sábado, 14 de abril de 2007

É POSSÍVEL VIAJAR NO TEMPO?


Vindo directamente do passado, eis um texto publicado em 1/1/2001 (primeiro dia do século e do milénio) no jornal "Público", que me parece ainda actual. Ao relê-lo fiquei com a ideia que o tempo não passou por ele ou que ele não passou pelo tempo...

À pergunta do título, o autor de ficção científica (e também físico-matemático, pelo King’s College de Londres) Arthur Clarke respondeu em 1972 de forma quase categórica: "Estou certo (bem, praticamente certo!) de que as viagens no tempo são impossíveis". E, mais tarde: "Não levo as viagens no tempo muito a sério; nem penso que alguém leve". Por isso mesmo as viagens de "2001 Odisseia no Espaço" desenrolam-se mais no espaço do que no tempo. A boa ficção científica procurou sempre alguma plausibilidade.

Outro nome grande da ficção científica (e bioquímico), Isaac Asimov, é da mesma opinião: "Precisamente porque as viagens no tempo envolvem paradoxos tão fascinantes podemos concluir, mesmo na ausência de outras provas, que as viagens no tempo são impossíveis". Que paradoxos invoca Asimov? Acima de todos o chamado "paradoxo do avô": o viajante no tempo mata o seu avô antes que este deixe descendência. Ele ficaria "ipso facto" um assassino inexistente na actualidade e, portanto, claramente inimputável. No filme "Regresso ao Futuro", a alteração do passado dá-se de uma forma um pouco menos brutal: quando o herói quase impede os pais de se casarem, a sua figura na foto de família começa a desvanecer-se...

Mas Clarke apresenta um outro argumento que compromete a ideia de viagem no tempo. É muito simples: os viajantes no tempo são escassos. "Por muito desagradável que a nossa era possa parecer no futuro, decerto que devíamos esperar a vinda de professores e estudantes, se tal fosse possível. Ainda que se tentassem disfarçar, aconteceriam acidentes — tal como nos aconteceriam se recuássemos à Roma Antiga com câmaras de vídeo e gravadores escondidos debaixo de togas de nylon. A viagem no tempo nunca poderia ser um segredo bem guardado". Stephen Hawking, o astrofísico com o corpo paralisado (mas não o espírito), concorda: "Não fomos invadidos por multidões de turistas vindos do futuro". Felizmente, acrescente-se, pois tais turistas acabariam por prejudicar o nosso tão útil livre arbítrio. Hawking, ironicamente, nota que, se houvesse máquinas do tempo, os historiadores não poderiam exercer a sua profissão.

Será que a física proíbe categoricamente as viagens no tempo? Que a máquina do tempo concebida por H. G. Wells há mais de um século e filmada nos anos sessenta é pura fantasia? Que acabamos de nos despedir irreversivelmente do século vinte? Facto é que, de vez em quando, surgem artigos em revistas de física contendo no título "viagem no tempo". Os conteúdos são indecifráveis excepto para especialistas em ramos exóticos da astrofísica. O formalismo matemático impede a um leigo a compreensão do título. Mas não se deve deixar de acreditar na matemática. Ainda haverá uma hipótese de viajar no tempo, por minúscula que seja a sua probabilidade e por infinitesimal que seja a sua exequibilidade técnica. O físico Kip Thorne, autor de alguns desses artigos, explica com clareza: "Se as máquinas do tempo são, de facto, permitidas pelas leis da física (...e duvido que sejam), estão provavelmente muito mais para além das nossas actuais capacidades tecnológicas do que a viagem espacial estava para além das capacidades dos homens das cavernas".

E aqui voltamos a "2001 Odisseia no Espaço", onde os homens-símios dão lugar a astronautas em voo primeiro para a Lua e depois para Júpiter. O filme baseava-se em tecnologia da época: o programa Apollo iniciou-se precisamente em 1968, quando o filme se estreou, e a falha da nave com o HAL é quase uma antevisão da falha da Apollo 13. A viagem no tempo não passa de uma sugestão na parte final.

Os foguetes Saturno e as naves Apollo, tão bem relatados pelo espantoso Eurico da Fonseca (antecedido pelos acordes épicos de "Assim Falava Zaratrusta"), seriam pura magia para os nossos antepassados que gravaram as paredes do Côa. Clarke generalizou mesmo: "Toda a tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia". A máquina do tempo parece-nos hoje magia porque não temos a tecnologia da viagem no tempo. O tempo é um dos maiores mistérios da nossa ciência. Se algum dia viermos a dispor dessa tecnologia, talvez um filme, com o título "200 001 Odisseia no Tempo", cujo argumento nem Clarke nem Asimov se atreveram a congeminar, mostre um "homo sapiens" a lançar um estranho artefacto (um "buraco de minhoca" artificial) para a imensa vastidão do tempo..
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À questão de saber, agora que começa um novo milénio, se são possíveis viagens no tempo, a resposta mais plausível é negativa, mas não se sabe ao certo. A ciência, mais do que certezas, dá-nos probabilidades. Ninguém sabe onde nos levará a grande aventura do conhecimento científico. Mas será decerto para bem longe...

A ciência, na magistral definição de Carl Sagan, consiste em manter a mente suficientemente aberta para examinar todas as observações e formular todas as hipóteses mas, ao mesmo tempo, suficientemente fechada para duvidar criticamente de umas e de outras. O método científico não só já nos permitiu concretizar alguma da melhor ficção científica como é, de resto, a única "máquina do tempo", que garante viagens para o futuro. Pratiquemo-lo!

4 comentários:

Anónimo disse...

Também houve quem tivesse dito, há pelo menos duzentos anos, que o homem jamais conheceria a composição das estrelas ou que as mulheres jamais iriam para as universidades.
O que de momento posso adiantar, é que num período de tempo bem mais curto do que possamos imaginar, o acréscimo de funções que hoje são implementadas nos telemóveis poderá vir a acontecer, nesse mesmo aparelho ou num outro idêntico, a inclusão de uma função que, de um instante para o outro, nos teletransporte para onde bem indiquemos as coordenadas exactas.

JSA disse...

Há aí duas notas possivelmente contraditórias. A primeira é a afirmação que não temos possibilidade de avistar os turistas temporais. A outra é a afirmação de Clarke sobre tecnologia e magia. Poder-se-ia facilmente apresentar uma situação em que os turistas temporais seriam tomados por anjos, bruxos ou por outras figuras mitológicas. Quem sabe, os deuses das mitologias nórdicas, gregas, etc, poderiam ser viajantes no tempo que recorreriam a este subterfúgio para poderem observar sem serem observados. Uma noção semelhante foi explorada por Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada no primeiro "Viagens no tempo" (Viagem ao tempo dos Castelos) em que colocam uma das personagens a acender um fósforo no escuro fazendo-se assim passar por um anjo. Simples mas eficaz.

Por outro lado, duvido que não fosse possível disfarçar os equipamentos de gravação. Se hoje já é possível miniaturizar câmaras de forma as colocar como botões de lapela ou semelhantes ou quando se pode colocar um gravador cosido na roupa, qual seria a dificuldade de o fazer com tecnologia mais avançada? Ou, sabendo-se que já hoje o exército americano estuda formas de criar uma espécie de "uniforme de invisibilidade" para os seus soldados, porque razão não o poderiam fazer os visitantes vindos do futuro?

Relativamente aos paradoxos vejo três erros na lógica. O primeiro é o do egocentrismo: acreditar que uma pessoa poderia ter uma influência realmente decisiva. O segundo é o de conhecimento: um viajante temporal armado do conhecimento necessário poderia fugir a um eventual contacto com antepassados seus (ao mesmo tmepo que tentaria ser completamente passivo no episódio histórico que visitasse). O terceiro o de premeditação: bastaria criar um apertado controlo aos viajantes (imagino que a tecnologia poderia ser controlada) nas suas viagens e impedir-se-iam esses viajantes de visitar determinados períodos temporais ou zonas geográficas.

Uma coisa é argumentar que as viagens no tempo não são tecnicamente prováveis devido a limitações científicas. As leis da Natureza poderão não as permitir. Outra é usar argumentos lógicos, os quais terão fortes possibilidades de não colher.

Anónimo disse...

viajar no tempo e possivel sim ! tempo nada mais e distancias percorridas de um ponto x , podemos viajar para frente e para tras do ponto x basta termos os meios nescessario para o mesmo , não a lei que o impessa defazelo ok (aars45@ibest.com.br)

Anónimo disse...

Ola ,bom,ando pensando nisso...
de Viajar no tempo,seria possivel sim,sem Maquinas do tempo ou outras loucuras,mas com tuneis do tempo,ou Um Jeito de Entrar em outra dimensao,No Planeta terra a 4 dimensao eh completamente diferente a dimensao espacial,talvez deve haver um paradoxo no espaço com uma grande força que sua capacitaçao do tempo nao seja equivalente a nossa,exemplo
- envelhecemos ,morremos,mais ainda sim contamos o tempo...
Mas o tempo nao passa p nos,sempre eh o msm,dia,noite,verao,inverno,primavera e outono...
Massssss queridos amigos,estamos num planeta onde tem vida,ar,uma gravidade suficiente para nos prender ao solo...
contudoo
se tiver alguma forma de entrar em outra dimensao,podemos envelhecer la tmb,mas o "tempo" ... Passaria de forma acelerada ouuu Lenta...
Para estar sempre proximo ao futuro,por eqnt, pense e faça coisas q fariam no futuro... assim seu presente sera seu futuro...
agora,jamais voce vai voltar a ser novo,e nen vai voltar ao passado,pois eh impossivel,pois o tempo ta parado..! agnt cria o TEMPO... Nosso TEMPO!
soh a um jeito... de viajar no paradoxico do tempo...

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 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...