terça-feira, 23 de maio de 2017
UMA TESE ORIGINAL
A tese de mestrado em Gestão do Desporto de Fernando Madureira, líder dos superdragões, feita numa instituição de ensino superior do Norte (ISMAI), foi divulgada pela revista VISÃO:
O parágrafo mais importante do resumo, com as conclusões do estudo, é este:
"Pela análise da investigação que efetuamos, podemos concluir que a venda de Merchandising na Bancada Sul do estádio, que é uma óptima forma de os adeptos conhecerem os produtos e vestirem-se à “Super Dragões” e o ajuste do preço dos bilhetes à procura é também um aspeto a poder ser aproveitado de forma a aumentar o número de adeptos."
Se não percebeu em português, tente perceber em inglês a última parte do abstract:
"By analyzing the research we perform, we can conclude that the sale of Merchandising Bench South of the stadium, which is a great way for fans to know the products and dressed to the "Super Dragões" and the price adjustment of tickets will demand is also in one aspect can be exploited to increase the number of fans."
No corpo da "tese", de três dezenas de páginas, onde se sucedem os erros de ortografia e pontuação, encontram-se verdadeiras "pérolas" como estas:
"No futebol actual é necessário haver uma estruturação do público em geral e sobretudo haver uma estratégia entre o clube e uma claque de apoio."
"A ideia é desenvolver todo um conjunto de pressupostos para que o apoio seja cabrangente a todo o Estádio do Dragão, Dragão Caixa e que os adeptos possam ser essa voz"
"De acordo com a análise da literatura, verificamos que existem diferentes dimensões da qualidade relativamente aos diversos autores, bem como aos estudos por eles realizados. "
"Como referem Camara et al. (1997), podemos entender mudança como um processo, que marca num sistema, uma diferença entre um instante e outro. "
"Odiernamente, o mercado da compra online está cada vez mais seguro nas questões aliadas à venda, como corrobora Martins (cit. in Moreira, 2015) ao referir que um dos maiores receios de quem não está habituado a efetuar compras online, é o fator segurança. "
" Dentro deste conceito já é possível que um adepto possa comprar produtos alusivos à claque (Super Dragões) na página de Facebook. Podemos observer na figura 7 alguns dos produtos disponíveis e que por sua vez poderão ser comercializados. "
"A bilhética é um element crucial deste projecto. Aqui, uma boa estratégia fará com que todo o conceito seja empregue de forma eficaz e coerente junto dos adeptos do FC Porto. "
"Quando falamos de 'futebol', pensamos logo em dar às pessoas um canal na qual coloquem toda esperança e paixão em torno da equipa. Portanto, o futebol torna-se ainda mais importante, não
não só para os adeptos, mas para todo o público que venera o futebol. " .
Enfim, as conclusões:
" Com este trabalho podemos observer o quanto importante é inovar na qualidae dos serviços em geral e nos serviços desportivos em particular, nomeadamente no futeol. ó para os adeptos, mas para todo o público que venera o futebol. Realçou-se a importânciaccomo dinamizar a Bancada Sul do Estádio do Dragão e as consequentes estratégicas que poderão ser implementadas para um melhor aproveitamento e dinamização do espaço."
Parece que a nota final foi 17. O que menos interessa é saber se a "tese" é de um superdragão, de um diabo vermelho ou de um juveleo. O que interessa aqui mais é o estado do ensino superior português, politécnico no caso.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
20 comentários:
Realmente, vergonhoso. Mas quantas bem escritas, no ensino universitário, mas vazias de conteúdo. Vem-me à memoria, uma projecto de doutoramento, aprovado numa conceituada universidade portuguesa, cujo assunto era a mera, friso mera, contemplação da natureza e os benefícios para a saúde mental. Sem omitir uma introdução com referências a Popper. Imagino o que Popper diria da mesma.
Pois para validar coisas destas até desculpo aqueles que receberam graus académicos sem lá pôr os pés e tanta indignação justamente provocam
Ó Leonor!
Parece-me que fazer um comentário deste teor, ainda que legítimo, implica dar o exemplo.
Já diz o adágio: "Quem tem telhados de vidro não atira pedras."
Repare no que escreveu aqui, por exemplo:
«Vem-me à memoria, uma projecto de doutoramento, aprovado numa conceituada universidade portuguesa,»
Sugiro que reveja o uso da pontuação.
Neste passa-culpas ao ensino politécnico, esqueceu-se de referir que por Lei o ISMAI tem na verdade a natureza de universidade, facto aliás evidente na sua denominação oficial: Instituto Universitário da Maia.
Lamento mas muitos professores universitários são os responsáveis pela miséria que grassa por esse país. Ratificam tudo.
Longe vão os tempos em que se fazia uma verdadeira seriação.
Depois do Relvas tudo é possível. E nas privadas (e até nas públicas) o que interessa é que o candidato pague propinas.
Pois é Ana, foi propositado, mais uma vez vem provar, que muitos do que se dedicam aos doutoramentos se preocupam mais com a dialéctica e correcções linguísticos, do que com o conteúdo em si, ou talvez os números também sejam importantes. E se acha que é falso, está no seu direito. Mas tem algo similar dito por um psicólogo num jornal Publico, professor, e que por acaso também mencionou Popper, de forma errada. Ó Ana, não tente tapar a luz que atravessa os vidros com peneiros.
Para si, até me dei ao trabalho de procurar um dos livros de apoio dessa tese.
Environmental_Psychology_An_Introduction__2012_Linda_Steg,_Agnes_E._van_den_Berg,_Judith_I._M._de_Groot_ Espero que goste.
A responsabilidade da miséria que grassa por este país é de muitos dos senhores professores universitários que ratificam tudo.
Longe vai o tempo em que as universidades tinham algum critério e faziam alguma seriação.
Agora muitas faculdades formam ignorantes.
Senhor Anónimo (em Portugal há muitas pessoas com este curioso nome):
Também está formado por alguma universidade, presumo?
Qual foi a magnífica universidade onde aprendeu a fazer essas generalizações e comparações absurdas?
Talvez o tenha aprendido neste parágrafo:" O que interessa aqui mais é o estado do ensino superior português, politécnico no caso."
Maria:
A quem convém esta guerra surda, às vezes ruidosa, entre ensino universitário e politécnico?
Certas acusações revelam mais sobre quem as faz do que sobre quem se quer atacar.
Fiz o processamento de texto e a revisão gramatical de vários trabalhos e teses (pré e pós-Bolonha), a maioria da FLUC. Não só não aprovaria a maioria do que li, como mandaria para o olho da rua os respectivos professores.
Passaram-me ainda pela vista relatórios de estágio e teses de licenciatura (pré-Bolonha) e mestrado (pós-Bolonha) de alunos da Vasco da Gama, Católica, Universidade de Aveiro e ISCAC, e não me recordo de algo que pudesse considerar digno de alguém com um curso superior.
Estou perplexo por o Carlos Fiolhais vir falar dos outros. Ainda no ano passado trabalhei com dois doutorados da FCTUC cuja escrita era uma abominação. Sei que não são excepções, porque tive a infelicidade de lá estudar e sei muito bem como é.
O ISMAI não é politécnico. Por favor corrija.
O ISMAI não é ensino politécnico. É ensino particular universitário.
A mim só me ocorre um comentário, a nossa Sociedade está em perfeita decadência.
A tese, que não li, é obra de um dos mais bem sucedidos agentes do panorama desportivo português, que construiu uma realidade económica mais rentável que o clube em torno do qual a construiu. A tese é em Gestão do Desporto e descreve, ai que indica, os processos de decisão comercial que levaram à construção dessa realidade económica.
Presumo que a nota de 17 seja por causa dos erros ortográficos.
Sugiro uma consulta às teses de doutoramento do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Aí, em ofensa à memória do saudoso António Manuel Batista, se desenvolvem teses sobre as epistemologias do Sul, convivem especialistas em áreas do conhecimento fundamental como o Feminismo Pós-Bélicodo Índico mas, verdade seja dita, estão escritas num português quase perfeito.
Sim, parece que a Universidade de Coimbra também é considerado como ensino Universitário.
Ó Pires:
É fatal como o destino ir bater ao CES, o odiozinho de estimação da Direita trauliteira.
É curioso que entre tanto lixo académico superior que se espalhou pelo país, em especial resultante da nossa pujante iniciativa privada (daquela que adora as rendas estatais garantidas como seguro da mais pura concorrência), o Pires logo se tenha lembrado do CES.
Só pode ter sido por acaso.
É esta cegueira ideológica, este fanatismo que desencadeia ódios contra alvos bem determinados, normalmente do campo ideológico contrário, que nos tem feito marcar passo demasiado tempo.
Ó Pires, leia a tese e comente-a.
É pequenina, 36 páginas apenas, do tamanho de uma introdução e uma conclusão de uma Tese com maiúscula.
Ou incomoda-o ser de um instituto «universitário» privado, ainda por cima dos seus correligionários políticos?
Quero salientar que o "senhor anónimo" certamente não se identificou, dado que neste país existe medo. O medo de ser apontado, ostracizado, e existem várias formas de ostracismo, como todos sabemos.
Aqui a questão não implica esgrimir argumentos contra ou a favor dos Politécnicos.
Na minha humilde opinião, e até estou um pouco por dentro da questão, EXISTEM VÁRIAS instituições de ensino superior que, como afirmou o "senhor anónimo", ratificam tudo. Ora essa é uma lamentável situação que não deveria existir. Infelizmente os alunos hoje são os clientes que muitas instituições de ensino superior não querem perder.
Maria Dulce Marques da silva
Como a cobardia, mesmo quando parece falar, não tem voz, retomo o mote de um(ns) Anónimo(s), reformulando-o.
A responsabilidade da desmedida incultura que floresce em Portugal (ao contrário de outros sectores da nossa sociedade, comum notável desenvolvimento, em Democracia) tem de ser atribuída, em boa parte, ao ensino superior e seus agentes.
Não sei quem são os maiores culpados: se os sucessivos Ministros, se algum imobilismo institucional, se a predominância de uma concepção utilitarista do ensino, privilegiando a formação de "técnicos altamente especializados", em detrimento de uma aceitável formação cultural (conhecimento + capacidade de o pensar), que extravasa da transmissão dos saberes específicos de cada curso. O interesse pelos fenómenos culturais - sem o que dificilmente o ser humano se autonomiza e define enquanto tal – é indispensável.
Sei, no entanto, que a responsabilidade individual existe.
Pelo que, quando se multiplicam os sinais de dramática insuficiência cultural entre licenciados, mestres e doutorados, há culpa directa e evidente dos professores. A aprovação de teses idiotas, de conteúdo nulo e redacção iliterata, manifesta, por parte de quem as aprova, ignorância, incultura, preguiça, desleixo. E tudo isto é da responsabilidade de cada um dos "aprovantes", tão-só mais um elo de uma cadeia de sucessivas levas de maus professores.
Numa área que me é mais próxima, a da Comunicação Social, a falta de interesse pela Cultura é notória e reflecte-se na incapacidade de uma significativa maioria de profissionais de identificar bojudas insuficiências em áreas do saber que são básicas na profissão (seja de jornalista, apresentador, realizador, produtor e etc, pois cada asneira transmitida pertence a todos os intervenientes na transmissão): do catastrófico desconhecimento da História, agravado pelo desinteresse de procurar documentação adequada a cada tema, a um muito deficiente domínio da língua portuguesa, ferramenta essencial neste sector de actividade.
Apesar dos esforços de muitos profissionais (e existem sempre alguns de excelência), o que se diz, o que se mostra, o que se escreve nos “media” actuais - incluindo os “de referência” - é de uma extrema pobreza. Quando intervém um dos raros jornalistas ou apresentadores (muitos comentadores também não são brilhantes, mas não são profissionais) que sabe do seu ofício e do que fala, é uma festa.
Quanto ao português que exibem - ainda por cima, com o incremento de confusão introduzido pelo Aborto Ortofágico -, é de fugir.
Ora, desde 1979 que existe um curso superior de Comunicação Social. A que se foram acrescentando outros. Se, tanto quanto me fui apercebendo, a coisa não começou mal (até porque tinha excelentes professores), parece ter-se degradado, a julgar pelos “produtos” actualmente em uso. E isto significa que, como noutras licenciaturas e mestrados, os professores foram evoluindo no sentido de maior impreparação e/ou permissividade. Falo por mim: se fosse professor, não deixaria “passar” quem desse os tremendos erros de português com que vou tropeçando quotidianamente. E duvido que, desse modo, cortasse alguma promissora carreira, pois dificilmente alguém que se exprime mal consegue aceder à compreensão do conhecimento que lhe é transmitido. Talvez conseguisse, sim, que os alunos que completassem o curso fossem verdadeiros profissionais e não “simpatizantes”, como dizia o Baptista Bastos.
Parece que idêntica degradação de qualidade e exigência tem vindo a alastrar escandalosamente no ensino superior. O exemplo apresentado é caricato, de tão mau. Mas tenho-me cruzado com muitos outros que não são significativamente melhores. E alguns destes licenciados e mestres hão-de, um dia, chegar a professores, contribuindo diligentemente para a expansão do “cretinismo superior”. Mas mui “produtivo”…
Enviar um comentário