quarta-feira, 27 de junho de 2018

DA POESIA À CRISE DO SPORTING CLUBE DE PORTUGAL


Meu artigo de opinião publicado,  hoje, no "Jornal As Beiras":


  “Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro.E aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu”.
Fernando Pessoa

Começo por me reportar a uma belíssima poesia, intitulada, “A ABRIR…”,  da autoria de Colares Pinto, que a escreveu   para o “Livro de Curso (INEF/1955)”, obedecendo aos cânones  de sonetos saídos da pena de Camões, Bocage, Antero. 

Transcrevo esses versos de uma saudade agridoce  que  marcam indelevelmente o  percurso académico dos  estudantes do estuário do Tejo (Cruz Quebrada) e que encontram lapidar exemplo, nas margens do Mondego, com a  belíssima “Balada da Despedida”,  de Fernando Machado Soares recentemente falecido:

“Retratos de corpos e de almas…
Alegria a chorar, tristeza a rir…
Esp’ranças, ilusões, derrotas, palmas
…sorrir!...
……………………………………………………………………………..

Olhos que vêem no infinito imenso
E na ladeira o ouro, a mirra, o incenso
Da vida insana a íngreme subida
E  os espinhos da c’roa dessa vida…

Olhos que vêem, corações que sentem
Por outros corações, por outros olhos…
E na estrada só há sinais que mentem,
Curvas que traem, nevoeiros, abrolhos…

Dadores da mais rica herança
Ao fulvo  cabelito, à loira trança
A deixarão da doida novidade.


Por esses mares além e continentes
Faróis da vida ficarão luzentes,
A mostrar o caminho à humanidade!"...
“A ABRIR…” é um verdadeiro hino ao exercício de um magistério  norteado pela missão cometida aos professores de  Educação Física em nome de uma Educação Integral, desde o ensino das primeiras letras à Universidade, num tempo em que o futebol profissional substituiu o pão e circo do Império Romano para fazer esquecer as  dificuldade de um “povo que lava no rio”, apelidado pelos opositores do Estado Novo, como “ópio do povo”, ópio de que a “quarentona democracia portuguesa” dele se apoderou avidamente com as mãos ambas, para euforia momentânea das populações mais carenciadas tentando transmitir aos governados uma falsa sensação de bem-estar de que tudo vai bem na “ocidental praia lusitana”, libertando os governantes do opróbrio dagrande e  gorda porca da política a amamentar uma data  de bacorinhos”, em caricatura  de Rafael Bordalo Pinheiro.
Escrevo este texto em recordação de uma escola de ensino superior prestigiada com um “2.º Prémio dos Laboratórios Pfizer” (1963), resultante da sua parceria com a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, nem sempre valorizada por  uma pretensiosa intelectualidade que a leva a não alinhar com Sílvio Lima, professor catedrático de Filosofia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, quando, em inícios da década de 40 do século passado, de forma magistral, doutrinou: “O Desporto é uma questão grave (grave que quer dizer etimologicamente pesada) que só parece leve aos de cabeça leve como o sabugo ou o algodão”.

Para não ser acusado de oportunismo face à situação actual vivida por um dos maiores e mais eclécticos  clubes portugueses, o Sporting Clube de Portugal,  desde já faço prova de uma crítica que fiz há mais de meio século dos então caminhos ínvios trilhados pelo Desporto Português. Nela escrevi, sei-o hoje, premonitoriamente: “Para um merecimento perfeito do fenómeno desportivo há que  acreditar  no valor moral dos praticantes, dos técnicos, da imprensa e dos dirigentes, enfim de todos que o servem para se evitar o risco em se atingir a decadência desportiva romana sem se ter conhecido o apogeu de uma educação integral helénica” (Jornal “Diário” de Lourenço Marques, 19/07/1961). 

A decadência desportiva romana chegou ao país mais ocidental da velha Europa viajando por auto-estradas, a educação integral helénica perdeu-se em vielas do caminho!

4 comentários:

Anónimo disse...

O articulista Rui B. com o seu "estilo" inconfundível de "prosa" abre, como é seu costume, a silly season.

A citação de Fernando Pessoa revela que sofre de uma perturbação psi-quê de despersonalização e que portanto o próximo texto será para se queixar da adse no acompanhamento da saúde mental.

Anónimo disse...

Pois, e Portugal nunca antes na História conheceu tantos e tão espantosos desportistas de elite como agora. E nunca antes teve tantos campeões mundiais ou europeus a actuarem numa mesma era desportiva. Nunca ganhámos tantas medalhas, nunca tivemos tantos desportistas federados a praticar desporto de competição.

É um período de autêntico fulgor, com campeões em modalidades tão diversas como Judo, Motociclismo, Ténis, Futebol, Canoagem, Triatlo, Ténis de Mesa, Ginástica, Ciclismo, Futsal, Natação...

Ler baixo disse...

Deveria tratar a necessidade constante que tem de insultar, criticar e minimizar. Reforma total.

Rui Baptista disse...

Pelo tom cordato com que foi escrito o seu comentário, "argumentando com seriedade e não como quem manda bocas", o mais breve possível explanarei os motivos pelos quais estou de acordo consigo embora o meu texto possa ter deixado dúvidas a esse respeito.

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