Existiu Expressionismo em Portugal. Responde Fernando Rosa Dias, o autor do livro "Ecos Expressionistas na Pintura Portuguesa entre Guerras" (Campo da Comunicação), que será lançado no Museu do Chiado no próximo dia 1 de Março, pelas 18 h, com apresentação de Raquel Henriques:
"A arte portuguesa entre-Guerras acompanha um tempo político nacional entre o desgaste da Primeira República e a afirmação do Estado Novo. Ela sucede ao fim da época mítica das primeiras vanguardas que deixou, entre Amadeo de Souza-Cardoso, Santa-Rita ou Cristiano Cruz, esforços míticos de acerto cultural. Mais calmo seria o imediato primeiro pós-Guerra, enquanto definhavam as possibilidades de acerto da Primeira República.
Outro projecto emergia com o Estado Novo e a imediata afirmação do Secretariado de Propaganda de António Ferro com novas esperanças para os artistas modernos. Se falamos do expressionismo entre-Guerras não é no sentido em que ele tenha sido nossa expressão, mas exactamente porque, por não o ter sido, foi a expressão mais próxima de uma alternativa à apatia mundana dos anos 20 e à acomodação ao Secretariado de Propaganda Nacional. Se recuamos ao tempo mítico dos anos 10, e ao círculo do Orpheu e do que várias vezes se chamou futurismo, é para encontrar aí um excesso de vanguarda para o próprio espaço português onde, mesmo que algo ecleticamente, um sentido expressionista se proporcionou. No fundo trabalhamos três tempos. Um primeiro tempo da Primeira República que para nós foi a inclusão dos casos vanguardistas dos exilados da Primeira Guerra, um segundo tempo ou segunda metade da Primeira República e da sua crise, a do primeiro pós-Guerra que é o da mundanidade artística dos anos 20; e a década seguinte relativa à afirmação e época de ouro do Estado Novo que é a mais importante do nosso ensaio. Porém, estes mesmos tempos são tratados pelas excepções que essa linha expressionista conseguiu agregar na sua travessia. (…)
Não podendo ser uma situação cultural, o expressionismo foi acontecendo em casos culturais: seja como acidente cultural em Amadeo, devaneio lírico em Júlio, drama em Eloy, ou alienação metafísica em Alvarez. Assim, mais que facto cultural, teve melhor sentido histórico como sucessão de espaçados actos culturais."
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
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