quarta-feira, 9 de maio de 2012

Computadores: Prós e Contras

“Eu testo [a Net ], mas não uso no dia-a-dia. Mais importante,  os meus filhos não usam. Eles são bons garotos” (Steve Balmer, presidente da Microsoft).

O  vídeo aqui ontem publicado por Desidério Murcho, “Sugata Mitra: deixem as crianças aprender”, conduz   à conclusão de que toda a moeda tem anverso e reverso. Ou seja, todas as metodologias de ensino têm prós e contras, ainda que limitadas, segundo o seu próprio autor, “a lugares na terra, em cada país, onde por razões várias, boas escolas não podem ser construídas e bons professores não podem ou não querem ir”.

Aliás, o primeiro exemplo  apresentado pelo autor no vídeo  tem como ”mestre” um rapaz de oito anos a ensinar a navegar na Net uma menina de seis anos.  Logo aqui se fica sem saber quem o ensinou nos segredos e meandros, mesmo que rudimentares, dos computadores.

De entre muitos outros posts de crítica que aqui publiquei sobre computadores, que poderei referenciar, caso algum leitor se mostre interessado - o primeiro, intitulado “A entrega dos portáteis nas escolas” (15/09/2007) -  transcrevo parte de um outro, também meu,  intitulado “O Homem Contemporâneo do Futuro” (03/05/2001):

“Mas, por seu turno, os computadores, com o seu incomensurável poder de armazenamento de informação, não estão (ainda?) capacitados para substituirem a emoção e sentimentos - que, segundo António Damásio, constituem a base daquilo que os seres humanos têm descrito desde há milénios como alma ou espírito humano’ -, com trunfos que o levam a um jogo ganho à partida. É este o drama de um mistério com que se debate a nossa era e que só o devir se encarregará de desdramatizar ou não! Mas, como nos ensina Eric Hoffer, 'a única forma de prever o futuro é ter poder para formar o futuro!'”

Mas nada melhor que nos reportarmos ao caso do nosso país e das suas crianças. Para o efeito, e possível tema de uma discussão interessante, transcrevo, na íntegra, de um artigo da “Lusa” (17/10/2008):

“A maioria dos estudantes entre os nove e os 14 anos utiliza a Internet para conversar em ‘chats’, apesar de 44,1 por cento dos pais pensarem que o fazem para procurar informação, segundo um estudo que será divulgado hoje.

‘A comparação das respostas dadas pelos estudantes e pelos encarregados de educação é extraordinariamente interessante. Na utilização da Internet, as crianças respondem que o fazem para conversar ou descarregar músicas e os pais estão convencidos que elas a utilizam para pesquisar informação e como apoio aos trabalhos escolares.’, disse à Lusa o coordenador geral do ‘Estudo de Recepção dos Meios de Comunicação Social’ José Rebelo.

Outros factos salientados pelo coordenador geral do estudo, é o de 11,1 por cento dos jovens inquiridos confessarem quer usam a Intenet para visitar sites pornográficos, facto admitido apenas po 0,7 por cento dos pais.

Quase metade das crianças inquiridas (42,5 por cento) usa a rede para publicar fotografias ou informações, questão que é apontada por 75,9 por cento dos pais quanto a preocupações ao uso da net.

Refira-se que as visitas a sites pornográficos preocupam também 70,6 por cento dos encarregados de educação que responderam ao inquérito.

De acordo com outro estudo, do Projecto Eu Kids Online, revelado em Setembro, Portugal é, a par da Polónia, o único em 21 países europeus onde os pais portugueses menos conhecem o que os seus filhos fazem on-line.

Na parte do estudo dedicado aos jovens, ficou também claro que ‘o investimento das famílias em equipamentos é inversamente proporcional ao seu estatuto socioprofissional’.

É nos sectores da pequena burguesia de execução que encontramos investimentos maiores e os quartos das crianças enchem-se de quinquilharias diversa. Em contrapartida, nos sectores mais privilegiados do ponto de vista social e profissional, os investimentos são menores’, explicou José Rebelo”.

São duas posições, de certo modo antagónicas, até porque analisadas em contextos diferentes, mas merecedoras, todavia, de  uma reflexão cuidada de professores e pais (e não só!). Com respaldo numa citação de Erich Fromm (psicanalista, filósofo e sociólogo alemão, 1900-1980): “O problema não é que os computadores possam pensar como nós, mas que nós possamos pensar como os computadores”. Servindo-me, agora, uma vez mais, e tanto a meu gosto, da voz do povo: “Não há bela sem senão”. Por mais bela que ela seja, mesmo!

11 comentários:

Anónimo disse...

Caro Rui Baptista:
Os dados que apresenta em nada contradizem a possibilidade de os computadores poderem ser usados na educação com resultados positivos. Por outro lado compara o incomparável: as crianças a quem Sugat Mitra se dirige com o seu projeto com as crianças de países desenvolvidos que possuem escolas e computadores pessoais em suas casas.
Relativamente à utilização que os nossos adolescentes fazem da internet em casa isso depende da supervisão dos seus pais (que devem ser ajudados nessa tarefa). O bloqueio a sites pornográficos ou a outros que nada têm a ver a educação é algo muito fácil que inviabiliza uma má utilização da internet.
PJ

Anónimo disse...

Nunca percebi por que é que os sites pornográficos são pecaminosos e nada têm a ver com a educação. Mas pensando bem, compreende-se: há países em que olhar uma mulher (ou homem se o observador for mulher) pouco vestida é vedado e condenado. Cada um tem as suas manias.

Cláudia S. Tomazi disse...

A visão indiscriminada ou de elemento (desprepeparado) encaminha estímulos de forma a organizar aspectos que corrompem o lúdico na formação infantil. Da advertência: a curiosidade em aprendizado desperta o sentido enquanto acção. O reconhecimento de si em cenas ( por analogia de cumplicidade) de imagens, orientam impressões e projecta actos (civilizados ou não) em contínua formação. A experiência precoce é uma forma de agressão (em contagem regressiva) compromete a descoberta do sentido ético (enquanto natureza instintiva libera para o condenável). A considerar, que refrear a forma de abordagem é imperativo para converter do êxito a formação em preparar uma geração que invista a energia em compromisso solidário e que (persiga) alavanque esforços não dissipando-os as disputas.

A pornografia compromete o estímulo criativo e emerge confusão de ordem prática. O indivíduo mau resolvido é um problema social, principalmente o masculino.

Rui Baptista disse...

Prezado JP: Do seu comentário reproduzo: “Os dados que apresenta em nada contradizem a possibilidade de os computadores poderem ser usados na educação com resultados positivos. Por outro lado compara o incomparável: as crianças a quem Sugat Mitra se dirige com o seu projeto com as crianças de países desenvolvidos que possuem escolas e computadores pessoais em suas casas”.

Se reparou, isso mesmo são situações por mim previstas e, como tal, abordadas no meu post. Por duas vezes, até, como sejam ( e passo a citar-me):

Primeira: “O vídeo aqui ontem publicado por Desidério Murcho, “Sugata Mitra: deixem as crianças aprender”, conduz à conclusão de que toda a moeda tem anverso e reverso. Ou seja, todas as metodologias de ensino têm prós e contras, ainda que limitadas, segundo o seu próprio autor, “a lugares na terra, em cada país, onde por razões várias, boas escolas não podem ser construídas e bons professores não podem ou não querem ir”.

Segunda:” São duas posições, de certo modo antagónicas, até porque analisadas em contextos diferentes, mas merecedoras, todavia, de uma reflexão cuidada de professores e pais (e não só!).”

Quanto ao bloqueio de sites pornográficos, receio ser um batalha perdida por parte dos pais, muito menos familiarizados com as novas tecnologias do que os filhos nascidos e criados na era das tecnologias computacionais. Isto, claro, sem querer fazer generalizações sem perigosas. Obrigado pelo seu comentário que perspectiva o mesmo problema visto por ângulos diferentes.

Cordialmente,

Anónimo disse...

Caro anónimo: se o Senhor Rui Baptista lesse certos poemas do Bocage ... diria que era um ordinário e não um poeta?

Rui Baptista disse...

Correcção: Na antepenúltima linha do último §, "sem perigosas", corrijo para "sempre perigosas".

Rui Baptista disse...

Nunca!

Anónimo disse...

Cara Cláudia: eu dava dinheiro para entender o que você diz. Mas a minha inteligência não chega lá. Não lhe vou descrever o que eu e os meus amigos fazíamos e procurávamos em matéria de sexo quando tínhamos 12 ou 13 anos. Se descrevesse você ficaria horrorizada. Os homens que já tiveram 12 e 13 anos adivinham facilmente. Quanto a raparigas, confesso que estou mal informado. Suponho que posso concluir das suas teorias que eu e os meus amigos somos uns monstros e uns problemas sociais etc. etc. etc. Se calhar, sem o sabermos, fomos os causadores da actual crise. Obrigado pela sua informação, eu não sabia quão rasca eu sou.
Atenciosamente, seu
Um dos muitos anónimos.

Cláudia disse...

Primeiro - nem tire de própria conclusão, outrem.
segundos - sois produto de vossa consciência (quiça inconsequencia).
terceiro - se foste fruto doce no honesto, o és agora.
quarto é intimidade.

Do monetário - a educação é preciosa! sabeis, mas quanto pesa?
Não creio que sejais arrependido, o que tomba é o instrumento não a fé.
Não há monstros, não há.
É da natureza o facto de possuir ou aliviar-se, porém não só.

Ouso da resposta, é necessária.

Anónimo disse...

Não chego lá, o que me diz está para além da minha inteligência Cláudia. Obrigado.
Como tenho vergonha de ser tão ignorante assino como Anónimo.

Anónimo disse...

Confesso, cúmplice do seu dilema. Por vezes, conhecemo-nos menos, ao dever. O difícil é quase necessário.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...