Encontra-se por vezes em alguns textos uma confusão filosófica elementar que importa esclarecer. É o tipo de coisa tão elementar que, uma vez esclarecido, parece um espantalho: parece que ninguém poderá fazer tal confusão. Mas isso não é verdade.
A confusão em causa é entre uma verdade e a crença de que algo é verdade. A confusão acontece quando se diz coisas como “No tempo de Ptolomeu, era verdade que a Terra estava parada” ou “Para Ptolomeu, era verdade que a Terra estava parada”. A primeira locução é uma confusão explícita entre o que se pensa que é verdade e o que é verdade; a segunda para lá caminha. Porque a segunda é suficientemente ambígua para poder ser interpretada como uma afirmação verdadeira (“Ptolomeu pensava que a Terra estava parada”), é mais perigosa do que a primeira. Isto porque as pessoas lêem e escrevem a segunda locução, tendo em mente a interpretação errada, que a faz ser equivalente à primeira — mas se alguém protesta que tal ideia é estapafúrdia, a pessoa pode refugiar-se na outra interpretação, se bem que não era isso que constituía o seu pensamento original.
Vejamos: todos reconhecemos que crer que algo é verdadeiro não pode, geralmente, transformar algo numa verdade. Por mais que eu creia firmemente que a Lua é feita de queijo, isso não faz a Lua ser feita de queijo. A Lua é ou não feita de queijo independentemente do que eu possa acreditar sobre a Lua. Isto significa que mesmo que todas as pessoas da minha aldeia, do meu país ou do mundo inteiro acreditem em algo, o facto de o acreditarem não o torna verdadeiro. É disparatado dizer que a Terra estava parada quando toda a gente pensava que a Terra estava parada, e que passou a mover-se quando as pessoas começaram a pensar que se move. Pensar que a crença legisla sobre a verdade é pensar que somos omniscientes. Mas não somos. Logo, é um erro pensar tal coisa.
É claro que há crenças que são motivadoras e, por causa disso, desempenham um papel causal importante em tornar verdadeiro aquilo em que se acredita. A vitória de um desportista depende em parte da sua motivação para ganhar, o que inclui a sua crença de que pode ganhar. Um estudante que acredite firmemente que não será capaz de terminar o seu curso, acabará talvez por desistir do curso. Estes casos de crenças que estão causalmente relacionadas com a realidade de tal modo que mudam a realidade têm de ser cuidadosamente distinguidos dos casos em que crer ou não crer não pode ter qualquer papel causal sobre a realidade. A confusão entre as duas coisas parece aliás estar presente em algumas formas de pensamento e vivência religiosa: a ideia por vezes parece ser que a própria crença de que Deus existe torna real a sua existência, o que é um disparate infantil. A este tipo de pensamento infantil chama-se “wishful thinking” — uma expressão que em inglês é simultaneamente corrente e técnica, tendo um significado preciso em lógica informal. Significativamente, não há uma expressão portuguesa corrente que lhe corresponda. Tecnicamente, em alguns textos e traduções, tenho usado a expressão “falácia da esperança”, “sonhar alto” ou “pensamento mágico”.
Voltando ao nosso tema: quando as pessoas escrevem ou dizem que “era verdade para Ptolomeu que...” ou “no tempo dele era verdade que...” querem apenas dizer que Ptolomeu e as pessoas do seu tempo pensavam que era verdade que. É claro que há posições filosóficas sofisticadas, ou nem por isso, que defendem que a verdade é “inventada”, “construída”, mas isso é outra história — apesar de as dificuldades básicas de tal posição não serem muito diferentes da confusão popular que se faz entre crença e verdade. Uma das maiores dificuldades que as pessoas sentem é em conceber que a realidade é como é independentemente do que possamos pensar sobre ela; o conceito de verdades transcendentes, não no sentido religioso do termo, mas no sentido de que não dependem das nossas crenças para serem como são, é, por alguma razão que desconheço, de difícil compreensão para muitas pessoas, apesar de ser básico. Como dizia Galileu:
“Os quatro satélites de Júpiter e os companheiros de Saturno só surgiram nos céus quando começámos a vê-los e não antes? Não existiam inúmeras outras estrelas fixas antes de o homem começar a vê-las? As nebulosas eram pequenas manchas brancas; fomos nós, com os nossos telescópios, que as tornámos aglomerados de muitas estrelas brilhantes e belas? Oh!, presunçosa e atrevida ignorância da humanidade!”
Nem mais.
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Verdade e crença: uma confusão filosófica comum
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22 comentários:
Só que esta distinção do Desidério, entre crença e verdade, baseia-se, também, numa crença: na crença de que existe uma verdade independente das crenças. Ou será que, para o Desidério, entre as várias definições de verdade que existem ( verdade como correspondência, consenso, coerência, utilidade, etc), umas são independentes do que pensamos enquanto outras já não o são? À verdade como correspondência também corresponde algum «facto», ou é ela, antes, uma crença estabelecida pelo consenso ou pela sua utilidade?
Ora, se a definição de verdade é, ela própria, uma construção, as ideias ou enunciados considerados como verdadeiros não são independentes do que pensamos e daquilo em que acreditamos ou cremos. Galileu, como se sabe, pensava o contrário disto, como mostra a sua afirmação de que a linguagem da Natureza é a linguagem matemática. A presunção e ignorância de que o Galileu acusa a humanidade, acaba assim por ser, também, a dele, pois confunde a realidade com a representação que fazemos dela.
Recentemente deparei-me com um problema nas antinomias do Kant, no terceiro conflito das ideias transcendentais: basicamente a crença na liberdade versus o determinismo.
Há algo que me permita fundamentar que sou livre ou que sou determinado? É possível refutar uma tese em detrimento da outra?
Basicamente eu tenho uma tese. E consoante eu aplico a ideia que sou livre ou sou determinado vou obter conclusões diferentes na minha tese. O problema é que não posso provar qualquer delas a não ser sustentando-me numa Crença.
Corrija-me se estiver errado, mas muitos das teses para problemas da filosofia não são ancorados em crenças porque simplesmente "verdades" são coisas basicamente impossíveis de provar?... (para cada tese existe uma antítese)
Corroborando o que Luís Pedro disse:
Tirando o caso particular das verdades lógicas (não posso dizer: eu morri no dia 14.8.2007), em que consiste a verdade e o chegar à verdade? A verdade implica conceitos?
- A verdade consiste na correspondência com os factos?
- Ou não temos acesso aos factos duma forma independente dos conceitos e crenças que mantemos?
Não podemos sair do nosso sistema de crenças e compará-lo com outro em termos de correspondência com o mundo. Apenas podemos testar as crenças quanto à sua verdade, à luz de outras crenças.
Não sei se coloco aqui uma evetual confusão entre certeza e verdade.
Não sei se o que se segue entra no tema da verdade (Desidério o dirá), por causa de Wittgenstein que escreveu algo do género: A certeza é subjectiva mas o saber não é. Não sabemos como devemos usar a frase “eu tenho um corpo”. E se alguém disser que duvida ter um corpo nós consideramos isso uma imbecilidade. Ninguém, no seu perfeito juízo duvida (e portanto tem a certeza) que, se cortar um braço a alguém ele não volta a crescer, ou que se cortar o pescoço a uma pessoa ela morre. E se alguém nos pergunta como é que sabemos isso nós dizemos que é da nossa experiência e da aprendizagem com a experiência dos outros que nos antecederam.
Crenças e Realidades na Educação em Portugal
“As pessoas têm dificuldade em aceitar que a realidade seja diferente daquilo que pensam sobre ela”.
Esta é uma proposição que se pode aplicar a muito do que se tem escrito e discutido aqui no Rerum Natura sobre a educação em Portugal. Todos os que aqui têm investido discursivamente, nomeadamente no domínio teórico, contra o panorama regente da educação entre nós partem do princípio da não aceitação da realidade que observam quando em confronto com o que sobre a mesma pensam ou normalizam. Estão longe de crer e aceitar em função disso que a realidade e a verdade que ela transporta sejam aceitáveis. Introduzem então juízos de valor sobre o que lêem na realidade, no que constitui as manifestações objectivas da tal realidade. E dessa forma posicionam-se como agentes de transformação do “status quo”. Indignam-se com o que vêem, com os principais agentes fautores dessa realidade, nomeiam-nos e desvendam-lhes as respectivas idiossincrasias e até possíveis predilecções ideológicas.
Um passo mais seria o de reconhecer que os agentes ministeriais – tal como bem explica a “teoria económica da escolha pública” – representam os seus próprios interesses e a sua perpetuação no eixo central do sistema educativo que querem continuar, natural e obviamente, a comandar. Daqui que a consequência primacial desta confrontação ideográfica devesse ser a de lançar o repto de indagar, não no domínio das crenças (como a do papel insubstituível do estado central na educação), mas das realizações concretas e dos resultados do sistema educativo: “Para que serve efectivamente ao País, incluindo as famílias e os alunos, o Ministério da Educação?”.
Neste exercício poderia e deveria partir-se de um cenário de inexistência do próprio Ministério, partindo do nada, num conceito radical de “reengenharia” em que nada existe à partida, como se fosse uma “folha completamente em branco”.
Um exercício como este talvez trouxesse algumas aclarações inesperadas sobre a organização e funcionamento do sistema educativo, contribuindo para elucidar aquilo que são crenças e tabus insofismáveis e o que são ou podem ser as realidades diversas das actuais.
Proponho ao autor deste post que, na sequência das suas avisadas anteriores contribuições para o nosso “eduquês” governativo – que acaba no próprio primeiro-ministro como ficou recentemente patente numa entrevista televisiva – lance, se quiser, as primeiras pedras deste edifício de desmistificação (crenças versus realidades no sistema educativo).
O conceito "eu tenho um corpo", julgo poder ser substituído com vantagem por este outro conceito, do filósofo francês Gabriel Marcel (1889-1937): "Eu não tenho o meu corpo, eu sou o meu corpo". Desidério o dirá, tomando para mim o apelo de f.dias..
Artigo interessante e esclarecedor. :)
Quanto a «A este tipo de pensamento infantil chama-se “wishful thinking” — uma expressão que em inglês é simultaneamente corrente e técnica, tendo um significado preciso em lógica informal. Significativamente, não há uma expressão portuguesa corrente que lhe corresponda. Tecnicamente, em alguns textos e traduções, tenho usado a expressão “falácia da esperança”, “sonhar alto” ou “pensamento mágico”.»
Eu diria que a tradução mais natural e intuitiva de «wishful thinking» seria «pensamento propiciatório».
No entanto, um professor de Psicologia esclareceu-me que existe um termo técnico em português que é usado para traduzir essa expressão, o qual é usado na produção académica a esse respeito, pelo menos no domínio da psicologia, que é "pensamento veleitário".
Caros leitores
Muito obrigado pelos vossos comentários e críticas!
Começando pelo fim: João, mil obrigados pela informação. Não sabia que os psicólogos portugueses já se tinham deparado com este problema linguístico. Acho a tradução infeliz, porque é completamente opaca para o leitor comum. A vantagem da expressão inglesa é que é corrente, e não apenas um termo técnico. A sua proposta acho-a melhor do que o termo técnico dos psicólogos (que até parece doença!). Mas não acha significativo que a nossa cultura, que é tão propícia a pensamento propiciatório, não tenha uma expressão corrente para tal disparate?
Pinto, o post nada tem a ver com a educação, mas concordo que também nesta área, como em todas, é preciso olhar para a realidade para ver como ela é, e não inventar a realidade que melhor se adequa aos nossos desejos.
Dias e Luís Pedro, não é possível usar um argumento qualquer sem pressupor que a verdade é independente dos nossos desejos. Porque um argumento só pode ser válido se houver verdade, e se a verdade depende dos nossos desejos então qualquer pessoa pode “provar” seja o que for, desde que esteja de acordo com os seus desejos. A ideia de que o que eu disse implica a teoria da verdade como correspondência é falsa. O que eu disse é uma trivialidade que qualquer teoria da verdade tem de aceitar. O que se passa é que há uma enorme tendência para se falar vagamente da teoria da verdade X ou Y sem que as pessoas as dominem realmente. É um pouco como a física quântica: toda a gente gosta de mandar bitaites, mas à excepção dos físicos, ninguém sabe realmente do que está a falar.
Musicólogo, penso que o que está a fazer-lhe alguma impressão é o carácter aberto dos problemas da filosofia. Noutras áreas, como a história ou a musicologia ou a química, há um monte de resultados, e estudar essas disciplinas é basicamente compreender esses resultados. Em filosofia, pelo contrário, só nos ocupamos de problemas em aberto — a filosofia é como a física ou a história de ponta, só trabalhamos com o que não sabemos. Mas daqui nada se segue quanto à distinção entre crença e verdade, excepto isto: sem tal distinção a investigação torna-se impossível (pois se a verdade depende das nossas crenças, basta-me ter muita força de vontade para formar a crença de que sou livre para dar como provado que temos realmente livre-arbítrio, o que é um completo disparate).
Desidério:
Não me parece que tenha respondido à minha questão. Vou, por isso, procurar ser mais claro.
Diz, o Desidério, que a verdade é uma condição necessária para um argumento ser válido, e acrescenta, na resposta ao Musicólogo, que sem a distinção entre verdade e crença é impossível a investigação. Mas isto não quer dizer que a verdade exista, nem que ela seja distinta de uma crença. O que quer dizer é que é preciso pressupor a existência da verdade, para estabelecer a possibilidade do conhecimento. Ou seja, da mesma forma que Kant postula que só havendo liberdade é que é possível o agir ético, o Desidério postula que só havendo verdade é que é possível conhecer a realidade. Só que postular não é demonstrar. É nessa medida que se pode afirmar que a distinção entre verdade e crença é também ela uma crença indemonstrável. Uma crença sem a qual é impossível a investigação, mas uma crença.
Por isso, pergunto-me se a posição do Desidério não é semelhante à do individuo que diz ser livre só porque tem a crença de que é livre. Não se poderia dizer, também, que é a vontade do Desidério, o seu desejo, de que a realidade seja cognoscivel, que o leva a pressupor que tem de existir a verdade?
«É claro que há posições filosóficas sofisticadas, ou nem por isso, que defendem que a verdade é “inventada”, “construída”, mas isso é outra história — apesar de as dificuldades básicas de tal posição não serem muito diferentes da confusão popular que se faz entre crença e verdade.»
Talvez fosse bom se pudesses esclarecer isto melhor. Não está claro, pelo menos para mim, quais são essas posições e quais a razões que as tornam mais fracas relativamente às habitualmente aceites, principalmente as aceites pela comunidade científica - por exemplo, a de que a verdade é "apresentada" ou pode conseguir-se respeitando os métodos cientificos.
Caro Luís Pedro
Obrigado pela resposta, e lamento não ter sido mais claro. Penso que está a pressupor que só se tivéssemos uma demonstração de que a verdade é independente de nós poderíamos aceitar que a verdade é independente de nós. Mas isto é verificacionismo. E o verificacionismo é uma teoria que não funciona, em grande parte porque é auto-refutante.
Mas é igualmente auto-refutante afirmar que a verdade é uma mera crença. Não é preciso uma prova científica ou uma demonstração matemática para aceitar que a verdade é independente de nós: é trivial. É preciso é argumentos poderosos para nos persuadir do contrário. Mas nenhum argumento a favor do contrário é procedente porque todo o argumento precisa da noção de verdade para funcionar como argumento. Por isso a ideia de que a verdade é uma mera invenção ou uma mera crença é auto-refutante ou arbitrária.
Olá, Luís
Refiro-me a quaisquer posições que declarem que a verdade é uma invenção, mesmo as mais sofisticadas, como a de Goodman. Mas repara que há duas ideias muito diferentes: 1) que a verdade é independente de nós, e 2) que algumas das nossas crenças são verdadeiras. Eu argumentei a favor de 1 e não de 2. Por isso, o que eu disse nada tem a ver com a ideia de que algumas das nossas crenças, nomeadamente as científicas, são verdadeiras.
A explicação para isto é tão simples que soa a ridícula para algumas pessoas.
Parece que a maior parte das pessoas não tem de facto um pensamento científico como Galileu, mesmo alguns que exercem ciência 500 anos após Galileu. Outros 1.000 anos depois não igualam um cientista que distinguia muito bem entre ciência e pseudo-ciência, como Al Biruni, apesar de todos os meios que existem actualmente.
Os psicólogos devem muito bem saber lidar com a questão, no entanto, não se pode fazer muito para mudar algumas crenças.
Não me parece que a ciência seja uma "crença" no mesmo sentido da religião; o pior é tentar explicar isso a algumas pessoas, não vão conseguir entender, por mais "simples" que seja .
Em certas idades vale a pena insistir nestas questões, noutras já não vale mesmo nada insistir.
(Aquilo que é designado "eduquês" será, como entendo, sempre a gestão política da pessoa humana , do indivíduo com finalidades práticas, até anti -Rosseau", embora aqui veja um pouco o contrário.
De qualquer maneira, o programa de ensino é igual para colégios particulares requintados e escolas estatais "reles".
Esta questão do "eduquês" é que não me é nada agradável, sou muito a favor de que, como em tudo, haverá aproveitamentos diferentes das pessoas para os mesmos ensinamentos, isso é apenas aquilo que é "politicamente correcto".
Que os pobres têm a mesma capacidade dos mais avantajados financeiramente, senão mais, já se sabe há muito tempo.
Estou muito longe da questão, nem quero estar perto.
Dá-me a impressão de que se pode tentar chegar à alienação completa do ser humano. Dou o meu simples exemplo:
Em 2001 a questão que se debatia no parlamento inglês era sobre o conhecimento humano se dividir entre feminino e masculino e achar-se que se deveria proteger escolhas de "vocação/motivação masculina",( engraçado a Antropologia que eu escolhi seria uma delas, apesar de eu não peretencer ao género masculino e, a propósito apenas como o engraçado da questão: que pena que ninguém me tenha protegido por desistir facilmente ) separar em escolas diferenciadas os géneros. Tudo isto me pareceu maquiavélico e uma alienação completa, como tudo o que não respeite pessoas como indivíduos , como pretendia Rosseau.
Apenas do senso comum a minha opinião:
Parece um facto de que algumas pessoas são menos motivadas que outras, pode-se dizer que algumas pessoas acham que a melhor forma de se viver é competir por tudo, talvez achem que chegam de facto mais longe do que outros. Para mim continua a ser relativo. Continuo a achar mais doutor alguns sejam, não são melhores do que muitos que o não são, por muito estranho que possa parecer.
Para chegar longe, é preciso de facto dinheiro para comprar carapuças: há carapuças para todos os gostos.
Desidério:
Não penso que a afirmação de que a verdade é independente de nós seja algo de trivial, como diz o Desidério. Se o fosse não era um problema filosófico. O que eu diria acerca dessa afirmação é que ela é, sim, algo de platónico. Como o são as afirmações de que o bem e o belo são independentes de nós. Podemos afirmar que uma coisa é boa ou bela sem nos apoiarmos num qualquer critério de avaliação humano de beleza ou bondade? Se não porque é que no que diz respeito à verdade as coisas já seriam diferentes? O que me parece é que também aquilo que é considerado como verdadeiro está sempre dependente de uma avaliação humana, o que torna problemático dizer que a verdade existe independentemente de nós. A não ser que se adopte uma posição platónica que estabeleça a sua existência num mundo das ideias.
Costuma-se (ou pode-se) dizer, também, que o belo e o bem são subjectivos, são do domínio do valorativo, enquanto a verdade diz respeito à objectividade e àquilo que é factual. No entanto, não será a verdade, antes de mais, um valor? E se é, fundamentalmente e primeiramente, um valor, não se terá que concluir que não há verdade sem a dita subjectividade, sem a intersubjectividade, em suma sem seres humanos? Ou é, a verdade, um valor independente dos homens?
Finalmente, concordo consigo quando diz que o verificacionismo se auto-refuta, e por isso mesmo fiz a minha critica. É que os vários exemplos a que o Desidério recorreu, para distinguir crença de verdade, apoiam-se todos no verificacionismo: tanto as descobertas do Galileu, como a refutação das ideias de Ptolomeu, como a rejeição de que a Lua é feita de queijo. A lógica e coerência exigiriam, então, que a própria verdade fosse demonstrável para se poder afirmar a sua existência e para a distinguir de uma crença, de um valor em que se acredita.
Caro Luís Pedro
Está a fazer uma confusão. Afirma:
"O que me parece é que também aquilo que é considerado como verdadeiro está sempre dependente de uma avaliação humana, o que torna problemático dizer que a verdade existe independentemente de nós."
Claro, aquilo que é CONSIDERADO verdadeiro depende de quem o considera como tal -- as pessoas. Mas considerar que algo é verdadeiro é muito diferente de algo ser verdadeiro. Eu posso considerar que é verdade que o Chico é espanhol, mas ele ser austríaco.
A confusão que o Luís Pedro está a fazer era precisamente a confusão que eu pretendia dissipar no meu post -- e obviamente falhei.
A verdade não tem nada de ser um conceito platónico, pois não tem de ser um universal. Aristóteles não era platónico e ele não tinha dúvidas em distinguir a verdade da crença de que é verdade.
Se você tivesse razão, não podia ter razão, porque seria apenas verdade para si que você tem razão, mas não para mim. O que mostra a incongruência da sua posição. Você de facto acredita que é verdade que a verdade é apenas uma construção humana, e isso é auto-refutante.
Mas quando considera que é verdade que o Chico é austríaco também se está a basear numa qualquer informação. Ele pode ser austríaco porque os pais são austríacos, ou porque nasceu na Austria, ou porque lhe deram a nacionalidade austríaca, etc. Ele até pode ser austríaco no BI e filho de espanhois, por exemplo. Ou seja, a verdade dessa afirmação está sempre dependente, da sua, ou de uma determinada definição de «austriaco», do sentido que se dá às palavras. A verdade seria assim sempre relativa, e não independente de um discurso. Mas para uma pessoa que reduza o conceito de verdade à lógica, ser-se austríaco e espanhol ao mesmo tempo é uma violação do príncipio da não contradição.
Agora, se o relativismo é auto-refutante, o verificacionismo também é. Mas o que eu queria desde o inicio mostrar é que o conceito de verdade é problemático, o que é algo que para o Desidério parece não ser: ao contrário, seria um conceito claro e trivial, como disse.
Caro Luís
Está sempre a fazer a mesmíssima confusão. Peço desculpa por parecer repetitivo, mas aparentemente não me consigo fazer entender. Repare no que escreve:
“quando CONSIDERA que é verdade que o Chico é austríaco também se está a basear numa qualquer informação”
Eu sublinhei a palavra que denuncia a sua confusão. Uma coisa é os elementos que me fazem dizer que o Chico é austríaco (a informação), outra coisa é ele ser austríaco. Posso ter excelentes informações para pensar que ele é austríaco, mas ele não o ser. Ou posso nada saber sobre o Chico, mas ele continuará a ser austríaco.
A sua confusão é a confusão positivista entre o conceito de verdade e a crença de que algo é verdade. O verificacionismo é que está na origem do seu relativismo. O seu raciocínio pressupõe que é verdade apenas o que podemos verificar conclusivamente que é verdade — mas como não podemos verificar conclusivamente a verdade de coisa alguma, a verdade é relativa às nossas crenças, ou à linguagem, ou à representação que fazemos das coisas. Isto é uma confusão.
Veja o disparate que é pensar que a verdade é relativa ao sentido que damos às palavras: mudemos o significado da palavra “homem” para significar mulher e vice-versa. Será que por isso você mudou de sexo? Claro que não. A realidade manteve-se a mesma, apenas mudaram as palavras. Se a verdade fosse relativa à linguagem, ninguém iria para um laboratório para descobrir coisas sobre moléculas: limitava-se a sentar-se numa biblioteca com um dicionário e uma gramática, divertindo-se a mudar o significado das palavras.
Finalmente, do facto de ser uma trivialidade que a verdade se distingue da crença não se segue que o conceito de verdade não seja filosoficamente problemático. Mas nunca compreenderemos os problemas filosóficos da verdade enquanto continuarmos a confundir a verdade com a crença de que algo é verdade. Talvez seja por isso que tantas pessoas leigas em filosofia (e até algumas pessoas com formação em filosofia, lamento dizê-lo), não compreendem realmente as diferentes teorias da verdade: pensam que são teorias da verificação da verdade, critérios de verdade, e não teorias sobre a natureza da verdade. Ou seja, pensam que são teorias sobre a natureza da nossa verificação da verdade, e não teorias sobre a natureza da própria verdade.
Todos nós de uma forma ou de outra, crê em alguma coisa. Para mim crer é ter uma idéia sobre algo que acredito mas para qual não encontro uma razão específica. Crença é uma coisa. Verdade é outra. Algumas pessoas vêem suas crenças como ''a verdade'' e ignoram qualquer outra crença que lhes pareça diferente da verdade que preconizam. Para mim isso não é democrático.
Desidério: Postei algo semelhante à tua postagem aqui:
http://problemasfilosoficos.blogspot.com/2008/05/o-que-verdade-para-algum-as-minhas.html
Obrigado, Alexandre!
OLÁ
Me chamo Tatiane e preciso de sua ajuda!
Tenho que fazer um tarabalhor escolar onde "toda verdade é submetida a uma creça"no entanto tudo é muito confuso e num consigo compreender seus devidos sentidos!
Teria como voê me ajudar ?
atenciosamente
TATIANE
Poderíamos dizer que a verdade existe fora do ser, ela é independente? Já a crença está no ser, ela é dependente desse daquele que a declara.
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