódio) ao hospedeiro (Homem). Em cada um dos três vértices deste triângulo se exerce a selecção. Os plasmódios seleccionam sucessivamente estirpes resistentes aos novos anti-maláricos descobertos; os mosquitos seleccionam estirpes imunes a renovados insecticidas; e as populações humanas nas áreas endémicas seleccionam e fixam formas de hemoglobina (como a hemoglobina s, regida por um só par de alelos) que o plasmódio não digere e por isso protegem da doença. A área de distribuição da hemoglobina s coincide rigorosamente com a faixa de repartição da malária em África, na Ásia, Insulíndia e Américas Central e do Sul. Mas, sendo a heterozigose adaptativa nestas regiões, a homozigose comporta riscos, e nos EUA, país ao qual os descendentes de escravos negros levaram os genes mutantes, a percentagem destes reduz-se a cada geração, por não haver já malária e os custos da hemoglobina s serem ali superiores aos benefícios.”

No entanto, também aí não se cria informação genética nova que codifique estruturas e funções inovadoras.

Na verdade, na generalidade dos casos conhecidos em que uma bactéria desenvolve resistência a antibióticos acontece uma de três coisas:

1) a resistência já existe nos genes e acaba por triunfar por selecção natural, embora não se crie informação genética nova;

2) a resistência é conseguida através de uma mutação que destrói a funcionalidade de um gene de controlo ou reduz a especificidade (e a informação) das enzimas ou proteínas;

3) a resistência é adquirida mediante a transferência de informação genética pré-existente entre bactérias, sem que se crie informação genética nova.

“Enquanto os detractores religiosos do pensamento evolucionista tentam denegá-lo, voltando ao que parece inconcebível – um cenário criacionista para os seres vivos! – no domínio das ‘ideologias progressistas’ permanece uma nostalgia das ideias de Lamarck, de uma evolução orientada tendo o Homem por alvo e objectivo final e pressupondo a hereditariedade de traços adquiridos.”

Existe, de facto, um neo-lamarckismo emergente.

“Assim, através de endoutrinação as ‘vanguardas revolucionárias’ imprimiriam o seu cunho a um ‘processo histórico’, mudando a sociedade em poucas gerações e conduzindo-a a um destino optimista. “

Vê-se. Melhor seria falar de um destino pré-apocalíptico.

“Por seu lado, correntes cristãs de obediência papal tentam reabilitar modelos evolutivos vitalistas e finalistas, como o do jesuíta Teilhard de Chardin. Num hemiciclo imaginário onde as convicções ideológicas fossem cotejadas com as ideias sobre a origem das espécies, a extrema direita seria hoje ocupada por cristãos fundamentalistas de convicção fixista e neocriacionista, por um grupo menos radical de orientação vitalista, e também por alguns evolucionistas ateus, eventualmente racistas, defendendo um determinismo genético da evolução; enquanto a chamada ala esquerda se repartiria entre evolucionistas variacionais sem crença religiosa (darwinistas) e evolucionistas transformacionais (neo-lamarckistas) ligados ainda ao marxismo histórico.”


Puro disparate. Os criacionistas não são fixistas.

Apenas dizem que a especiação e a selecção natural não criam informação genética nova.

“Ideólogos e fanáticos religiosos procuram na natureza caução para os seus dogmas: por isso censuram, deformam ou manipulam a teoria da evolução.”

Mesmo quando defendida pelos seus apologistas em artigos como estes, a teoria da evolução não consegue sobreviver à crítica.


“Num momento em que o preconceito se eleva como uma tempestade e uma vaga de irracionalidade desaba a contagiar a multidão, justifica-se um comentário sobre o alcance da obra de Darwin e suas consequências. “

Pura pregação emocional.

“Se nalguns países o ensino do darwinismo fosse nivelado com o de modelos obscurantistas (fixistas, neo-creacionistas, vitalistas), então a História seria uma aventura falhada, negando as ideias que lhe serviram de fundamento. E Homo sapiens, assim denominado por Carl von Linné (que ao arrumá-lo junto com os outros antropóides já acedia à ideia implícita de evolução), antes mereceria o nome específico de Homo stupidus (espécie conjectural proposta e assim denominada por Ernst Haeckel, poucos anos após o aparecimento da Origem das espécies).


Perdeu as estribeiras. Ernst Haeckel foi essencialmente um impostor intelectual que não hesitou em falsificar os dados para “vender” a sua teoria da recapitulação embrionária.

“Porque evoluem as formas vivas? Porque a Terra não é estática: o meio-ambiente está em modificação contínua – deriva continental, clima, solos, vegetação, recursos alimentares, predadores e presas, parasitas e simbiontes – e, sem evolução, a breve prazo os elementos de cada população de cada espécie estariam inadaptados. Assim, encontramos Darwin como a figura decisiva que divide a história da biologia em duas épocas e em duas vertentes, uma de sombra e outra de luz. Ernst Mayr, grande teórico da evolução, escreveu recentemente: «Os argumentos [contra o darwinismo] baseiam-se numa tal ignorância da biologia evolucionista que não vale sequer a pena referir os escritos que os contêm. (...) Os princípios básicos do darwinismo estão mais firmemente estabelecidos do que nunca.» Eis como a biologia, após a síntese evolucionista – e ao contrário da física, dividida ainda entre as teorias da relatividade geral e da mecânica quântica – se tornou numa ciência exemplar, integrada em torno de uma teoria central unificadora capaz de dirigir e aprofundar a investigação em todas as frentes. "

Ernst Mayr foi o primeiro a reconhecer o carácter especulativo de muitas afirmações evolucionistas.


O facto de os evolucionistas não concordarem com os seus opositores não quer dizer que tenham razão.

Apenas prova que, sendo evolucionistas, não concordam com os criacionistas.

Uma coisa é certa:

1) toda a informação codificada tem origem inteligente

2) o DNA tem informação codificada

3) Logo, o DNA só pode ter tido uma origem inteligente

nuno disse...

um bom artigo sobre uma boa discussão sobre conceitos tão estanques como a definição do que é a vida saiu este fim de semana no Le Monde.

http://www.lemonde.fr/planete/article/2009/02/20/les-virus-vivants_1158132_3244.html#ens_id=628865


Neste artigo dizem-se coisas engraçadas como:

"Os vírus foram, durante muito tempo, confundidos com o seu virião (...) um pouco como se confundíssemos o homem com o seu espermatozóide."


Não quererá o biólogo de serviço deste blogue agarrar nesta deixa e promover a divulgação destas descobertas tão recentes e tão excitantes?

Anónimo disse...

O Paulo Gama Mota tem a cabeça cheia de confusões e informação desactualizada.

Vejamos dois exemplos:

A) Aqui há tempos apresentou a especiação dos Roquinhos nos Açores como um exemplo de evolução.

No entanto, a especiação, alopátrica ou simpátrica, consiste na formação subespécies partir de uma população pré-existente, mediante especialização de informação genética, em que cada nova “espécie” tem apenas uma fracção da informação genética existente na população inicial.

Assiste-se, por isso, a uma diminuição da quantidade e qualidade de informação disponível para cada uma das novas “espécies”, o que é exactamente o oposto do aumento quantitativo e qualitativo da informação genética que existiria se a evolução fosse verdade.

A especiação pode ser observada e tem sido observada em muitos casos.

A evolução, essa nunca foi observada nem dela existe qualquer evidência concludente no registo fóssil.

Na verdade, a especiação permite explicar como é que, depois do dilúvio, um casal de cada tipo de animais deu lugar a tanta variedade de sub-espécies, a partir da região monhanhosa de Ararat e das posteriores migrações dos animais pelos continentes e ilhas.

A especiação dos Roquinhos (que nunca serão outra coisa que não uma variação da população inicial) é apenas mais um episódio desse processo de diversificação das formas de vida depois do dilúvio.

No entanto, sabemos que isso nada tem que ver com a evolução, porque em caso algum é codificada informação genética nova, codificadora de estruturas e funções inovadoras e mais complexas.

B) Agora apresenta os "órgãos vestigiais" como "prova" da evolução. No entanto, este argumento é tão destituído de sentido como o anterior.

VejamosOs alegados órgãos vestigiais não servem a causa da evolução, pelas seguintes razões:


1) Não é possível provar que um determinado órgão de função desconhecida é inútil, porque é sempre possível descobrir mais tarde a sua função.

2) Na verdade, foi isso mesmo que aconteceu. No século XIX (em 1890) dizia-se existirem 180 órgãos vestigiais no corpo humano e agora sabe-se (desde 1999!) que não existe nenhum.

3) Mesmo que um determinado órgão já não seja necessário isso provaria a degenerescência (resultante da corrupção da Criação) e não a evolução.

4) Supostos órgãos vestigiais com o apêndice ou o cóccix servem, afinal, uma função. Basta ler as mais recentes edições em inglês da grande obra Anatomia de Gray.

5) A evolução de partículas para pessoas necessita de exemplos de novos órgãos, com estruturas e funções mais complexas, e não da degenescência de órgãos pré-existentes.

6) A perda de funções é inteiramente consistente com a doutrina bíblica da queda e da corrupção da natureza.

7) A aquisição de novas estruturas e funções através da criação de informação genética nova é impossível, nunca tendo sido observada por ninguém.

8) A teoria dos órgãos vestigiais foi responsável por múltiplos casos de erro médico, tendo muitos "órgãos vestigiais" sido indevidamente removidos com graves consequências para os pacientes.

É evidente que o Paulo Gama Mota foi doutrinado por professores e manuais desactualizados.

Não lhe deram toda a evidência. As consequências estão à vista.

Anónimo disse...

Como é que é possivel existir um paulo gama mota?
Não compreendo porque tanto medo de Darwin!
Caro paulo gama mota tire deus da equação e vai ver que a realidade é bem mais interessante, rica e sem dúvida estimulante.

campos pessoa

Anónimo disse...

"A Bíblia diz que todos descendemos de Adão e Eva e de Noé e a Sua família."

Esta anedota não passa de um historieta leviana para "pobres de espírito" .

É no que dá a crendice !

Anónimo disse...

"Na verdade, a especiação permite explicar como é que, depois do dilúvio, um casal de cada tipo de animais deu lugar a tanta variedade de sub-espécies, a partir da região monhanhosa de Ararat e das posteriores migrações dos animais pelos continentes e ilhas."

Será que os caracóis (ou os elefantes) conseguiram encontrar uma "via verde" ?

Talvez a rota de Igidir, graças a um GPS divino facultado pelo elohim, o designer idiota.

E "alegremente" empreenderem a descida da região monhanhosa de Ararat ...


O pico mais elevado, o Monte Ararat, tem uma altitude de 5.137 m ...

http://en.wikipedia.org/wiki/Mountains_of_Ararat

http://en.wikipedia.org/wiki/Ararat_anomaly

Anónimo disse...

Muito interessante o texto! Principalmente por resgatar uma visão científica da realidade. Parabéns ao blog.
Interessante também alguns comentários, principalmente aquele que advoga uma "origem inteligente" ao código genético. Qual o principal problema desta hipótese? Na minha opinião é que ela ao invés de dar uma resposta, ela elimina a pergunta, por que a explicação de tudo viria de um "ser divino". Nada mais prejudicial a ciência que abafar as perguntas, mesmo que as respostas estejam longe de ser obtidas, até por que quando obtidas, podem ser retificadas fazendo avançar a própria ciência. Na teoria da evolução não se tem resposta para o surgimento da informação oriunda do DNA, mas por outro lado explica-se e comprova-se a evolução desta informação. Talvez se pensarmos termodinamicamente poderíamos obter uma resposta para a origem da combinação mais estável de certos arranjos genéticos? Isso seria difícel de comprovar uma vez que seria muito difícil de reproduzir as condições ambientais que levaram aquele mínimo de energia. Por fim a ciência avança!

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