quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Um professor compreensivelmente confuso

Recentemente, um jovem professor de língua materna propôs aos seus alunos entre os 13 e os 14 anos de idade que escrevessem uma composição a partir duma circunstância hipotética, que seria mais ou menos a que se segue:
«Acabas de fazer 18 anos e decides pôr fim à tua vida. A tua decisão é irrevogável e resolves explicar as razões da angústia que te atormenta. No texto que redigires refere os acontecimentos da tua vida que causam esse sentimento» 
Uma carta anónima alertou a sua escola, os pais alarmados movimentaram-se e o director suspendeu-o. O professor, cujo trabalho era apreciado, quando teve de se explicar, mostrou-se... confuso. E tem razões para isso, digo eu...

Efectivamente, muitos professores, sobretudo os mais jovens, foram formados na "cartilha" da contextualização da aprendizagem no "eu" dos alunos: fez-se-lhe crer que a tarefa docente não consiste só nem principalmente na educação formal; que devem solicitar às crianças e jovens pensamentos e sentimentos próprios acerca dos mais diversos aspectos da vida, de preferência da sua própria vida; que devem potenciar a sua auto-estima e auto-conceito, que devem desenvolver integral, holística, globalmente a sua personalidade...

Acresce que tudo isto integra uma certa ideologia que colhe larga aceitação na sociedade ocidental e que se encontra legitimada em múltiplas orientações e directrizes curriculares...

Como pode afirmar-se que este professor francês (mas que poderia ser português, espanhol, brasileiro...) cometeu um erro, seguindo ele de perto, talvez demais, o que se espera e até se determina que faça?

Nota: Este texto decorre da sugestão do leitor Miguel Pires quem agradeço a atenção.

11 comentários:

Rui leprechaun disse...

Em 1º lugar, diga-se o que se disser, o ensino NÃO é uma atividade centrada no aluno (nem no professor), mas antes na relação entre ambos, o que é algo um tanto diferente. Nessa relação, o docente é o guia ou orientador da aprendizagem, mas o processo será sempre de mútua cooperação. Caso contrário, não existe nem ensino nem aprendizagem, mas apenas mera imposição (professor) e aceitação ou rejeição (aluno).

Quanto ao tema da redação, o que de facto me parece estranho e incómodo é o professor ter centrado o objeto de reflexão no próprio aluno, o que não se afigura muito prudente... Isto para além da própria dificuldade que por certo muitos alunos teriam em abordar um tal assunto de forma pessoal, embora se trate apenas de um exercício de imaginação criativa, claro.

Suponho que deve ter sido isso que perturbou os pais e a direção da escola, já que o tema poderia ter sido tratado de outra forma mais indireta, por exemplo, colocando o sujeito da ação na 3ª pessoa. Neste caso, não se pediriam as "razões da angústia que te atormenta", mas antes as "razões da angústia que o/a atormenta". No fundo, e do ponto de vista do exercício criativo, a diferença seria mínima mas o envolvimento emocional também menor. Assim, colocou-se cada aluno na posição do ator que tem de viver o drama do seu personagem, só que aqui ele seria autobiográfico e, pior ainda, na escrita final da sua biografia.

Por fim, como reflexão pedagógica seria interessante saber que diálogo se estabeleceu entre o professor e os alunos e ainda o que é que motivou o tema desta redação. Ou seja, e recuperando o que disse no início, ensinar e aprender é um ato relacional, em que AMBOS ensinam e aprendem simultaneamente. Professor e alunos são uma equipa, numa relação não hierárquica nem mesmo diretiva, mas antes mutuamente assertiva!



Unknown disse...

é raríssimo tecer qualquer comentário em blogues, seja qual for a sua natureza.
mas não consegui evitar.

https://plus.google.com/photos/102211088307615907930/albums/5807632934528910001/5807632937627899298

cumprimentos

Cisfranco disse...

Não me admira nada a reacção que ocorreu face à proposta de trabalho do professor. Também eu reagiria se tivesse filhos implicados. Afinal, o jovem professor foi, ao fim e ao cabo, vítima da sua própria improdência. Aconselhou-se com alguém?
Bem diferente seria a reacção, se o trabalho fosse tentar que os alunos pensassem/descobrissem o motivo(s) por que alguém que acabou de fazer 18 anos (não eles próprios), resolveu pôr termo à vida. Não sabemos como o assunto foi "tabalhado" na turma, mas pelo enunciado que pode ler-se, parece que tanto a morte como a vida estão no mesmo plano. É assustador!

José Batista disse...

É assustador, sim. E muito ilustrativo do estado a que chegou a escola. E do modo como muitas escolas (universidades, espécies de universidades e outras...) estão (ou estiveram) a formar "professores"(?).
E os "frutos" vão surgindo... E nós somos obrigados a colhê-los...

Como foi possível?

Anónimo disse...

Podem crer, eu disse não à profissionalização, o que está a ser proposto neste momento é absolutamente insuportável, o Construtivismo vai gerar o inverso, é uma lavagem ao cérebro, felizmente minha Alma fica aliviada pois terei legitimidade para arrasar com aqueles que vendem a Alma. As universidades são hoje um local pouco recomendável e a escola um local de crescente de traidores. Parabéns ao professor do artigo, afinal, é só o produto do "status quo". Acho que deveria receber um prémio. As escolas superiores de educação ê as autoridades ministeriais têm que assumir a sua responsabilidade. A tolerância em relação ao aborto, eutanásia, incesto, gayzismo, suicídio, bestialismo, pedofilia, etc está a ser promovida, não vejo nenhuma razão para castigar o professor, afinal, não é tudo relativo?

Anónimo disse...

"o/a " ... português horrível e arrepiante.

Anonymus disse...

Tudo isto existe... tudo isto é triste... tudo isto é Fado.
Noutros tempos, com outras roupagens, nunca terá havido algo comparável?

Mas existe também o que abaixo transcrevo, que é permanentemente esquecido por aqueles que só vêem... o Fado.
Deprimente.

E ainda cá não veio «botar faladura» o Papa «anti-eduquês», não tardará com mais uma das habituais homilias.

«Portugal foi o país da UE que nos últimos vinte anos mais progrediu nas diferentes áreas da ciência. Os números falam por si. A despesa em investigação em % do PIB em 1995 foi 0.5 e em 2010, 1.6. Em 1990, havia 8000 investigadores, em 2010, 46.256, o que correspondia a 8.3 investigadores por mil ativos (a média da UE é 6 e a da OCDE, 8), a maior taxa de crescimento da Europa. Em 1990 realizaram-se 337 doutoramentos e em 2010, 1660. Quanto à produção científica referenciada internacionalmente no Science Citation Index, em 2000 somava 2602 artigos e em 2010, 8224. As patentes submetidas à European Patent Office foram 8 em 1990 e 165 em 2009. O crescimento do número de investigadores gerou uma dinâmica no setor privado, onde a integração de investigadores foi igualmente galopante: passaram de 4.014 em 2005 para 10.841 em 2009.
O significado mais óbvio destes números é que eles mostram o caminho que Portugal estava a tomar para fugir à fatalidade de sermos um fornecedor de mão-de-obra barata. À medida que o sistema nacional de ciência se ampliava e os avanços científicos eram paulatinamente transferidos para a indústria e serviços, alterava-se a especialização internacional da nossa economia de modo a aproximá-la da que é típica dos países mais desenvolvidos. A mão-de-obra altamente qualificada manteria a vantagem comparativa do país já que, apesar de bem paga, seria mais barata que a correspondente noutros países europeus.
Este esforço deu um salto qualitativo a partir de 2000 com a criação dos laboratórios associados (LA). Os LA resultaram da conversão de alguns dos melhores centros de investigação (com classificação excelente), aos quais foram dadas melhores condições para se expandirem, contratando investigadores exclusivamente dedicados à investigação e criando estruturas administrativas que lhes permitissem colaborar com outras instituições, celebrar contratos ou concorrer a financiamentos europeus. Isto permitiria ainda acabar com a situação perversa de Portugal, um dos países menos desenvolvidos da Europa, contribuir com mais dinheiro para os fundos de ciência da UE do que aquele que os seus investigadores obtinham em projetos. Pode discutir-se se outros centros mereciam ter sido convertidos em LA (situação que pode corrigir-se a qualquer momento, e aliás conduziu, ao longo dos últimos 12 anos, ao alargamento do leque inicial), mas o que não pode pôr-se em causa é o êxito da aposta nesta inovação do sistema científico e tecnológico nacional. Foram até agora criados 26 LAs. Integram 28% do total dos investigadores doutorados; entre 2007 e 2012, obtiveram 88% dos financiamentos europeus do 7.º programa-quadro (122 milhões de euros) conseguidos pela totalidade dos centros de investigação. A renovação do pessoal científico tornada possível pelos LA explica que a maioria dos seus investigadores esteja abaixo dos 45 anos de idade, enquanto nos outros centros a maioria está acima dos 50 anos.
(continua)

Anonymus disse...

(continuação)
O orçamento de 2013 deveria testemunhar a determinação de o país continuar a investir na investigação científica. Sendo objetivamente os LA a alavanca mais dinâmica desse investimento, resulta incompreensível que o próximo orçamento da FCT assuma uma atitude hostil em relação aos LA, expressa em duas medidas. Por um lado, enquanto a FCT sofre um corte ligeiro de 4,4% (aliás compensado pelo aumento dos fundos comunitários), os LA sofrem um corte médio de 30%, o que, nalguns casos, os torna insustentáveis. Por outro lado, apesar de os LA terem o seu estatuto renovado até 2020 (com avaliações intercalares), fala-se agora de uma outra “refundação” de todas as instituições científicas a partir de 2014 que pode comprometer esse estatuto. Tudo isto cria instabilidade que compromete um dos investimentos mais reprodutivos que o país realizou nos últimos vinte anos. Não esqueçamos que, dos 1200 investigadores contratados ao abrigo do Compromisso com a Ciência, 41% são estrangeiros. A fuga de cérebros já começou. A FCT está a tempo de evitar o pior, até porque não se trata de ir buscar mais dinheiro ao orçamento. Trata-se apenas de o distribuir com critérios de eficiência.»
In revista Visão.

Anónimo disse...

Meu amigo, não é esse o plano dos globalistas e cá temos um governo que ainda quer ser mais globalista que o FMI e o Banco Mundial. Tudo em nome da sustentabilidade genocida eugenista.

Rui leprechaun disse...

Ciberdúvidas

Eu diria que horrível e arrepiante é o desejo de não aprender e evoluir, para além de que tal pormenor é irrelevante para esta discussão.

Anónimo disse...

Algo vai mal nesta europa de referência!

Animal Urges: Bestiality banned by Bundestag amid zoophilia rise
http://www.youtube.com/watch?v=eAnfFbRCgzw

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