O que digo neste texto não vai além daquilo que Carlos Fiolhais disse em texto anterior, pois pretendo tão só fazer eco das suas palavras, sobretudo daquelas que dedicou à nossa educação.
Quando já não havia possibilidade de esconder os danos na economia, os políticos reconhecerem o que alguns (apelidados de catastrofistas, pessimistas e derrotistas) vinham afirmando há anos: o caminho para o abismo.
É o momento de perguntar se demorará muito para que o mesmo aconteça na educação.
Porque, não tenhamos ilusões: irá acontecer. Só falta saber-se o momento. A realidade impõe-se por si mesma. Não é possível continuar a esconder o estado desastroso do nosso ensino e, correlativamente, da aprendizagem.
Isto digo eu... E digo-o porque, longe de ser um só nível de escolaridade que se encontra num estado crítico, são todos os níveis que se apresentam num estado crítico: desde a educação de infância até ao ensino superior. Não podemos continuar, por muito mais tempo, a ignorar esta evidência, a fazer de conta que não é assim. Porque, infelizmente, é mesmo assim!
Haverá uma outra escola, um ou outro curso que ainda tentará resistir à panóplia de ameaças à sua qualidade (não, não falo da “qualidade” assente em critérios burocráticos, mas numa outra que se define pela aquisição de saber e de desenvolvimento cognitivo e axiológico), mas, continuando este estranho processo em curso, também eles acabarão por desistir.
Salvar-se-ão, no final, meia-dúzia de escolas (na maioria privadas) onde aqueles que nos levam à ruína económica e educativa põem, apartados da turba ignorante, os seus filhos e netos, com bilhete pré-comprado para universidades estrangeiras.
Acrecento o seguinte: se foi relativamente fácil explicar aos portugueses o caos económico em que estamos, porque isso se materializa, muito concretamente, em dinheiro na carteira ou no banco, como lhes poderemos explicar que a educação soft que receberam de pouco ou nada lhes vai valer? Que os certificados que lhe atribuiram são um logro? Que o caminho da educação que trilhamos só nos pode conduzir à pior miséria que se pode imaginar - a ignorância?
Na verdade, como um leitor do De Rerum Natura bem referiu num comentário: há uma “impossibilidade lógica de explicar a mediocridade a um medíocre”. Teremos chegado a esse ponto? Ou ainda haverá esperança caso tenhamos o discernimento de reconhecer, agora, que é preciso mudar o rumo?
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17 comentários:
Como, em tempos, comentei no blogue "A Fisga" de F. Dias, me parece pertinente repetir aqui, em reforço do alarme.
«Tenho a convicção de que, apesar de não ser previsível, há uns anos, o rumo que as coisas estão a levar, se formos ler as opiniões dos mais pessimistas, dos últimos 30 anos, e se pudéssemos recuperar o tom geral da "vox populi", diríamos que todos os alertas estiveram accionados e não houve governantes que lhes dessem atenção, talvez porque, ao contrário do que, teoricamente, se espera o conhecimento da realidade e a "visão" de futuro não são apanágio de quem se mete a governar. Nessa medida, também, os políticos não representam a vontade popular. Representam "coisas", mais ou menos fantasiosas, a que vão dando nomes e enquadramentos simbólicos, e deixam as responsabilidades por conta dessas ficções e leviandades, como se as mesmas não fossem suas. Há uma crise grave de "divórcio" entre os poderes "representativos" e quem eles dizem representar. A sociedade real cada vez se revê menos na representação que o discurso político institucional nos devolve da mesma.»
E quanto a "explicar aos portugueses o caos económico em que estamos", não me parece que estejamos perto de estar esclarecidos e, ainda assim, não vi ninguém com responsabilidades governativas a explicar minimamente os quês e os porquês da crise. Nem vi explicações consistentes da parte de ninguém. Tudo o que dizem é sobre os "quês" e, mesmo estes, o governo parece ser sempre o último a constatar, não obstante ser das suas competências sabê-lo primeiro que toda a gente.
Mas a crise é a crise, é a fatalidade ditada pelos mesmos que não fizeram o mais elementar para a evitar e que até fizeram o que não deviam ter feito. A responsabilidade, porém, é de quem vai pagar.
E se, quanto ao diagnóstico da crise, tudo falhou sucessiva e desconcertantemente, a começar pelos Governadores de Bancos Centrais e a acabar em Ministros de Finanças, possuídos de um sonambulismo que os imuniza à vergonha, que dizer das terapêuticas prescritas, digo prescritas e não preconizadas?
Por quanto tempo mais irão segurar a máscara de autoridade, que ninguém reconhece a quem não tem revelado mais competências do que actuar nos palcos dos discursos de fachada?
Já alguém explicou aos portugueses para onde nos querem levar, e quem e porquê?
Em vez disso, amedrontam-nos com um ar muito grave (até que enfim!) com estranhezas e dependências de instâncias superiores a quem, por artes mágicas, passamos a dever muito, como se tivéssemos alienado, sem o sabermos, o direito de autodeterminação.
Vai ser preciso pensar, não digo repensar, no que nos está a acontecer.
Caríssima Professora Helena Damião
Há décadas que, em cada momento, é tempo de perguntar...
Eu, por exemplo, pergunto:
Pode incluir-se numa turma de uma escola normal um aluno autista que perturba o funcionamento de qualquer aula, é acompanhado permanentemente por uma tarefeira que não sabe o que (lhe) há-de fazer, e que quando está mais expansivo, é capaz de ir atrás de um professor que não é professor dele e aplicar-lhe dois "calduços" à laia de cumprimento? É isto uma forma de integração?
Pode incluir-se numa turma de uma escola normal um aluno com trissomia 21, incapaz de acompanhar minimamente o que os outros vão fazendo, que fica o tempo de cada aula alheado a riscar papéis? É isto uma forma de integração?
Pode um professor deixar de fazer certas actividades porque tem um grupo de alunos que, se pegassem numa tesoura, seriam um perigo para eles próprios e para quem está à volta? A função deste professor é apenas acautelar-se e tomar conta daqueles alunos durante cada aula, rezando para que não aconteça nenhuma desgraça? Pode/deve exigir-se isso de um professor?
Que deve uma professora fazer se há alunos que insistem em lhe perguntar se sabe o que é um broche, e se já fez broches?
Espero que ninguém me pergunte onde e quando tais coisas acontecem. Todos nós as temos por perto, demasiado perto...
Assim mesmo, Professora Helena Damião, felicito-a pelo desassombro do seu texto. Se formos muitos, e cada vez mais, a perguntar, há-de haver alguma consequência, mais tarde ou mais cedo...
Apresento desculpas por alguns dos termos. Elogio a coragem e agradeço a lucidez e seriedade deste espaço.
"Já alguém explicou aos portugueses para onde nos querem levar, e quem e porquê"?
Boa pergunta...
Este texto da Cara Helena Damião é um excelente exemplo das interrogações que todos deveríamos fazes, mesmo aqueles que dependem do status quo para viver. Esses que têm defendido este sistema caduco do tempo da outra senhora e ao qual chamam de moderno, democrático e de integração para os filhos dos outros (porque para os seus existem algumas escolas privadas onde o eduquês tem estado à porta) deveriam lembrar-se que com o ilusionismo por eles criado, a competitividade da sociedade portuguesa em relação às sociedades com as quais concorre na economia global tem descido e o único caminho nos próximos anos é a continuação desse declínio, como mostram todos os estudos económicos internacionais. Assim, o empobrecimento relativo e absoluto que tem acontecido aos filhos dos outros acontecerá inevitavelmente a todos aqueles que não emigrarem!
Caro Carlos Soares, se lhe disser que a dívida externa portuguesa (somando a dívida do estado, empresas e famílias) era, em Maio de 2010, de 233%* do PIB e a grega de 142%* do PIB, percebe para onde caminhamos? Percebe agora porque os políticos têm escondido esta realidade? Percebe agora porque chamaram milhares de nomes feios a pessoas como Medina Carreira e Manuela Ferreira Leite?
*Fonte: World Bank
Surpreende-me, infelizmente, a opinião continuada da Helena Damião; defensora acérrima da qualidade do ensino ou melhor, de uma certa “qualidade”.
Determinada qualidade!
Helena continuamos nisto?
O ensino em Portugal desde há muito tempo que se caracteriza por uma fraca qualidade; sejamos objectivos: quantos Nobel temos?
A geração do 25 Abril que se acomodou à sombra do Estado e depois dessa todas as outras reivindicam agora um ensino de qualidade porque, imagine-se, o povo está a tirar o 12º ano e diga-se que não devem fazê-lo porque é uma perda de tempo já que continuam a ser ignorantes; e as competências que ganharam ao longo de anos de trabalho enquadradas num plano de equivalências conjuntamente com algumas disciplinas base(malditas novas oportunidades)?
Imaginem que depois do 12º ano vão querer o ensino superior!
Helena deixe as pessoas estudar, alguns vão mais longe outros menos mas todos aprendem alguma coisa, cada um à sua medida e no seu tempo.
Trata-se de uma questão de justiça social, dá-se oportunidade a todos e cada um percorre o caminho que puder. Caberá a cada Universidade a escolha dos seus alunos mas importa que no conjunto do ensino superior haja lugar para todos.
Campos Pereira Novaes
...e depois temos que atrás deste tipo pensamento(a do ensino de “qualidade”) a exigência de pessoas cada vez mais competentes, mais exigentes, mais competidoras, mais, mais...e cai-se inevitávelmente num mundo de seres artificiais, loucos por regras, metas, objectivos e claro a discriminação sobre os que não acompanham o ritmo.
Acho que no ensino público e privado há lugar para todos e que cada um saiba, sem obstáculos patéticos, o caminho que quer seguir.
Campos P. Novaes
"Helena deixe as pessoas estudar"
Mas as pessoas não estudam! Vão à escola, mas não estudam. Deixe que lhe diga: o rei vai nu!!! Só o Novaes é que nao vê.
Luís Ferreira
Luís eles vão à escola e não estudam!
Que horror!
Estamos no fim do mundo, à beira do abismo e precisamos de mais professores para ensinar os meninos, sentadinhos, todos os nomes das linhas férreas de Portugal.
Novaes
As respostas do Campos Novaes à autora do texto e ao Luís Ferreira transmitem a ideia que o Campos Novaes vive nos anos cinquenta do século passado, o problema é que o resto do mundo vive em 2010!
Caro Campos Novais,
Faz ideia que o exercício de memorizar, por exemplo linhas férreas (mas pode ser algo mais interessante, como geografia), faz parte cine qua non do desenvolvimento da inteligência?
Imagina que as universidades vão conseguir fazer grande coisa de alunos mal preparados que nunca aprenderam a estudar durante os 12 anos anteriores, tempo fundamental para o seu desenvolvimento? Podem as universidades dar-se ao luxo de chumbarem os alunos quase todos? E o desperdício e as expectativas dos alunos não seriam injustamente goradas nessa altura?
Se eles chegam à universidade com a inteligência irremediavelemnete atrofiada, ácha que o problema pode ser resolvido nas universidades?
Muito mais haveria para lhe responder, mas parece-me que não vale a pena.
SNG
"Faz ideia que o exercício de memorizar, por exemplo linhas férreas (mas pode ser algo mais interessante, como geografia), faz parte cine qua non" do desenvolvimento da inteligência?
cine qua non
inserido neste tipo de discurso, "priceless"!
Desculpem, queria dizer impagável ou inestimável mas sou demasiado lerdo.
Caro anónimo das 16:41/18:26,
Culpa minha o "Cine", a frase mal construída por estar a pensar numa alternativa, o "ácho", etc.,
É de facto hilariante. Excepto ter chamado Novais ao Novaes, que trocar o nome de uma pessoa é muito desagradável, mesmo que não concordemos com ela. O Novaes que me perdoe.
Terá sido fruto da hora matinal e da pressa da resposta, ou um ataque fulminante do virus do eduquês? Sim, que isso pega-se!
A forma, e em particular a forma ortográfica, é importante. Mas não mais que a substância. E aí temos todos visto um belo filme.
SNG
Será este o blog dos “vencidos da vida” ?
Como dizia o frei Fernando Ventura, temos um mundo de denunciadores e precisamos de anunciadores… Só vemos por aqui bota-abaixismo permanente, quase a raiar o irritante, quando o que já seria desejável era ver ideias construtivas, alternativas, novas propostas (sobre educação) – mas não mais do mesmo (isto não presta, o antigamente é que era bom, como facilmente se deduz de muitas opiniões aqui vertidas.
É de facto confrangedora a falta destas por tão ilustres bloguistas na área educacional – apenas se limitam a criticar pela simples crítica.
Se os tempos actuais não são bons – e muito haverá a fazer, de facto – também o que fica no ar dos contributos dos participantes é nada! Afinal, pelos vistos a sua formação foi a melhor, mas qual vem sendo o seu contributo público para a formação de uma nova sociedade, algo que se veja, de facto, para lá desta demagogia? Sendo a escola do meu tempo a melhor, como foi possível estar-se a produzir tão má sociedade e nesta tão maus sistemas e indivíduos? Não estaremos a colocar-nos a nós próprios em cheque, naquilo que afinal também (não) fomos fazendo e aproveitando desse sistema?... tão tipicamente português, “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”…
Propostas, propostas – um movimento nacional, até, pela reforma (ou revolução?) na educação. Vai sendo tempo de sairmos para a acção e deixarmo-nos do comodismo especulativo.
Vou continuar a estar atento.
José Costa
"Desculpem, queria dizer impagável ou inestimável mas sou demasiado lerdo."
Não, queria mesmo escrever "priceless".
Claro que tu nem conseguiste descobrir porquê.
SNG, pelo menos admite o erro e mostra humor.
Raro!
Discordo completamente de quase tudo o que escreveu mas a sua atitude deve ser louvada.
onde se lê "cheque" deve ler-se "xeque"...
jose costa
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