segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A capacidade de indignação

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade no meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que ha' gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legitima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.


O centenário do nascimento de Miguel Torga, nome literário de Adolfo Correia Rocha, foi assinalado ontem numa cerimónia que fez correr muita tinta pela ausência do Governo.

Como referiu o Carlos na sua contribuição para a Enciclopédia da Descrença, a religiosidade de Torga era algo mal resolvido - o poeta descrevia-se como um «ateu cristão», um ateu que crescera numa cultura «a conviver com divindades desde a pia baptismal». O Carlos explicou tão bem esta ambiguidade religiosa de Torga, que faz da apologia da natureza e do natural quasi uma religião, como deísmo humanista «que tem de novo a marca de alguma contestação clerical».

Como a maioria dos poetas, mesmo o mais ateu, a problemática religiosa é quase uma constante na sua poesia. Torga nega deus/deuses também para melhor afirmar o Homem. De facto, para além da omnipresença da Terra, reiterada na escolha do pseudómino Torga, a urze que cresce daninha nos montes transmontanos, são preocupações humanistas que caracterizam a sua obra. Humanismo que atinge quasi uma nota de desespero em poemas como «O Orfeu Rebelde» reproduzido, que se repercutiu numa vida de combate contra o regime fascista que o perseguiu, proibiu as suas obras e o prendeu em Dezembro de 1939.

É em nome da «autoridade desse passado de resistência» que Torga resumiu na prática a sua vida e obra ao afirmar que «o Homem, quando perde a capacidade de indignação, perde a própria razão de ser» numa mensagem enviada ao Parlamento Internacional de Escritores, o seu último acto público, em Setembro de 1994 .

A minha capacidade de indignação foi duramente testada hoje ao seguir uma hiperligação no meu blog de ciência favorito, o Pharyngula, e deparar com excertos de um texto incluído no último número de «uma das mais respeitadas» revistas católicas «do mundo», a Homiletic & Pastoral Review, publicada desde 1978 pela Ignatius Press, a editora jesuita fundada por um doutorando de Bento XVI, o padre Joseph Fessio.

O referido texto - de que vale a pena ler a dissecação feita por um matemático americano- , foi escrito por David Carlin, um sociólogo do Community College em Rhode Island, que, entre outros, escreveu um livro a explicar que um católico não pode ser democrata. No artigo pastoral, Carlin perde-se em reminiscências dos bons velhos tempos em que negros, por causa da raça «errada» - como recorda um dos baptistas pelo Opus Dei Brownback, uma raça que carrega a maldição de Canaã -, e ateístas, pelas razões óbvias, eram cidadãos de segunda classe.

O sociólogo explica que a culpa deste estado de coisas, o execrado reconhecimento de ateus e agnósticos como seres humanos de plenos direitos, deve ser assacada a autores como Dawkins, Dennett ou Sam Harris, que, completamente sem vergonha na cara, quebraram uma regra fundamental das «boas maneiras» culturais americanas prevalecente em boa parte do século XX: enquanto dizer mal do ateísmo era uma virtude expectável de qualquer bom americano, os ateístas, conscientes do seu (reles) lugar na sociedade, dever-se-iam abster de tecer quaisquer comentários em relação à religião. Aliás, enquanto ateus dever-se-iam abster de abrir a boca, ponto.

O autor lamenta ser «pouco provável que a América teísta volte alguma vez a poder esquecer que um número significativo dos seus concidadãos são ateístas ou a pretender que esta minoria ateísta simplesmente não conta», uma vez que os ateístas americanos «estão a sair do armário» assumindo a defesa do «ateísmo teórico». O ilustre autor procede a uma distinção entre ateísmo teórico e ateísmo prático. O último é fácil de reconhecer pelos seus sintomas: liberdade sexual, aborto (na realidade as estatísticas norte-americanas indicam que os católicos apresentam taxas de aborto muito superiores à média) , casamento homossexual, e talvez poligamia - e eu que pensava que poligamia nos EUA estava associada a uma denominação cristã, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias - e eutanásia.

Fico confusa por Carlin ter esquecido nestas manifestações de ateísmo prático o divórcio, relações de facto, contracepção e demais versões do que chama relativista «princípio da liberdade pessoal». De facto, em artigos anteriores, na mesma revista e outras, Carlin considera ser obrigação do «verdadeiro» cristão combater a tolerância pelo outro que permite estas práticas abomináveis, uma «mutação» moral darwinista imposta pelo «inimigo secular».

O termo mutação moral darwinista levou-me a investigar o que debitara o ilustre pensador sobre o tema evolução e descobri, sem grandes surpresas, que este tem ideias completamente erradas sobre o que seja o evolucionismo - a que chama Darwinismo - que podem ser bem apreciadas numa diatribe contra os direitos dos animais. Nesta coisa, Carlin efabula sobre o facto de o Darwinismo pretender estabelecer uma ordenação «ontológica» que aproximaria o Homem dos animais inferiores. Não sei se o sociológo se baralhou e confundiu o termo ontogenia com ontologia, porque ontologia não é tema sobre que se debruçe a ciência mas sim a metafísica.

A minha capacidade de indignação atingiu o seu limite quando vejo escancarado mais um estafado reductio ad Hitlerum, isto é, leio que «Hitler era um grande crente na concepção puramente biológica do ser humano» e que foi esta crença «darwinista» a grande culpada pelo Holocausto, o que é completamente falso! Claro que o facto de Hitler ser criacionista não é argumento para nada mas o argumentum ad nazium é tão recorrente no discurso de criacionismos sortidos que resolvi, de uma vez por todas, explicar porque é um tiro no pé mencionar na mesma frase nazismo e evolução.

Como já referi em relação ao documentário Darwin's Deadly Legacy: The Chilling Impact of Darwin's Theory of Evolution, Ed Brayton nos Despachos das Guerras Culturais, explica como uma análise da prosa e discursos de Hitler, por exemplo do Mein Kampf, mostra claramente que o sociopata não só acreditava ter sido o homem criado à imagem de Deus como negava como absurda a hipótese de evolução do homem de um ancestral comum aos restantes primatas.

Quaisquer dúvidas remanescentes são esclarecidas num artigo de Março de 2006 da revista Archaeology que descreve como Heinrich Himmler criou um instituto de investigação chamado Deutsches Ahnenerbe - Studiengesellschaft für Geistesurgeschichte (Ancestralidade Germânica - Sociedade de Investigação e Ensino), destinado a fabricar evidências da superioridade da raça ariana, a tal raça nórdica superior (e mítica) que Hitler achava ser «um pecado contra a vontade do Eterno criador» contaminar por miscigenação com «raças» inferiores.

Para Hitler, os arianos deveriam compreender que era uma missão divina «dar ao Todo Poderoso Criador seres como Ele próprio fez à Sua imagem», ou seja, que «O Weltanschauung (visão do mundo) que baseia o Estado numa ideia racial deve ter sucesso na promoção de uma era mais nobre, na qual os homens não mais darão atenção exclusiva ao cruzamento e criação de cães e cavalos e gatos com pedigree, mas envidarão os seus esforços para melhorar a raça humana».

De acordo com o artigo, «Himmler também encontrou tempo num encontro para transmitir a Bohmers [um dos arqueólogos do Ahnenerbe] a sua posição pessoal no assunto evolução do homem. Deve ter sido uma conversa instrutiva. Como Bohmers depois indicaria, Himmler descartou imediatamente a hipótese de que a raça humana estava próxima dos primatas. Estava igualmente indignado com uma ideia avançada por outro investigador alemão que propunha ser o Cro Magnon descendente do Neandertal. Para Himmler, ambas as hipóteses [a evolução e a relação entre Cro Magnon e Neanderthal] eram 'cientificamente completamente falsas'. Eram igualmente 'muito insultuosas para os humanos'».

64 comentários:

Anónimo disse...

interessante

Anónimo disse...

isto é assustador:

It is Barack Hussein Obama’s curse of coloredness that will prevent him from ever being elected leader of a true Christian nation, one that is founded upon Christian principle by the chosen, fair-skinned people of God.

The nations and countries of Africa, Iraq, and Iran, and all people of dark skin carry the curse of Ham and will be subservient to the people who remain favorable to God. That is why there is so much trouble brewing in these lands; they carry the Canaan curse. The angel Radueriel told me this saying with a loud voice (the emphasis on a loud voice).

Fernando Dias disse...

É de louvar a preocupação constante de Palmira e o seu contributo na revelação do absurdo que continua a proliferar no seio da nossa cultura ocidental, qual cavalo de Tróia repleto de psicopatas e quejandos. E de facto esta praga escolhe como inimigo preferencial os cientistas profissionais, em geral. Partilho a sua indignação e preocupação.

Em todo o caso, também é bom que os cientistas não se deixem iludir por aqueles falsos que, sob a máscara de amigos e em nome da universalidade, utilizam a ciência como pretexto para a dominação, através de sofisticados aparelhos financeiros especulativos a nível global. A não haver qualquer inflexão neste curso dos acontecimentos, este espírito arruinará qualquer perspectiva de aldeia global saudável. Mas é claro que estamos longe das favas contadas. Não é linear que esta universalidade seja um dado adquirido.

Ganhando optimismo, parece que ainda existem universos simbólicos incomensuráveis, atravessando várias culturas em todo o mundo, que tenderão provavelmente para uma uniformização universal, que apesar de não sabemos qual será o seu resultado depois da mistura de povos, valores, conhecimentos e cultura, haverá valores comuns por que valha a pena lutar. O da tolerância será certamente o primeiro por que devemos lutar. A não ser assim, como será possível a tal convivialidade inteligente e saudável entre culturas com proveito mútuo? As coisas ficariam muito mais difíceis, e entrar-se-ia numa lógica impossível, se continuasse a haver diferenças exclusivas, intolerantes em relação às diferenças dos outros.

Rui leprechaun disse...

O ilustre autor procede a uma distinção entre ateísmo teórico e ateísmo prático. O último é fácil de reconhecer pelos seus sintomas: liberdade sexual, aborto [...], casamento homossexual, e talvez poligamia [...] e eutanásia.
[...] manifestações de ateísmo prático: o divórcio, relações de facto, contracepção e demais versões do que chama relativista «princípio da liberdade pessoal».


The content of moral liberalism is mainly negative. Its Golden Rule is what may be called "the personal liberty principle", which holds that people should be free to do what they like provided they don’t infringe on the freedom of others to do what they like. Hence moral liberals endorse rights to the following: abortion, gay marriage, assisted suicide, pornography, no-fault divorce, sexual freedom. What they oppose is anything that tends to restrict freedom of choice, e.g., attitudes of racism, sexism, homophobia, and intolerance generally, as well as practices and policies based on such attitudes.


Mais uma nova novidade! :) Pois bem, esse ateísmo prático soa-me extraordinariamente espiritual, curioso...

O que só vem comprovar, aliás, que aquilo a que se chama "ateísmo" consiste essencialmente na rejeição dum conceito estritamente religioso de Deus, e não tanto na sua negação filosófica ou metafísica. Esse "liberalismo moral" é profundamente espiritual, já que respeita o princípio máximo da liberdade e responsabilidade individuais, na afirmação plena do “Eu” de cada Ser Humano!

De resto, o artigo é de índole meramente religiosa, logo nada mais há a dizer, respeitando o tal princípio liberal espiritual... ;)

E sim, o autor tem razão quanto ao teste do tempo. Já quanto à sobrevivência do Cristianismo... hummm, não sei... O Islão parece estar agora na mó de cima, mas é de esperar que os diversos credos religiosos dêem lugar a uma única Fé ecuménica com o progressivo retorno a uma espiritualidade genuína e aberta que deverá caracterizar os próximos séculos.

Pois, adivinho o futuro...

Rui leprechaun

(...Harry Potter tão maduro! :))


PS: Ah! A propósito da citação anterior não identificada, é então de prever que os EUA deixem de ser em breve "a true Christian nation", o que talvez se afigure bastante positivo, em face dessas declarações "angélicas" em alta voz... ;)

Joana disse...

Eu já conhecia a do Barama porque tenho lido o blog dos baptistas por Brownback desde que aquela senhora cá deixou o comentário atrasado mental.

Há um livro que recolhe as máximas da beatada americana e que se chama American Taliban.

Beverly LaHaye (Concerned Women for America)

"Yes, religion and politics do mix. America is a nation based on biblical principles. Christian values dominate our government. The test of those values is the Bible. Politicians who do not use the bible to guide their public and private lives do not belong in office."

Gary North (Institute for Christian Economics)

"The long-term goal of Christians in politics should be to gain exclusive control over the franchise. Those who refuse to submit publicly to the eternal sanctions of God by submitting to His Church's public marks of the covenant–baptism and holy communion–must be denied citizenship."

"This is God's world, not Satan's. Christians are the lawful heirs, not non-Christians."

Gary Potter (Catholics for Christian Political Action)

"When the Christian majority takes over this country, there will be no satanic churches, no more free distribution of pornography, no more talk of rights for homosexuals. After the Christian majority takes control, pluralism will be seen as immoral and evil and the state will not permit anybody the right to practice evil."

George Bush Sr. (President of the United States)

"I don't know that atheists should be considered citizens, nor should they be considered patriots. This is one nation under God."

Jay Grimstead (Coalition on Revival)
"We are to make Bible-obeying disciples of anybody that gets in our way."

Jerry Falwell

"We're fighting against humanism, we're fighting against liberalism...we are fighting against all the systems of Satan that are destroying our nation today...our battle is with Satan himself."

John Ashcroft (Attorney General)

"Civilized people – Muslims, Christians, and Jews – all understand that the source of freedom and human dignity is the Creator."

Joseph Scheidler (Pro-Life Action League)

"I would like to outlaw contraception...contraception is disgusting – people using each other for pleasure."

Randall Terry (Operation Rescue)

"I want you to just let a wave of intolerance wash over. I want you to let a wave of hatred wash over you. Yes, hate is good...Our goal is a Christian nation. We have a biblical duty, we are called by God to conquer this country. We don't want equal time. We don't want pluralism."

"When I, or people like me, are running the country, you'd better flee, because we will find you, we will try you, and we'll execute you. I mean every word of it. I will make it part of my mission to see to it that they are tried and executed."

"There is going to be war, [and Christians may be called to] take up the sword to overthrow the tyrannical regime that oppresses them."

Joana disse...

" enquanto ateus dever-se-iam abster de abrir a boca, ponto"

Isso não é só nos States. É só ver o que a beatada escreve aqui para perceber como ficam indignados cada vez que um ateu escreve alguma coisa sobre religião.

Como é que um ateu tem a lata de abrir a boca em vez de ficar caladinho e envergonhadinho no seu canto, agradecido pela magnânime tolerância cristã que já não os manda para o churrasco?

Anónimo disse...

ser ateu e conseguir ter a compreensão para o ser é uma grande liberdade para o homem e sem duvida a chave para o entendimento dos povos, só gente burra se preocupa mais com o misticismo do que com a vida qualquer que seja a sua forma.

Joana disse...

Sobre o politicamente correcto de esquerda e religião - que diz que o cristianismo pode ser atacado mas defende com unhas e dentes o islamismo, porque é "étnico"-, no Blasfémias:

Ehsan Jami nasceu no Irão e vive na Holanda. Fundou um comité de apoio àqueles que tendo sido muçulmanos se tornam apóstatas. Ehsan Jami foi violentamente agredido por três homens.
As notícias s0bre a agressão de que foi vítima são um exercício de má fé.
Veja-se o que publicou o Le Monde:


Segue-se os disparates do Le Monde que acha que ele foi agredido e recebe ameaças de morte com justa causa porque é um extremista porque é ateu ... e se juntou ao partido conservador para formar o comité.

Mais:

HYDERABAD, India - Dozens of Muslim protesters led by three lawmakers attacked an exiled Bangladeshi writer at the release of her book in southern India on Thursday, calling her “anti-Islam,” and telling her to go back to her country.

(...)Nasrin fled Bangladesh in 1994 when Islamic extremists threatened to kill her after an Indian newspaper quoted her as saying changes must be made to the Islamic holy book, the Quran, to give women more rights.

A história e follow ups no The Hindu.

Anónimo disse...

O problema dos crentes, todos e em todos os lados, é que os ateístas não aceitam a sua condição de cidadãos de segunda. Os crentes cristãos, até são tolerantes e «consentem» que haja ateus sem os tratarem como os muçulmanos - a pena pela apostasia é a morte. A mania dos ateus em abrirem a boca é que é demais!

Há um artigo no New York Times (de 2001) que conta como os bons velhos tempos de Carlin não são assim tão velhos:

Confessions of a Lonely Atheist

Qunado estive no Texas há uns anos descobri que um ateu no Texas não pode ser funcionário público. Alguém sabe se há mais estados em que isso acontece?

Coisas importantes: já conhecem OUT Campaign do Dawkins?

Joana disse...

João Paulo:

Para além do Texas há mais 8 estados que discrimam ateus. No total em 7 estados os ateus não podem ter cargos públicos. Há uns tempos houve um abaixo assinado da beatada que queria correr com um senador da Califórnia que "saiu do armário" e disse que era ateu. Azarinho, não conseguiram, mas andam a ulular que os cristãos estão a ser perseguidos porque há um ateu e um muçulmano do Congresso (há 535 congressistas...).

Aqui vai a lista:

Arkansas State Constitution, Article 19 Section 1

No person who denies the being of a God shall hold any office in the civil departments of this State, nor be competent to testify as a witness in any court.

Maryland's Declaration of Rights, Article 36
"That as it is the duty of every man to worship God (...); wherefore, no person ought by any law to be molested in his person or estate(...) provided, he believes in the existence of God, and that under His dispensation such person will be held morally accountable for his acts, and be rewarded or punished therefore either in this world or in the world to come."

Massachusetts' State Constitution, Article 3
"Any every denomination of Christians, demeaning themselves peaceably, and as good subjects of the commonwealth, shall be equally under the protection of the law".

Mississippi State Constitution. Article 14, Section 265
No person who denies the existence of a Supreme Being shall hold any office in this state.

North Carolina's State Constitution, Article 6 Section 8
"Disqualifications of office. The following persons shall be disqualified for office: First, any person who shall deny the being of Almighty God."

Pennsylvania's State Constitution, Article 1 Section 4
"No person who acknowledges the being of a God and a future state of rewards and punishments shall, on account of his religious sentiments, be disqualified to hold any office or place of trust or profit under this Commonwealth"

South Carolina's State Constitution, Article 4 Section 2

"No person shall be eligible to the office of Governor who denies the existence of the Supreme Being; ..."

Tennessee's State Constitution, Article 9 Section 2
"No person who denies the being of God, or a future state of rewards and punishments, shall hold any office in the civil department of this state."

Texas' State Constitution, Article 1 Section 4
"nor shall any one be excluded from holding office on account of his religious sentiments, provided he acknowledge the existence of a Supreme Being."

PS. Esta é gira:

It is objected that the people of America may, perhaps, choose representatives who have no religion at all, and that Pagans and Mahometans may be admitted into offices. But how is it possible to exclude any set of men, without taking away that principle of religious freedom which we ourselves so warmly contend for? James Iredell, during the debate on the adoption of the Federal Constitution by the North Carolina Convention.

Joana disse...

Enganei-me nas contagens e nas pastagens: são 8 (oito) estados nos US of A cujas constituições proibem ateus nos cargos políticos.

Esqueci-me do artigo 37 da constituição do Maryland, que, tal como a Sharia, no artigo 36 só aceita como válidos testeminhos de gente de fé, que acredite no Céu, Inferno e Purgatório.

Aqui vai:

Article 37:
"That no religious test ought ever to be required as a qualification for any office of profit or trust in this State, other than a declaration of belief in the existence of God;"

Gabriel Peregrino disse...

Hitler não acreditava que o Homem fosse primo do macaco (pelo menos os Arianos), provavelmente por uma questão de coerência com o ideal da raça superior, mas acreditava na selecção natural. A ponto de, nos dias finais da guerra, ter desejado a destruição da Alemanha, por esta se ter deixado vencer pelos Russos. Considerava a Alemanha indigna de sobreviver (a este respeito recomendo o recente filme "A Queda").

Gabriel Peregrino disse...

P.S: Quanto ao "cristianismo" de Hitler, não era genuíno. Expurgou do cristianismo todas as influências judaicas (o que equivale a dizer que 'apagou' 80% do cristianismo) e via a o amor cristão e a apologia do perdão como um fraqueza. Nesse sentido, a "religião" de Hitler tinha mais a ver com o reavivar do paganismo germânico.

Anónimo disse...

Pior que ser ateu nestas paragens é quase de certeza ser ateia. Normalmente as religiões têm códigos de conduta especiais para as mulheres. Não estarem especificados nestes artigos deve significar que não existem muitas e as que existem não sabem o que dizem, só não acreditam em deus porque os seus cérebrozinhos não têm capacidade para tal, ou seja, não contam como ateus!
Indigna-me que nenhum homem de fé (o Daniel de Sá, por exemplo) considere o que é descrito neste post e comentários anteriores um atentado à inteligência da humanidade.

guida martins

Anónimo disse...

Fico com algumas dúvidas se o direito à indignação será a expressão correcta para os sentimentos que alguns actos ou palavras nos podem suscitar. Indignação é para mim um vocábulo suspeito, por um lado, insondáveis conotações com indigno tornam-no dúbio, por outro, representa uma acção geralmente inconsequente.

Na perspectiva dos crentes, os ateus, ou não são dignos de se indignarem, ou indignos como são, só se podem indignar perante eles. Adiante que esta conversa, como diria a professora Palmira, não passa de mais uma minudência. Por outro lado, o termo é perfeito porque hoje em dia não nos restarão muito mais direitos para além do da indignação. Tanto melhor se pudermos juntar o direito ao prazer de ser sarcástico e formos podendo (os que podem) gracejar e ironizar com tantos papeis ridículos que a generalidade dos crentes não se importam nada de assumir.

Artur Figueiredo

Anónimo disse...

Em comunidades de pequena dimensão os ateus são vistos como seres vindo de outro planeta: -Prontos! Para ali estão aqueles ET's sem os mesmos hábitos nem os mesmos temas de conversa. Mas na generalidade, os crentes têm tendência a olhar os ateus, ou como cabeças no ar que ainda não tiveram tempo para pensar na coisa, ou, como as suas opiniões tendo origem na ira e na revolta contra o criador por não conseguirem entender as agruras ou contratempos da realidade. De facto este tipo de opinião não passa de mais uma ilusão dos crentes, como se não fosse suficiente a Grande Ilusão. Pura e simplesmente, os patetas dos religiosos, ao longo de milénios de crenças, religiõesinhas e deusinhos, não produziram uma única prova da existência de uma entidade responsável pela criação (exceptuando claro, a prova do "isto é muito complexo logo foi deus"). Pelo contrário, baseiam-se na "experiência pessoal" para efabular sobre o divino esquecendo que a realidade não se adequa às interpretações pessoais por muito equilibradas ou extremas que possam ser.

Muita gente teima em não querer perceber que o nível da expressão pessoal (a arte, por exemplo) é distinto do nível da ciência relativamente à interpretação da realidade. E nisto os religiosos não estão sós.

Artur Figueiredo

Anónimo disse...

As discriminações são tão frequentes na nossa sociedade, que a dos ateus é só mais uma e, é salutar a atitude, frequente neste blog, dos crentes se colocarem no papel de vítimas porque isso, é mais uma expressão da liberdade individual :) (: Ainda bem que a liberdade individual dá para tudo! É aliás a coisa que conheço mais parecida com icetea porque nos dá muitas vezes a possibilidade de gritar: Mudasti! Mudasti! - Percebo que as religiões sejam anormalmente lentas a acompanhar as mudanças sociais, mas com a necessidade actual do mercado dar sabor a tudo, não seria altura de começar a pensar disponibilizar hóstias sem álcool e sabor a morango. Dos americanos, que só reconhecem o conceito de progresso económico, nada mais é de esperar do que atropelos aos direitos humanos. Gente que mede o desenvolvimento pela proliferação de boutiques hamburguer não devia merecer o respeito de uma sociedade civilizada.

Necessitar de um qualquer Livro para perceber que devem existir principios de relacionamento entre os seres humanos e entre estes e o que os rodeia e que esses devem estar presentes durante a existência das coisas e dos seres ou é sintoma de preguiça na utilização das nossas capacidades, ou resulta de se acreditar que a deriva existencial aleatória dos seres humanos é mais uma praga imposta pelo criador para pagamento de um qualquer pecado ante-existencial. A não ser que acreditem que, se não fossem as religiões ao longo da História ainda estaríamos todos por aqui à dentada a tudo o que mexesse :) Mas nós, claro, damos o desconto aos americanos que ainda há duzentos anos tinham como entretém coleccionar escalpes Grrrrr! Ou louvamo-los porque no mesmo período, do nada fizeram uma nação, carago! Que heróis!

Artur Figueiredo

Anónimo disse...

Sempre me confundiu o facto de, exceptuando os seres humanos, os restantes seres vivos não terem também a incumbência e obrigação de amar o senhor e o venerar em locais próprios. Será que foi o senhor que se distraiu um bocadinho (gafe grandinha, diga-se de passagem, um senão difícil de apagar de qualquer currículo profissional) deixando-os com essa folga, ou será que as andorinhas vão para África em peregrinação? Que eu já não digo nada, desde que soube que a Suiça (e não só) sob proposta de um voluntarioso deputado verde, está toda empenhada na discussão do direito de voto a partir do nascimento da criança. (Aqui confesso que não sei se deixe um sorriso se um grito de ira).

Discordo com a opinião que li nalgumas caixas de comentários de que as declarações do icar só interessam aos católicos. Na minha opinião, elas só interessam a meia dúzia de católicos, os teóricos, porque para a esmagadora maioria deles, a eloquência papal não é melodia que qualquer pífaro tradicional católico não suplante. Penso aliás, que os exemplos dos profetas e os mandamentos por eles definidos não têm qualquer significado no dia a dia da maioria dos sócios das religiões, e, contando-se por meia dúzia os verdadeiros cristãos ou verdadeiros maometanos, não se justifica o peso e poder que estas religiões continuam a ter e o incremento a que se tem assistido de tanto negócio religioso new age. Justifica-se claro, porque têm poder económico que os crentes e papalvos continuam a suportar. Não percebo se as causas para a permanência desta postura se situam exclusivamente no âmbito do medo resultado de valores pouco sólidos ou se terão validade afirmações do tipo: É a estética actual que propicia a astrologia ou, o transporte de um qualquer amuleto. O exotismo tem capacidade de atracção suficiente para suportar de búzios a cristais purificadores. Ou então (como podem ver sou sempre uma pessoa cheia de dúvidas:), é tendência humana gostar de as ver de véu e cauda e deliciarmo-nos com banhos de arroz! Ou, nada como uma xícara de água na testa de um bébé envolto em branco para lhe alertar o espírito menino/a.
Afinal, se as crianças podem fazer a sua opção religiosa de tenra idade, porque não poderão fazer as suas opções políticas?

Artur Figueiredo

Anónimo disse...

Resposta à Guida
Como quer que eu responda se, a ser verdade o que a Joana afirmou aí mais para trás, eu sou parvo? Confesso que nunca tinha dado por isso. Mas nenhum parvo está convencido de que o é.
A indignação contra mim mesmo por finalmente ter descoberto, por análise alheia, que sou parvo, leva-me a julgar que a indignação que estas tolices me causaram se deve à minha parvoíce e não à dos seus autores.
Daniel

Joana disse...

Os golpes de costas do Filipe Alves são o máximo :) Então o Hitler não acreditava na evolução das espécies mas acreditava na .... evolução das espécies por selecção natural?

Os neurónios dos crentes devem estar tão enroladinhos de tanta contorção para deturpar a realidade à medida das suas crenças que eles não percebem os disparates que escrevem :)))

Joana disse...

O Daniel de Sá amuou :)))) Num post em que fala de patetadas apresentadas com pompa e fanfarra numa «das mais respeitadas» revistas católicas «do mundo». Mas que conveniente :)

E já não há pachorra para a beatada que usa a falácia do verdadeiro escocês para tudo quanto é facínora cristão!

O Daniel de Sá diz que o Salazar não era um verdadeiro cristão, provavelmente, tal como Filipe diz do Hitler, era um ateu empedernido ou um pagão. O Cerejeira também não devia ser um verdadeiro cristão, nem a Lúcia, que confirmou ao cardeal Cerejeira a missão divina de Salazar, prontamente transmitida ao enviado de Deus, em 13 de Novembro de 1945.

Nem os signatários doutra elegia de Salazar, a Carta Pastoral «Transformação consoladora: Portugal ressurge do seu abatimento», escrita pelos bispos portugueses em 1942, para assinalar os 25 anos dos acontecimentos de Fátima.

Stepinac, outro facínora virado santo, Franco e Pinochet é que são mais difíceis de dizer que não eram cristãos à séria

O conselheiro espiritual de Franco era o "santinho" a martelo Escrivá, e em 1936 Pio XI despoleta a Guerra Civil Espanhola ao dizer que é obrigação dos católicos espanhóis lutarem lado a lado com Franco na «difícil e perigosa tarefa de defender e restaurar os direitos e a honra de Deus e da Religião»

Pinochet é ainda mais complicado... Não só o seu conselheiro espiritual era tb o "santinho" Escrivá, como João Paulo II, Papa pela graça do Opus Dei e sobre o cadáver precoce de João Paulo I, de Augusto Pinochet e Esposa disse: «São um casal católico modelo».

E Pinochet era um reconhecido defensor incondicional da vida ao gosto do Daniel: por obra e graça do católico exemplar foi revogada a excepção que permitia o aborto terapêutico, mesmo em caso de perigo certo de vida para a mulher!

No caso de uma gravidez ectópica a lei exige que o feto morra - o destino certo de uma implantação fora do útero - ou a trompa rebente para ser removido, colocando em sérios riscos a vida da mulher. Sim que isto de interpretações «liberais» da doutrina católica com o duplo efeito não é para católicos exemplares!

Joana disse...

Como diz a Palmira "A minha capacidade de indignação atinge o seu limite quando vejo escancarado mais um estafado reductio ad Hitlerum" e acho que "o facto de Hitler ser criacionista (e católico) não é argumento para nada". O Hitler era vegetariano e abstémio e isso não implica que os vegetarianos e os abstémios são psicopatas!

Salta-me a tampa quando vejo a beatada a usar Hitler como exemplo do mal que vem ao mundo devido à "crença" no evolucionismo ou devido ao ateísmo!

Porque o Hitler era criacionista e católico - e nunca foi excomungado, como nunca um único nazi foi excomungado, ao contrário dos comunistas que foram excomungados em massa em 1949.

Qunado soube que Hitler tinha morrido o cardeal Bertram ordenou que em todas as igrejas da sua arquidiocese fosse rezado um requiem especial, «uma missa solene de requiem em lembrança do Führer».

Bertram, que seguiu religiosamente a tradição de celebrar o aniversário de Hitler, iniciada por Eugenio Pacelli (depois Pio II) e no 20 de Abril de todos os enviava «as mais calorosas congratulações ao Fuhrer em nome dos bispos e das dioceses alemãs» nunca foi excomungado.

Nem o devoto monsenhor Josef Tiso que chefiou um regime pró-nazi na Eslováquia depois de a Hitler ter invadido as regiões checas em Março de 1939. Tiso, que pregava aos eslovacos que constituía «um acto cristão expulsar os Judeus de modo a que a Eslováquia pudesse libertar-se das sua pragas», foi executado em 1947 pelos crimes cometidos, indefectível até ao fim de Hitler, mas não foi excomungado.

Nem foram excomungados os bispos, cardeais e restante tralha que apoiou entusiasticamente a «solução final». Não foi excomungado o cardeal Heil Hitler, Theodore Innitzer, arcebispo de Viena, o bispo militar católico Franz Justus Rarkovski, líder espiritual dos padres incorporados na Wehrmacht, o cardeal August Hlond, o chefe da ICAR polaca, em Fevereiro de 1936, emitiu uma carta pastoral «Sobre os princípios da moral católica» onde dizia «Enquanto os judeus continuarem a ser judeus, existe e continuará a existir um problema judaico...»; ou os chefes da ICAR lituana que «proibiram os padres de ajudar os Judeus fosse de que forma fosse».

Anónimo disse...

Para a Joana
“Albachente é um pequeno povoado que parece resumir Espanha nas ruínas do seu castelo mouro e de um velho convento abandonado. Ali, onde o silêncio estival dos hortos e dos campos só faz concessões aos cucos e às cigarras, o espaço infinito do céu parece diminuído pela vastidão da paisagem. /..../
Secularmente mais longe, mouros e cristãos odiaram-se em combates por amor ao mesmo Deus. E, em três anos de um medo ainda recente e que a memória não esquece, os homens andaram divididos numa guerra em que as duas partes lutaram pelo bem da mesma pátria.”
Estas são as palavras com que abri (saltei alguns períodos) a minha primeira aventura literária em livro, uma novela cujo ambiente é o da Guerra Civil espanhola. Pode crer, Joana, que há poucas coisas que eu conheça tão bem como essa história negra. Estive três anos em Valência, que foi a última cidade a cair sob Franco. Haviam passado apenas trinta e um anos desde a paz forçada quando lá cheguei. Já tinha lido muito acerca desta guerra. Lá, conheci muita gente que a viveu de um lado e outro. O tal seminário de que você suspeitou ficava a dois km de Rocafort, onde esteve o governo de Azaña e um dos meus poetas preferidos, António Machado. Durante esses três anos, recebi todos os números do jornal diário em que colaborava, excepto um: aquele em que escrevi acerca da guerra. (Serve de sinal razoável do sentido que dei a esse artigo?)
O problema é que eu sei o que houve antes, durante e depois da guerra. Um dos meus ídolos é Miguel Hernández, que a Guarda Nacional Republicana deteve na fronteira e mandou para a morte nas prisões de Franco. Sei que os republicanos mataram muitos padres, mas também sei que Franco mandou matar cerca de trezentos: de um lado e outro matavam-se inimigos políticos, apenas. Também estive em Granada, e fui passear muitas vezes para a última estrada que Lorca percorreu ainda vivo. É outro dos meus poetas de estimação.
Já me alonguei. Se tiver curiosidade em conhecer Luchente (a povoação a que chamei Abachente na novela), pode ir ao Google e escrever, por exemplo: Luchente ermita. Clicando no mapa que lá aparece, estão o convento e o castelo, já recuperados. E a ermida, que tem uma foto da década de 1970 em que alguma da cal das paredes era ainda da que tinha sido dada por mim mesmo.
Boa noite.
Daniel

Gabriel Peregrino disse...

Joana, a sua inteligência e conhecimento da História não deixam de me espantar... De facto, Hitler não acreditava que o Homem fosse parente do Macaco, por uma questão de coerência com o ideal ariano (note-se que a concepção nazi de Homem não era semelhante à nossa, excluindo uma larga parte da humanidade que, essa sim, para Hitler descendia do macaco). Mas acreditava na selecção natural e na sobrevivência do mais forte. Daí que defendesse palermices como a pureza da "raça" e a aplicação da eutanásia a doentes mentais e outros 'indesejados'. Recordo-lhe que, durante toda a sua vida, Hitler foi um autodidacta que basicamente só lia porcarias. A biblioteca pessoal dele (que, julgo, foi levada pelos russos) era composta por imensos livros de pseudo-ciência e ocultismo. É natural que ele retirasse do Darwinismo apenas a parte que lhe interessava (a sobrevivência do mais forte) e colocasse de parte a 'origem das espécies'. Quanto ao 'catolicismo' de Hitler, recordo-lhe que uma das coisas que mais gostava de repetir era que a sua "missão final" (após a derrota do bolchevismo e da "judiaria internacional"), seria a destruição do Vaticano e da Igreja. O Estado Nazi era neo-pagão.

Gabriel Peregrino disse...

P.S.: Joana, quanto ao papel da Igreja durante o Holocausto, mais uma vez a recordo do carácter falível e plural da Igreja, que é feita de homens e mulheres de carne e osso. Além disso, não se esqueça de referir as milhares de vidas que foram salvas devido à acção do Papa Pio XII (o próprio rabino de Roma o admitiu) e por centenas de bispos, padres, freiras e frades por toda a Europa (por exemplo, milhares de crianças judias foram escondidas em lares católicos, com instruções expressas do Vaticano). Além disso, acha mesmo que serviria de algo a excomunhão de Hitler pelo Papa? Acha mesmo que a máquina de guerra nazi seria afectada??? Uma acção dessa natureza teria apenas duas consequências: a destruição da Igreja europeia e a perda de milhares de vidas. Se nem na Idade Média a excomunhão de reis e imperadores resultava a 100%(o rei de França chegou até a mandar bater no Papa), acha mesmo que no século XX a excomunhão de Hitler teria algum resultado???

Joana disse...

O Filipe Alves anda a ler muito revisionismo histórico católico e na sua linha de defesa intransigente da irracionalidade e do erro acha que tem o direito a dizer ddisparates históricos.

Só não é disparate hoistórico dizer que o Hitler basicamente só lia porcarias. Concordo que são porcarias as leituras dele como a Bíblia e o lixo católico que se escrevia na época.

Tirado do The Popes Against the Jews: The Vatican's Role in the Rise of Modern Anti-Semitism , do historiador David I. Kertzer, duas vezes galardoado com o Prémio Marraro da Sociedade para Estudos Históricos Italianos.

Este argumento [referindo-se às mentiras descaradas constantes no «Nós lembramos - uma reflexão sobre o Shoah»] , infelizmente, não é o produto de uma Igreja que quer confrontar a sua história. Se os judeus adquiriram direitos iguais na Europa dos séculos XVIII e XIX tal foi conseguido contra os furiosos, estridentes e de facto indignados protestos da Igreja e do Vaticano. (...)

O Padre De Rosa nota com pena a campanha de um século contra os judeus do jornal Civilta cattolica observando que o jornal só alterou o rumo em 1965, na sequência do Concílio Vaticano II. (...) Ele então lista algumas das acusações feitas regularmente nas páginas do jornal: «que os judeus combatiam a Igreja, que praticavam o assassínio ritual de crianças cristãs, que tinham um poder político enorme nas mãos ao ponto de controlarem governos e, acima de tudo, que possuíam uma enorme riqueza, obtido por usura, e tinham assim uma inacreditavelmente forte influência económica, que usavam em detrimento do cristianismo e dos cristãos». O padre De Rosa acrescenta, com muita correcção, que o jornal jesuíta não estava sózinho na produção destas acusações porque elas enchiam as páginas de muitas das principais publicações católicas.

De forma a ilustrar o anti-judaísmo do Civilta cattolica (por oposição ao anti-semitismo [um sofisma da Igreja Católica, que pretende nunca ter sido anti-semita, apenas anti-judaica]) ele mostra algumas passagens de artigos do jornal da autoria dos padres Rondina e Ballerini nos anos 1890. Estes contam histórias da apetência dos judeus pelo domínio do mundo, a sua fome de ouro, e a sua crença de que os cristãos não eram melhores que animais. Onde quer que os judeus vivessem, nas palavras destes autores, elas 'formam uma nação estrangeira e juram inimizade ao bem estar das pessoas'. O que deviam os bons católicos fazer a esta terrível ameaça à sua vida e felicidade? A resposta oferecida nas páginas do Civilta cattolica era clara: A igualdade civil dos judeus devia ser imediatamente revogada, porque 'eles não tinham algum direito a ela' permanecendo para sempre 'estrangeiros em todos os países, inimigos do povo de qualquer país que condescenda em os albergar'».

Na introdução o autor lembra que forçar os judeus a usar tarjetas de identificação amarelas e mantê-los fechados em ghettos não é uma invenção dos nazis no século XX mas uma política advogada pelos Papas - e seguida religiosamente nos estados papais e em alguns países mais obedientes ao Papa - durante centenas de anos.

Joana disse...

Esqueci-me de pôr um link para o livro. Aqui vai

The Popes Against the Jews

Mais livros:

The Catholic Church and the Holocaust, 1930-1965, do historiador Michael Phayer

Do mesmo historiador o artigo Pope Pius XII, the Holocaust, and the Cold War no «Holocaust and Genocide Studies», publicado pela Oxford University Press em associação com o United States Holocaust Memorial Museum.

«Questões acerca da liderança moral de Pio XII vieram a lume pouco depois da sua morte em 1958. Estas questões iniciaram-se com as declarações de bispos alemães na altura do julgamento sensacional de Adolf Eichmann em Jerusalém e nas vésperas do concílio Vaticano II em 1960. Julius Doepfner, cardeal de Munique, falou de decisões lamentáveis que foram feitas pelos líderes da Igreja durante a era nazi e os bispos alemães pediram colectivamente desculpa pela deshumana exterminação do povo judeu. (...)

A dificuldade em entender o silêncio de Pio XII em relação ao Holocausto reside no facto de que católicos de todas as posições estavam sempre a lembrá-lo disso. O mais persistente foi Konrad Preysing, bispo de Berlim, que escreveu 13 vezes a Pio XII em apenas 15 meses. Quando Pio XII finalmente respondeu ao seu amigo da era Weimar não era o futuro dos judeus mas o futuro do catolicismo e da Igreja que o preocupava.

E enquanto o Vaticano demonstrou um interesse especial em conseguir libertar os perpetradores do Holocausto, e, como vimos, teve de ser restringido nesse propósito pelo seu enviado, o Bispo Muench, demonstrou pouco ou nenhum interesse na questão da restituição para os sobreviventes do Holocausto. (...)

Se o Holocausto não foi causa suficiente para Pio XII se desligar da Alemanha durante a guerra, não é surpresa que o antisemitismo, a restituição e a aplicação de justiça a criminosos de guerra não fossem as suas prioridades durante a Guerra Fria».

Joana disse...

E vale a pena ler o artido da historiadora Susan Zuccotti, «L'Osservatore Romano and the Holocaust, 1939-1945»
Holocaust and Genocide Studies - Volume 17, Nº 2, 2003, pp. 249-277, Oxford University Press.

A pesquisa exaustiva da historiadora nos arquivos do jornal oficial do Vaticano indica a presença constante de artigos anti-semitas até finais dos anos 1930. Na década de 40 o L'Osservatore Romano nunca mencionou as atrocidades do regime nazi nem depois da libertação de Roma em 1944.

Em 16 de Outubro de 1943, cerca de 1 259 judeus romanos foram extraditados para os campos de concentração nazis, mesmo debaixo do nariz do Papa, que não mexeu alguma vez uma palha em defesa dos judeus italianos!

Não admira! Basta ler isto (Roncalli, depois João XXIII):

Mons. Roncalli, Carta à família, em 25 /12/39, apud Hebblethwaite, Giovanni XXIII, Rusconi Milano, 1989, p. 230.
«Benditos nós em Itália. Desta vez é preciso mesmo dizê-lo: há uma mão que guia o Duce pelo bem dos italianos. Eu creio que Deus queira recompensar governantes e súbditos pela paz feita com a Igreja (...) E é preciso que sejamos reconhecidos a Mussolini. Quantos homens de Estado houve na Itália antes dele! Os Papas sempre estiveram dispostos à conciliação, mas sempre faltou o homem capaz de lhes corresponder da parte do Estado».

Joana disse...

Para finalizar, não posso deixar de reparar que o Filipe, um cruzado pela liberdade de as pessoas viverem alienadas com superstições, religiões ou 'desígnios inteligentes', que chama Torquemadas da razão aos que denunciam os erros das patetadas New Age entra em contradição :)))

Onde é que está a coerência com as suas tiradas indignadas contra os que torturam com a verdade as pobres cabecinhas não-pensadoras neste parágrafo:

Recordo-lhe que, durante toda a sua vida, Hitler foi um autodidacta que basicamente só lia porcarias. A biblioteca pessoal dele (que, julgo, foi levada pelos russos) era composta por imensos livros de pseudo-ciência e ocultismo.

Mau, afinal a pseudo-ciência e o ocultismo são porcaria?

Ou só os católicos é que podem denunciar "porcarias"? Os ateus deviam remeter-se ao seu papel de cidadãos de segunda categoria e estar de boca fechada?

Presunção e água benta :))))))))

Gabriel Peregrino disse...

Olhe, Joana, leia bem o que escrevi... eu disse várias vezes que a tolerância não implica ausência de critica. Hitler lia porcarias, tal como muita gente por esse mundo fora. Eu não acredito em bruxas, astrólogos, tarólogos, gurus e outros que tais. Acho que são porcaria. Nem acredito no seu amigo Dawkins, cuja obra também é porcaria (um longo manifesto de ódio e intolerância). Mas bato-me pelo direito dessas pessoas a lerem e a acreditarem nas suas 'porcarias'. E não os tento demover das suas crenças, com o 'zelo missionário' que tanta boa gente - neste blog e fora dele - demonstra. Basicamente, é isso que nos distingue. Se depois de tudo o que escrevi ainda não percebeu isto, tenho pena. Quanto às ideias que a Joana tem da Igreja, volto a dizer que não passam de uma caricatura de uma comunidade que é mais vasta e plural (para não dizer heterodoxa) do que possa pensar. Mais uma vez, tenho pena que não atinja isso!

Gabriel Peregrino disse...

Quanto à velha polémica sobre o dito "Papa Nazi", tenho mais que fazer. O que eu sei é que o Papa vivia num país dominado por um regime totalitário e que depois (1943) foi ocupado por outro ainda pior. O que eu sei é que nem o Papa escaparia ao poder do Reich, se Hitler assim o entendesse. O que eu sei é que foram salvas milhares de vidas por acção da Igreja em toda a Europa. Quanto ao resto, se o Papa era apoiante de Mussonini (recordo lhe que a citação que usou foi provavelmente empregue aquando da assinatura do Tratado de Latrão, que terminou com a querela entre a Igreja e a novo reino da Itália unificada), ou se simpatizava com a extrema direita, basicamente não me diz respeito. Não "visto a camisola" a esse ponto. Como escreveu, sou uma "besta obscurantista e herege", que se há de fazer!

Joana disse...

Ó Filipe:

Não se enterre mais :)) Até dá dó a mim que sou ateia estar a vê-lo dar tiros nos pés atrás de tiros nos pés desta maneira.

Deixe estar, já deu para a gente perceber o que o Filipe (não) pensa. Pense antes que o seu papa disse que os católicos deviam dar o exemplo da fé na sua conduta para atrair os incréus.

Quer-me parecer que não está a dar um bom exemplo, mas isto se calhar sou eu que não atinjo o que o Filipe quer dizer :)))))))

Gabriel Peregrino disse...

Sim, não estou a dar um bom exemplo. Sou um mau cristão, que não segue à risca as indicações papais. E quê? Há algum problema com isso? Isso diz-lhe respeito? O seu erro é achar que por alguém se dizer católico tem de agir e pensar de determinada forma. E isto porque, volto a dizer, o seu conhecimento sobre a Igreja - enquanto comunidade de crentes - roça a caricatura. E isso, cara Joana, tem um nome: ignorância. Experimente pensar um bocadinho, ó paladina da Razão!

Joana disse...

O que eu sei é que o Papa vivia num país dominado por um regime totalitário e que depois (1943) foi ocupado por outro ainda pior.

Regime totalitário que chegou lá com muita ajudinha do Homem providencial, Mussolini, que Pio XI condecorou na ocasião da celebração do décimo aniversário da sua tomada de poder com l'Ordine dello Speron d'Oro.

Mussolini retribuiu com o Collare dell'Annunziata para Eugenio Pacelli, núncio apostólico na Alemanha de Hitler e futuro Pio XII.

Pio XI na enciclica Non Abbiamo Bisogno em que se queixa que Mussolini ao contrário do que tinha prometido não dava rédea solta à Igreja para lavagens cerebrais nas escolas e fazia ele a lavagem com o fascismo:

«Nós não dissemos que queremos condenar o partido [fascista]». «Nós realizámos um bom trabalho em prol do partido [fascista]» e «Já dissemos que conservamos e conservaremos uma lembrança e uma eterna gratidão pelo que foi feito em Itália pelo bem da religião».

Agora dizer que a Itália ter-se unido aos Aliados em 1943 e ter declarado guerra à Alemanha deu origem a um regime ainda pior é que não cabe na cabeça de um tinhoso! Okay, os fascistas só capitularam em Abril de 1944 mas mesmo assim...

Gabriel Peregrino disse...

Depois de "besta", "tinhoso"... vamos no bom caminho... tomou chá quando era miuda?? Já agora, para sua informação, 'Miss Einstein', a Itália foi ocupada pelos Nazis em 1943, depois de o rei demitir e mandar prender Mussolini. Com o seu antigo aliado prestes a mudar de campo, Hitler mandou ocupar grande parte da Itália e enviou um grupo de comandos para libertar Mussolini. O 'Duce' foi depois levado para o Norte, onde os alemães criaram um estado fantoche, a "República de Saló". O "regime pior" a que me referia era, obviamente, o III Reich.

Joana disse...

Bolas, muito gostam os católicos de se armarem em vítimas, primeiro lêem bestas inexistentes depois usam expressões populares para ulularem que foram insultados.

No meio, baralham a história toda. Mussolini governou toda a Itália com a benção do Vaticano entre 1922 e 24 de Julho de 1943 e a República de Saló (cada vez mais pequenina à medida que o governo italiano chefiado pelo marchal Pietro Badoglio e pelos aliados avançavam) entre 23 de Setembro de 1943 e finais de Abril de 1945 quando foi fuzilado pela resitência italiana. Não sei onde entra o III Reich aqui que não tenha entrado antes que tanto atormentasse o papa nazi.

O governo italiano de facto declarou guerra à Alemanha em Outubro de 1943. Roma foi lbertada pelos aliados em 4 de Junho de 1944.

Joana disse...

ups, umas quantas gralhas nos aliados e nas datas no comentário das 13:10, mas acho que dá para perceber o que quero dizer :)

Gabriel Peregrino disse...

Joana, Roma foi ocupada pelos Nazis durante quase um ano (entre Outubro de 43 a Junho de 44, segundo as datas que você própria refere). A ocupação alemã não foi propriamente doce, com fuzilamentos em massa e deportação de judeus, entre outras atrocidades. O Vaticano fica em Roma, caso não saiba. E olhe, "ulule" o que quiser. Este católico está mais preocupado com o crash da bolsa do que com as suas "ululações".

Joana disse...

É, mais de 20 anos de regime fascista com deportações de judeus e fuzilamentos em massa (de indesejáveis comunistas e outros resistentes) e os papas caladinhos, ... em relação aos nazis e fascistas. Para denunciar os comunistas todas as palavras e encíclicas foram poucas.

Comparado com o que aconteceu durante o regime com benção do Vaticano, os 9 meses de ocupação nazi é que foram mesmo mesmo maus... Abençoado revisionismo histórico!

Anónimo disse...

Palmira, uma ligeira correcção:
É «a» Weltanschauung. Não «o». Tanto o português «visão» como o alemão «Anschauung» são substantivos femininos.
Um abraço
Adelaide Chichorro Ferreira

Gabriel Peregrino disse...

Joana, não creio que seja "revisionismo histórico" afirmar que o Fascismo italiano era um regime mais suave que o III Reich. Sem querer branquear Mussolini, que era um tirano sem escrúpulos e um assassino, Hitler era muito pior.

Joana disse...

Sem querer branquear Hitler, o regime católico de Ante Pavelic na Croácia era muito, mas muito pior. Tão pior que os nazis tiveram de inetervir para acalmar o zelo católico dos Ustasa.

Auschwitz era um paraíso ao pé de Jasenovac - o campo de concentração dirigido por padres.

No entanto, o Vaticano ajudou Pavelic a fugir para a Argentina (depois fugiu para a Espanha de Franco, onde morreu na paz católica, de certeza perdoado por todos os seus pecadilhos) via mosteiro de San Girolamo. JPII beatificou o facínora do Stepinac, que ajudou Pavelic a cumprir os seus propósitos: exterminar os judeus e ciganos, exterminar um terço dos sérvios (ortodoxos), expulsar outro terço e converter ao catolicismo os restantes.

O Vaticano os massacres cometidos como sendo apenas «problemas de um novo regime» («teething troubles of a new regime» foi a expressão usada pelo secretário de estado do Vaticano, Monsenhor Domenico Tardini).

Ah, e Miroslav Filipovic, o Frei Morte, tb não foi excomungado. Nem o padre Padre Franjo Kralik, autor desta coisa:

«Os descendentes daqueles que odiaram Jesus, que o condenaram à morte, que o crucificaram e imediatamente perseguiram os seus discípulos, são culpados de excessos muito maiores que os dos seus antecessores... O movimento para libertar o mundo dos judeus é um movimento de renascimento da dignidade humana. O Todo Poderoso e omnisciente Deus está por trás deste movimento»
Padre Franjo Kralik «Porque são perseguidos os judeus, » artigo na Acção Católica croata, Maio de 1941.

Bibliografia recomendada:

«Convert or Die: Catholic Persecution in Yugoslavia During World War II» Edmond Paris
«The Yugoslav Auschwitz and the Vatican» Vladimir Dedijer
«Witness to Jasenovac's Hell» Ilija Ivanovic

Gabriel Peregrino disse...

Joana, a única razão porque considera "pior" o regime croata era porque tinha padres à mistura. É a diferença entre você e eu: eu reconheço as falhas históricas da Igreja a que pertenço (e não são poucas!). Você, ao invés, só reconhece as falhas que lhe interessam. E esquece-se de todas as coisas boas que, desde há dois mil anos, foram obra de pessoas ligadas à Igreja (e note que eu vejo a Igreja como uma comunidade de crentes e não apenas como a hierarquia). Hitler, Mussolini e Pavelic eram monstros. Humildemente, considero que Hitler era pior, porque matou muitas mais pessoas. Para si, pelos vistos, pior era Pavelic, que andava de mão dada com a padralhada. Ao pé disso, Auschwitz, Birkenau, Dachau ou os massacres levados a cabo durante as invasões da Polónia e da URSS eram brindadeiras de crianças, claro... O ódio cega as pessoas, até as que se dizem racionalistas.

Joana disse...

Filipe:

A razão porque o regime Ustasa é considerado pior que o de Hitler é simplesmente porque era pior, mais sanguinário. Se Hitler tivesse morto pessoas ao ritmo dos Ustase, que não tinham os meios dos nazis, a maioria do milhão de vítimas dos Ustasa foram degolados - com facas abençoadas para o efeito - não tinham morrido 6 milhões de pessoas no Holocausto mas sim muitas dezenas ou centenas de milhões.

Hitler tomou o poder em 1933. O regime nazi caiu em 1945. Os Ustasa estiveram no poder entre 1941-1945.

Hitler comandou milhões de homens. O exército Ustasa tinha 76.000 homens em 1944.

Nunca percebi porque nunca se falou na chacina dos sérvios levada a cabo pelos croatas na II Guerra quando a guerra da Jugoslávia estava no auge.

Nem nunca percebi porque ninguém explicou porque os sérvios reagiram tão mal quando JPII beatificou o facínora do Stepinac em 1998 (seria equivalente para nós a ter beatificado o Himmler).

Ou porque reagiram mal quando JP II visitou Banja Luka, na Bósnia, perto do convento do frei morte (convento de Petricevac), que participou activamente num brutal massacre de milhares de sérvios que incluíam cerca de 500 crianças.

Joana disse...

Ah, nessa visita a Banja Luka JPII beatificou Ivan Merz, o fundador da "Association of Croatian Eagles", que uns anos depois se associaria entusiasticamente à Juventude Hitleriana, a Hitlerjugend

Joana disse...

O parágrafo de Banja Luka deve ser

Ou porque reagiram mal quando JP II visitou Banja Luka, na Bósnia, perto do convento do frei morte (convento de Petricevac), que participou activamente num brutal massacre de milhares de sérvios nas aldeias da vizinhança que incluíam cerca de 500 crianças.

Visita onde JPII beatificou Ivan Merz, o fundador da "Association of Croatian Eagles", que uns anos depois se associaria entusiasticamente à Juventude Hitleriana, a Hitlerjugend.

Gabriel Peregrino disse...

Joana, mantenho o que disse: o regime hitleriano elevou a matança a um grau nunca antes visto. Fez da morte uma indústria. É por isso que o considero pior. Mas se você insiste que os croatas eram piores ainda, olhe, fique com a taça. Mas não seja selectiva nos seus juízos históricos e recorde-se dos crimes cometidos pelos regimes ateus contra os cristãos e muçulmanos.

Joana disse...

Filipe:

Faça as contas e veja que foi o regime croata que fez da morte uma indústria. Tanto que os nazis recomendaram que se contivessem e não matassem tudo o que se mexesse e fosse sérvio (ou judeu ou cigano).

Os regimes totalitários de que fala que eu saiba mataram opositores políticos/ideológicos, nunca mataram ninguém por causa da religião. Ninguém ia para um Gulag por causa da religião, ia por outras razões.

Na Croácia ia-se para Jasenovac por causa da religião. Os croatas matavam sérvios e judeus por causa da religião, os sérvios porque eram cristãos ortodoxos.

Gabriel Peregrino disse...

Joana, a sua análise peca por simplista. 1. Em relação aos nazis, quando digo que fizeram da morte uma indústria refiro-me à eliminação metódica de povos inteiros, de forma industrial (os campos), programada ao milímetro. Não me refiro à escala. Mas acho que esta discussão não vai dar a nada. O essencial a reter é que ambos os regimes eram brutais e genocidas. 2. Na URSS de Estaline, ser cristão era o mesmo que ser considerado opositor político (e ser padre era o mesmo que ter automaticamente uma viagem grátis [só de ida] para o Gulag). "A religião é o ópio do povo", lembra-se? Ou veja o que aconteceu aos católicos chineses e quantos deles não foram massacrados, torturados e perseguidos (ainda hoje isso acontece!). A Joana justifica estas atrocidades como sendo próprias da luta pelo poder. Pois, mas com certeza. E o que era a inquisição senão uma forma de os monarcas e de a Igreja conservarem o poder? Recordo-a que o inquisidor mor do Reino era sempre nomeado pelo soberano. Este tipo de atrocidades, sejam elas cometidas por católicos, ateus ou muçulmanos, não têm justificação possível. 3. Nos conflitos balcânicos, estão em causa lutas entre etnias diferentes. Os croatas e os sérvios têm religiões diferentes, mas acima de tudo são povos diferentes. Mas ao contrário da Joana, que passa uma esponja sobre as atrocidades cometidas pelos regimes ateus fundamentalistas, não nego que muitos católicos desempenharam um papel sombrio nesses conflitos.

Gabriel Peregrino disse...

P.S.: é bom lembrar o que disse Lenine a respeito da religião (tradução inglesa): «Religion is the opium of the people: this saying of Marx is the cornerstone of the entire ideology of Marxism about religion. All modern religions and churches, all and of every kind of religious organizations are always considered by Marxism as the organs of bourgeois reaction, used for the protection of the exploitation and the stupefaction of the working class». Não creio que fosse um regime muito tolerante para com as crenças religiosas. E o direito à liberdade religiosa está consagrado como um dos mais elementares direitos humanos, convém lembrar.

Gabriel Peregrino disse...

Sei que a Wikipédia pode não ser uma fonte extremamente fiável, mas aqui fica um excerto que encontrei na 'enciclopédia livre' (http://en.wikipedia.org/wiki/Religion_in_the_Soviet_Union#_note-0): «As for the Russian Orthodox Church, Soviet authorities sought to control it and, in times of national crisis, to exploit it for the regime's own purposes; but their ultimate goal was to eliminate it. During the first five years of Soviet power, the Bolsheviks executed 28 Russian Orthodox bishops and over 1,200 Russian Orthodox priests. Many others were imprisoned or exiled. Believers were harassed and persecuted. Most seminaries were closed, and publication of most religious material was prohibited. By 1941 only 500 churches remained open out of about 54,000 in existence prior to World War I.»

Joana disse...

FIlipe:

Quantas pessoas é que foram executadas nos primeiros 5 anos do poder soviético? Os padres e bispos que foram executados foram-no porque eram opositores políticos do regime, não porque fossem padres.

Em relação à citação de Marx, essa passagem é mal compreendida, porque raramente é citada na sua totalidade.

*«A miséria religiosa é, por um lado, a expressão da miséria real e, por outro, o protesto contra ela. A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.»

Na época de Marx o ópio era uma droga de aristocratas e burgueses ociosos, a expressão significa apenas que a religião é o único escape, a fuga à «miséria real» disponível para as classes «oprimidas». Marx mostra até simpatia pela religião. Se continuarmos a ler o Introdução à crítica em Filosofia de Hegel:

«A crítica arrancou as flores imaginárias que enfeitavam as cadeias, não para que o homem use as cadeias sem qualquer fantasia ou consolação, mas para que se liberte das cadeias e apanhe a flor viva. A crítica da religião desengana o homem para que este pense, aja e organize a sua realidade como um homem desenganado que recobrou a razão a fim de girar em torno de si mesmo e, portanto, do seu verdadeiro sol.»

A crítica da religião não é um fim em si próprio, mas apenas um passo para que o homem se liberte das suas «cadeias». A crítica da religião não tinha em Marx o carácter que o Filipe lhe atribui. No Terceiro Manuscrito Económico e Filosófico (no capítulo «Propriedade Privada e Comunismo», Marx é ainda mais claro sobre o carácter secundário da alienação religiosa, isto é, que a alienação religiosa é um produto da alienação económica

*«A alienação religiosa como tal, ocorre somente no campo da consciência, na vida interior do homem, mas a alienação económica é a da vida real, e por isso, a sua substituição afecta ambos os aspectos.»

As vítimas dos primeiros anos do regime soviévito tinham a ver com os autores da alienaçao económica. Por acaso, como em todo o lado, a Igreja Ortodoxa era podre de rica e foi expropriada. COmo todos foram expropriados e os que protestaram ou organizaram protestos foram mortos. Se no meio foram padres e que tais, como já disse, não foi por serem padres, foi por serem exploradores da classe operária ou por organizarem revoltas contra o regime político.

Joana disse...

Em relação à China, embora o cristianismo seja a religião do opressor branco, não é verdade que se perseguisse alguém por causa da religião. Perseguia-se alguém que pusesse o pé fora do penico, fosse em religião fosse no que fosse.

Na China, é o Estado que controla as organizações religiosas, é o Estado que ordena os bispos católicos. Ainda hoje. Não havia nem há perseguição à religião, só a organizações clandestinas religiosas. Como cá em Portugal antes do 25 de Abril.

Quem conheça a História da China percebe porque razão o Estado controla as religiões. As mudanças de poder político na China estão associadas a tumultos religiosos. A Sociedade do Lótus Branco, uma espécie de budismo messiânico, fez cair a dinastia Qing na Revolta do Lótus Branco (1786-1804). Outra seita, os «Turbantes amarelos», derrubaram a dinastia Han. Uma «reencarnação» do Lótus Branco, a sociedade Nian, está por trás das revoltas de Taiping, outra versão, Yihequan, na revolta Boxer que abriu as portas ao comunismo.

Gabriel Peregrino disse...

Ou seja, resumindo e concluído, a Joana defende que o Estado devia ser, como o da URSS, declaradamente ateu? Repare que a URSS era oficialmente ateia e que o Estado tinha como objectivo a erradicação da religião. E isto porque um Estado totalitário não admite que existam oganizações que não estejam sob o seu controlo. Daí que tenham espezinhado as diferentes comunidades religiosas.

Joana disse...

Lá está o Filipe a tresler o que os outros escrevem.

Eu, como todos os ateus, sou uma defensora acérrima do estado laico, acho que o Estado apenas deve garantir que as instituições religiosas não infringem a lei e mais nada. O Estado não deve ter nada a ver com religiões!

O Filipe é que defende, no outro post em que falámos de Direito, que é obrigação do Estado transpor para o Direito a moral religiosa, isto é, defende uma teocracia. E ateísmo de Estado ou religiões de Estado são faces da mesma moeda.

Na mesma URSS que o Filipe diz que tinha como objectivo erradicar a religião, o ensino da religião nas escolas, ortodoxa ou muçulmana, é agora obrigatório. O Estado passou num abrir e fechar de olhos de ateísmo de Estado para religiões de Estado!

Joana disse...

Não acho que o regime actual de Putin seja menos totalitário que os da Guerra Fria. Mas agora há rezas e benções por tudo quanto é coisa, há símbolos religiosos em todos os organismos públicos e tal.

Um Estado ao gosto do Filipe...

Joana disse...

Já agora, como classifica o Filipe as vítimas do Putin? São vítimas do Putin ou são vítimas do cristianismo ortodoxo russo?

Gabriel Peregrino disse...

Eu nunca disse que quero a moral católica nas leis do Estado. Deus me livre! Quanto à Rússia actual, não acredito em "democracias musculadas". Acho que é mais uma ditadura. Mas não tem campos de concentração (ainda). E serve-se da religião ortodoxa (e a Igreja Ortodoxa serve-se do Estado). Tal como você, sou contra essas promiscuidades. Voltando à URSS: não me venha dizer que o Estaline não perseguiu as Igrejas e que a URSS não era um Estado Ateu. Isso sim, é revisionismo histórico. Ao perseguir os cristãos e muçulmanos, Estaline perseguia os mesmos objectivos que os Reis Católicos e que o nosso D. Manuel I tinham quando decidiram obrigar os judeus a converter-se ao cristianismo.

Joana disse...

Filipe:

Os crimes cometidos ao longo da História por todos os dirigentes políticos que fossem católicos são crimes do catolicismo?

Foram crimes do catolicismo os crimes das ditaduras na América do Sul?

Gabriel Peregrino disse...

Joana, os crimes cometidos por Pinochet ou pelos generais argentinos contra ateus foram, com certeza, crimes do catolicismo. Quanto à URSS, o Estado era assumidamente ateu. A "descrença" era oficial e o Estado tinha como objectivo acabar com a religião. Logo, violou a liberdade religiosa dos seus cidadãos. Nos tempos de Lenine e Estaline, milhares de padres e bispos ortodoxos foram presos e assassinados pelo simples facto de serem padres. Porque eram considerados inimigos do Estado. Tal como os Judeus eram considerados inimigos do Reino de Portugal no século XVI, ao recusarem converter-se (com a diferença que Estaline fez isso a uma escala muito maior). A intolerância não é privilégio exclusivo dos católicos, por muito que isso seja "chato" para si.

Joana disse...

Filipe Alves:

Se para conforto «espiritual» e manutenção da fé precisa fabricar mentiras, força.

Invente mais mentiras à vontade, deturpe a verdade histórica como faz às palavras dos outros. Se não consegue conviver com a verdade e a racionalidade acho que a fuga da realidade é mesmo a única forma :)))

Gabriel Peregrino disse...

Que heresia a minha, afirmar que o estalinismo perseguiu as igrejas e oprimiu a liberdade religiosa... ai, que mentiroso que eu sou! Recomendo-lhe um bom livro de História e não das histórias a que provavelmente estará habituada.

Cláudia S. Tomazi disse...

Sinceramente e com todo respeito, (daquele momento) como compreender a capacidade da indignação?!
Parece-me neste caso, Miguel Torga transfere uma sangria desatada... e por fim, não consigo captar de tanto esforço, por implacável e determinado, entre pessoa de iguais e atestando-se em prol de iguais, entretanto se desta forma estigmatiza a poesia ao vez de animá-la, torna-a feroz. E na modéstia nem tenho a intenção de vos em ofensa, mas, do conteúdo e talvez se a pontência da natureza oferecera: traduzir, apontar, verificar, cuidar, ser objetiva e ter objetivos... creio, a manutenção da história teria e tem de ser viva no presente e trazida para o presente, seguindo como exemplo do que é possível construir e afirmar-se da identidade e acréscimos do que fora positivo, até então.

Cláudia disse...

potência*

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