quarta-feira, 6 de agosto de 2008
JARDINS BOTÂNICOS: DE CHELSEA A COIMBRA
No bairro de Chelsea, em Londres, talvez o lugar mais conhecido pelo grande público seja o Estádio de Stamford Bridge, o campo da equipa "blue" onde José Mourinho ganhou fama assim como os jogadores portugueses Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira (agora a equipa do Chelsea é treinada por Luís Filipe Scolari e a nova vedeta é Deco). Mas o lugar mais conhecido na história da ciência é um pequeno jardim (ver foto), um jardim quase secreto pois não tem a multidão de turistas apesar de estar praticamente no centro urbano.
O nome do jardim é curioso: "Chelsea Physic Garden", que se pode traduzir por Jardim da Física ou Jardim Físico de Chelsea. A palavra física remete para medicina, pois os médicos antigos eram chamados físicos (em inglês "physicist", físico, e "physician", médico, são ainda hoje termos semelhantes). O jardim foi fundado em 1673 por uma Sociedade de Boticários, com o fito de ensinar aos jovens farmacêuticos as plantas medicinais. Hoje alberga, apesar do seu espaço diminuto, quase 5000 espécies botânicas, acarinhadas por jardineiros e cientistas botânicos. Está aqui a maior oliveira de Inglaterra no exterior, assim como espécies botânicas vindas da Madeira e que são improváveis a grandes latitudes. O microclima especial tem a ver com a proximidade do Tamisa, já que o Chelsea Embankment confina com o jardim. Desde há 25 anos que o jardim está aberto ao público, embora só em certos dias da semana e só de tarde.
Apesar de antigo, não se trata porém do jardim botânico mais antigo de Inglaterra. Essa honra cabe ao Jardim Botânico da Universidade de Oxford, que data de 1621. Mas mesmo este não é o mais antigo do mundo, pois esta honra cabe ao Jardim Botânico da Universidade de Pisa seguido pelo Jardim Botânico da Universidade de Pádua, que datam respectivamente de 1544 e de 1545. Este último reclama a maior antiguidade por o primeiro já não estar no sítio original...
Em Portugal os jardins botânicos são bem mais recentes. O mais antigo é o Jardim Botânico da Ajuda, em Lisboa, que foi fundado em 1768 com a orientação do professor de Pádua que tinha vindo para Portugal Domingos Vandelli e que, nascido e formado em Pádua, conhecia bem o jardim da sua terra natal (há, portanto, uma ligação do mais antigo jardim português ao que se reclama mais antigo do mundo). Hoje pertence ao Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, mas não feito para estudos universitários,l mas sim para prazer e instrução da família real, que assustada com o grande terramoto se tinha mudado para a Ajuda. E o segundo mais antigo tem também a mão de Vandelli: é o belo Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, criado com a Reforma Pombalina de 1774, esse sim criado de raiz - palavra aqui muito apropriada - para estudos superiores.
Curioso é que o Jardim Botânico de Coimbra tenha uma ligação com o de Chelsea. Pois a primeira proposta de criação de um jardim botânico em Portugal partiu do médico judeu, nascido em Bragança e formado na Universidade de Coimbra Jacob de Castro Sarmento. Sarmento foi um "estrangeirado" no século das luzes: exerceu Medicina em Londres, foi membro da Royal Society (que vai vai fazer 350 anos em 2010), traduziu Newton para português e doutorou-se pela Universidade de Aberdeen. No ano de 1730 Sarmento propôs a criação de um jardim botânico em Coimbra que imitasse o de Chelsea, tendo chegado a enviar algumas sementes do herbário de Chelsea. O plano final do jardim de Coimbra acabou por vir a ser outro (não sei o que aconteceu às sementes). O judeu português faz parte de uma galeria de judeus nacionais que emigraram para o Reino Unido e aí se fixaram. Por exemplo, o dramaturgo Harold Pinter, nascido em Londres e recente Prémio Nobel da Literatura, é descendente de judeus sefarditas portugueses, sendo o apelido Pinter uma corrupção de Pinto.
Bem, se o leitor não puder passear neste ou noutro Verão pelo Jardim Físico de Chelsea, lembre-se que há um outro jardim botânico, talvez injustamente secreto, perto de si. Fará bem em procurá-lo. Hoje muitos jardins botânicos de todo o mundo estão unidos em rede, a Botanical Gardens Conservation International, em prol da conservação da Natureza.
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4 comentários:
Amigos,
Estou retomando as troca de links. Caso estejam interessados, por favor acessem o Criativo e cliquem o item "Troca de links" no menu.
Aguardo contato.
Abraço,
Marcus Vinicius
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Saudades de Coimbra e dos passeios pelo Jardim Botânico. A última vez que lá fui fiquei um pouco desiludida com a sua preservação, especialmente das estufas... os parcos financiamentos não dão para tudo, ou para quase nada, é pena.
No entanto, a sua magestosidade permite que continue a ser um amplo espaço de lazer (e estudo também), óptimo para resfrescar os quentes verões da Lusa Atenas
Falta passar pelo Jardim botânico mais emblemático do país: o Jardim Botânico da Madeira!
O jardim Botânico da Madeira é notável e só não falei dele por ser mais recente (século XIX). Devia ter falado também do Jardim BoTãnico do Rio de Janeiro, o mais antigo do Brasil, que remonta à vinda da família real portuguesa para o Brasil e que por isso fez há pouco 200 anos. Ver:
http://www.jbrj.gov.br/
Carlos Fiolhais
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