quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

DIÁLOGO DE SURDOS

Hoje continua o "diálogo de surdos" entre o Ministério de Educação e os sindicatos dos professores. Parece cada vez mais claro que nenhum deles quer uma avaliação pedagógico-científica. O Ministério da Educação excluiu a ideia logo à partida ao impor uma divisão de base apenas burocrática entre "professores titulares" e "professores". De resto, a própria ministra esclareceu já que mestrados e doutoramentos não contam para nada... Quanto aos sindicatos, eles são desde sempre contra qualquer distinção dentro da classe profissional, o que é uma maneira de beneficiar os medíocres e de prejudicar os excelentes. A última proposta deles, anunciada tarde e a más horas, é afinal burocrática tal como as propostas do Ministério: auto-avaliação com base na "assiduidade" e no "serviço atribuido".

Tanto o Ministério como os sindicatos têm mais em comum do que possa parecer, o que talvez faça com que os "surdos" se ouçam. Um secretário de estado até já foi sindicalista durante muito tempo. Se falarem "eduquês" pode mesmo ser que se ouçam, pois é uma linguagem comum. Ambos, por acção e inacção, são afinal responsáveis por uma boa parte das deficiências da nossa escola. Infelizmente, depois de tudo o que se tem passado, não penso que possam surgir grandes melhorias no ensino de um eventual entendimento entre ambos (lembro que houve um entendimento há pouco tempo e, como num "arrufo de namorados", a zanga não demorou). Esperemos por uma avaliação externa do nosso ensino, que a OCDE ou outro organismo internacional não pode deixar de fazer. Internamente, o governo tem a indiscutível legitimidade das eleições e haverá em breve oportunidade para o julgar. Quanto às organizações sindicais, pode ser que um dia os professores, que são o baluarte das escolas (o Ministério devia saber isso, mas parece que não sabe!), se organizem de modo a ter representantes credíveis e com ideias claras sobre o que deve ser uma escola melhor.

2 comentários:

Rui Baptista disse...

Caro Professor: Este seu post, com a clarividência, de um observador externo ao que se passa no ensino não superior com reflexos, mais que evidentes, no ensino universitário, termina com os votos de uma organização dos professores com “representantes credíveis e com ideias claras sobre o que deve ser uma escola melhor”. Uma escola melhor em que as questões laborais cedam o passo a uma melhor e mais eficaz forma de nos libertar das fracas prestações dos nossos alunos quando em confronto com alunos de outras paragens.

Não compreender isto, ou fingir que não é nada connosco, é dar azo a que tudo continue na mesma até que o descrédito nos chegue por organizações internacionais que nos continuem a confirmar aquilo que a “performance” de muitos aluno do nosso próprio universo escolar já nos dizem: o sistema educativo nacional pode ser que ainda não esteja nu, mas que se veste de andrajos ninguém lúcido ou honesto se atreve a pôr em questão. Esconder esta floresta com a árvore que nos põem à frente dos olhos como se tudo se circunscrevesse a um simples braço-de-ferro entre a ministra da Educação e a Plataforma Sindical é querer tornar o acessório em principal. Este o cerne de uma questão que compromete a preparação académica de jovens que amanhã tomarão em suas mãos o destino de um país com um futuro que hoje se afigura pouco risonho num mundo em que a Educação continuará a ter um importante papel a desempenhar.

Evil Master of Emptiness disse...

Vão-me perdoar, mas isto vindo de alguém que numa palestra em Castelo Branco (lembra-se, Professor Carlos Fiolhais?) há uns anos atrás mandou piadas às "meninas de letras" (recorda-se da piada dos horóscopos?), ignorando que havia gente de letras na sua audiência tem muito que se lhe diga. Faz ideia da mossa que fez a muita gente da sua audiência ? Sabia que muitos sentiram-se ofendidos porque o senhor, implicitamente, tinha acabado de insultar a formação deles ? É deste tipo de material que os "diálogos de surdos" muitas vezes surgem...basta um dos lados fazer uma barbaridade para que outro se recuse a ouvi-lo. E vice-versa.

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