segunda-feira, 21 de julho de 2008

Naomi arrasada

"She is conscientious enough to provide readers with facts that blow her thesis to smithereens, yet at the same time she is deluded enough not to notice the rubble of her thinking on the floor", escreve Jonathan Chait na sua minuciosa recensão do último livro de Naomi Klein, The Shock Doctrine. Vale a pena ler...

9 comentários:

animah disse...

arrasada não me parece.
em essência concordo com ela.

João Vasco disse...

Uma coisa que me entristece neste blogue, que ao início lia com tanto prazer, e muito mais frequência, é o facto de ter uma agenda política tão clara e recorrente.

O problema não é discordar dessa agenda política, e não é que considere ilegítimo que um blogue que se pretende de divulgação científica e cultural tenha uma qualquer agenda política.

Mas realmente, enquanto leitor, acharia mais interessante um blogue que se centrasse no âmbito da divulgação, e deixasse a agenda política à porta. Blogues políticos já há tantos...

Desidério Murcho disse...

Caro João, em primeiro lugar, não é verdade que este blogue tenha planos políticos. Na verdade, nem nunca falámos entre nós das nossas opções políticas. Não faço a mínima ideia do que pensa politicamente o Carlos ou a Helena ou a Palmira ou qualquer outro dos membros desta equipa.

Em segundo lugar, o artigo referido neste post é tudo menos militantemente a favor disto ou daquilo; é apenas uma análise muito bem feita do último livro da Klein. Poderá discordar da análise do autor, evidentemente, e isso é saudável. Mas penso que mesmo quem discordar do autor reconhecerá que o autor faz um bom trabalho de discussão do livro da Klein.

Em terceiro lugar, um dos meus papéis públicos como filósofo é esclarecer confusões conceptuais. Muitas pessoas defendem determinadas ideias pensando que têm de as defender por uma ou outra razão, quando na verdade não têm de o fazer porque essas razões não estão realmente ligadas a tais ideias. Esclarecer conceptualmente as coisas, distinguir cuidadosamente ideias que sem essa análise parecem todas iguais, é um dos papéis públicos da filosofia. Neste caso em particular, muitas pessoas, pensam que para se ser de esquerda é preciso defender certas ideias que hoje são tidas como politicamente correctas. O artigo indicado no meu post é interessante precisamente porque, além de analisar com distanciamento o livro da Klein, é um artigo de uma pessoa de esquerda que não se revê nas posições desta autora.

Em conclusão, não há neste post, nem neste blogue, proselitismo político, ao contrário do que afirma.

João Vasco disse...

Desidério:

Em primeiro lugar, obrigado pela resposta pronta.

Em segundo lugar, não creio que exista uma operação concertada de proselitismo político.

Mas lembro-me da minha própria experiência pessoal, ao escrever num blogue temático: o Diário Ateísta. Claro que vários dos autores tinham posições políticas, e muitas vezes era tentador aproveitar o blogue colectivo para lhes fazer referência, nem que fosse em tom de desabafo. Isso seria perfeitamente legítimo, mas nós tentámos evitar.
É óbvio que poderíamos escrever sobre política, e várias vezes o fizemos, mas apenas na óptima do tema do blogue. Se um partido tivesse uma posição contra a laicidade, por exemplo, no DA podia ser denunciada essa posição. Mas referências políticas fora deste âmbito eram de evitar.

Independentemente da apreciação geral que se faça do blogue, que vou deixar à margem desta discussão, acho que esta atitude por nós promovida foi positiva. Fez com que o blogue se centrasse no tema que tratava.

Assim sendo, posso concordar que a expressão "agenda política" não tenha sido a mais feliz para exprimir aquilo que quis dizer: que não tem existido cuidado em centrar o blogue na sua temática principal. Isto para mim é uma mera questão de gosto pessoal, mas é algo por que me bati quando escrevi num blogue em que problema análogo se colocou.


Posto isto, eu não o novo livro da Naomi Klein - com alguma pena minha porque gostei bastante do No Logo - mas li a análise e parece-me difícil concordar que a mesma esteja bem feita.

Em primeiro lugar, grande parte do texto comenta a vida da autora e o seu papel nos movimentos anti-globalização, mais do que o livro por ela escrito. O comentário ultrapassa a breve contextualização que seria compreensível, e faz transparecer o verdadeiro objectivo do texto: menorizar, mais do que analisar.

Ao invés de abordar a tese principal - a tese de que quem age racionalmente no seu melhor interesse, pressuposto de algumas teorias económicas que sustentatariam políticas de direita, teria vantagem em votar em políticas de esquerda - de acordo com a própria autora, segundo li numa entrevista sua, ela nem sequer é enunciada.

Fala-se noutra tese importante - de que os desastres permitem implementar políticas que de outra forma não seriam implementadas, descartando-a por ser "óbvia".

Tudo o resto são considerações a respeito de alguns enganos na terminologia - quem é neo-con, quem não é, etc... Não sei até que ponto estes enganos são graves no contexto do livro - não o li - e pode ser que até sejam muito.
Mas tendo em conta tudo o resto, a análise parece-me péssima.

E, se o facto do autor deste texto ser de esquerda lhe dá mais crédito, então ainda menos enviesada estará a minha crítica à sua crítica.
É que o autor certamente não é de esquerda radical, pelo que as minhas posições políticas serão mais próximas das dele do que das da Naomin Klein, e do que das dele em face às de Naomi Klein.

João Vasco disse...

óptima = óptica do tema do blogue, claro.

Desidério Murcho disse...

João, são duas coisas muito diferentes: uma, saber se a discussão do livro da Klein se inscreve no tema do blog. Inscreve-se, sim, pois é um livro de filosofia política aplicada. Outra, saber se uma crítica a esse livro, que li e gostei, é uma boa crítica. Claro, aceito que possa não ser uma boa crítica, que seja injusto, etc. Não me pareceu nada disso, mas o seu comentário fez-me pensar duas vezes. Contudo, o meu interesse pela Klein é o facto de esta ser uma autora muitíssimo mediática, e representante da grande praga do nosso tempo: ideias feitas politicamente correctas. Terei eu razão? Talvez não tenha, mas isso é precisamente um tema que vale a pena ser discutido aqui neste blog. O blog é sobre a natureza das coisas, e isso inclui com certeza a filosofia política aplicada. Repare que nem eu nem os meus colegas comentamos a política partidária. Isso realmente está fora do tema do blog. Mas daí não se segue que a política, na sua acepção mais geral e que lida com ideias e argumentos, esteja fora do alcance deste blog. Não poderia estar, dado que a filosofia é uma das áreas de atenção do blog.

João Vasco disse...

Desidério:

Concordo que são duas questões diferentes. O meu comentário apenas se referia à primeira, mas depois acabei por, na resposta seguinte, levantar a segunda.

Quando li o "No Logo", a temática pareceu-me bastante política. Não me pareceu, no entanto, que o livro se increvesse no tema "filosofia política aplicada". A mim pareceu-me política, simplesmente. A menos que se considere que, sendo a política a aplicação da filosofia política, falar sobre política é falar sobre filosofia... mas discordarei de tal consideração.

No texto que comentava este novo livro, pareceu-me que o mesmo se aplicava: falava-se sobre o Iraque, sobre a família da autora, sobre o seu livro anterior. No geral, falava-se sobre política, e não sobre filosofia política aplicada (abro uma excepção para a altura em que se analisa o que é um neoconservador, mas isso constitui uma pequena parte do texto).

Posto isto, agradeço os esclarecimentos. :)

Desidério Murcho disse...

Pois, João. A mim parece-me que o pensamento da Klein é claramente um caso de filosofia política aplicada, tal como o caso de Orwell, que eu recentemente editei. É as fronteiras são certamente vagas, mas é muito diferente fazer uma reflexão sobre um livro que tem vários pensamentos articulados, de comentar a última inanidade que disse o primeiro-ministro ou coisa assim. Eu acho importante discutir ideias políticas, desde que isso seja mais sofisticado do que a politiquice habitual.

João Vasco disse...

Desidério:

Se escrevesse um texto em que advogasse que o comunismo é uma escolha que não serve os cidadãos, texto esse com argumentos bem articulados e sérios, não estaria a discutir política neste blogue?

Aquilo que eu penso é que num blogue de divulgação haveria muito para se escrever sobre filosofia política: o que é um liberal, o que é a esquerda, o que é a direita, o que é um anarquista, o que distingue um corporativista de um fascista, ou, em termos mais aplicados, porque é que a política nos EUA é tão diferente da política na Europa, qual a ligação entre as diferenças de valores e as diferenças eleitorais, etc...

Mas argumentar "a esquerda não tem razão nisto", ou "a direita é pior que a esquerda", ou mesmo "o comunismo é um erro" é diferente. Embora sejam ideias políticas cuja discussão é importante, e estejam certamente acima da politice habitual, já me parecem menos apropriadas para um blogue de divulgação, de acordo com o meu gosto pessoal.

Não que essa discussão não me interesse - longe disso! - mas apenas porque não me parece a "arena" adequada.

Note-se que não era propriamente a isso que me referia quando escrevi o primeiro comentário. Apenas me ocorreu esta objecção quando li a resposta anterior.

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