domingo, 30 de junho de 2024

Num perfeito alinhamento com orientações da OCDE

Num perfeito alinhamento com orientações (algumas muito recentes) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o movimento de desescolarização da escolaridade e de aniquilação dos professores avança. Tem sido alegremente acolhido e promovido por governos, sociedade, comunicação social e, até, por universidades e escolas públicas. 

Enredados que estamos no discurso da ajuda aos mais desfavoreciados, da ineficácia do Estado, de fazer mais com menos, da urgência de mudar radicalmente a educação para se conseguir o tal futuro, de colocar o alunos com as suas necessidades, aspirações e paixões no centro sabe-se lá de quê, da filantropia empresarial que só quer ajudar, daqueles que surgem de todos os lados com visões e missões nada menos de que infalíveis para resolver o problema da igualdade de oportunidades, etc... dizia eu, enredados que estamos nesse discurso não percebemos os passos de gigante que têm sido dados para a destruição da uma instituição milenar que tem sido o suporte de progresso da humanidade: a escola.

Se o leitor tiver tempo e paciência, compare o que é dito neste apontamento da OCDE com a notícia que se pode ler aqui e da qual reproduzo, de seguida, breves pontos, relacionados com a dissolução da escola e da função docente. Omito designações pois, na verdade, no texto podiam constar outros nomes e outras circunstâncias que, mesmo assim, se manteria a "filosofia" de base.

Jornal:

Uma escola no campo de refugiados de (...), uma estrutura do tamanho de um quarto alimentada por painéis solares dentro da qual alunos, orientados por um mentor, socorrem-se de computadores e internet para desenvolver as suas aptidões e paixões (...)".

Empreendedor e fundador, tal como apresentado na notícia:

Em vez de professores temos um computador. Imaginem o poder que um computador pode ter para mudar a vida de uma criança. Pode estar nos confins do mundo e só necessita das ferramentas para aprender e trilhar o seu caminho. Damos as ferramentas e oportunidades.”

Político:

“Os políticos dizem querer mudar, mas não querem e a Educação nunca mudou” [E "enalteceu" a “coragem” de...] ao “atuar num campo em que ninguém quer mudar" (...). “A mudança vai acontecer porque o mundo físico está a ser invadido pelo mundo digital e necessitamos de ideias e pessoas com coragem para mudar de alto a baixo” (...). “Os políticos podem aprender com o que fizeste”. “Durante anos o centro era o professor e poucos tiveram a coragem de dizer que tudo devia ser sobre o aluno. Os atores são os alunos”.

Ah, sim. Estamos em Portugal! Mas sintonizados com o que se passa no mundo.

2 comentários:

António Pires disse...

"Omito designações pois, na verdade, no texto podiam constar outros nomes e outras circunstâncias que, mesmo assim, se manteria a "filosofia" de base."

Nos dias que correm. nas escolas EB 1,2,3 + S + JI portuguesas, agrupadas e não agrupadas, a filosofia educativa prevalecente é o Ubuntu. Sem esta nova forma de pensamento, corria-se o risco sério de continuar a pensar as escolas como lugares de ensino e de aprendizagem. Nada mais errado! As escolas devem ser lugares em que se transformam as pessoas pobres em pessoas ricas, através da concessão de diplomas do tipo PASEO (Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória).

Carlos Ricardo Soares disse...

Lembro-me de um dia ter escrito aqui o seguinte texto.
A diplomacracia, em Portugal, começou por ter os contornos de um poder e de um status que eram conferidos por uma espécie de "divindades" iluminadas cujo saber absoluto só era distribuído (não aleatoriamente) a conta gotas como um raro privilégio destinado a ser invejado e idolatrado pela esmagadora maioria dos ignaros, leigos e gentios dependentes das migalhas da soberba da sapiência.
Mas foram aparecendo uns tipos mais interessados em humanidade do que em vaidade, uns poetas e uns vencidos da podridão da vida venal, enraivecidos e revoltados contra a hipocrisia de uma ignorância arvorada em classe, virtude e divindade, que rejeitaram a sapiência por aspersão divina, como se houvesse mais do que um tipo de chuva, para além da que molha.
A instituição da diplomacracia não deve ter tido um grande sucesso, porque a democracia tratou de mostrar que há outros poderes.
Neste aspecto, o 25 de abril de 1974, foi o mais traumatizante para qualquer crânio formatado pelo Estado Novo.
Aqueles que nos tinham habituado a ir à escola e a considerar todos os outros analfabetos, iletrados, impreparados, rudes, labregos, perderam o poder e os novos "senhores" mandaram, com muita condescendência, os diplomas para as prateleiras dos museus e os diplomados para a reciclagem de um sistema que não sabe como reciclar diplomados, quanto mais analfabetos.
Na realidade, o que se mantém inalterável é a "cracia".
Já a composição por aglutinação... É do mais camaleónico que há.

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