sábado, 9 de agosto de 2008

O "MAGALHÃES"


João Miranda escreve no "Diário de Notícias" de hoje um artigo certeiro sobre o "Magalhães", o último grito das tecnologias nas escolas portuguesas. Vale a pena ouvi-lo:

"O choque tecnológico está a chegar às escolas portuguesas. Os alunos portugueses vão ter direito ao Magalhães, um computador produzido pela Intel e subsidiado pelo Governo português. Os governantes acreditam que se juntarmos boa tecnologia (concebida nos Estados Unidos, produzida no Extremo Oriente e embalada em Portugal) a maus alunos, más escolas e maus professores vamos obter génios da física e da matemática.

Alguém anda a confundir as causas com as consequências. A tecnologia não produz físicos e matemáticos. Os físicos e os matemáticos é que produzem tecnologia. Os alunos portugueses têm hoje acesso a computadores baratos porque alguns dos melhores alunos americanos andaram durante décadas a estudar Física e Matemática. A tecnologia é o resultado de bons alunos. Não são os bons alunos que resultam da tecnologia.

E, de qualquer das formas, é um pouco tarde. Bill Gates e Paul Allen (fundadores da Microsoft) começaram a fazer experiências com computadores (inventados por engenheiros, físicos e matemáticos americanos) em 1968, quando um computador era uma raridade. Ao fazê-lo adquiriram uma vantagem comparativa e conseguiram 40 anos de avanço sobre os actuais alunos portugueses. Bill Gates e Paul Allen aprenderam a programar computadores quando eles não tinham programas pré-instalados nem interfaces gráficas. Para usar computadores foram forçados a programá-los. Quarenta anos depois, os alunos portugueses vão ter a oportunidade de utilizar os programas e as interfaces gráficas entretanto criadas por Bill Gates e Paul Allen. Não vão aprender a programar. Vão aprender a usar o rato para clicar em "janelas" e menus.

O Plano Tecnológico aplicado à educação não passa de pensamento mágico. A história de Bill Gates e Paul Allen sugere que a inovação não resulta da massificação de um produto de consumo. No caso da Microsoft, a inovação (essencialmente comercial) resultou do trabalho de um número reduzido de indivíduos dedicados e com acesso a uma tecnologia rara mas com grande potencial de crescimento."

João Miranda, investigador em biotecnologia

22 comentários:

Desidério Murcho disse...

Parabéns ao João pelo excelente artigo. O pensamento mágico, infelizmente, é comum nos meios educativos nacionais, e não só. A recente fantasia de que tirar o "p" da palavra "óptimo" vai ajudar a projectar a língua portuguesa no mundo é outro exemplo de puro pensamento mágico.

Tino disse...

Este artigo é de um snobismo sem limites.
Para estes supostos craques e muito estudiosos, tudo é muito simples. Basta estudar e ser dedicado e voila, temos sucesso.
Só se esquecem que nem toda a gente tem o mesmo acesso aos meios de estudo que eles tiveram.
No seu tempo nem todos tiveram acesso aos livros que eles tinham em casa, e hoje nem toda a gente tem acesso à internet como os seus filhos têm.
O Magalhães é seguramente o meio mais barato (150 €) de qualquer jovem português poder ter um computador para poder aceder a toda a informação que está na internet.
Choca-me que professores universitários tenham mentes tão fechadas que não consigam ver que ao facilitar o acesso às tecnologias de informação, o estado está a dar o maior contributo para a redução das desigualdades entre portugueses.
Isso não se encaixa na vossa ideologia politica? Paciência. Foi isto que este governo propôs, que os portugueses escolheram e que está a ser implementado.

xana disse...

Caro Tino, vê-se que o snob aqui só pode ser você. O que está em questão não é o acesso a computadores, se o Sr visse a realidade do nosso mundo estudantil, veria que a maioria dos alunos do secundário só utiliza os portateis baratos para plagiarem trabalhos, jogarem e estarem nos MSN. Quanto a trabalho útil ou estudo ,népias. De que serve um computador se não se sabe escrever correctamente, não se sabe matemática não se sabe observar, resolver problemas, enfim estudar e aprender a pensar.

Desidério Murcho disse...

Não, Tino, está a ver as coisas mal. Os jovens mais carenciados precisam de apoio? Sim. Podem precisar de computadores? Ok. Mas: 1) nem todos precisam que o estado lhes ofereça computadores. A maior parte, já os tem. 2) Com os recursos que estão a ser deitados fora, não se está a dar a esses alunos mais carenciados o que eles precisam: aulas e bibliotecas de alta qualidade. Os únicos alunos realmente prejudicados com a falta de qualidade do ensino são precisamente os mais carenciados, pois os outros têm apoio em casa e com professores particulares.

Teste Sniqper disse...

Pedindo antecipadas desculpas pela “invasão” e alguma usurpação de espaço, gostaríamos de deixar o convite para uma visita a este Espaço que irá agitar as águas da Passividade Portuguesa...

Unknown disse...

Falta dizer que estes computadores se orientam forçosamente para uso doméstico e de modo nenhum para levar para a escola constantemente. Os alunos estão na escola das 8:30 às 17:30, mas as baterias dos portáteis duram umas duas a três horas. Depois, não podemos esquecer que pesam mais de 1 kg, o que não é irrelevante para as costas de uma criança de 8 ou 9 anos.

Era de muito maior utilidade equipar as salas de aula com computadores (mesmo que portáteis) para serem usados sob orientação do professor, do que entregá-los a crianças para que os usem como entenderem.

Mas provavelmente a ideia central não é fazer algo pelo ensino, mas sim fazer algo pela imagem desgastada do governo. E aí faz todo o sentido dar electrodomésticos (aliás, computadores) às famílias, acompanhados por um slogan qualquer a dizer que são para a educação das gerações. Verdade ou mentira, isso é irrelevante! (Pensam eles)

António disse...

Tino:

Acertou em cheio aqui os sr. professores, quando toca a política educativa, já sabemos apenas têm um único propósito: deitar a baixo.

Fernando Martins disse...

Um governo que primeiro insulta os professores, lhes rouba o que lhes prometeu em termos de salário e a seguir usa esse mesmo dinheiro para oferecer pequenos portáteis às criancinhas do primeiro ciclo, o que é?

Será que a política gondomareirense e i>loureilista/i> já chegou às altas esferas do estado? Será que o "engenheiro" e a Ministra da Educação não se enxergam? Agora vale tudo?

Coisas boas nesta estória do Magallanes:

- o meu neto vai adorar dar ao avó um portátil, se este não vier com a miséria de internet dos outros da E-ESCOLA...
- a Intel e a Windows vão adorar dar uma machadada ao One Laptop per Child do Negroponte...
- haverá muito menos chatices pois os putos vão estar ocupados a jogar no portátil...

Coisas más nesta estória do Magallanes:
- um brutal investimento nos tempos livres das crianças, esquecendo as Escolas e os docentes.
- é mais uma tentativa de comprar as boas vontades das famílias em época de eleições.
- a ausência de software livre nos portáteis.
- a destruição de uma boa ideia - One Laptop per Child - apoiando assim os tubarões do soft e hardware.

Para este Governo vale tudo...

Fernando Martins disse...

Falta ainda uma coisinha, para tinos e toninhos:

O Governo mentiu quando disse que vinham aí muitos empregos (eram mil e agora já só são, e ainda iremos ver, 80...).

Mentiu quando disse que ideia era portuguesa (e não passa do PC da Intel contra o One Laptop per Child e já tinha nome: Classmate PC).

Mentiu quando disse que este incorporaria material que nunca faremos em Portugal enquanto projecto decorrer - alguma vez se fará 80% ou 100% de um computador em Portugal?

Mentiu quando falou em vendas astronómicas (4 milhões) que nunca conseguiríamos produzir (por falta de tudo, incluindo ensambladores...) e que, se chegarmos a 5% deste valor, já será fantástico.


Que Governo é este que insulta os professores, rouba-os descaradamente, tenta virar a opinião pública contra eles durante dois anos e agora mente descaradamente para tentar salvar uma eleição...?!?

JSA disse...

Este é um artigo que tem razão no objectivo e depois asneira na argumentação.

Primeiro ponto: muito do que é feito hoje nos EUA pouco tem a ver com a qualidade média dos seus alunos. Grande parte dos seus programadores (ou cientistas, em geral) vêm de outros países. Se isso demonstra alguma coisa é que os EUA são óptimos a dar os meios aos que chegam de fora, onde, aí sim, estudaram muito e bem.

Segundo ponto: puxar do Bill Gates e do Paul Allen, cujo verdadeiro golpe foi o terem comprado o sistema DOS a outro programador e o terem copiado de forma inteligente o conceito windows à Apple (que também o tinha copiado). Da forma como o artigo está escrito até parece que Paul Allen e Bill Gates inventaram o computador pessoal e criaram um sistema ubíquo.

A parvoíce do Magalhães foi terem dado a ideia de que seria um computador português. A iniciativa em si é meritória. O que fica em dúvida é a forma de o colocarem a funcionar.

PS - nada tenho contra os alunos aprenderem a jogar computador e a conversar no messenger. Isso dá-lhes ferramentas cognitivas que não teriam os seus pais. Negar-lhes isso seria o mesmo que recuar 30 ou 40 anos e impedir as crianças de então de jogar xadrez, futebol ou de terem outro tipo de actividades lúdicas, apenas porque poderiam estar a estudar...

António Soares disse...

É como a garrafa de whisky: para o dono já está meio vazia; para o conviva está ainda meio cheia...

Como em tudo, há prós e contras na produção do "Magellan" (acho este nome mais giro). Vou marcar com "P's" e "C's" alguns aspectos que me merecem consideração.

Política, qualidade de ensino, etc..., em termos abstractos não vou discutir. Já há muitos Gigabytes de opiniões na Net sobre isso. Para situar o eventual leitor acrescento apenas que sou Prof. Universitário há... mais de 20 anos, ora em Depts. de Física ora num Dept. de Eng. Electrotécnica e nutro um forte interesse por Ciência de Computadores e Linguagens de Programação, em geral.

P: ao trazer a produção do Magellan para Portugal levamos a melhor sobre a China, a maior potência industrial emergente na Terra...

C: ... e também estamos a competir com um país que tem dos mais baixos custos de mão-de-obra e piores condições de trabalho na Terra...

P: proporciona-se acesso a um computador barato, mas que, apesar disso, deverá servir razoavelmente para realizar 95% das tarefas que o cidadão/aluno comum normalmente efectua.

C: não se dá praticamente nenhuma formação aos professores do secundário para ensinar os seus alunos a "criar" com um computador (que é a ferramenta mais poderosa da Terra!). Como é mais que sabido, o trabalho "em computador" que os professores dão aos alunos é realização de pesquisas com vista à feitura de trabalhos em grupo de utilidade por vezes duvidosa (basta ver os temas propostos nos livros de estudo...) e que com muita frequência promove o plágio do "copy-paste" nos mesmos sites do costume (parabéns Wikipedia!) em vez de promover a consulta de fontes alternativas (sites ou livros) com opiniões diferentes da "média democrática" veiculada nos tais "sítios do costume."

C: haverá professores (e falo aqui dos de Matemática, de Física (ou serão de Química?) e de Tecnologias, aqueles que à partida terão mais apetência para isso) que estejam dispostos a fazer formação de algumas centenas de horas para aprender Scratch (http://scratch.mit.edu/), Basic, HTML, CSS e fundamentos de algoritmos e estruturas de dados (para já não falar da aprendizagem Python, C, ou Java e a usar um terminal de comandos em Linux? Ou mesmo de Smalltalk (http://www.smalltalk.org) - óptima para introduzir Programação a miúdos -, e Processing (http://processing.org/), excelente para artistas potenciais?) Estes professores poderiam depois servir de correias transmissoras destes conhecimentos cada vez mais essenciais para as profissões com futuro do futuro?

P: estou certo de que muitos professores abraçariam aquele desafio, assim o Governo promovesse a criação de cursos sérios e estruturados nesse sentido em vez das "costumeiras parcerias com empresas multinacionais multi-bilionárias" que, obviamente, puxam a brasa à sua sardinha "vendendo" apenas as tecnologias e o conhecimento que lhes interessam, em vez de promover uma perspectiva não enviesada (nota: não sou um zelota das free-and-open-source-technologies: há também tecnologias boas que se pagam ou não são open-source...)

C: haverá no aparelho de Estado, e mais concretamente no MCTES, no Min. da Economia ou no Min. da Educação, umas alminhas com poder, vontade e discernimemnto para montar um sistema de formação em tecnologias de informação de qualidade, que não seja somente opseudo-alugar de banda larga, via rede-de-telemóvel, nuns PCs baratos, e que de facto permita aos putos aprender a programar e a usar um PC para produzir trabalho e não apenas para consumir telecomunicações? (nota: um amigo meu, que trabalha numa empresa de IT em Portugal, disse-me recentemente que estavam a montar uma "fábrica de software" em Marrocos que empregaria largas centenas de programadores... já não são só as conservas, as pescas e os têxteis...)

Bem, adeuzinho. Já falei de mais e isto é um comentário, não um ensaio... A produção do Magellan não é má em si mesma, é pena é que não seja acompanhada de medidas estruturantes que de facto eduquem os miúdos e lhes permitam no futuro ganhar uns bons $$$ em vez de recorrer ao Subsídio de Desemprego ou ao "Rendimento Mínimo Garantido".

"Magellan Rules" (o que passou do Atlântico para o Pacífico num barquito, e morreu depois envenenado por ums seta, se bem me lembro...)

Ricardo Pulido Valente disse...

de facto esta geraçao vai ser conhecida por "os magalhães":)

alvares disse...

Mais do que "dar computadores ao alunos" (questão que nem me aquece nem arrefece),o problema de fundo é mais uma tecnologia "comprada" ao estrangeiro...
O facto de a "produção" ser feita em Portugal mas o produto ser pensado e desenhado no estrangeiro não nos coloca junto dos países mais desenvolvidos como a Holanda, Suécia, Finlándia ou mesmo os EUA, mas sim ao mesmo nível de países como Polónia, China, India ou Brasil, onde o importante é ter "escravos fabris". Esta medida tem o mesmo que valor que a recente fábrica do IKEA em Portugal... Temos mais uma fábrica, uito giro.. Mas os designers e criadores dos produtos continuam a ser.. Suecos e estão na Suécia!
E o recente carro elétrico Nissa-Renault?! Mais uma auto-europa para explorar os portugueses?!
E assim continuamos mergulhados na mediocridade...

Hugo disse...

Palhaçada de artigo. Argumentos falaciosos, e dados errados sobre a historia da informática e do suposto génio do Bill. Qualquer ignorante fala num jornal....

Pedro Galvão disse...

Considero a política educativa do governo actual globalmente muito má, mas este artigo é uma macacada. Ó pra isto:

«A tecnologia é o resultado de bons alunos. Não são os bons alunos que resultam da tecnologia.»

Mera trapaça retórica -- e é aqui que está o núcleo duro do texto no que respeita à argumentação. Por que razão haveremos de acreditar que a coisa não funciona nos dois sentidos? Do mesmo modo que a tecnologia resulta de bons alunos, pode também ser importante para tornar os alunos melhores. Isto até me parece um bocado para o trivial. É claro que não são uns computadores que vão operar um milagre no ensino, nem anular os erros das políticas do governo, mas permitir que os putos adquiram um portátil por 50 ou 60 euros (ou sem pagar, no caso de os pais ganharem muito pouco) não me parece propriamente uma atrocidade. Seguramente, não é razão para a histeria do J Miranda.
PG

Hemoglobina disse...

O mérito da iniciativa não reside tanto no potencial pedagógico do equipamento, mas mais do facto de aumentar a exposição dos jovens às novas tecnologias. É preciso que nos lembremos que um dos grandes obstáculos à adopção das novas tecnologias é a falta de consciência dos potenciais benefícios e limitações que estas implicam. Há dez anos atrás quantas vezes não ouvi eu dizer "isso no computador faz-se rápido que o computador faz quase tudo".

A familiarização as crianças às novas tecnologias permitirá que:

* Se habituem a lidar com elas, tanto para aplicação nos seus estudos, como forma de entertenimento adicional cuja utilização terão de conciliar com a escola e a vida social - é um facto da vida moderna, mais vale que se habituem a isso desde cedo.

* aprendam o potencial e as limitações dos equipamentos: a generalidade das crianças não irá além do "word", "msn" e alguns jogos, mas saber o que é ou não possível é importante.

* alguns indivíduos mais dotados ou mais interessados terão assim a possibilidade de desenvolverem as suas capacidades e interesses com o apoio destas tecnologias. A falta de canoístas em portugal se calhar não se prende tanto com o facto de não haver ninguém interessado, mas mais pelo facto de não haver equipamento nem promoção da actividade. O mesmo se aplica aqui.


E para responder ao autor, eu lembro que o Google, Yahoo, Linux, e tantas outras iniciativas de sucesso tiveram inicio/sucesso muito depois da época do PC se ter iniciado apenas porque as pessoas que o fizeram tiveram acesso aos recursos necessários. Não existe falta de oportunidades, neste e noutros ramos, e esta é uma medida relativamente barata com potencial para mudar mentalidades. Ninguém daqui espera revoluções no ensino. Nem sequer acredito que melhore a qualidade do mesmo. Mas acredito que ajudará a acelerar a adopção do novo paradigma pelas massas, que é um elemento crucial para nos orientarmos para o futuro.

Tiago Moreira Ramalho disse...

Ao Tino:
o magalhães é para a escola primária, não se está a falar aqui dos computadores do básico e secundário que custam 150€.

Ao JSA:
Que eu saiba, há 30 ou 40 anos, o estano não andou a distribuir tabuleiros de xadrez nem bolas de futebol.

Agora o que eu tenho para dizer. Tudo isto deve ser analisado numa perspectiva economicista. Existe um dado que é absoluto: o dinheiro dos cofres do estado é limitado, no entanto, existem imensas coisas necessárias que custam dinheiro. Ao estar a financiar estes projectos dos computadores, o estado português está a desviar dinheiro que poderia ser utilizado noutras coisas para dar computadores. A validade deste desvio é discutível.
O que eu penso muito sinceramente é que isto é uma manobra propagandística. O projecto, de base, é muito bom: a possibilidade de dar a quem não tem alguma tecnologia. No entanto, tudo isto se perde quando o programa é alargado a todos os alunos. A verdade é que muita gente já tem computador e acesso à Internet, ou seja, estes computadores vão ser apenas mais um para uma larga fatia dos estudantes. E agora vem a questão dos custos. Só no acesso à Internet para quem não tem apoio financeiro o estado comparticipa com 5€ por mês. No custo do computador o estado também dá algum dinheiro (nenhum computador custa 150€). Eu gostava bastante de dar uma olhadela às contas do e-escola e ver quanto é que isto tudo está a custar aos impostos de todos enquanto que as escolas estão sem funcionários e a cair aos bocados.
Um computador por criança não é errado, resta saber se é o mais acertado.

TMR

Tiago Moreira Ramalho disse...

E no seguimento deste assunto vem outro que me esqueci de colocar no comentário anterior. Não será que andamos a encher as crianças da primária de "tecnologia"? Muitos, muitos especialistas consideram que, por exemplo, o uso de calculadora na primária deve ser evitado ao máximo, quanto mais o uso de computadores e Internet. Eu considero incompatível estarmos a ensinar crianças a ler ao mesmo tempo que as mandamos trabalhar num computador. Estamos a falar de miúdos entre os 6 e os 10 anos. Esta febre da tecnologia pode estar cheia de boas intenções, mas dessas está o inferno cheio.

Desidério Murcho disse...

Caro Pedro, a mim não me parece mera retórica vazia. Concordo que é exagerado, e até que podemos defender que a tecnologia pode fazer melhores alunos. Mas não acredito nisso. Acho isso uma completa fantasia. O que faz alunos melhores é melhores aulas, melhores professores, melhores livros. Os computadores não trazem nada disto. Não gosto em geral das coisas que escreve o João Miranda, porque são demasiado panfletárias e demasiado interessadas em defender apenas o liberalismo económico e o estado mínimo, como se isso fosse a solução mágica para todos os problemas do mundo, incluindo a halitose. Mas neste caso ele viu a trapaça completa: esta é mais uma medida fantasiosa, cujo impacto na qualidade do ensino será zero. Tal como aconteceu com a implantação de computadores em todas as escolas, ligados à Internet. O ensino é melhor por causa disso? Ensina-se hoje melhor filosofia por haver computadores ligados à internet em todas as escolas? Não me parece. O impacto teria sido muito maior se em vez dessas fantasias se tivesse apostado no que realmente conta: a qualidade das aulas dadas pelos professores, dos livros nas bibliotecas, dos programas, dos exames.

António Bramão e Herrera Ramos disse...

Do Blog lisboalisboa2:

O computador "Magalhães"- uma aldrabice que a Televisão não descobriu

Condensei alguma informação interessante sobre este engano ao povo português...

Magalhães - o mais escandaloso golpe de propaganda do ano

Os noticiários abriram há dias, com pompa e circunstância, anunciando o lançamento do "Primeiro computador portátil português", o "Magalhães".A RTP refere que é "um projecto português produzido em Portugal"A SIC refere que "um produto desenvolvido por empresas nacionais e pela Intel" e que a "concepção é portuguesa e foi desenvolvida no âmbito do Plano Tecnologico."Na realidade, só com muito boa vontade é que o que foi dito e escrito é verdadeiro. O projecto não teve origem em Portugal, já existe desde 2006 e é da responsabilidade da Intel. Chama-se Classmate PC e é um laptop de baixo custo destinado ao terceiro mundo e já é vendido há muito tempo através da Amazon.As notícias foram cuidadosamente feitas de forma a dar ideia que o "Magalhães" é algo de completamente novo e com origem em Portugal. Não é verdade. Felizmente, existem alguns blogues atentos. Na imprensa escrita salvou-se, que se tenha dado conta, a notícia do Portugal Diário: "Tirando o nome, o logótipo e a capa exterior, tudo o resto é idêntico ao produto que a Intel tem estado a vender em várias partes do mundo desde 2006. Aliás, esta é já a segunda versão do produto."Pelos vistos, o jornalista Filipe Caetano foi o único a fazer um trabalhinho de investigação em vez de reproduzir o comunicado de imprensa do Governo.
A ideia é destruir os esforços de Negroponte para o OLPC. O criador do MIT Media Lab criou esta inovação, o portátil de 100 dólares...A Intel foi um dos parcceiros até ver o seu concorrente AND ser escolhida como fornecedor. Saiu do consórcio e criou o Classmate, que está a tentar impor aos países em desenvolvimento. Sócrates acaba de aliar-se, SEM CONCURSO, à Intel, para destruir o projecto de Negroponte. A JP Sá Couto, que ja fazia os Tsunamis, tem assim, SEM CONCURSO, todo o mercado nacional do primeiro ciclo.Tudo se justifica em nome de um número de propaganda política terceiro-mundista.Para os pivots (ex-jornalistas?) Rodrigues dos Santos ou José Alberto Carvalho, o importante é debitar chavões propagandísticos em vez de fazer perguntas. Se não fosse a blogosfera - que o ministro Santos Silva ainda não controla - esta propaganda não seria desmascarada. Os jornalistas da imprensa tradicional têm vindo a revelar-se de uma ignorância, seguidismo e preguiça atroz.

Pedro Galvão disse...

olá, desidério!

creio que no essencial estou de acordo contigo, apesar de talvez não ser tão céptico quanto à importância dos computadores. sim, é um factor menor na qualidade do ensino e não justifica tanto espalhafato mediático. e numa disciplina como a nossa (a filosofia) acho que os computadores são praticamente irrelevantes no ensino, mas provavelmente têm mais importância noutras disciplinas. seja como for, parece-me positivo que todos os putos, logo no 1.º ciclo, comecem a familiarizar-se com instrumentos informáticos.

voltando ao artigo do j miranda. eu acho que não passa de mais um artigo panfletário: pouquíssimo informativo (há comentários a este post que informam mais) e uma nulidade em termos argumentativos. para ficar pelo primeiro parágrafo, repara-me nesta frase:

«Os governantes acreditam que se juntarmos boa tecnologia (...) a maus alunos, más escolas e maus professores vamos obter génios da física e da matemática.»

Isto é pura desonestidade. Que governante é que acredita numa coisa destas? Quem disse que os computadores são para produzir «génios» seja no que for? Isto é linguagem histérica e até ofensiva, pois sugere que as nossas escolas, os nossos professores e os nossos alunos são invariavelmente maus -- o que é falso. Enfim, faz logo o leitor ter aquele sentimento de superioridade de quem está acima de toda esta porcaria. O artigo é tão pobre e está tão cheio de coisas irrelevantes (o que interessa que os alunos não vão aprender a programar?) acaba por nem se perceber bem o que ele está a defender.
PG

- disse...

links para uma nálise técnica ao Computador Magalhães em :

http://lugardoconhecimento.wordpress.com/2008/09/23/computador-magalhaes-2/

vale bem os 50 euros…

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