terça-feira, 18 de setembro de 2018

A "narrativa" da educação a transformar-se em prática escolar


O 26.º episódio do programa Prós e Contras, difundido há algumas horas num canal de televisão pública, teve por tema: Como vai a educação em Portugal (ver aqui)

Por dever de ofício, tentei acompanhá-lo mas confesso que não consegui evitar um nervoso zapping. Impossível para quem tem a educação como uma das actividades humanas mais sérias e de maior responsabilidade, assistir sem grande inquietação e profunda tristeza a muito do que foi dito.

Nas passagens que vi dei conta de múltiplos erros e equívocos de enorme gravidade, mas que, por serem tantas vezes repetidos, repisados, reafirmados, impostos, entram no pensamento colectivo e passam a ser assumidos como verdades, como certezas, como dogmas. Ai de quem discordar!

É a "narrativa da educação que queremos" a transformar-se em prática escolar concreta, a chegar aos directores, professores, alunos e pais, a chegar a todos. Temo seriamente que um dia, muito em breve, não sejamos capazes de pensar além dessa "narrativa" criada para formatar, e que defendamos como única possibilidade de educar esta "educação" que não o é.

A "pós-verdade" espalha-se pelo mundo, infiltra-se em todas as áreas, mas, talvez tenha sido na educação onde ela se instalou com mais afinco e sem, estranhamente, ter encontrado grande resistência. Reflecte-se naquilo que o programa em causa revelou.

15 comentários:

Anónimo disse...

É o triunfo da mediocridade!
O sistema de ensino baseado na pedagogia do aprender a aprender parte do princípio de que quanto menos os professores ensinarem melhores serão as aprendizagens dos alunos!
Com tal sistema, a muito breve prazo, todos os portugueses, mesmo contra a vontade de alguns, serão todos, muito facilmente, arquitetos, engenheiros e doutores, mas, a médio prazo, tanta estupidez junta levará ao colapso do Estado Português pela corrosão completa dos seus dois pilares fundamentais que são a Educação e a Economia!
Os professores devem ser pagos para ensinar! Se assim não for, o estado está a deitar muito dinheiro ao lixo!
Na escola do aprender a aprender, os professores não são mais do que amas-secas equivalentes a educadores de infância!

Anónimo disse...

Educação em casa, Ensino na Escola. Tudo o resto é treta! A quem vamos endereçar a responsabilidade pelos danos?

Célia Oliveira disse...

Com efeito, o "pensamento crítico", de que tanto se fala, parece estar ausente dos discursos dominantes - que se limitam a reproduzir um conjunto de ideias sem preocupação de fundamentação ou evidência da respectiva eficácia. Por outro lado, as discussões sobre a Educação e o sistema educativo são sistematicamente feitas por quem não investiga ou conhece aprofundadamente a área, legitimando-se todo o tipo de opiniões. É preciso pensar que episteme se pretende para a Escola, em que princípios assentam as opções educativas: conhecimento vs informação, hedonia vs eudaimonia, ideologia vs evidência científica. Clarificar a orientação primordial das opções educativas é fundamental para operacionalizá-las em métodos e objectivos de ensino-aprendizagem, e para assumir as responsabilidades e resultados consequentes. Opções erráticas, ideologicamente determinadas ou impostas, e desprovidas de suporte científico, acarretam riscos de prejuízo para gerações inteiras e, com elas, para o próprio país.

Anónimo disse...

Nobel Laureate in Physics; "Global Warming is Pseudoscience"
https://www.youtube.com/watch?v=SXxHfb66ZgM

Anónimo disse...

Como é possível que a diretora de um agrupamento, considere que a escola deve replicar a sociedade? Se assim fosse toda a educação (incluindo a educação formal) perdiam a sua finalidade: o melhoramento humano, a formação do caráter, o encaminhamento para o bem, em suma a perfectibilidade humana.
Estou farta de ouvir aberrações que são legitimadas pelas "inteligências" deste país.

Mário R. Gonçalves disse...

A escola deve replicar a sociedade ? Mas que anedota. Então deixa de se ensinar grego, latim, literatura, filosofia, física, astronomia, história. Aliás, o ensino deve estimular a mudar, a renovar a sociedade.
Vejam só :

Nos anos 60, "desenvolver uma filosofia de vida com significado " ganhava a " bem estar financeiro" 95-45% entre os candidatos a colégios americanos. 30 anos passados, a situação inverteu-se: O bem estar financeiro ganha 80-45%. A procura dos cursos de Humanidades está em crise: não garantem emprego.

Fartei-me de combater isto. E eram os/as esquerdas que queriam um ensino virado para o emprego, a integração social. Sempre dei mais valor aos saberes como património herdado, mas era acusado de elitista. Havia directivas do governo e tudo para os fins sociais.

Têm agora o resultado que queriam e pelos vistos continuam a querer - indigência.

https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fbenedante.blogspot.com%2F2018%2F09%2Fwhy-humanities-are-declining-in.html&h=AT3qbvO6R1RevQYIXELjizJM9KgtUUWOTXcmElmAPkEggVXzvuHrFAaH6qqAiCD_2z79zZKH5GiY2YKCYSzFMEAwXx1_5NyxbzcYzp81x77mY4tHLXVNu_H-yjuip2TALJikvPQScCT939gwZZQOTYhRN4Kgl2QWVZi_xoabTOtKKoImqQc-MGdYhyZ5WLWfHjcvZSxTVaAoFxaIstwIkQCc1ExbcCz2baUPi7LYcekioHapPeNsnjA9ExdK5HJU-7gn8y8wAKYPSTXSkYqRZm6CLvoWklvU7ChtzzEXunl8EdgXD-uClQjtEQbhb9hCl2vY2p1INXpvUlxzx5_MA00jb8AFTn4QSZOsNjrAnvwi0zulayFz6cEYRSXy7xGZnHaGugftpGxmWUeJbTABe06FtCUx5Loi

Helena Damião disse...

Prezado Leitor Carlos Soares
Ao tentar responder ao seu comentário, eliminei-o. Peço-lhes sinceras desculpas. Se puder voltar a escrevê-lo, agradecia.
Basicamente dizia que Alvin Toffer afirmou que no século XXI importa mais aprender, desaprender e reaprender do que ler e escrever.
Assumindo que Toffler afirmou mesmo isso, daí deverá deduzir-se que ler e escrever não é importante? E, como poderemos aprender, desaprender e reaprender conteúdos escolares sem saber ler nem escrever? Por outro lado, não é no século XXI que a aprendizagem implica reaprendizagem: na verdade, sempre assim foi.
Declarações como esta de Toffler o que lhe é atribuída, parecem sempre interessantes, pois destoam do que do que temos por certo, e verdadeiras, pois, sendo ambíguas, não são inteiramente falsas, mas devem ser pensadas com grande sentido de responsabilidade. Ler e escrever são aprendizagens de base, muito difíceis, demoram muito tempo a consolidarem-se e não as podemos descuidar, como estamos a fazer, e muito menos negar.
Cordialmente,
MHDamião

Helena Damião disse...

Carlo Leitor Mário Gonçalves
A ideia (antiga) de que a escola deve replicar a sociedade (melhor, o que na sociedade é imediato e trivial) encontra múltiplos defensores, alguns dos quais são intelectuais reconhecidos. Por isso, em Portugal, há muitas décadas que o grego, o latim, a literatura, a filosofia, a arte... têm perdido protagonismo uma vez que se considera que elas não têm sentido na sociedade. É uma ideia muito pobre, superficial e restritiva a ideia de sociedade que... a sociedade tem de si mesma.
Concordo inteiramente consigo quando diz que o ensino deve estimular a mudança social, naquilo que se veja necessidade de mudar, mas para as diversas vertentes humanas que ela inclui.
Mas quem entende isso? Como se pode explicar isto? Muito sinceramente não sei. Podemos fazer tudo para explicar ou combater a ideia, mas o que vejo, em resultado, é o contrário. A ideia acentua-se. E é doloroso ver que as esquerdas contribuem para isso. A acusação de elitista faz parte da estratégia. Em vez de argumentos, a acusação.
Cordialmente,
MHDamião

Carlos Ricardo Soares disse...

Ler e escrever é importantíssimo no mundo em que vivemos, assim como é importantíssimo contar e fazer contas corretamente. Não tenho dúvidas quanto a isso. Mas cada época tem novas formas de analfabetismo e de iliteracia.

Anónimo disse...

Professores e professoras que lambem as botas de quem lhes paga ao minuto, contado a toque estridente de campainha, em que o tempo de curtos intervalos passados na sala dos professores, na secretaria, na sala da Direção ou na casa de banho a fazer serviços necessários e inadiáveis não é contabilizado como tempo de trabalho, letivo ou não letivo, podem saber aplicar aos seus alunos teorias pedagógicas aberrantes, como a Flexibilidade Curricular e o Aprender a Aprender, mas procedendo assim acabarão por destruir a escola que, por definição, é um lugar onde os professores ensinam e os alunos aprendem.
Um professor, depois de sair da sala de aula, ao toque da campainha, durante os cinco ou dez minutos em que se dirige para a sala dos professores, onde, eventualmente, conversará com colegas sobre assuntos da escola até que a campainha o chame de novo para sala de aula, não está objetivamente a trabalhar - o relógio de ponto que contabiliza os minutos passados no posto de trabalho é desligado!
Só uma grande especialista em gestão de recursos humanos e formação profissional, como é a Professora Doutora Maria de Lurdes Rodrigues, poderia conceber a aberração que são os horários atuais dos professores das escolas C + S e secundárias, para que estes não se fiquem a rir dos professores primários e educadores de infância que se fartam de trabalhar!

Ofelia martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Lição sobre a água

Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.

É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.

Rómulo de Carvalho

Carlos Ricardo Soares disse...

António Gedeão é um dos meus poetas preferidos. Para o homem de ciência, não me admira que a poesia tenha sido a descoberta do estado crítico da matéria. O que me admira seriamente é a forma como ele tratou da matéria.

Anónimo disse...

"SERIAMENTE" ?!...

Anónimo disse...

Sim, sim.Realmente os professores primários e educadores trabalham imenso. Quando forem a uma escola primária ou a uma pré escola levem perfume ou qualquer coisa do género para aliviar o ambiente. O cheiro a transpiração deve ser intenso!

ESTUQUE

Por A. Galopim de Carvalho   Uma das utilizações do gesso, a um tempo técnica e artística, vem de longe e materializa-se no estuque, produto...