sábado, 20 de fevereiro de 2016

Podemos ler. E dar a ler

Nas cada vez mais apertadas malhas da "linguagem policiada" sob o desígnio do "politicamente correcto", o poema de António Gedeão Lágrima de preta, que tem sido "usado" recorrentemente nas escolas  para "combater o racismo" (ver aqui), seria agora, se adoptados os argumentos dados a conhecer em artigo do Público antes referido (ver aqui), contestado e, quem sabe, dispensado. Triste ironia!

O que podemos fazer contra esta censura que se entranha em nós a cada dia que passa?
Podemos ler. E dar a ler.

Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.


Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.


Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.


António Gedeão

1 comentário:

Anónimo disse...

Com jeitinho, tanto politicamente correcto ainda acaba em racismo atroz. Parece aquele História pensada pelos iluminados da UE que pretendia limpar da História da Europa as "partes más" . Vai deixar de haver magros, brancos, espaguetes, negros, gordos, chineses, comilões, anorécticos ....... porque vai sempre magoar alguém.
E eu, que não podia ir a Guimarães porque as pernas ficavam lá para cabos de faca? Ou que de frente parecia de lado e de lado nem me viam?

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...