Sobre a minha última crónica para o jornal Público,"Muito de Tudo", sobre o Brasil, um amigo meu, filósofo, fez-me apenas uma nota curiosa: o escritor Eça de Queiroz, nas Farpas, página 391 da edição coordenada pela Maria Filomena Mónica, diz "O Brasileiro é a expansão do Português" terminando o mesmo parágrafo com a sentença: "o Brasil é Portugal - dilatado pelo calor." E conclui: "Presumo que estas tiradas tenham inspirado o Agostinho da Silva". Mais uma vez fica mostrada quão frágil é a originalidade do filósofo Agostinho da Silva, que, no caso, foi quem disse "O brasileiro é um português à solta".
Fui consultar o trecho das Farpas e encontrei lá outras metáforas admiráveis:
"Nós somos Brasileiros que o clima não deixa desabrochar: somos sementes a que falta o sol: em cada um de nós, no nosso fundo, existe, em gérmen, em feto, em embrião - um Brasileiro entaipado, afogado - que só pede para crescer, ver a luz..."
E, mais diante:
"Ser brasileiro pode acontecer a todo o mundo: basta uma soalheira!"
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5 comentários:
Já agora, «o brasileiro é um português com pimenta.»
A propósito da fala de brasileiro interpretada pelo sociólogo Gilberto Freyre:
"A ama negra fez muitas vezes com as palavras o mesmo que com a comida: machocou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles." (in Casa Grande & Senzala).
E porque a 22 de setembro, Independência do Brasil, relembram-se, alguns passos:
O D.G. n.º 88, de 16.04.1822, tem 10 páginas de reclamações de várias instituições brasileiras pelo facto do Príncipe Regente querer dar uma saltada à Europa. Ao ponto de o Juiz de Fora José Clemente Pereira, presidente do Senado da Câmara do Rio de Janeiro ter declarado numa exposição que apresentou ao Príncipe Regente:
"A saída de V.A.R. dos Estados do Brasil, será o Decreto fatal que sancione a independência deste Reino!."
Perante este inesperado movimento o Príncipe Regente acabou por anuir e declarar que "...demorarei a Minha saída até que as Cortes, e Meu Augusto Pai, e Senhor, deliberem a este respeito..."
"CORTES. Sessão 456. - 4 de Setembro de 1822
Consta por cartas particulares, que o Príncipe Real no Rio de Janeiro, pretende fazer tratados de amizade, e Comércio com algumas Potências Estrangeiras, isto pode ser muito funesto ao Sistema Constitucional, que pretendemos consolidar, e tornar a meter Portugal no abismo de calamidades, de que felizmente se acha livre: portanto proponho; que se diga ao Governo que mande logo fazer um manifesto dirigido a todas as Nações na qual desaprove, e dê por nulo todos os actos, tratados, e procedimentos do Governo do Rio de Janeiro, desde 16 de Janeiro do corrente ano por diante como arbitrários, ilegais e injustos, por serem praticados sem autoridade legítima, e acima da jurisdição delegada de ElRei Sr. D. João VI...
(In Diário do Governo n.º 209, Quinta feira 05.09.1822)"
7 de Setembro de 1822 - D. Pedro proclama a Independência do Brasil e as Cortes ainda não sabem.
Como se pode ver no DG n.º 225 (24.09.1822) os deputados vão finalmente, concluída que está, assinar a Constituição Portuguesa. Entre eles figuram os deputados das diversas Províncias do Brasil.
(continua)
(conclusão)
Quais as suas reacções quando for lido no final da Sessão das Cortes de 28.09.1822 (DG n.º 229) o Decreto de 01.08.1822, assinado pelo Príncipe Regente, no Rio de Janeiro, e cujo preâmbulo é elucidativo:
"(...) E como as Cortes de Lisboa continuam no mesmo errado sistema, e a todas as luzes injusto, de recolonizar o Brasil, ainda à força d’armas: apesar de ter o mesmo já proclamado a sua Independência Política, a ponto de estar já legalmente convocada pelo Meu Real Decreto de três de Junho próximo passado uma Assembleia Geral, Constituinte, e Legislativa a requerimento geral de todas as Câmaras, procedendo-se assim com uma formalidade que não houve em Portugal, por ser a convocação do Congresso em sua origem somente um acto de Clubs ocultos e facciosos: E Considerando Eu igualmente a Sua Majestade ElRei e Senhor D. João VI, de Cujo Nome e Autoridade pretendem as Cortes servir-se para os seus fins sinistros, como Prisioneiro naquele Reino, sem vontade Própria, e sem aquela liberdade de Acção, que é dado ao Poder Executivo nas Monarquias Constitucionais: Mando (...) o seguinte:
I. Que sejam reputadas inimigas todas e quaisquer tropas, que de Portugal ou de outra qualquer parte forem mandadas ao Brasil, sem prévio Consentimento Meu, debaixo de qualquer pretexto que seja; (...)."
O deputado que leu o texto limitou-se a dizer que aquilo era autenticamente uma declaração de guerra. Esperemos pela reacção dos deputados na próxima Sessão.
Finalmente vamos ver a primeira reacção ao Decreto do Príncipe Regente, visto que até agora, as Cortes continuam muito ocupadas em legislar, além de terem os deputados assinado e jurado a Constituição em 30 de Setembro, para que D. João VI, em 1 de Outubro, fosse à Corte
“(...) aceitar e jurar guardar, e fazer guardar a Constituição Política da Monarquia Portuguesa que acabam de decretar as Cortes Constituintes da mesma Nação”.
Eis a resposta:
MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS DO REINO
Decreto
“Querendo mostrar por todos os modos a conformidade dos Meus sentimentos com o voto geral da Nação, e sendo consequente desaprovar a conduta do Príncipe Real pelos factos praticados em contravenção aos Decretos das Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa: Hei por bem, que se suspendam as demonstrações, que segundo o costume deveriam Ter lugar no dia 12 do corrente, Aniversário do Nascimento do mesmo Príncipe Real, até que ele, pela sua obediência às leis, e Minhas Reais Ordens, se faça digno do Meu Real e Paternal Agrado. Filipe Ferreira de Araújo e Castro, Ministro e Secretário dos Negócios do Reino, do Meu Concelho o tenha assim entendido, e nesta conformidade passe as ordens necessárias. Palácio de Queluz em 8 de Outubro de 1822. Com a Rubrica de Sua Majestade. = Filipe Ferreira de Araújo e Castro.”
A debandada dos deputados do Brasil começou. Na 488.ª Sessão das Cortes, em 12.10.1822, deu-se conta de que alguns deputados do Brasil pelas Províncias de S. Paulo e Baía se tinham evadido no paquete inglês Malborought, Capitão Bull, na noite do dia 5 do corrente. (DG n.º 242, Segunda feira 14.10.1822).
"Um dos polícias que foi a bordo reconheceu um dos deputados e que tinha fala de brasileiro".
Mas Gilberto Freyre ainda não tinha nascido para a definir.
É sempre uma emoção vir visitar este blog! Aprende-se muito.
Obrigada pelo vosso saber e pela divulgação dele.
Graça
Será o brasileiro alegoricamente um português ao sol?! JCN
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