segunda-feira, 2 de junho de 2008

EVOLUÇÃO DA CRIAÇÃO CIENTÍFICA E DA CRIAÇÃO ARTÍSTICA

O monumental livro de K. Simonyi “Kulturgeschichte der Physik“ ("História Cultural da Física"), publicado pela Harri Deutsch, Frankfurt am Main, em 1990 (a edição original húngara é de 1978), apresenta, logo no início, um gráfico daquilo que o autor chama "intensidades da criação científica e da criação artística" para ilustrar a evolução paralela da arte e da ciência (principalmente física). Mostro a figura (clicar para ver melhor) e, ao lado, traduzidos por mim do alemão, os parágrafos relevantes do texto (as inscrição da figura estão tal como no original, mas julgo que são fáceis de entender por quase só conterem nomes próprios):

"Os acontecimentos históricos não acontecem necessariamente em anos com números redondos, mas, se escolhermos arbitrariamente um período de tempo, caem dentro dele um certo número de acontecimentos significativos. Uma distribuição uniforme da escala do tempo tem, para apresentar os processos históricos, a vantagem de permitir reconhecer períodos históricos com uma maior frequência de eventos em comparação com outros que parecem mais pobres, mas que podem ser compreendidos como tempos de preparação, de amadurecimento ou de mudança. Sarton, um dos maiores historiadores de ciência do nosso tempo, escolhe num dos seus livros este método de descrição.

Resulta então um pr
ocedimento casual de ordenação histórica, ou melhor, cronológica: estuda-se a intensidade da criação científica em função do tempo. A dependência representada na figura mostra características surpreendentes. À primeira vista, reparamos que a criação científica nos últimos 2500 anos só tem dois máximos com uma largura de alguns séculos. O máximo que ocorre aproximadamente de 500 até a 200 a. C. dá-se numa época que é chamada o “milagre grego” da história da humanidade. A figura mostra não só do lado direito a intensidade da criação científica como do lado esquerdo a intensidade da criação noutras áreas (Literatura, Artes Plásticas). Vemos que os dois tipos de criação se desenvolveram de uma forma mais ou menos síncrona apesar de evidentemente existirem alguns desfasamentos temporais. Assim, por exemplo, na Roma Antiga foram dados contributos em alguns domínios da cultura humana, que passam de longe os dados pelos gregos. Estamos a pensar no Direito Romano, que deixou uma marca nas normas que regulam a nossa vida colectiva, mas também nas obras notáveis da literatura romana (Virgílio, Horácio). Ao mesmo tempo os romanos não alcançaram quaisquer resultados originais nas áreas da física e da matemática, apesar de termos talvez de admitir como única excepção o desenvolvimento do atomismo grego feito por Lucrécio. Algo semelhante se pode dizer do Renascimento, que precedeu o grande salto das ciências naturais no século XVII, Também aqui há um desfasamento das ciências naturais em comparação com as actividades na área artística.

Aos quase 2000 anos de intervalo entre o desabrochar da Antiga Grécia e o século XVII podemos chamar época de transição e de redescoberta, durante a qual só ocasionalmente foram realizados progressos no conhecimento. Estamos a pensar principalmente no mundo árabe e em Bizâncio assim como nos novos resultados obtidos pela escolástica tardia.

Resulta, portanto, a seguinte a divisão da história da ciência: época da ciência grega, período de transição e ciência moderna."

5 comentários:

Armando Quintas disse...

a ideia está interessante, mas as coisas não são assim tão lineares, a fisica como a consideramos hoje n era ciencia autonoma antes dos fins do séc. XVIII, depois há a questão da transmissão/ criação do conhecimento arabe, o redescobrir dos classicos e o seu transitar para o mundo latino, o renascimento outro fenomeno que as ultimas teorias já colocam no séc XIV.
Acho que continuam a fazer falta bons livros sobre a historia das ciencias, publicados por cá, obviamente.

perspectiva disse...

A curta história da evolução artística e científica humanas atesta várias coisas:

1) a origem recentíssima das civilizações é inteiramente consistente com a cronologia bíblica da criação, queda, existência pré-diluviana, dilúvio, Babel, dispersão e confusão das línguas, origem das civilizações, escolha de Abraão, Isaque e Jacó, etc.

2) a capacidade de criação cultural e artística é específica do ser humano, o que é inteiramente consistente com a ideia de que ele foi criado à imagem e semelhança do Criador. Daí a sua criatividade. As diferenças genéticas que separam o homem dos chimpanzés são mais significativas do que as homologias.

3) a evolução científica é o resultado de informação e inteligência, não podendo por isso ser confundida com os processos aleatórios que supostamente estarão na base da evolução biológica ao longo de hipotéticos e não observados milhões de anos.

4) é natural que seres criados à imagem e semelhança de um designer inteligente sejam também designers inteligentes. Não há nada de irracional ou ilógico nisso.

Xico disse...

A mim me parece que são os períodos de transição os mais fecundos, pois os outros são verões onde se faz a colheita mas trabalha-se pouco! Mas isto sou eu que embirro com estudos deste género. Só mesmo um húngaro germanófilo para colocar Goethe acima de Dante e esquecer todo o trabalho científico das descobertas portuguesas!!!..até no domínio das ciências naturais!
Isto para não falar de que os romanos fizeram-se em cima dos gregos e pouco lhes adiantou, enquanto que a idade média foi construída em cima de escombros e cinzas.
E o que teria sido de Galileu sem Roger Bacon? Talvez não tivesse o telescópio.
Ah, mas Bacon era franciscano! Homem da igreja e por isso, anti ciência!!!....???
Ora a Renascença não brotou do nada ao contrário da idade média, assentou nos ombros de gigantes tão vilipendiados neste fórum, e talvez não seja despiciendo lembrar que a Europa perdeu no apogeu da idade média, 1/3 da sua população devido à peste, fazendo-a regredir de novo! Portanto comparações e análises destas como se os tempos fossem lineares e iguais é muito pouco científico!

JSA disse...

A comparação apenas demonstra que as artes e as ciências beneficiam ambas de abertura na comunicação e no ensino, nada mais. De resto subscrevo muito do que disseram o Armando Quintas e o Xico.

Dótóré Pespectiva: você é chato não? Olhe lá, sabia que já se colocaram chimpanzés a fazer umas pinturas e estes foram capazes de criar formas de expressão? Ou seja, criaram quadros que representavam realmente alguma coisa? Claro que não, isso para si nada significa. E sabia que golfinhos foram capazes de criar coreografias completamente novas que nunca lhes haviam sido ensinadas? Isto demonstra claramente um pensamento que aponta para origens semelhantes.

Que você queira pensar que é feito à imagem de um designer inteligente, esteja à vontade. Agora não énse é que, por isso mesmo, também é inteligente. Os seus comentários são tudo menos isso.

Anónimo disse...

provavelmente a queda a seguir à 2.ª metade do século XIV deve-se à peste negra.

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