domingo, 8 de julho de 2012

Pari passu

Temos dado conta no De Rerum Natura da situação crítica, e em cada ano lectivo mais crítica, do ensino das línguas e cultura clássicas em Portugal. No ano lectivo que se aproxima esse ensino poderá extinguir-se nas escolas públicas (em escolas privadas o seu lugar cresce). De facto, o número de vinte alunos como critério de constituição de turmas, a não ser adaptado a casos de disciplinas em que a procura é reduzida, impede as escolas que ainda disponibilizavam a opção de Latim e de Grego de o fazer.
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Numa escola, uma professora resiste, com colegas tem preparado, em tempo e condições muito exíguas, alunos que trazem para Portugal excelentes prémios internacionais. Percebendo, agora, que (talvez) a única possibilidade de manter as línguas e a cultura clássica no sistema de ensino seria a "oferta de escola", concebeu um programa, intitulado Pari Passu, que está disponível a quem o queira aproveitar gratuitamente.

Prevê-se um acompanhamento às escolas e professores aderente por parte de uma equipa que, entretanto, se formou. Não podia o De Rerum Natura deixar de falar (mais uma vez) com Alexandra Azevedo.


Poderá explicar aos leitores do De Rerum Natura como surgiu o programa Pari Passu.

O motivo que nos levou a pensar nele foi, não só o exemplo contínuo que nos chega de países germânicos ou anglo-saxónicos, em que o ensino das línguas e cultura clássicas tem ganho muitos adeptos por se considerar elementar e fundamental na educação das crianças e jovens, mas sobretudo o grave estado em que se encontra, no nosso país, o ensino das línguas e cultura clássicas. Cada vez é menor o número de alunos que estuda latim e consequentemente, menor o número de licenciados que dominam esta língua que é, afinal, a matriz da nossa. Estamos perante um facto objectivo que tem implicações graves no ensino da língua portuguesa. Estudar latim é um fim em si mesmo, mas é antes o princípio a partir do qual podem surgir melhorias na competência linguística dos alunos. Assim, não obstante a corrente empurrar-nos no sentido do conformismo e da desistência, decidimos aproveitar uma pequena abertura legal que a recente publicação das matrizes curriculares para o ensino básico permite e estruturar este programa que disponibilizamos às escolas de todo o país.

É um programa para todos os ciclos do ensino básico?
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Começamos pelo 2.º ciclo por se enquadrar perfeitamente nos objetivos do que foi legislado para a oferta complementar de escola. Caso o acolhimento seja positivo, pretendemos estendê-lo ao 1.º e 3.º ciclos, adaptando, naturalmente, os objectivos e as estratégias. A inserção neste ciclos é, no entanto, mais difícil no atual disposto legal.
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Como caracteriza, de modo geral, o programa?
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É um programa que flexível, adaptável às circunstâncias de cada escola, ao seu projeto educativo, ao seu crédito horário específico. A sua mais-valia é lançar uma linha de trabalho que em Portugal, não sendo nova (vários colégios privados têm programas análogos), constitui uma primeira abordagem no ensino público. .
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Quais são os objectivos que devem guiar a acção dos professores que o usarem?
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Visa, acima de tudo, contribuir para se ultrapassarem dificuldades que o afastamento do estudo das línguas e da cultura clássica poderá ter trazido aos nossos alunos: dificuldades na fluência de leitura e prosódia, na análise textual, no domínio vocabular, no raciocínio lógico, na expressão escrita e oral, na condução por valores que são a matriz da nossa convivência… Trata-se, portanto, de agir numa realidade que pode e deve ser alterada.
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O sítio na internet não está ainda completo, será completado pela equipa responsável e/ou pelos professores aderentes?
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A ideia é ser completado ao longo do ano por nós e por todos os que vierem a colaborar nele. Serão, pois, arquivadas sequências didáticas, materiais concebidos, instrumentos de avaliação, enfim, o que possa ser vantajoso em termos de estratégia de aprendizagem.
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Pari passu, significa…
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A par… Num passo igual… O nome do projeto tem um duplo objetivo: a igualdade de oportunidades culturais e linguísticas para todos os alunos e a evolução simultânea em português e na aprendizagem clássica.
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Votos de sucesso. 

7 comentários:

De Rerum Natura disse...

Acabo de enviar o link ao meu agrupamento. Espero que colha…

Cumprimentos,

António Mouzinho

Tiago Santos disse...

Será que não percebem que é o ensino exclusivamente direccionado para os exames que retira importância a todas as outras áreas que estão fora dos ditos exames?

Anónimo disse...

Onde está o link para este projeto?

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

O link que procura está nas palavras em azul de Pari Passu.

Anónimo disse...

http://xanaaareis.wix.com/projeto-pari-passu

Acho que sim, desejo boa sorte, veremos que espaço sobra para um tal projecto.

Francisco Domingues disse...

Licenciado em Filologia Românica, fui professor de Português e Francês, durante mais de 40 anos. Sempre me socorri do latim para o ensino de uma e outra língua, já que ambas são línguas latinas. Realmente se queremos preservar a nossa identidade linguística, não diria que se ensinasse latim, mas, ao menos, que não se perdesse e tirasse dos dicionários a origem latina das palavras, como irá acontecer seguramente com a introdução do (Des)Acordo ortográfico, contra o qual sou e que nunca utilizarei na vida! É uma questão de dignidade de ser português, além de tudo o mais...

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Do latim: são duas correntes possíveis cuja leitura para uma e interpretação a outra, sugerindo da árvore dois troncos no entanto a complexidade do latim que responde a esta realidade sofre da expansão(refração)aos múltiplos títulos ou ideologias e que fundem-se por moldar outras tantas culturas e que já nem do sentido directo a informação quiça formação, ao longo dos tempos fora tomada de interesse, a cada qual do povo em leitura do que conviera; portanto o estudo de língua clássica o latim e especificamente, tornara-se um fio central para a compreensão e se ouso da expressão, atribuo ao sentido por defendê-lo do que ocorre neste tempo do desgaste infundado, pois outrora dispersado e até monopolizado a religião, questão esta de singular argumento do valor onde ao longo da idade média propriamente o poder religioso e governamental juntos, responsabilizavam-se pelo desenvolvimento seguido a vantagem, a dita usura o interesse. Ora, a resposta desta língua o latim e que através deste em sacramento a fé, e por severo colocada a prova, comprova hoje do sentido, perdera o sígno enquanto válida e real da impressão humana.

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