O "Correio da Manhã" festeja hoje 30 anos. Trancrevemos a entrevista publicada hoje nesse jornal a Carlos Fiolhais, um dos 30 nomes dos últimos 30 anos que escolheram os 30 nomes do futuro:
Carlos Fiolhais, "Devo a livros e bons professores”
A leitura é tão necessária como os bons professores durante a juventude para atrair mais cérebros à Ciência. A ideia assente em experiência faz este físico de Coimbra sentir-se bem na Biblioteca Geral da Universidade.
Correio da Manhã – A actual crise trava projectos de investigação?
Carlos Fiolhais – Não. A Ciência continua a ser, felizmente para todos nós, um investimento seguro. Os cientistas são, em geral, pessoas optimistas, por uma razão simples: eles sabem que amanhã saberão mais do que hoje. Em Portugal, o investimento em Ciência cresceu nos últimos anos, tirando-nos da infeliz posição em que estávamos.
– Portugal tem condições para pôr os investigadores a trabalhar?
– Tem de ter. Os países mais ricos são também aqueles em que a Ciência está mais desenvolvida. Se queremos ser mais ricos – e quem é que não quer ser rico? – temos de desenvolver mais a Ciência.
– As universidades devem ligar-se mais às empresas?
– As universidades modernas têm de trabalhar com as empresas. A Universidade de Coimbra, que é a minha, tem dado o exemplo, com a criação de empresas de base tecnológica como a Critical Software, a Crioestaminal, a ISA, etc. O Instituto Pedro Nunes, de Coimbra, tem uma incubadora de empresas já considerada das melhores a nível mundial. Dito isto, devo acrescentar duas coisas: primeira, a investigação fundamental é basilar e não pode ser esquecida, sob pena de o futuro não ser bem assegurado; segunda, o Governo faria bem em investir mais nas universidades, ao mesmo tempo que as obrigava a canalizar os investimentos para o reforço da melhor investigação no seu seio.
– A divulgação científica que faz desperta espíritos científicos?
– Eu gostaria de atrair mais cérebros para a Ciência. E uso para isso os meios ao meu alcance: não apenas as aulas mas também os livros, a Internet (incluindo um portal de apoio às escolas, o Mocho, e um ‘blog’ para todos, o De Rerum Natura), etc. A leitura de bons livros e, em paralelo, de bons ‘sítios’ da Net é tão necessária como os bons professores durante a juventude. Eu devo tanto aos livros que li como aos bons professores que tive.
– A investigação dá-lhe a sensação de ‘senhor do Universo’?
– Investigar é saber mais. E a sensação de saber mais, de ser o primeiro a saber qualquer coisa, é uma sensação única, é um grande prazer difícil de descrever. Mas os físicos não são ‘senhores’ das leis do Universo, são ‘sabedores’ dessas leis.
PERFIL
Carlos Fiolhais, lisboeta de 52 anos, licenciou-se em Coimbra e foi depois doutorar-se em Física Teórica na Universidade de Frankfurt/Main, na Alemanha, em 1982. Catedrático na ‘Lusa Atenas’, publicou, a par de trabalhos científicos, já 35 livros de ensino e divulgação.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Entrevista de Carlos Fiolhais ao "Correio da Manhã"
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3 comentários:
Carlos Fiolhais diz:
"Investigar é saber mais. E a sensação de saber mais, de ser o primeiro a saber qualquer coisa, é uma sensação única, é um grande prazer difícil de descrever."
Mas deve ter-se em conta o facto de que os cientistas, em muitos casos, são os primeiros a pensar que sabem alguma coisa, para logo compreenderem que não sabem realmente nada quando uma nova observação, inesperada, vem pôr em causa tudo o que eles "sabiam".
"Mas os físicos não são ‘senhores’ das leis do Universo, são ‘sabedores’ dessas leis."
Muito bem. Deus criou as leis do Universo. Os físicos limitam-se a descobri-las e a formulá-las.
Os físicos, e os cientistas em geral, limitam-se a fazer "reverse engineering".
Os físicos não conseguem criar ou destruir a energia e a matéria que constituem o Universo.
Do mesmo modo, não foram os biólogos nem os geneticistas que criaram as quantidades inabaráveis de informação codificada que se econtram armazenadas nos genomas.
Com indíviduos destes é que a Humanidade progredia...
A ciência, depois da «morte» de Deus por Nietzsche, é o novo ídolo das massas e, claro que os cientistas não são os senhores do universo, mas apenas os apóstolos desta «Boa Nova».
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