domingo, 30 de dezembro de 2012

SESIMBRA INAUGUROU O PRIMEIRO DOS TRÊS MONUMENTOS NATURAIS COM PEGADAS DE DINOSSÁURIOS DO CONCELHO

Agradecemos ao Professor Galopim de Carvalho mais um texto que teve a amabilidade de nos enviar.

Painel informativo, à entrada da Jazida. Foto de António Chagas

Entre Sesimbra e o Cabo Espichel, no sítio do Zambujal e com óptimas condições de musealização, a Pedreira do Avelino, há muito desactivada, conserva o que resta de um afloramento de calcário no qual ficaram impressos vários trilhos de dinossáurios saurópodes (herbívoros, quadrúpedes), que aqui viveram no Jurássico superior, numa paisagem lagunar, sob um clima tropical, quente e húmido.

De diferentes corpulências, os animais que nos deixaram as marcas da sua existência, provavelmente um grupo de indivíduos jovens e adultos da mesma espécie, pisaram um chão lamacento (lama feita de poeira calcária como a que existe actualmente nos litorais recifais intertropicais) que, com o passar dos muitos milhões de anos se transformou no calcário compacto e coeso que aqui se nos oferece.

À deposição dos sedimentos (há cerca de 150 milhões de anos), representados pelas camadas à vista na pedreira, sucedeu-se a sedimentação de muitas outras, numa espessura que podemos estimar na ordem de dois a três mil metros, o que conduziu a um afundamento e consequente aumento da pressão e da temperatura responsáveis pela compactação e coesão da referida lama.

Muito mais tarde, no Miocénico superior, há uns 11 milhões de anos, a deriva da litosfera africana contra a ibérica, que deu origem à pequena cadeia da Arrábida (quase completamente arrasada pela erosão neste local), deformou as camadas, inicialmente horizontais, que, assim, se mostram inclinadas como a que exibe as pegadas deste admirável geomonumento.

Embora de pequena dimensão (cerca de 20 a 30m), esta jazida, descoberta em 1989 pelo professor Miguel Magalhães Ramalho, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), exibe pegadas muito bem definidas e conservadas. A sua importância e a de outras duas com este tipo de icnofósseis, no concelho de Sesimbra (Pedra da Mua e Lagosteiros, no Cabo Espichel), indicou-as como geomonumentos a proteger.

Esta condição e a sua grande vulnerabilidade, levou-me, em 1993 e em nome do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, a solicitar à autarquia que requeresse, ao então Instituto de Conservação da Natureza, a classificação destas ocorrências como Monumentos Naturais, ao abrigo do então recém-criado Decreto-Lei n.º 19/93, de 23 de Janeiro. Num processo demasiadamente burocrático e lento, que durou quatro anos, este pedido de classificação foi finalmente contemplado através do Decreto n.º 20/97, de 7 de Março. Dezasseis anos depois, mercê de dificuldades decorrentes da posse do terreno, a Câmara Municipal de Sesimbra conseguiu, finalmente, colocar a jazida da Pedreira do Avelino à fruição do publico, em geral, e a pensar nos nossos alunos das escolas, em visitas de estudo.

Visitável em perfeitas condições de acesso (inclusive em autocarro) e segurança, este monumento da pré-história está explicado com o necessário rigor científico/pedagógico, dispensando a presença de um monitor. A sua musealização esteve a cargo de elementos qualificados do referido Museu da Universidade de Lisboa, do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e da Câmara Municipal de Sesimbra.

 Vista da Laje com as pegadas. Foto de António Chagas

A inauguração deste Monumento Natural teve lugar no passado dia 15 de Dezembro. Neste acto, muito concorrido, estiveram presentes, o Presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, Arqº. Augusto Pólvora, e a Vice-Presidente, Dr.ª Felicia Costa; a Presidente da Assembleia Municipal de Sesimbra, Dr.ª Odete Graça; o Presidente da Junta de Freguesia do Castelo, Dr. Francisco Jesus; o Presidente da Direcção do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, da Universidade de Lisboa, Prof. José Pedro Sousa Dias; a Directora do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas de Lisboa e Vale do Tejo, do ICNF, Dr.ª Maria de Jesus Fernandes; o Presidente da Direcção da Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal (ADREPES), Engº. António Pombinho e a respectiva Coordenadora, Drª Manuela Sampaio.

Parabéns à Autarquia. O empenho que esta vereação demonstrou faz-nos crer que levará igualmente a bom termo os dois restantes Monumentos Naturais com pegadas de dinossáurios (Pedra de Mua e Lagosteiros) bem como a “Gesseira de Santana” e o “Conglomerado de Porto do Concelho”, há muito referenciados como geomonumentos a preservar.

Galopim de Carvalho.

5 comentários:

José Batista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Batista disse...

Parabéns também, e muito especialmente, a quem solicitou à autarquia que requeresse, ao então Instituto de Conservação da Natureza, a classificação destes locais como Monumentos Naturais.

E muito obrigado, já agora.

Não fora a distância, que se reflete nos preços, e havia de tentar ir com os meus cachopos do 10º ano até à Pedreira do Galinha, que nos fica mais perto... Aqui há três ou quatro anos ainda conseguíamos, discretamente, lugar para aquela meia dúzia de meninos cujos pais não podiam pagar. Só que agora passaram a ser muitos...

Fernando Martins disse...

Parabéns ao Professor Doutor Galopim de Carvalho, pelo magnífico trabalho, e ainda à CM Sesimbra pelo esforço e empenho. Ficamos à espera da classificação dos restantes 3 geomonumentos de Sesimbra...
Quanto a locais com pegadas, há ainda, no PNSAC, as de Vale de Meios, no Pé da Pedreira (http://goo.gl/maps/5iiGm) que não se paga bilhete e tem pegadas de terópodes (e algumas de saurópodes...) - ver aqui: http://geopedrados.blogspot.pt/2010/10/fotos-da-actividade-de-05102010-pegadas.html

José Batista disse...

Obrigado por divulgar a informação, caro Fernando Martins.
Não conhecia as pegadas de Vale de Meios...

Henrique Seruca disse...

Obrigado por esta informação, tão interessante.

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