sexta-feira, 20 de julho de 2012

"In Memoriam" do Professor José Hermano Saraiva


Em vida do Prof. José Hermano Saraiva, tive o grande privilégio de publicar neste blogue vários posts sobre este memorável docente da disciplina liceal de História. Hoje, nesta hora de luto para a família e de muita saudade para os que foram seus alunos no Liceu Passos Manuel, em Lisboa, a minha sentida homenagem com a transcrição de um meu artigo e a carta/resposta que lhe mereceu.

Escrevi nesse artigo, intitulado “O Historiador José Hermano Saraiva”:

“Este mundo é duro: haverá sempre inquisidores e fogueiras” (António José Saraiva, 1963)

Os desvairados impropérios dirigidos ao Prof. José Hermano Saraiva pelo senhor Acácio Barradas, nas colunas de “Cartas ao Director” (Público, 26. Julho. 2005), espelham bem a sentença de Buffon: 'O estilo é o próprio homem'.

E toda esta raiva, porquê? Pelo frisson que lhe causou a reportagem, datada de 24/Julho/2005, da autoria do jornalista do Público, Adelino Gomes, com o testemunho de pessoas (entre elas o Prof. José Hermano Saraiva) dos mais variados espectros políticos sobre a ordem do falecido Prof. Rui Grácio, à época secretário de Estado de Orientação Pedagógica, para que fossem destruídas pelo fogo livros de 'índole fascista' (ao tempo, revolucionários tiveram ‘Os Lusíadas’ nesse rol!) que fazem parte da história de um pais secular em que o mau uso da liberdade passou a ser desculpa para todos os desmandos. Num momento pouco agradável de uma vida vítima de torpezas, apraz-me a oportunidade que me é dada de dizer que, em finais da década de 40, tive a honra de ser aluno do Prof. José Hermano Saraiva, no Liceu Passos Manuel. E dele me recordo a dar as aulas da disciplina de História com o mesmo entusiasmo e aplauso que desperta na legião de pessoas que o escutam e o vêem nos seus programas televisivos por se tratar de um pedagogo que em nada se assemelha aos ‘pedabobos’, a quem os ventos da revolução trouxeram uma mudança radical nas suas ‘convicções políticas’, que pululam por esse Portugal fora arrastando-o para o lugar de lanterna vermelha em estudos comparativos sobre Educação, relativamente a outros países europeus! E que bem ele utilizava a pedagogia de fazer para aprender: aquando da matéria referente aos Descobrimentos, passava como trabalho de casa, a feitura de mapas a eles referentes bem como a construção – em madeira de balsa talhada a canivete e as velas em pano com a Cruz de Cristo pintadas – das caravelas de antanho, sendo atribuídas classificações que contavam para a nota final de período!

Por fazer vista grossa a uma fraternal estima e respeito mútuo que são do conhecimento público, abomino a referência que o subscritor da carta supracitada faz – na vã tentativa de apoucar os sagrados laços de família– pela evocação despudorada do nome do Prof. José António Saraiva, segundo ele próprio, aqui com verdade, 'um dos portugueses mais perseguidos por questões políticas durante o regime do Estado Novo'. Vejamos o que, a este propósito, escreve Maria Ana Sequeira de Medeiros, nos seus dados biográficos: ‘Expulso do ensino superior em 1943, na sequência de um processo disciplinar motivado por um desentendimento com Vitorino Nemésio, António José Saraiva ingressou no ensino liceal’ (António José Saraiva e Óscar Lopes: ‘Correspondência’, Gradiva, Março 2005). O deturpar desta expulsão logo é aproveitada por certa esquerda - que transforma deuses em demónios e demónios em deuses, a seu bel-prazer e ao sabor das suas conveniências – para lhes atribuir um cariz político. Sejamos honestos: reporta-se a referência feita a António José Saraiva só a parte da vida de uma proeminente figura do mundo da Cultura! E a outra?

Quando, verbi gratia, com a reflexão e os desenganos que a idade trazem à vida, denuncia os crimes cometidos pela ex-união Soviética nas estepes geladas da Sibéria? Ou, ainda, quando se manifesta contra a forma como se processou a ‘descolonização exemplar’, e que tanto escândalo provocou à época, 'em que   em vez de descolonização, houve uma ‘debandada em pânico’ em que os militares ‘fugiram como pardais’” (António José Saraiva, “Crónicas”, p. 503).

Por último, esta é uma sentida e singela homenagem (que muito peca por tardia!) de um antigo aluno que lamenta que a sua condição do octogenário que dedicou grande parte de uma vida valorosa ao estudo e divulgação escrita e oral da historiografia – ‘não só pelo achado de documentos novos, mas também pelo surto de ideias fecundas’, como defendia António Sérgio -, ao magistério da História e à sua divulgação popular lhe não permitam destreza física para dar umas boas bengaladas nos costados de quem bem as merece por pôr em causa, como pôs, o notável estatuto profissional de historiador do Prof. José Hermano Saraiva!

Para evitar especulações de deturpação de intenções, desde já declaro que abomino qualquer tipo de prisões por motivos políticos a pesssoas que não atentem contra a vida de pessoas inocentes ou sirvam de mordaça de regimes totalitários à liberdade de expressão que acaba por não vingar porque, no dizer poético de Carlos de Oliveira, ‘não há machado que corte a raiz ao pensamento’(Diário de Coimbra, 4 de Agosto de 2005).

Tendo enviado ao Prof. José Hermano Saraiva fotocópia deste artigo recebi dele uma carta que, com a devida autorização foi publicada no meu livro “O Leito de Procusto – Cónicas sobre o Sistema Educativo”, Outubro de 2005. Reza ela, em transcrição integral:


" Meu querido e antigo aluno,

Recebi a sua carta com o recorte do jornal Diário de Coimbra. Agradeço-lhe muito as palavras tão amigas que usa a meu respeito. Não sabia do artigo do Dr. Acácio Barradas, mas não me surpreende. Conheço a pessoa e sei que não fez aquilo por mal. É apenas incapaz de fazer melhor. Fiquei particularmente enternecido com os tempos da minha juventude em que com tanto entusiasmo tentava iniciar os meus jovens amigos na inteligência da História.

Quero ainda dizer-lhe que concordo plenamente com o seu ‘P.S.’. Como advogado defendi muitas dezenas de presos políticos no Tribunal Plenário de Lisboa. A discordância vi-a na frase ‘não haver machado que corte a raiz ao pensamento’. Infelizmente há. As fogueiras da Inquisição ainda hoje fazem sentir o seu efeito exterminador, e a prova é que em 1974 as cinzas reacenderam-se e provocaram um novo ‘auto de fé’. Passados 30 anos ainda há quem ache isso bem.

Não julgue que estou com isto a censurar os pontos de vistado meu colega Dr. Acácio Barradas. Desde os astrónomos gregos, sabemos que o mundo é redondo e que o círculo tem 360º. Os meus antípodas têm tanto direito de pensar como eu.
Envia-lhe um abraço comovido e de grande amizade o seu amigo de sempre.
Lisboa, 29 de Setembro 2005".


Perante os valiosos testemunhos televisivos prestados no dia de hoje à sua memória por personalidades da vida cultural e política portuguesas, mormente de um seu antigo aluno liceal, o ex-presidente da República Portuguesa, Dr. Jorge Sampaio, penitencio-me pela opacidade do meu verbo que só se justifica por dar notícia de tempos vividos como discente de um grande e inesquecível Mestre. A História, que segundo Gertrude Stein, “faz memória”, saberá dar-lhe o lugar que merece entre os vultos da Cultura que se preocuparam em torná-la acessível ao grande público.

35 comentários:

Anónimo disse...

Eu cá não tive a honra de ser aluno, só tive a honra de levar umas cacetadas
ordenadas por ele em 1969.

Nazaré Oliveira disse...

Grande Mestre, Grande Historiador, Grande Comunicador!
Para ensinar não basta o Saber, o Conhecer: é preciso GOSTAR DE O FAZER E SABÊ-LO FAZER!
Com vocação e talento, tal como ele o fez.

Até sempre, Sr. Professor!

Rui Baptista disse...

Anónimo (20 de Julho, 23:53):

Que responder-lhe? "Há sempre um modo diferente de ver os problemas - depende 'del cristal com que se mira'" (Fernando Pádua, presidente do Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva).

Joachim disse...

Essa de ter havido uns revolucionários que tivessem ‘Os Lusíadas’ num rol de livros de 'índole fascista' é uma aldrabice de mestre.

Rui Baptista disse...

Joachim: Se assim o diz, assim o é para si. Há quem atribua a Voltaire o dito (que cito de memória): "Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até à morte o direito que tens em o dizer!" Só me amofino, todavia, com os que, como escreveu Mestre Aquilino, "trazem às costas a opinião dos outros como uma mochila do regimento!"

Fernando Martins disse...

Caro amigo:

Há em José Hermano Saraiva duas facetas muito diversas, uma que aprecio (o comunicador, o pedagogo, o homem de televisão que falava para o analfabeto e para o doutor) e outra que me faz gostar menos dele (há, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, uma sala no edifício do Departamento de Matemáticas, que tem o nome de 17 de Abril de 1969, por causa dele...). Há ainda alguns aspetos da suas versões da História de Portugal que me parecem demasiado "inventivos", diria quase que folclóricos (mas aqui é uma questão de gosto e é subjetivo).

É uma grande perda para o país a morte deste Senhor, mesmo que não tenha sido um santo em toda a sua vida - e quem o foi sempre, dirão?

Finalmente, um aspeto que quero salientar - a queima de livros de uma coleção fantástica que havia nas Escolas Primárias, feita depois do 25 de abril, existiu (e, mais triste do que ter existido, é ter havido quem tenha rido e apreciado o Auto de Fé na altura e o defenda ainda hoje - os filhos do Torquemada, de Hitler, do Estaline, do Pol Pot e de muitos outros nunca morrem). A minha mãe, professora primária na altura, guardou todos os que pode, e ainda hoje me são úteis.

E sim, na altura, Os Lusíadas eram fasssistas, tal como a Amália (a que cantou Manuel Alegre, Ary dos Santos, Oulman e muitos outros) e muitas outras coisas. E houve quem os queimasse na mesma fogueira (embora, às vezes, deixassem certas partes do Canto IX de fora, curiosamente...).

De notar que os livros da referida coleção tinham, nas páginas iniciais, uma citação de Salazar - mas o que vinha depois é que interessava. E se queriam branquear a História (como no caso de uma tal de ponte 25 de abril, que parece que existe em Lisboa), cortavam a tal página (como a minha mãe fez) ou colocavam em cima da citação uma outra mais condigna (de Marx, Lenine, Estaline ou Cunhal). Mas, queimar livros...nunca mais!

Anónimo disse...

O Senhor Rui Baptista sabe fugir ás questões. Sabe é como quem diz, bem se vê que não sabe.

Anónimo disse...

Em 69, eu estudava na Universidade de Coimbra. Fez-me sofrer.
Mais tarde, pela tv, mostrou-me Vinhais, Penedono, Sortelha, Évora-Monte, Crato, Silves, etc, etc, mostrou-me o País que somos e que fomos. Agora, que já tenho tempo, quando posso, vou conhecer "in loco" o que me foi mostrando.
Nunca lhe perdorei 69, mas, muito grato lhe estou pelo resto.
Descance em paz, se puder.
Jaime Valverde

José Batista da Ascenção disse...

De José Hermano Saraiva apreciei muito os seus programas

televisivos.

Aquilo não era história, diziam-me alguns.

Ao que sempre respondi: Se não é tenho pena que a história não me

motive assim.

E se calhar não era, talvez fosse mais "a alma da gente".

Agora, há uma coisa que me pesa particularmente em José Hermano

Saraiva: o facto de ter afirmado que Salazar era um santo.

Um Santo!

Podia apenas ter dito que não foi um ladrão nem um acumulador nem

um esbanjador de bens materiais, coisa de que muitos "democratas"

não podem gabar-se, e de que deviam envergonhar-se (se isso lhes

fosse possível...).

Assim mesmo: Vade retro, Salazar!

Anónimo disse...

Grande Historiador é obviamente gozo. Não faça pouco dos mortos.

Anónimo disse...

Acrescente: quem escolhe o cristal é o observador.

Anonymus disse...

Não conheci pessoalmente JHS mas fui desenvolvendo em relação a ele um sentimento de muita simpatia, pois era uma pessoa que nos cativava com o magnetismo que punha na forma como comunicava connosco e com o interesse dos temas que nos apresentava nos seus programas televisivos.
É inegável o seu papel como grande divulgador de História junto das grandes massas, das pessoas menos cultas que ele conseguia interessar e entusiasmar.
Ontem, num documentário evocativo na RTP2, um seu antigo aluno no Liceu Passos Manuel descrevia como ele conduzia as aulas, em particular uma sobre o conhecido poema de Afonso Lopes Vieira – Os Ninhos – empoleirando os alunos numa grande árvore junto do Liceu, cada um em seu galho, declamando cada um deles um verso que era replicado pelos restantes alunos com os versos seguintes: Os passarinhos/tão engraçados/fazem os ninhos/com mil cuidados (…).
Fora outro professor a fazer isto, especialmente nos dias de hoje, e estaria a ser crucificado na praça pública como símbolo máximo do EDUQUÊS.
É que ali não temos ensino «sério», temos brincadeira, divertimento, motivação, etc. etc., os ingredientes do EDUQUÊS, da «escola como um recreio permanente e total», para usar as palavras da Papisa Anti-Eduquêsa Maria Filomena Mónica.
Mudam-se os tempos mudam-se as vontades, ou a avaliação de geometria variável conforme os tempos e os protagonistas.

Rui Baptista disse...

Retiro-me por respeito aos leitores que possam não estar interessados em sofismas em que se sabe e não se sabe!

Rui Baptista disse...

Se reparar, e reparou de certeza, a minha homenagem ao Prof. José Hermano Saraiva teve como cerne o muito que lhe fiquei a dever como seu aluno e aos métodos pedagógicos revolucionários para a altura ou mesmo para os dias de hoje. Por outro lado, numa época de trânsfugas políticos é sempre de apreciar quem se manteve igual a si mesmo até à morte. De igual modo, embora em posições políticas bem opostas, igual respeito nos deve merecer Álvaro Cunhal.

Descanse em paz, querido Professor.

Rui Baptista disse...

Meu Caro José Batista da Ascenção: De acordo consigo, Salazar não foi santo. Apenas um político probo que nasceu pobre e pobre morreu. Que venha o primeiro que demonstre o contrário...

Rui Baptista disse...

Bom amigo: Sobre a ponte Salazar, quiseram que nela fosse posta uma inscrição com o seu nome de difícil apagamento. Ele a isso se opôs para evitar, como alertou, o trabalho de a retirar mais tarde. E com isso, evitou o trabalho daqueles que construíram a ponte de 25 de Abril num abrir e fechar de olhos. Quantos deles, em anos anteriores, em sua vida, não o vitoriavam enchendo por completo a Praça junto ao Tejo.

Grato pelo testemunho que trouxe sobre a queima dos livros, com relevo para a omissão do Canto IX de Os Lusíadas por ser havido como crime cantar esta ditosa Pátria que tem sobrevivido a todos os desmandos dos diversos "ismos".

Rui Baptista disse...

Estimada Colega: Grato pelas suas justas palavras em homenagem a um Homem que na sua morte teve o condão de reunir testemunhos de apreço vindos de luminares da cultura, de políticos e de pessoas do povo a quem ele soube dar um contributo de erudição deveras valioso e que há-de perdurar na memória e na gratidão daqueles a quem criou o gosto pelo passado com palavras simples e emotivas.

Rui Baptista disse...

O meu comentário das 21:50, era em resposta ao comentário da Professora Nazaré Oliveira. Para o leitor, para ela e para o autor do comentário das 19.25 as minhas desculpas.

Rui Baptista disse...

Do que me lembro, tive no Liceu Passos Manuel dois professores de História. Um deles o "controverso" José Hermano Saraiva. Outro, que, aquando das chamadas orais, nos mandava ler páginas do Compêndio Mattoso. A classificação era atribuída da forma seguinte: leste muito bem, tens, por exemplo, quinze. Leste mal tens negativa. Estas duas situações muito contribuíram para o rerpeito que me merece o Professor José Hermano Saraiva.

Anonymus disse...

Em momento algum da minha prosa pode intuir alguma falta de consideração pelo Prof. JHS.
Quis apenas realçar a diferença de avaliação de uma prática pedagógica que, se acontecesse hoje, seria imediatamente aqui diabolizada, apelidada de EDUQUÊS.
Com o Prof. JHS é (indirectamente) avaliada como boa, pois ele é (e justamente) enaltecido como um bom professor, um professor que cativava os alunos para a aprendizagem, aliás, como todos deveriam fazer.
É tão só isto que está em causa.

Rui Baptista disse...

Nunca interpretei o seu comentário como falta de consideração pelo Prof. JHS. Se, porventura, o possas ter deixado subentendido apresento-lhe as minhas desculpas. Peço-lhe que aceite os meus cumprimentos e o agradecimento pelo seu comentário.

Rui Baptista disse...

Substituir "possas" por "possa".

Anónimo disse...

Isso de nascer pobre e morrer pobre tem mérito? Há milhões, e entre eles me incluo, que nascem pobres e morrem pobres. Se Salazar foi santo ou não, não sei. Só perguntando aquele cardeal português (não me lembro do nome, Saraiva?) que, em Roma, trata das promoções. Agora que o Salazar gostava da PIDE, isso gostava. Razão mais que suficiente para eu não gostar dele.

Anónimo disse...

"Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até à morte o direito que tens de o dizer". Eis um ditado em que Hermano Saraiva não acreditava.De facto não lhe custou pertencer a um governo que mantinha a PIDE e a CENSURA. Daqui se deduz a estatura moral dele e de quem o apoia.

Anónimo disse...

Eu de facto também acho que o Senhor Rui Baptista tem muita consideração por H: Saraiva e por tudo que ele representa e faz lembrar.

João de Castro Nunes disse...

José Hermano Saraiva


Gosto de ouvi-lo. Indubitavelmente.
Gosto do seu discurso literário
que tonifica o nosso imaginário,
fazendo-se entender de toda a gente.


Encanta-me o seu modo diferente
de evocar o percurso extraordinário
do nosso povo pelo mundo vário
onde hoje ainda a sua acção se sente.


Tem uma forma de falar da história
que nos fascina pela sua prosa
da mais directa e límpida oratória.


Como em contrapartida é odiosa
a pesporrência, nos televisores,
de certos presumidos professores!


João de Castro Nunes

João de Castro Nunes disse...

Como escrevi no facebook do Prof. A. Carvalho Homem, "os nossos caminhos cruzaram-se algumas vezes em franca divergência, mas nunca com desilegância". JCN

João de Castro Nunes disse...

Caro Doutor Rui Baptista:
O Professor José Hermano Saraiva, com quem tive o gosto de colaborar, foi sobretudo um mago da História que até as pedras punha a falar, ao contrário de certos camafeus da cátedra sem quaisquer dotes de comunicabilidade pedagógica, como é o caso, cujo nome me escuso a citar, de laureado docente que debitava história de olhos postos no chão, furtando-se a olhar de frente para os alunos. Que diferença! Imaginativo, o Professor Saraiva?! Deus lhe deu esse condão! JCN

Rui Baptista disse...

Não era necessária tamanha perspicácia para chegar a esta conclusão.Por isso, nem sequer o posso felicitar. E se respondo ao seu comentário é, tão-só, em respeito desta frase final da carta que o Professor José Hermano Saraiva me endereçou, e que eu transcrevi no meu post: "Os meus antípodas têm tanto direito de pensar como eu".

Rui Baptista disse...

Prezado Professor João de Castro Nunes: Este vosso comentário testemunha que quando em discordância com o Professor José Hermano Saraiva ela se pautou pelo civismo entre duas personagens da cultura.

Esta seu depoimento, trouxe-me à lembrança o princípio defendido por António Sérgio: “Contestar a ideia de um certo homem, ou defendida por um certo homem, não é insultar esse mesmo homem. Sabe-se isto no mundo inteiro e só se desconhece neste país. E porquê? Porque muitos dos que escrevem, berram ou declamam (….) ficaram ao nível do fanatismo e dos simples interesses pessoais”. E haverá fanatismo maior do que o fanatismo político desumano que não respeita nada nem ninguém?

Grato pelo comentário, meu caro Professor.

Anónimo disse...

""Os meus antípodas têm tanto direito de pensar como eu". Faltou acrescentar "na prisão" como ele demonstrou em 1969. E de facto na prisão também se pensa ... e muito.

Rui Baptista disse...

Razão, sem dúvida, para que Salazar possa, e deva, ser criticado sem esquecer, claro, o mentor do COPCON, Otelo Saraiva de Carvalho, que emitia ordens de prisão em branco, que tendo nascido pobre vive rico.Será, que a exemplo,do livro de Fernando Namora, "Deuses e Demónios da Medicina", se deverá acreditar que os políticos ou são santos ou demónios? Ou, pelo contrário, simples homens com todos os defeitos da condição humana?

Rui Baptista disse...

Anónimo (dia 22; 10:23):Por poder dar-se o caso de a sua memória só registar parte da história e, com isso, a intenção do seu(s) comentário(os) em que o homem é lobo do próprio homem, aqui lhe (re)transcevo o período final da carta que dirigi ao Professor José Hermano Saraiva:” Para evitar especulações de deturpação de intenções, desde já declaro que abomino qualquer tipo de prisões por motivos políticos a pessoas que não atentem contra a vida de pessoas inocentes ou sirvam de mordaça de regimes totalitários à liberdade de expressão que acaba por não vingar porque, no dizer poético de Carlos de Oliveira, ‘não há machado que corte a raiz ao pensamento’” (Diário de Coimbra, 4 de Agosto de 2005).

E dado que estamos em hora de recordações, chamar-lhe a atenção para esta introdução do livro de Alexander Soljenitsin ,”Arquipélago Gulag”, em memória dos milhões de vítimas que perecerem nas estepes geladas da Sibéria por motivos políticos: “Que eles me perdoem não ter visto tudo, não ter recordado tudo, não me ter apreendido de tudo”.

Anónimo disse...

Neste Blogue ninguém se lembra de Helena Cidade Moura. Coitada não foi ministra de Salazar nem de Caetano nem a TV a acolheu....

João de Castro Nunes disse...

Este blogue, ao que suponho, não é propriamente um boletim necrológico! JCN

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