Transcrevo excerto de uma entrevista que a actual Ministra da Educação deu recentemente à SIC:
"SIC: Tenho muita pena mas, neste contexto, tenho que me socorrer de autoridades como o Professor Nuno Crato que diz que há exames de preparação que são ridiculamente simples - e a expressão é dele -; tenho que me socorrer da Associação Nacional de Pais que vai ao encontro também desta expressão (...).
Maria de Lurdes Rodrigues: Bom! Cada um socorre-se do que quer, cada um faz as suas escolhas...
SIC: Estou a socorrer-me de fontes credíveis!
Maria de Lurdes Rodrigues: Com certeza, são as fontes credíveis para si. Para mim, fonte credível é o Ministério da Educação e o instituto que promove a realização dos exames e que o faz com todo o rigor e com todas as exigências."
O actual Ministério da Educação, muito contente de se ver ao espelho ("Espelho meu, espelho meu, há lá Ministério mais bonito do que eu?"), não consegue ver nem ouvir nada, mas mesmo nada, do que lhe é exterior. Nem sequer entende que os matemáticos, que em Portugal estão reunidos na Sociedade Portuguesa de Matemática, sabem mais de matemática e do seu ensino do que outras pessoas, simplesmente porque estudam e ensinam essa disciplina, à qual dedicaram as suas vidas. O seu saber é uma das coisas mais preciosas que temos e mal vai o país que o desvaloriza. Como é possível dizer que se melhora o ensino da Matemática se os contributos dos matemáticos estão a ser explicitamente repudiados?
Desafortunadamente, não é só a Matemática, são também outras ciências básicas como a Física e a Química. E as ciências sociais e humanas, veja-se o caso da Filosofia. O menosprezo pela ciência e pelo seu ensino não deve encontrar noutro país desenvolvido uma ressonância tão alta a nível da governação como está a encontrar entre nós. Até quando?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
6 comentários:
Esse argumento da dona Ministra é muito mau, pois escolhe uma fonte que não é imparcial. Claramente, o Ministério da Educação, não vai falar mal do que está vindo a desenvolver. Como tal, escolher o ME para dar uma opinião, não faz qualquer sentido. Contudo, essa senhora, tem bem noção do que anda a fazer. É que aliado à ignorância, vem sempre a teimosia e o orgulho. Como tal, dificilmente ela vai dar o "braço a torcer". Por isso, em vez de estarem a entrevistar pessoas envolvidas no assuntos directamente, entrevistai uma fonte imparcial com credibilidade. Veremos o que essa fonte terá a dizer sobre isto.
Rui.
Intrigado com o aparente facilitismo dos exames do 12º, resolvi pegar numa das questões mais faladas (3 do II grupo) e dá-la a resolver ao meu filho de 12 anos que fez agora o 6º ano e não é um aluno brilhante.
Apresentei-lhe a questão e estava à espera que ele me fizesse uma série de perguntas, mas, para meu espanto, disse imediatamente a resposta e justificou porque a tinha dado.
Fiquei perfeitamente esclarecido acerca do grau de dificuldade dos exames deste ano.
Caro Man:
Afinal o ensino em Portugal com o actual ministério da educação está a ter um brilhantíssimo desempenho. O seu filho com o 6º ano, não sendo brilhante, dá uma resposta a uma questão do 12º ano, estamos no bom caminho. É caso para dizer força ministra (está no poder só há três anos) e ministério daqui por alguns anos estamos no pelotão da frente dos países desenvolvidos em matéria de ensino.
A sorte desta gentinha que nos governa é o nosso famoso pacifismo.
Recordo-me de uma mensagem muito recente do nosso 1º ministro: "os portugueses devem ser mais exigentes". Somos maus alunos, porque na verdade não exigimos mais nem melhor.
Perante uma opinião generalizada de que há um mau trabalho realizado pelo ministério da educação, nem deveríamos deixar avançar mais a situação. Era meter travões a fundo e resolver a coisa desde já, mas com apoio global da sociedade, e não deixar as vozes de quem percebe da fruta, isoladas e desprotegidas.
A sociedade está-se nas tintas, nós gostamos de nos poder queixar de alguém e atribuir as culpas, como se isso tudo resolvesse. Observemos os nossos políticos; passam as sessões no parlamento a fazer acusações mútuas, bastando-lhes apontar que quem se queixa não tem moral para o fazer. Quem se lixa? Os do costume.
Temos o que merecemos. Se hoje temos um governo autista, é porque enviámos a mensagem de que seria possível que um governo assim poderia existir. Temos a oposião que merecemos, laxista, podre, e em coma, porque passámos a mensagem de que após o governo fazer trapalhadas suficientes, eles seriam premiados, porque não encaramos mais ninguém para o lugar. Temos a educação que merecemos, porque não somos mais participativos, nem críticos o suficiente, não exigimos qualidade... preferimos poder queixar.
Não é azar estarmos assim ao fim de 30 anos de democracia. Sempre assumimos a factura das trapalhadas e corrupções dos nossos políticos. Achámos que os fundos do Estado seriam infinitos, e que seria um grande castigo para o partido que está no governo votar na oposição para o próximo mandato.
Olhemos para trás e vejamos o que na realidade aconteceu... Os trapalhões e os corruptos saem da cena política por uns tempos, são promovidos no sector privado, e quando voltam ao público o tacho é maior do que nunca.
Imaginemos um cenário apocalíptico gerado pela actual ministra da educação. Quais serão as consequências para essa senhora? Eu respondo: nenhumas. Por muito mal que se porte, ela continuará a ascender meteóricamente, e um dia havemos de a ver noutro qualquer governo, impingida por um clone do sr. Sócrates, dizendo que tem um vasto curriculum, e que é uma escolha óbvia.
Como sociedade devíamos deixar de fazer bluff. Ou levamos a sério o que fazemos, ou mais vale nem falar. Até porque é assim que enviamos as mensagens aos políticos.
Fonte credível, para a Ministra, é o seu próprio ministério? E a Sociedade Portuguesa de Matemática não é credível? Não vale a pena comentar mais. Está tudo dito sobre os altos critérios que mandam na educação neste país.
Bom, no exame nacional de Física e Química A, há uma questão que costumo colocar nos testes ou nas fichas de trabalho dos meus alunos do 8.º ano. A maioria responde porque é, na verdade, uma questão de somar ângulos para perfazer 90º. Elementar minha cara Ministra. Assim toda a gente "aprende" Física. Belo caminho, este. Um dia destes começam a cair em catadupa prémios nobel neste cantinho esquecido entre o Atlântico e a Espanã. O professor Nuno Crato tem sido incansável e assim deve continuar. O professor Fiolhais, podia fazer uso do seu bem conhecido sentido de humor para desmascarar esta charada. Esta senhora está a praticar o Mal.
Enviar um comentário