"Carlos declarou que o mais intolerável no realismo eram os seus grandes ares científicos, a sua pretensiosa estética deduzida de uma filosofia alheia, e a invocação de Claude Bernard, do experimentalismo, do positivismo, de Stuart Mill e de Darwin, a propósito de uma lavadeira que dorme com um carpinteiro!"Eça de Queiroz, in "Os Maias"
sexta-feira, 6 de março de 2009
AINDA MAIS EÇA DE QUEIROZ SOBRE DARWIN
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
3 comentários:
EÇA, DISCÍPULO DE DARWIN?
Os excertos de Eça de Queirós, aqui publicados, parecem traçar um retrato anti-darwinista de Eça e, pior, parecem sugerir, que ele faz oposição à ciência do seu tempo.
Ora, esta imagem de Eça é falaciosa: confundindo-se a voz dos personagens com a voz do seu criador, assimila-se a crítica queirosiana de algumas vozes do darwinismo à rejeição de Darwin.
Para dissipar quaisquer dúvidas quanto à falsidade deste retrato, basta contrastar os contos "Adão e Eva no Paraíso", de Eça, e "Adão e Eva", do escritor realista brasileiro Machado de Assis (com quem Eça manteve uma relação de amor-ódio até ao final da vida).
Enquanto Machado de Assis oferece uma recriação literária dos relatos bíblicos, Eça dá-nos uns frescos impressivos e realistas dos episódios de uma humanidade e de um Deus que têm de se haver, não com a teoria, mas com o facto da evolução.
O realismo irónico de Eça desmascara, ao mesmo tempo, o criacionismo ignorante e o positivismo ingénuo de algumas vozes darwinistas.
O que este escritor censura no positivismo, transformista e não só, é o seu projecto de ablação da imaginação da esfera da inteligência humana, qual concubina desprezível.
Quem conheçe a Filosofia das Ciências do século XX, nomeadamente o debate entre Popper e os neopositivistas do Círculo de Viena, não pode deixar de reconhecer a justeza dos reparos queirosianos.
Os leitores não deixarão de espantar-se por reconhecer nos parágrafos finais do conto de Eça a mesma «grandeza nesta forma de considerar a vida» com que Darwin encerra a «A Origem das Espécies», tão sublime que o nosso escritor a eleva ao ponto de vista de um Deus que, «pensativo, contempla o crescer da humanidade» nesse «verídico lar»: «esses sóis, esses mundos, essas esparsas nebulosas», «feitas da nossa substância».
Em suma, assim como é errado inferir que Darwin era teísta por ter referido as «leis impostas à matéria pelo Criador» em «A Origem das Espécies», também é errado acusar Eça de ser um anti-Darwin ou de desdenhar do pensamento científico.
António Mendes
professor de Filosofia do E. Secundário
Braga
Enviar um comentário