quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Did Early Global Warming Divert A New Glacial Age?

Já referi por algumas vezes que a acção humana deixou marcas indeléveis no nosso planeta muito antes do que a maioria assume, nomeadamente em Agosto referi o artigo da PNAS que sugeria ter sido a caça intensiva a causa da extinção em massa de animais pré-históricos em terras do TAZ.

Uma das minhas leituras diárias, a ScienceDaily, publica hoje um artigo muito interessante sobre um tema que normalmente aquece as nossas caixas de comentários, as alterações climáticas e a acção humana.

Ontem, no artigo «Cosmic Rays Do Not Explain Global Warming, Study Finds», a Sciencedaily dava conta de um estudo conjunto das Universidades de Oslo e da Islândia, do NILU (Norwegian Institute for Air Research) e do CICERO (Center for Climate and Environmental Research) que confirmava indicações anteriores de que os raios cósmicos não contribuem, pelo menos significativamente, para as alterações climáticas da Terra.

No artigo de hoje, é discutida a comunicação à American Geophysical Union de Stephen Vavrus, um climatólogo da Universidade de Wisconsin que, em conjunto com John Kutzbach e Gwenaëlle Philippon, sugere que foi e tem sido a acção humana nos últimos 5000-8000 anos, ou seja, sensivelmente desde o advento da História, que evitou que vivamos numa nova era glaciar. Vale a pena ler todo o artigo, de que transcrevo a última parte:

«But looking farther back in time, using climatic archives such as 850,000-year-old ice core records from Antarctica, scientists are teasing out evidence of past greenhouse gases in the form of fossil air trapped in the ice. That ancient air, say Vavrus and Kutzbach, contains the unmistakable signature of increased levels of atmospheric methane and carbon dioxide beginning thousands of years before the industrial age.

"Between 5,000 and 8,000 years ago, both methane and carbon dioxide started an upward trend, unlike during previous interglacial periods," explains Kutzbach. Indeed, Ruddiman has shown that during the latter stages of six previous interglacials, greenhouse gases trended downward, not upward. Thus, the accumulation of greenhouse gases over the past few thousands of years, the Wisconsin-Virginia team argue, is very likely forestalling the onset of a new glacial cycle, such as have occurred at regular 100,000-year intervals during the last million years. Each glacial period has been paced by regular and predictable changes in the orbit of the Earth known as Milankovitch cycles, a mechanism thought to kick start glacial cycles.

"We're at a very favorable state right now for increased glaciation," says Kutzbach. "Nature is favoring it at this time in orbital cycles, and if humans weren't in the picture it would probably be happening today."

Importantly, the new research underscores the key role of greenhouse gases in influencing Earth's climate. Whereas decreasing greenhouse gases in the past helped initiate glaciations, the early agricultural and recent industrial increases in greenhouse gases may be forestalling them, say Kutzbach and Vavrus.

Using three different climate models and removing the amount of greenhouse gases humans have injected into the atmosphere during the past 5,000 to 8,000 years, Vavrus and Kutzbach observed more permanent snow and ice cover in regions of Canada, Siberia, Greenland and the Rocky Mountains, all known to be seed regions for glaciers from previous ice ages. Vavrus notes: "With every feedback we've included, it seems to support the hypothesis (of a forestalled ice age) even more. We keep getting the same answer."
»

15 comentários:

Anónimo disse...

Só vamos descansar, quando nada existir.


Rui Peres

Unknown disse...

A hipótese de que as mudanças climáticas começaram há muito tempo não é nova. Como mínimo ja aparecia publicada, em portada, no número de Março de 2005 do Scientific American:

http://www.sciam.com/sciammag/?contents=2005-03

no artigo de William F. Ruddlman, How Did Humans First Alter Global Climate.

Artigo que foi traduzido ao português e publicado no número de Abril de 2005 de Scientific American Brasil:
https://ssl430.locaweb.com.br/clubeduetto/loja/detalhe_produto.asp?ctgr=2&prdt=162

Quando os Humanos Começaram a Alterar o Clima?
POR WILLIAM F. RUDDIMAN

Cumprimentos

LA disse...

Acho um bocado estranho que há 5000 anos atrás, uma população de 5 milhões (mal estimada?) afectasse assim tanto o clima. Na altura, o máximo que faziam era umas fogueiras, mais nada. Será que há mesmo pessoal que consegue detectar coisas tão pequenas? Duvido bastante, mas sou um leigo.

JSA disse...

LA, a questão passará mais pela agricultura e pastorícia. Uma das maiores contribuições para a libertação de gases com efeito de estufa (GEE) são as criações de animais, devido à libertação de metano (principalmente), que é um GEE mais poderoso que o CO2. Também a agricultura, que passou pela desflorestação, terá contribuído, ao libertar carbono preso nas árvores (e outra florestação) sob a forma de metano e CO2, através de queima e decomposição das mesmas. Por outro lado, a florestação também seria menor, pelo que haveria menos absorção de CO2 atmosférico.

Pens que será esta a premissa, não tanto qualquer queima ou afim. Ainda assim também fico um pouco céptico quanto à potencial contribuição que estes poucos humanos poderiam ter. Seja como for, a atmosfera possui um equilíbrio delicado, pelo que é difícil dizer o que tem realmente influência e o que é que não vai fazer qualquer diferença.

perspectiva disse...

"...últimos 5000-8000 anos, ou seja, sensivelmente desde o advento da História, que evitou que vivamos numa nova era glaciar"

Esta referência ao início da história é sugestiva. Na verdade, de acordo com o modelo bíblico, a história começou efectivamente nessa banda, mais concretamente por volta de 6000 anos.

Assim se explica a origem recente das civilizações. Os relatos históricos mais antigos têm cerca de 4500 anos.

A partir daí a história é reconstruída por nós, de acordo com as nossas visões do mundo.

Aqueles que aderem a premissas uniformitaristas acerca da história da Terra, interpretam os isótopos, os fósseis, as calotas polares de acordo com essas premissas.

Para eles, os processos físicos hoje observados mantiveram-se sempre constantes. É claro que essas premissas valem o que valem, sendo impossível de corroborar.

Também é certo que mesmo na geologia não criacionista se observa o retorno ao catastrofismo, na medida em que se reconhece que o uniformitarismo não pode, contrariamente ao que pensava Charles Lyell, explicar toda a evidência.

Aqueles que aderem a premissas bíblicas, interpretam os mesmos factos de acordo com premissas catastrofistas, apoiadas no relato bíblico (corroborado por mais de 250 relatos semelhantes da antiguidade) acerca de um dilúvio global, pleno de vulcanismo, sismos, tsunamis, etc.


Na verdade, existe evidência histórica mais sólida de um dilúvio global, do que da origem acidental da vida há 3,8 mil milhões de anos atrás.

Para os catastrofistas, a Terra sofre ainda hoje as consequências císmicas, vulcânicas, climáticas, etc., desse grande cataclismo.

Na verdade, os criacionistas têm proposto vários modelos (v.g. tectónica de placas catastrófica, hidroplacas) para explicar fenómenos que os modelos actualmente dominantes não conseguem explicar.

Além disso, verifica-se que grandes alterações climáticas podem ocorrer em relativamente pouco tempo, não necessitando de milhões de anos. Isto também se adequa claramente ao modelo criacionista bíblico.

Algumas coisas são certas:

1) toda a informação codificada tem uma origem inteligente;

2) o DNA tem informação codificada em quantidade, qualidade, complexidade e densidade que transcedem tudo o que a comunidade científica pode criar;

3) o DNA tem na sua origem uma inteligência que transcende a de toda a comunidade científica junta;

4) dependendo a vida de informação codificada, ela só pode ter sido criada de forma instantânea e sobrenatural;

5) assim sendo, o registo fóssil não representa a evolução da vida, mas antes o sepultamento abrupto e catastrófico de triliões de seres vivos nos cinco continentes;

6) isso deve mudar radicalmente as premissas com base nas quais fazemos biologia, astronomia, geologia, claciologia, etc.


7) Essas premissas devem deixar de ser naturalistas e evolucionistas e passar a ser bíblicas e criacionistas.

8) Não se trata de ignorar as evidências observáveis. Estas são as mesmas para criacionistas e evolucionistas. Trata-se apenas de mudar a grelha de premissas e modelos interpretativos.

Sobre estas e outras questões:

www.biblicalgeology.net

perspectiva disse...

Já que a Palmira Silva gosta tanto de ler o Science Daily, que os criacionistas também acompanham, deveria ter reparado numa notícia publicada em 12 de Junho de 2008.

Aí se noticiava que tinham sido encontrados fósseis de plantas, peixes e mamíferos nos Himalaias,
a 4,5 Kms acima do nível do mar.

Este tipo de observações é sempre uma surpresa para os geólogos uniformitaristas, mas em nada surpreende os criacionistas que incluem o dilúvio global nos seus modelos.

De acordo com a notícia, tratava-se aí de fósseis de plantas, peixes e animais próprios de zonas mais quentes e menos elevadas.

De acordo com os geólogos que fizeram a descoberta, a presença desses fósseis em posição tão anómala (de acordo com premissas uniformitaristas) só pode ser
evidência de grandes movimentações tectónicas.

Nada que surpreenda os criacionistas bíblicos.


No entanto, os geólogos uniformitaristas que fizeram a descoberta reconheceram que ela escapa ao poder explicativo dos seus modelos.


Sugestivas são, nesse contexto, as palavras do geólogo Wang Yang, da Florida State University, que se pronunciou acerca desses dados.

Em seu entender, “a nova evidência coloca em questão a validade dos métodos normalmente usados pelos cientistas para reconstruir a história das elevações da região”


Os criacionistas sempre têm alertado para a invalidade dos métodos normalmente usados pelos ceintistas para reconstruir a história das elevações da região.

No entanto, têm sido apelidados de pseudo-cientistas, fundamentalistas, etc.

O que é curioso, é notar que esse tipo de estigmatização afectou os geólogos não criacionistas que pela primeira vez propuseram a teoria da tectónica de placas.

Durante mais de cinco décadas essa teoria foi ridicularizada e os seus proponentes estigmatizados.

O que diz muito acerca da "neutralidade" e "objectividade" dos cientistas.


Hoje a teoria da tectónica de placas é dominante. No entanto, os criacionistas chamam a atenção para o facto de que também ela é incapaz de explicar toda a evidência observada.

Daí que alguns criacionistas proponham um modelo de tectónica de placas catastrófica para explicar a restante evidência.

A notícia apresentada é sintomática dos problemas para os quais os criacionistas vêm alertando.

Os modelos existentes simplesmente não explicam algumas evidências observáveis.

Em vez de desconsiderarmos essas evidências, talvez seja melhor rever os modelos.

Os criacionistas estão convencidos que isso vai irremediavelmente conduzir ao relato bíblico:

1) a informação codificada no DNA só pode ter origem inteligente, porque toda a informação codificada só pode ter origem inteligente.

2) De resto, o projecto SETI, de procura por inteligência extraterrestre, cujas bases foram lançadas por Cal Sagan no seu livro "Contacto", assenta nesse mesmo princípio.

3) Para Carl Sagan, toda a informação codificada, seja ela terrestre ou extraterrestre, só pode ter origem inteligente;

4) os criacionistas reconhecem isso mesmo, e limitam-se a afirmar que isso vale para o DNA, que contém aquilo que muitos cientistas designam por "Código dos Códigos".


Veja-se, sobre a notícia referida, ScienceDaily (June 12, 2008)

AddCritics disse...

O Doutor Prespectiva disse:

"Aí se noticiava que tinham sido encontrados fósseis de plantas, peixes e mamíferos nos Himalaias,
a 4,5 Kms acima do nível do mar."

Pedia se me podia explicar qual a sua interpretação detes factos. Mas por favor de uma forma concreta, sem rodeios, e sem recorrer a citações. Diga-me apenas como é que o senhor explica estes factos.

Obrigado

JSA disse...

AddCritics, a explicação dele é simples: chegaram lá porque durante o dilúvio a água cobriu todos os picos da Terra. E como, para ele, o planeta é imutável, fica explicado.

Não vale a pena pedir explicações que façam sentido pelo lado da ciência. A partir do momento em que ele acredita literalmente no resto das histórias da carochinha da Bíblia, o resto é relativamente simples. Procure antes as incongruências na mesma Bíblia.

Unknown disse...

Pelo que lembro do artigo da Scientific American, o factor mais importante na explicação do "efeito estufa neolítico" foi a cultura de arroz, que dá lugar a importantes emissões de metano.

AddCritics disse...

JSA,

Sinceramente esperava que ele tivesse uma explicação mais elegante. Espero mesmo que o Doutor Perspectiva não pense isso.

Se o hipotético dilúvio tivesse submergido toda a crosta terrestre não existiria qualquer animal marinho. Como existem isso não pode ter ocorrido.

sguna disse...

foi nesse para esse mesmo dilúvio que um homem com 600 anos construi um barco, para guardar os animaisinhos terrestres?!?!

Nuno disse...

No meio deste fogo cruzado de links interessantes e relevantes para a discussão gostaria de enviar o meu contributo com um artigo recente no New Scientist:

"Os 13 anos mais quentes registados foram nos útlimos 17."

"1 hipótese em 10.000 de que este fenómeno não seja antropogénico."

http://www.newscientist.com/article/dn16292-glut-of-hot-years-a-coincidence-fat-chance.html

Cumprimentos!

Rafael Gaudio disse...

Faltam-lhe as bases Sr. Perspectiva. E falta-lhe sobretudo uma mente aberta. Naturalmente que todos nós, por mais que neguemos, estamos imbuídos de preconceito. Acontece que há preconceitos que cegam mais que outros. Preconceitos que nos tornam dogmáticos ao ponto de qualquer que seja a argumentação e a retórica, nunca aceitaremos o resultado.
Para os criacionistas a história começou há cerca de 5 mil anos atrás. Dito isto percebe-se a carência intelectual. De há 5 mil anos datam os primeiros indícios irrefutáveis de um sistema de escrita que durante centenas de anos caracterizou-se por ser um sistema descritivo-numérico. Não literário. A partir da segunda metade do IIIº milénio proliferam os textos literários. AS Listas Reais, as Epopeias. No fundo os textos que darão corpo ao relato bíblico.
Pode não fundamentar grande coisa, mas esta coincidência de filiação: aparecimento da escrita (facto) - criação da humanidade (biblía), diz muito do respeito dos criacionistas por tudo o que seja além do Livro.
Acreditam na verdade do relato escrito. Como se a tinta não nos deixasse mentir. Mas deixa. O seu texto mente. É distorcido pelos preconceitos que o dominavam. Pelo seu estado de espírito. Pelas suas intenções. Assim como o meu. Daí que um texto nunca deva ser um ponto de partida.
Em arqueologia, um texto mente mais que 5 mil vendedores de antiguidades.

Tino disse...

Nada de novo ou de revolucionário.

Há mais de 20 anos ouvi falar dessa teoria numa aula de História sobre as glaciações.

carolus augustus lusitanus disse...

Como se perde tempo à procura do sexo dos anjos e a discutir inutilidades, sempre apoiados nas muletas da verdade transitória... de uns quantos opiniatras da «cátedra»... Tentar «compreender» o passado e/para (projetá-lo no) futuro e o que é que cada um faz aqui e agora (de relevante) para encontrar a sua incógnita pessoal na grande equação da vida e do universo?

Um dos grandes males do «corpus noeticum» de que enforma o pensamento moderno é precisamante esta procura exterior de explicações que, não só são mutáveis no tempo, como, sobretudo, distanciam as pessoas (peritos/especialistas e massas) do próprio «insight» que cada um pode(ria) ter sobre si próprio e, máxime, da própria existência.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...