Eu não queria embarcar na má vontade generalizada contra os partidos políticos, mas, realmente, para os nossos, já não há pachorra.
Cresci, durante o salazarismo, a ouvir dizer mal dos partidos políticos. E aquilo que era uma estratégia do Estado Novo para justificar, em nome da eficácia política e da unidade nacional, a ilegalização dos partidos, ia ao encontro da imagem negativa de boa parte da população. Ou por influência da doutrinação martelada pelo Regime, ou pelo que os velhos ainda relatavam dos tempos da 1.ª República, ficou-nos um subconsciente coletivo de desconfiança partidária.
O certo é que Salazar aproveitou isso para, com exemplos portugueses e coloridos históricos nacionais, encontrar justificação para o regime político que resultou do 28 de Maio de 1926. No fundo estava em linha com as ideologias anti democráticas que, na primeira metade do século XX, à Direita com os fascismos e à Esquerda com os comunismos, abominavam os partidos ilegalizando-os onde quer que essas ideologias triunfassem.
A má imagem dos partidos políticos tem, assim, no nosso imaginário e na nossa memória coletiva, uma justificação e um lastro pesado e fundo, que não sei se não está a regressar, perigosamente, por portas travessas da história, ao atual sentimento de muitos portugueses. Reforçada, é óbvio, pelos comportamentos partidários, que repetem os vícios dos seus avós. Basta ouvir as rádios para ter esse sentimento geral.
Tendo em conta o que resultou, nas várias modalidades (social, política, económica, humanitária) destas duas aventuras políticas que postergaram os partidos – tanto os fascismos como os comunismos acabaram mal, como se sabe, depois de muitos e muitos milhões de vítimas – não queria embarcar na aversão que por aí anda e acrescentar mais à carta.
Mas era bom que se refletisse um pouco – sobretudo dirigentes e militantes partidários – sobre esta ideia sedimentada e antiga, e que os factos atuais estão a fazer renascer. Porque há comportamentos e formas de pensar que se repetem nos partidos políticos portugueses, como se todos tivessem aprendido pela mesma e antiquíssima cartilha, que modernizações de superfície não escondem, e que estão a irritar toda a gente.
Será que de dentro dos partidos ninguém repara?
Parece que não.
Talvez porque nos interiores partidários as pessoas perdem a capacidade de pensar; é o que temos que concluir. Há uma lógica de luta pelo poder, de “ordem unida” contra o inimigo, que cega, que obscurece cabeças e estrabiza olhares.
Vejam, por exemplo, o modo como todos os partidos da Oposição atacam qualquer decisão do Governo: Sempre, sempre, sempre. Seja o que for e como for. E como procuram, por todos os meios e mediante por vezes os argumentos mais descabelados, tornar invisível alguma boa medida do Governo, ou alguma boa notícia. O que isto significa em termos de confusão e desmobilização geral não lhes interessa, por muito que prejudique o País. Inversamente, o modo como, por exemplo, o Governo ignorou os alertas para a estratégia seguida, demasiado rígida e violenta, e que muitas vozes da Oposição lhes foram dando, revela também uma psicose partidária, que fez muitas vítimas desnecessárias, e estava errada, pelo menos em alguns aspetos, como agora se reconhece.
Aliás, se a situação dos dois partidos (PSD e PS) fosse inversa as atitudes seriam as mesmas, embora ao contrário. E os partidos que não formam habitualmente governo, por aquilo que se vê, fariam o mesmo. Ou ainda muito pior.
Tudo porque o espírito de trincheira e a necessidade de vencer o inimigo a todo o custo transforma as operações mentais e os raciocínios da maioria dos nossos políticos numa química partidária tóxica. Que infelizmente liberta gases letais para o sistema neurológico da população provocando bloqueios e até gangrenas na massa cinzenta. Basta ouvir, repito, os fóruns de opinião da Antena 1 e da TSF, todas as manhãs, ou as opiniões de políticos partidários, distribuídos em doses sortidas pela semana, da direita à esquerda, em televisões e rádios, para se perceber o que aí vai de facciosismo, de má-fé e de desinformação, estrategicamente alimentadas pelo combate partidário.
Não percebem que estão a contribuir para fogueiras que talvez um dia os deixem em cinzas.
João Boavida
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2 comentários:
http://ferrao.org/documentos/Livro_Contos_Proibidos.pdf
Infelizmente, desta vez tenho que concordar com o Sr. João Boavida. Na verdade, os actuais partidos políticos da nossa praça tresandam a bafio, de tão estafados que são os argumentos que insistem em usar para defender e/ou justificar a sua existência. Por exemplo, a única diferença - programática ou outra - que encontro entre o PSD e o PS é que ao PS falta o D, de suposta democracia, D esse que o PSD - pelo menos o actual - tem em excesso. E depois choram lágrimas de crocodilo de cada vez que a abstenção aumenta.
Um dia destes os putativos candidatos partidários serão eleitos apenas com os votos dos seus familiares e daqueles membros mais ferrenhos, porque futuros candidatos.
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