A teoria cognitivista é uma das várias teorias pedagógicas que procuram explicar o ensino e indicar como deve ser desempenhado. As suas preocupações têm-se centrado na análise da relação entre o que o professor pensa - os seus conhecimentos, concepções, crenças - e a sua acção concreta.
Nessa análise detêm-se nas decisões que os professores principiantes e experientes tomam em duas situações: quando planificam e quando leccionam as aulas.
Os estudos realizados confirmaram, em geral, uma melhoria da destreza pedagógico-didáctica à medida que os docentes se vão familiarizando com os conteúdos, consciencializando o seu estilo de interacção, dominando os métodos e as técnicas de que dispõem. Assim, percebeu-se que os professores experientes, quando comparados com os principiantes, concentram-se mais na compreensão que os alunos adquirem dos conteúdos, captam mais facilmente a especificidade de cada turma, concentram-se mais nos aspectos essenciais para conduzir a aprendizagem, que também processam com maior rapidez e eficácia.
Estes dados permitem tirar ilações para a formação, aconselhando-se a observação da planificação e do desempenho de professores experientes por parte dos candidatos a professores e dos jovens professores. Também permitem tirar ilações para o funcionamento das escolas, sublinhando-se que ganham, em termos de resultados nas aprendizagens, se tiverem professores experientes que acompanhem os menos experientes.
Esta é uma das razões que nos deve deixar preocupados com a reforma de tantos professores experientes, como está a acontecer no nosso país. Não desvalorizando as competências "dos milhares de jovens diplomados a querer entrar no sistema de ensino" (actual Ministra da Educação) e a capacidade que estes, por princípio, têm de questionar práticas instaladas e de inovar, é preciso reconhecer que essas competências não são iguais às de muitos professores que agora se retiram.
5 comentários:
Dona Damião, mesmo que saiam alguns daqueles que tem 60 anos, ou à beira disso, ainda fica aquele estrato todo do pessoal dos trintas aos cinquentas, não será uma coisa assim tão grave.
De resto, o post não conta nada de novo, parece-me um bocado eduquesiano!
Que melhores postas venham por aí!
Texto excelente, que só quem não dá aulas ou tem as palas de burro socratianas não percebe.
PS - Sou professor há 18 anos e nunca vi, nem pensei puder ver alguma vez, a Escola Pública assim.
Um belo texto que, com rigor e elegância, deixa ao leitor atento o trabalho de reflectir. Ou seja, aquilo que alguns parecem considerar uma coisa já fora de moda.
O que não é referido no texto é que todo o processo tem vindo a ser metodicamente planeado e aplicado pelo (des)governo português como se fosse uma nova revolução cultural chinesa. O objectivo não declarado é extirpar da escola pública qualquer vestígio de pensamento independente e de individualidade. O ME pretende criar um corpo de funcionários cinzentos e subservientes ao ponto de tudo aceitarem fazer em troca de um emprego. Como diz a ministra não faltam candidatos e, melhor ainda, uma boa parte da população concorda com tudo isto para que não haja 'privilegiados' e desde que esses funcionários se ocupem dos seus filhos o maior tempo possível.
Junte-se a isto uma bela moldura tecnológica e assim teremos a escola do futuro!
Cara Helena, para um professor ser "experiente" tem que exercer! Se só começar a exercer aos 40 anos, aos 60 não será um "professor experiente". No caso das universidades, se os doutorados forem obrigados a ficar na precariedade até aos 40 anos, nunca serão professores universitários experientes. Ao querer manter os "professores experientes" agora, a Helena está a hipotecar a possibilidade de os seus netos terem alguma vez professores experientes.
Eu vou fazer 34 anos e aguardo uma oportunidade para um dia poder dizer que sou um "professor experiente". Parece que isto não se pergunta a uma senhora (peço desculpa pela frontalidade), mas a Helena que idade tem?
Caro Filipe Moura
Como deve saber, nas décadas de oitenta e noventa havia cursos de formação inicial de professores por todo o lado: universidades novas, clássicas, privadas, escolas supriores de educação, institutos vários... A aposta foi feita na quantidade: importava legitimar habilitações de quem já estava no ensino e a quem queria entrar nele (por desejar ser professor ou para ter um emprego). A falta de articulação entre as reais necessidade de professores no sistema educativo e os que se iam formando foi deixando muitas pessoas numa espera sem sentido.
Parece-me que este é um problema diferente daquele que refiro no post: é problema que deriva da descordenação entre políticas e medidas educativas e que afecta mais velhos e mais novos.
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