sábado, 2 de junho de 2018

Professor Victor Gil, Universidade de Coimbra

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Faz muitos anos que conheci o Professor Victor Gil, do Departamento de Química da Universidade de Coimbra, mas foi no Exploratório da cidade que tive oportunidade de falar por diversas vezes com ele sobre aquilo que era um dos seus grandes interesses: a educação e, muito em particular, a educação formal e não formal da ciência. 

Por uma vez, teve a amabilidade de estar presente na minha Faculdade, conjuntamente com a Professora Helena Caldeira, numas provas públicas de mestrado em Ciências da Educação, de um trabalho que orientei. Lembro-me bem de quão edificante e agradável foi a longa conversa que se proporcionou, um momento único nestes tipo de circunstâncias.

O Professor Victor Gil faleceu ontem. 

Deixo aos leitores uma breve nota biográfica sua, escrita, com grande sensibilidade, por João Paiva (aqui).
Não são todos os cientistas que pintam ou fazem poemas, nem todos os químicos que se entregam ao árduo, difícil e gozoso trabalho de promover o ensino e a divulgação da ciência para todos. Na sequência de uma carreira brilhante como químico, com destaque particular para o seu doutoramento em Sheffield, na Inglaterra, e para a responsabilidade pelo primeiro laboratório de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) português, Victor Gil foi o primeiro (jovem) reitor da Universidade de Aveiro. 
A par da sua atividade científica sempre teve intervenções na educação e na divulgação da ciência. São inúmeras as suas obras publicadas no país e no estrangeiro, não só na investigação química mas também em domínios educativos e culturais. Sou coautor de algumas dessas obras, pelo que posso testemunhar o empenhado, competente e original papel daquele que foi e é o meu mestre na minha profissão. 
Na parte mais avançada da sua carreira, como aliás acontece com muitos cientistas, o Prof. Victor Gil dedicou-se quase em exclusivo ao ensino e à divulgação científicas. A forma como emprestou a esta causa a sua inteligência e criatividade foi impressionante. Colaborei nos primeiros passos do Exploratório: as nossas conversas inspiradas em algumas visitas a Centros de Iniciação Científica estrangeiros, as ideias que íamos tecendo e algumas noitadas a manufacturar as montagens de demonstrações e pequenas exposições deixam-me uma grata saudade. 
Foi com base nesses primeiros humildes mas ousados gestos que a ciência, com novos edifícios, foi colocada na praça pública e nas mãos de todos as pessoas curiosas, principalmente dos mais novos. Com o tempo as construções foram-se cimentando (no duplo sentido da palavra). Primeiro na Rua Pedro Monteiro e depois na margem do Mondego, o Exploratório Infante D. Henrique ofereceu-se à cidade e ao país, num espaço onde o “mexer” para questionar era incentivado. 
Juntamente com a Prof.ª Helena Caldeira e outros colaboradores interessados e interessantes, o Prof. Victor Gil contribuiu durante décadas para erguer uma das estruturas culturais mais relevantes da cidade, um pólo competente e cativante da Ciência Viva do nosso país. Este legado tem um óbvio e reconhecido valor (não seria preciso ser discípulo, como é o meu caso, para concordar). 
A cidade, a universidade, o país, a ciência e a cultura devem ao Prof. Victor Gil uma sentida palavra de grande reconhecimento. A química, sua pátria primeira e apaixonada, interessa-se pela transformação. A natureza oferece-nos exemplos notáveis de mudança e de renascimento, como acontece com sementes que, na dor do confronto com a terra agreste se abrem para mais tarde dar o fruto que as justifica. 
Victor Gil já nos deu frutos enormes da semente que sempre foi mas o meu repto de amizade e cidadania é para que interprete o eventual deserto de descontinuidade como a terra em que novos desafios se lançarão. 
Já lhe devemos muito mas eu desejo saborear a sombra de mais árvores que ele poderá plantar. Eu, como muitos outros, estamos profundamente agradecidos e estamos também na expectativa de tudo aquilo que nos poderá ainda dar.

1 comentário:

regina disse...

Foi com muita tristeza que tomei conhecimento da ocorrência. A seu convite fui uma vez ao exploratório e não posso deixar de lembrar o carinho com que ali fui recebida não apenas por ele.Soube mais tarde que, juntamente com a Dra Helena Caldeira tinha deixado o Exploratório. Não sei qual a razão mas sei que ambos fizeram ali um belíssimo trabalho que nunca é demais enaltecer. Até sempre Professor Victor Gil

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