sexta-feira, 28 de agosto de 2020

"CONSUMATUM EST", A FESTA DO AVANTE?

“Acreditai que nenhum mundo, 
que nada nem ninguém vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la”
Jorge de Sena, “Carta a Meus Filhos”) 

Tive um amigo que quando lhe perguntava a opinião, sobre um determinado filme, que não era do seu agrado, respondia-me ser como o peixe espada! Pouco dado, que sou, a charadas, indaguei-o o que tinha a ver a sua resposta sobre a minha pergunta a um determinado filme, que ele tinha como sendo de natureza ictiológica, por evocar o peixe espada. Prontamente, esclarecia-me ser chato e comprido!

Por não me considerar falho de todo em todo de massa cinzenta o que me leva a ter dúvidas que exponho publicamente, mudo de agulha ao comboio das minhas inquietações por não ser do género de aceitar tudo que me querem impingir. "Ipso facto”, ressurgem-me as dúvidas não resolvidas por mim expressas no meu “post” aqui publicado com o título: “Jerónimo de Sousa e a Festa do Avante”(17/08/2020). 

Dele cito um pequeno aperitivo de uma suculenta refeição: “É natural que as restrições impostas pelo coronavírus faça diminuir o lucro da festa por um número menor de assistentes e, portanto, o número de infectados e de mortes. Nem que fosse uma só morte já seria bom por não haver dinheiro que pague uma única vida humana”. 

Paradoxalmente, encontro opinião idêntica em Estaline, secretário-geral do Partido Comunista (1922-1935) quando defende que “a morte de um homem é uma tragédia”. Ora, aqui está a confirmação de que uma frase desinserida do contexto em que foi escrita é tremendamente perigosa. A frase completa de Estaline é esta: ”A morte de um homem é uma tragédia, a de um milhão uma estatística”! 

Bem sei eu, que a hipótese de mortes motivada pelo coronavírus na “Festa do Avante”, se, por hipótese, for levada avante, não correrá o risco de um milhão de mortes, mas de uma coisa tenho eu a certeza de ser o Partido Comunista Português um Estado dentro do próprio Estado pela força, persistência e sucesso do braço de ferro entre este partido  e a directora-geral  da Saúde em desnorte sobre o caminho a seguir  durante a vigente e tormentosa pandemia metendo, como tal, os pés pelas mãos! 

A própria Justiça hesita em resolver, "in loco”, este diferendo enviando a providência cautelar recebida no Tribunal do Seixal para Lisboa. É do seguinte teor esse documento contestatório, subscrito por Carlos Valente: “Se temos as discotecas fechadas, os festivais adiados, indigno-me perante a realização de um evento como Avante que vai reunir mais de 33mil pessoas que vão partilhar o mesmo espaço durante três dias, comer juntos e acampar durante a noite”. 

E este adiamento da decisão final, quase em cima da hora  da realização da festa (de 4 a 6 do próximo mês),  é uma afronta para quem nela trabalha, noite e dia “pro bono”, para a sua realização, a não ser que o PCP tenha a certeza da sua realização por um segredo colhido nos corredores do governo.  E este facto é tanto mais insólito por demonstrar o poderio do 4.º partido saído das eleições legislativas de 2019 sem que António Costa assopre o apito de árbitro pondo fim a um jogo altamente perigoso, em que em longos conciliábulos, ou meras conversas de chacha, entre esta força política e a ministra e a directora-geral da Saúde agacham-se elas perante este partido sendo adiada sua solução a favor do primeiro, perante o mutismo de António Costa deixando correr o marfim. 

Posição diferente, com resultados excepcionais, tomou a Alemanha, pela voz corajosa e poderosa da sua chanceler, que tinha proibido festivais até 31 de Agosto deste mês, tendo alargada essa proibição até Novembro de 2020. Será que na Alemanha existe o ditado desprezado em Portugal que “mais vale prevenir do que remediar”, apesar de em 16 de Abril deste ano ter havido naquele país apenas 315 mortos para na presente data esse número ter descido vertiginosamente para três? Tem a Alemanha cerca de oitenta milhões de habitantes, isto é oito vezes mais do que Portugal. 

A área destes dois países é sensivelmente para a Alemanha de 377 mil quilómetros quadrados e para Portugal de 92 mil quilómetros quadrados. Tempos houve que Portugal deu novos mundos ao mundo não querendo hoje, por orgulho ou estupidez desmedidos, aprender sobre a melhor forma de diminuir o número de vítimas do coronavírus (des)informando a população lusa com, senhores mui respeitáveis e outros nem tanto, em longas exposições esotéricas nos meios de comunicação social sobre esta temática em que nem eles se entendem entre si. Inditoso país em que a foice da morte encontra martelo, para matar à fartazana.

Por fim, repiso a pergunta do título deste meu texto:”Consummatum est” a Festa do Avante? "Ou é ela, em palavras pessoanas, “um cadáver que procria?” As respostas a ambas impõe-se em nome de uma Democracia em que é lícito um cidadão pedir explicações ao governo do seu país e por ele ser esclarecido sem jogadas de bastidores. Já chega de brincar ao gato e ao rato numa questão de declarada Saúde Pública e, muito menos, de com ela jogar perigosamente à roleta russa. “Alea jacta est”!

2 comentários:

Abraham Chevrolet disse...

Fazer o que a Lei consente: não fazer o que a Lei proíbe.
Enviam-se desenhos ao domicílio.

Carlos Ricardo Soares disse...

As palavras impõem-nos respeito e, se já sentiste isso, não estranhas que te diga que esse poder das palavras é um poder à tua disposição, um grande poder, cujos limites nunca saberemos, porque as palavras mudam de cada vez que tentamos usá-las e não se deixam domar, nem manipular completamente, por mais que tentemos usá-las e, até, fazer delas nossas aliadas.
Mas não devemos intimidar-nos perante elas.
Quanto mais as respeitarmos, mais improvável será que elas nos traiam. Nada disto, porém, pode ser garantido por ti ou pelas palavras.
Temos de admitir que não controlamos tudo, aliás, é mais fácil controlar um automóvel do que conduzir um pensamento ou meras palavras .
Mas não te assustes com o poder das palavras.
Quanto mais as enfrentares, mais realidade descobrirás/construirás, porque elas são portas e janelas e cortinas e mapas dinâmicos que poderás abrir para ver onde tu também te vês a construir, a destruir ou a fazer nada.
Vou falar-te de equacionar.
Quando falamos ou escrevemos, se o fizermos voluntariamente, estaremos a equacionar ou a equalizar.
Equacionar é uma forma de pensar que não se satisfaz com a analogia.
Já pensaste como é raro encontrar duas coisas parecidas? E duas coisas iguais? Até poderíamos afirmar que não há duas coisas iguais, embora tenham as mesmas propriedades.
Equacionar obriga a distinguir o que for distinto, ou, pelo menos, a reconhecer o indistinto como uno.
Então, se tu disseres que A=B, estarás a falar de uma mesma realidade, A ou B, mas não de duas.
Equacionar levanta problemas que não existiam antes de equacionarmos e são problemas, não são fantasias.
Fantasia seria, por exemplo, dizeres que A=B, porque A está diante de um espelho e B é o seu reflexo.
Uma criança ingénua poderia dizer-te que A, diante de um espelho, continuaria a ser um A.

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