Agora que se aproxima a hora em que a maioria de nós saúda o novo ano com libações sortidas e a propósito do post anterior sobre os benefícios das antocianinas e dos polifenóis que muitas vezes as acompanham no mundo vegetal, não poderia deixar de lembrar uma fonte destes compostos muito importante na dieta mediterrânica.
Estou a falar do vulgar vinho tinto, cuja coloração é devida à presença de antocianinas (ausentes no vinho branco) e de uma série de polifenóis que com elas complexam. Os polifenóis do vinho são também os responsáveis pelas suas características organolépticas, nomeadamente os compostos designados por proantocianidinas, catequinas (como as presentes no chá) e epicatequinas monoméricas ou poliméricas, normalmente associadas ao ácido gálico, o precursor do ácido elágico tão elogiado nos últimos tempos.
Para além da cor, estes compostos assumem um papel importante nas características gustativas dos vinhos, por exemplo ao reagir com as proteínas da saliva, sendo esta reacção a responsável pela adstringência dos vinhos.
Há relativamente pouco tempo descobriu-se no vinho outro composto, o resveratrol, que estimula uma enzima que retarda o envelhecimento das células e que se pensa prevenir doenças como Alzheimer, para além de estar associado a uma diminuição do risco de doenças cardíacas. O resveratrol é uma fitoalexina, um composto que desempenha nas plantas o equivalente ao nosso sistema imunológico, sendo produzido pela videira em resposta a uma infecção de «podridão cinzenta» (botrytis).
O interesse que o resveratrol tem despertado na comunidade científica tem a ver com o facto de ser até hoje o composto mais eficaz na activação das sirtuínas, os genes SIRT que produzem as enzimas que desempenham um papel fundamental na manutenção da saúde e longevidade da célula.
Por isso, nesta passagem de ano, em vez do habitual champanhe, talvez não seja má ideia brindar o novo ano de uma forma mais saudável!
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10 comentários:
Parabéns Palmira pelas tuas lições científicas de extraordinário conteúdo e pela oportunidade desta mensagem. O mesmo cumprimento para os colegas que têm contribuido de forma muito positiva para o conhecimento.
Deste lado envio a todos um grande abraço de boas festas e votos de um ano cheio de realizações e alegrias.
Olá Elvira:
Obrigado pelas palavras e igualmente um excelente ano para ti, desejo que torno extensível a todos os nossos leitores.
OOps:
O comentário anterior era meu.
palmira
Professora Palmira,
Obrigada por tudo o que nos tem ensinado.
Desejo-lhe, assim como a todos os "Rerum natura" um óptimo 2008 e que continue a sentir e a despertar em nós, seus leitores atentos, esta "curiosidade apaixonada".
bom novo ano solar mas, cuidado com os polifenóis, porque não são muito divulgados os estudos que dão como certo que, mesmo em pequena quantidade, até o tinto é cancerígeno pour muito pouco que se beba. vou voltar para vos trazer o link de que estão a precisar.
aqui está o link: http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0@2-3244,36-991087,0.html
sempre útil saber quem anda a ganhar com o silêncio... não seremos nós nem os serviços nacionais de saúde!
Olá professora Palmira, eu queria perguntar se é possível o ser humano ser alérgico às antocianinas, porque eu sou alérgica a quase todos os alimentos que tem referido nos seus posts? E se é possível que alimentos mais devo evitar?
Obrigada pelas informações que nos transmite.
Bom Ano
Cara Patrícia:
Nunca li nada sobre essa possibilidade, na realidade já li imenso sobre o efeito contrário, isto é, no facto de que as antocianinas são benéficas em processos alérgicos.
li recentemente um artigo, entre outros, em que recomendavam antocianinas como prevenção de episódios de asma, por exemplo.
Há cerca de 50 anos pensou-se de facto que existiriam pessoas alérgicas a antocianinas porque eram alérgicas a beterraba, mas o corante da beterraba é uma betalaína.
Mas tanto quanto sei não há reportadas infecções a antocianinas. Se calhar é alérgica a outro composto e não as antocianinas.
oops, alergias, não infecções.
Oops, tantos, lá abusamos dos polifenois :)
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