sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
Uma verdade evidente
Do jornal "Destak" de hoje transcrevemos a crónica habitual das sextas feiras do médico psiquiatra José Luís Pio Abreu:
Um ex-governante angolano comentava a riqueza do Presidente: “O Presidente é rico? É e tem de ser. Se existir em Angola alguém mais rico do que ele, será outro a mandar”. Uma verdade tão crua como evidente.
Claro que é uma verdade adaptada a Angola. Saída de uma longa guerra civil, o aparelho de Estado é fraco para a dimensão do território, a lei não tem instrumentos de aplicação, o espírito crítico é incipiente. As riquezas naturais são promissoras e permitem enriquecimentos fáceis. E, de algum modo, o país tem de ser governado.
Aplica-se-nos esta verdade? Francamente, não sei. As regras de Bruxelas vão no sentido da liberalização. O projecto, para os Estados soberanos, é emagrecer e reduzir o controlo sobre as actividades económicas. Os cidadãos elegem os políticos, mas não os empresários. E estes vão-se apoderando de todos os recursos, pelo que a riqueza ou a miséria dos cidadãos depende deles. A morosa justiça nada corrige. O próprio espírito crítico é informado (e torturado) pelos media que, por sua vez, são controlados por grupos económicos. Os políticos eleitos – mas não os empresários – estão permanentemente na sua mira.
Em breve vamos ter decisões sobre o novo aeroporto de Lisboa que vão condicionar o futuro do território. Ficaremos então a saber quem manda em Portugal: se o Governo e os cidadãos que o elegeram, se a CIP e os empresários que a suportam.
J. L. Pio Abreu
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11 comentários:
Também não percebi nada deste post!
Eu acho incrível que o governo eleito pelo povo tome uma decisão como a da OTA, que é uma coisa importantíssima onde se vai gastar muito dinheiro e que vais condicionar o futuro, e não se dê ao trabalho de fazer os estudos necessáios para tomar uma decisão que seja boa!
luis
Este post num blogue de ciência demonstra uma monumental distracção!
Na questão da Ota houve um movimento generalizado da elite técnico-científica do país contra uma decisão sem fundamento e de consequências gravíssimas para o país (escolha da Ota há alguns anos por decisão política grosseiramente mal justificada).
Depois de um movimento de cidadania de base técnica de que não há memória em Portugal, a CIP resolveu financiar um estudo que permitisse concretizar as críticas que os melhores técnicos de infraestruturas do país vinham a fazer à Ota.
Neste momento, pela pressão dos cidadãos e dos empresários, o governo teve que admitir que havia que reunir estudos técnicos e económicos para fundamentar a necessidade de um novo aeroporto e a escolha do local.
Assim, se se quiser colocar de um lado o governo e do outro a CIP, os cidadãos estiveram sempre do lado representado pela CIP. Contudo é verdade que os grandes beneficiários do dinheiro gasto em obras públicas, os empresários da construção civil, se afastaram da CIP (com um pretexto bastante pouco credível).
Mas, dado o espírito de valorização da ciência que marca este blog, sugiro que se faça aqui um debate mais técnico sobre este assunto e se analisem os processos de decisão que têm marcado este projecto nos últimos trinta ou quarenta anos.
[Os empresários vão-se apoderando de todos os recursos, pelo que a riqueza ou a miséria dos cidadãos depende deles]
Eles comem tudo, não é? A ignorância económica e política dos nossos intelectuais de relevo é um espectáculo deprimente.
[O próprio espírito crítico é informado (e torturado) pelos media que, por sua vez, são controlados por grupos económicos.]
Uuuuuuuuuuh, os "grupos económicos", ai que medo!
Murdoch Is No Threat to Democracy, but Media Protectionism
Esta crónica é um perfeito disparate, desculpem a sinceridade.
Pois é, a certos papalvos a crónica incomoda, mas quem quer tirar o aeroporto da OTA é quem quer tirar benefício económico da mesma (nem coragem tem de confessar que financiou o estudo da CIP - que vergonha!)! O estudo da CIP é um embuste monumental que nos quer fazer engolir que levar o aeroporto para sul do Tejo fica mais barato (túneis impossíveis à parte) e mais à mão da maioria das pessoas que vivem... a norte do Tejo!
"O estudo da CIP é um embuste monumental"
Como o estudo está publicado o ilustre anónimo não terá certamente dificuldade em fundamentar melhor esta afirmação. É que a Ota até aqui só tem sido defendida com tiradas gerais que se revelam insustentáveis quando se passa ao concreto.
Já agora poderia explicar que sentido faz construir um aeroporto logo com duas pistas que nunca poderá ser expandido quando se pode em Alcochete construir um aeroporto inicialmente com uma pista que pode ser gradualmente aumentado se houver necessidade.
"O estudo da CIP é um embuste monumental": quais acessibilidades? Túneis impossíveis de construir (não foi o autor que disse que não lhe cabia provar que aquilo era possível?), aumento da distância ferroviária Porto-Lisboa, contas supostamente mais baratas por entre outros omitirem a recolocação do campo de tiro, custos supostamente mais baixos por ignorarem o preço da deslocação e portagens a pagar-se para ir a esse aeroporto, etc.
Caro anónimo
Uma nova travessia do Tejo pode ser feita de diversas formas. Uma nova ponte para o TGV pode perfeitamente incluir a componente rodoviária.
O que importa não é o comprimento da linha Lisboa Porto mas o tempo necessário para a percorrer. Acontece que o relevo da margem direita do Tejo (que obrigaria a túneis e viadutos) obrigaria a importantes reduções de velocidade (além de aumentar brutalmente os custos de construção).
As portagens existem em todas as auto-estradas, quer elas tenham ponte ou não.
A os custos da recoloação do campo de tiro não parecem incomodar os militares que não nadam em dinheiro.
Nada disto se compara aos custos, prazos e riscos envolvidos em estabilizar os terrenos da Ota e construir á um aeroporto caro e acanhado.
caro ca (para mim um anónimo):
Citando José Reis:
1) "Onde estão as pessoas que mais usam o transporte aéreo? A resposta só pode ser uma, estão nos meios urbanos, com Lisboa à cabeça, e esses meios estão na margem Norte do Tejo, desenvolvendo-se no litoral até Coimbra, onde também estão “embutidas” as redes mais densas e acessíveis de mobilidade (auto-estradas, estradas e vias férreas). Acresce a isto que a transposição do Tejo para Sul se faz por acessos todos eles concessionados a uma entidade privada, com portagem paga. Os custos para os utentes não são difíceis de calcular."
2) "Os custos directos, desde logo. E, sobre estes, é preciso afirmar que o que tem vindo a ser dito sobre Alcochete não pode tranquilizar os cidadãos e muito menos o poder político. Sabe-se a que cota teriam de ser construídas as pistas em Alcochete, num sítio em que o nível freático está tão perto do solo? Não. Sabe-se que trabalhos de deslocação de terra e de compactação têm de ser feitos? Não. Sabe-se quanto custa a descontaminação de uma zona de uso militar para poder ter uso civil? Não. Os custos directos estão, pois, longe de serem conhecidos. "
3) "E os custos indirectos? Já se sabe o que resultaria dessa coisa impensável de um comboio de alta velocidade se fazer em função de um aeroporto, desviando-o do seu serviço principal que é unir rapidamente as duas metrópoles do país e a mancha urbana do litoral. E conhecem-se os custos indirectos de “recentrar” o país, afastando o aeroporto de quem o usa e dos meios que o complementam? Seguramente que não."
Muitos bons argumentos para juntar aos outros que já referi e dizer que o estudo sobre Alcochete é um embuste monumental (como o foi o de Rio Frio).
Caro anónimo
1) A margem esquerda do Tejo não é um deserto. O estudo da CIP levou em conta a população servida por cada uma das localizações. Considerando um tempo de deslocação ao aeroporto até 40 minutos a Ota perde para Alcochete e Poceirão. Quanto à travessia, todas as autoestradas são também pagas, independentemente das pontes ou viadutos e estão quase todas concessionadas a uma mesma entidade privada.
2) Se em Alcochete o nível freático está perto do solo, na Ota o aeroporto ficaria literalmente em cima da água em diversas ribeiras. Em alguns locais há lodos instáveis até uma profundidade de 20m. Se em Alcochete não foram contabilizados os custos de descontaminação, na Ota não foram contabilizados os custos de desviar linhas eléctricas de alta tensão, de mudar e descontaminar os depósitos de combustível no enfiamento da pista. Os especialistas em engenharia que se têm pronunciado não têm dúvidas que a movimentação e consolidação de solos em Alcochete será sempre mais barata e rápida do que na Ota.
3) O trajecto natural para um TGV Lisboa Porto é pela margem esquerda do Tejo por causa do relevo. Fazer o TGV pela margem direita só tinha uma justificação: fazer a linha passar na Ota.
Finalmente a Ota não tem possibilidades de expansão o que poderia obrigar a começar a pensar ainda noutro aeroporto mal a Ota fosse inaugurada, o que seria manifestamente absurdo.
Não há nenhum estudo a defender a Ota que possa ser considerado um embuste, pela simples razão que não há nenhum estudo a defender a Ota.
No caso da Ota o embuste está na própria escolha do local.
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