quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Uma história de evolução. O roquinho dos Açores. Parte I


















O Roquinho (Oceanodroma castro), também conhecido por Angelito ou Painho-da-Madeira, é uma ave marinha, que passa a maior parte da vida no mar. Voa, alimenta-se e descansa nas águas do oceano, vindo a terra para se reproduzir em cavidades e falésias, de ilhas no meio do Atlântico e do Pacífico. É de facto uma espécies com uma distribuição geográfica impressionante: dos Açores e Madeira às Galápagos e ao Japão. Durante a reprodução, as crias, uma por ninho, esperam, num jejum que pode durar dez dias, que um dos progenitores regresse com alimento para elas, revelando uma impressionante resistência física.

Há duas décadas, um biólogo português procurava compreender os efeitos da poluição sobre as espécies de aves marinhas, para a realização da sua tese de doutoramento. Mas, ao trabalhar de perto com as populações do roquinho nas várias ilhas e ilhéus dos Açores, Luis Monteiro apercebeu-se de que a espécie tinha duas populações nidificantes: uma iniciando a reprodução em Maio (população quente) e a outra em Outubro (população fria), e que elas se segregavam, revelando importantes diferenças morfológicas e comportamentais. Isso levou-o a sugerir que poderiam tratar-se de duas espécies diferentes.

Infelizmente, um fatídico e terrível acidente áereo, ocorrido a 11 de Dezembro de 1999, na crista vulcânica da ilha de S. Jorge, que vitimou todos os ocupantes, impediu Luis Monteiro de continuar o seu estudo sobre as duas populações do roquinho. Mas, a sua grande dedicação à investigação e a forma extremamente empática e generosa com que interagia com todos os que com ele lidavam, deixaram uma marca indelével. A sua perda foi profundamente sentida. O Governo Regional dos Açores instituiu mesmo o Prémio Luis Rocha Monteiro em homenagem à sua memória. Eu tive o privilégio de conhecer o Luis Monteiro e de iniciarmos uma colaboração que não chegou a prosseguir. Mas, vários colegas e colaboradores decidiram dar continuidade às suas investigações sobre as duas populações de Roquinho que nidificam nos ilhéus da praia e da vila (Graciosa).

Há poucos meses surgiu um artigo na revista de ornitologia Ibis, assinado por Mark Bolton, Andrea Smith, Elena Gómez-Dias, Vicki Friesen, Renata Medeiros, Joel, Bried, Jose Roscales, e Robert Furness, apresentando argumentos muito sólidos de que a população quente é uma espécie diferente da população fria. E propõem uma nova espécie: Oceanodroma monteiroi (roquinho-de-monteiro), um bonito gesto que é também justa homenagem ao Luis Monteiro.

O estudo compara as duas populações em termos de morfologia – a população quente, proposta como nova espécie, é mais leve, tem asas maiores, cauda furcada em ‘v’ e bico mais curto -, época de reprodução – quase não há sobreposição entre as duas populações – e comportamentais – as vocalizações das aves das duas populações são claramente distintas -, concluindo por uma clara diferenciação que justifica considerá-las espécies distintas.

Um artigo de 2007, publicado nos Proceedings of the National Academy of Sciences (USA), já havia mostrado, por análise genética, que não há troca de indivíduos entre as duas populações e, que elas terão divergido há mais de 73 000 anos. Ainda um outro estudo de 2007 comparou as vocalizações das populações dos Açores, Cabo Verde e Galápagos, e realizou testes no terreno, mostrado que as aves da população quente só respondiam a vocalizações dessa população e não às das restantes, e vice-versa, mostrando que elas se diferenciam muito claramente. Estes dados indicam existir um isolamento pré-reprodutivo, de natureza comportamental, fundamental para manter as duas populações isoladas reprodutivamente, apesar de ocorrerem no mesmo local.

Estou convencido de que o estatuto de espécie virá a ser reconhecido a esta população, recebendo a bonita designação de Oceanodroma moteiroi. Esta espécie parece apenas reproduzir-se nas ilhas do grupo ocidental dos Açores, não tendo mais do que 250-300 pares, o que faz dela também uma das espécies de aves mais raras do mundo.

A história do roquinho é muito interessante pelo facto de ser muito difícil encontrar exemplos de especiação simpátrica, isto é, da formação de espécies habitando o mesmo local, sem isolamento geográfico que impeça o fluxo de genes entre as populações. Este será o tema do próximo post.

3 comentários:

MFerrer disse...

Apesar disto: http://www.petitiononline.com/demissao/petition.html
e confirmado por isto:http:
//ww1.rtp.pt/noticias/?article=376266&visual=26&tema=1

Sobe PS sobe !
(Sondagem para a RR, Expresso e SIC )http://sic.aeiou.pt/online/noticias/pais/sondagemlegislativas.htm
MFerrer

perspectiva disse...

Os criacionistas é que podem estar satisfeitos com a especiação rápida dos Roquinhos.

Isto, na medida em que a especiação rápida é fundamental, no modelo criacionista, para se compreender a dispersão e a subespeciação das espécies depois do dilúvio, a partir de pares de animais com grande variedade genética.

No entanto, a especiação apresentada nada tem que ver com a suposta evolução de partículas para pessoas.

Utilizar o Roquinho dos Açores e especiação como uma evidência da evolução de partículas para pessoas é errado e ingénuo.

Também este argumento ficará nos anais dos erros crassos, juntamente com o "DNA e cubos de gelo", da Palmira Silva, ou o "gaivotas dão gaivotas" do Ludwig Krippal.

O que temos no exemplo apresentado é especiação, que consiste na especialização de informação genética pré-existente, acompanhada de uma perda de função (v.g. perda da capacidade de reprodução).

O facto de algumas subespécies de animais deixarem de se poder cruzar para efeitos reprodutivos não prova a evolução de partículas para pessoas.

É que não se criam, nesse processo, estruturas e funções inovadoras e mais complexas, havendo apenas uma perda de funções até então existentes.

Inclusivamente, o isolamento reprodutivo pode conduzir, a longo prazo, à extinção das espécies e não à sua origem e evolução.

Em momento algum do exemplo dos Roquinhos assistimos à introdução de informação genética nova, codificadora de estruturas e funções inovadoras e mais complexas.

Cada uma das subespécies de Roquinhos terá menos informação genética do que o "pool genético" inicial.

Na verdade, ela pode ter mesmo uma menor capacidade de adaptação, no caso de alterações climáticas profundas.

De resto, o exemplo apresentado não explica a origem desse "pool genético" pré-existente.

No entanto, esse "pool genético" inicial já contém toda a variedade necessária à especificação das diferentes subespécies de Roquinhos.

Diferentemente se passariam as coisas, se estivéssemos realmente perante um exemplo de evolução.

Esta, a existir, consistiria numa ampliação quantitativa e qualitativa do pool genético inicial, em termos exponenciais.

O que, manifestamente, não se verifica no exemplo apresentado.

No exemplo dos Roquinhos o DNA não conhece quaisquer ganhos líquidos de informação.

Não se assiste à codificação de nenhumas estruturas mais complexas e inovadoras.

Ora, a transformação de um ser unicelular num ser humano só seria possível mediante uma ampliação qualitativa e quantitativa do genoma.

Assim é, porque as instruções necessárias para especificar num ser humano não se encontram codificadas no organismo unicelular.

Um organismo unicelular não tem codificadas as instruções para construir olhos, ouvidos, bocas, pernas, cérebros, etc.

Daí que seja necessário um mecanismo que vá criando informação genética nova, codificadora de novas estruturas e funções.

Nem as mutações, nem a selecção natural, nem a especiação criam informação genética nova, codificadora de novas e mais complexas estruturas e funções.

Pelo contrário, elas diminuem a quantidade e a qualidade da informação genética disponível.

Sendo a informação codificada uma grandeza imaterial, um aumento da sua quantidade e qualidade só é possível mediante inteligência.

Assim sucede em todos os casos em que existe informação codificada.

A especiação apresentada não é um exemplo de evolução, na medida em que, longe de criar informação genética nova, limita-se a especializar informação genética pré-existente.

A especiação apresentada vai no sentido oposto ao da suposta evolução.

A continuar indefinidamente, ela pode mesmo conduzir a extinção das espécies.

A especiação é sempre feita a partir de informação genética pré-existente, não criando informação genética codificadora de estruturas e funções novas e mais complexas.

Ela parte de um “pool genético” já existente e com uma grande variedade, e vai reduzindo e especializando esse “pool genético”.

O fenómeno descrito pelo Paulo Gama Mota tem que ver com a expressão de informação genética pré-existente e não com a criação de estruturas e funções mais complexas e até aí inexistentes.

No fundo, este não é um exemplo de evolução.

É apenas um exemplo de confusão entre especiação e evolução.

A especiação pode ser observada quase todos os dias, podendo até ser bastante rápida.

Os criacionistas estão sempre a chamar a atenção para este ponto.
Os Roquinhos nos Açores confirmam o modelo criacionista de dispersão e especiação rápida.

Na verdade, como se disse, a especiação é um aspecto essencial do modelo criacionista que diz que as espécies se foram dispersando e especializando, depois do dulúvio, a partir de "pools genéticos" pré-existentes mais ricos.

Sobre a importância da especiação simpátrica e alopátrica no modelo criacionista de dispersão pós-diluviana, pode ver-se:

www.creationontheweb.com

www.answersingenesis.com

www.creationwiki.org.

AddCritics disse...

Este exemplo do dilúvio global é muito claramente um não exemplo. Pelo simples facto de um dilúvio global (como o defendido pelo Sr. prespectiva) ser impossível (o ciclo da água não prevê a criação de mais água). Se tal tivesse acontecido não teríamos nenhuma espécie marinha de peixe (por exemplo) e muito provavelmente, devido à endogamia, não teríamos a maioria das espécies terrestres que pela alegoria bíblica teriam sido transportadas na arca. Por isso este tema do dilúvio devia deixar de ser usado como explicação porque não tem nenhuma base de sustentação.

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