O acesso ao Ensino Superior público para o corrente ano lectivo regista um recorde de candidatos e o maior número de colocados em 1ª fase de sempre. De acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, foram colocados 41 938 estudantes de um total de 51 472 candidatos.
Os estudantes que ainda não encontraram colocação poderão concorrer à 2.ª fase do concurso, que decorre entre 17 e 21 de Setembro. Uma análise dos resultados do ingresso deste ano só poderá ser feita quando terminar a segunda fase, mas de qualquer forma há alguns dados que gostaria destacar.
A figura acima indicada (clique na imagem para melhor resolução) é uma análise dos últimos 5 anos de ingresso em que a linha a vermelho indica a percentagem de vagas não preenchida. No Instituto Superior Técnico, o resultado catastrófico verificado no anterior ano lectivo reflecte os maus resultados das provas de 12º ano, especialmente de Física e Química, uma vez que para ingressar no IST os alunos não podem ter nota inferior a 10.0 em cada prova de ingresso (disciplinas específicas), e necessitam uma nota de candidatura não inferior a 12.0.
Este ano, após a 1ª fase de candidaturas, 89.44% das vagas oferecidas pelo IST foram preenchidas e se nos reportarmos apenas ao campus da Alameda verificamos que estão preenchidos 96.7% dos numeri clausi dos cursos aí ministrados. Os resultados parecem animadores mas não o são, pelo menos para mim pelas razões óbvias, se discriminarmos as vagas sobrantes, não apenas no Técnico mas a nível nacional.
Se excluirmos os cursos ministrados no campus do Tagus Park verificamos que mais de 50% das vagas do IST são em Engenharia Química que apenas preencheu na 1ª fase 50 das 70 vagas disponibilizadas. O panorama dos vários cursos de Química e Engenharia Química, com 260 vagas não preenchidas, não é animador nas restantes universidades nacionais, com excepção da Universidade do Porto - que preencheu as 90 vagas de Química e as 65 de Engenharia Química - e da Universidade de Aveiro - que preencheu as 20 vagas de Química e 31 das 40 de Engenharia Química.
Por exemplo, entre os oito cursos da Universidade de Coimbra que tiveram menos de 20 alunos colocados – o que pode pôr em causa o seu financiamento por parte do Estado se após a 2ª fase a situação se mantiver -, encontram-se dois de Química: Engenharia Física, Física, Matemática, Química, Química Industrial, Estudos Clássicos, Estudos Portugueses e Lusófonos e Filosofia. Engenharia Química nesta Universidade atraiu 30 alunos para as 45 vagas disponibilizadas. O cenário da Universidade do Minho, em que apenas 12 dos 74 lugares de Química foram preenchidos ou da Universidade de Lisboa em que a FCT apenas preencheu 47 das 95 vagas de Química e Química Tecnológica, ilustra a dimensão do problema
As revoluções no ensino da Química no secundário, cujos efeitos se sentiram apenas este ano, poderão certamente ajudar a explicar esta situação, mas, na minha opinião, não são as «culpadas» directas pelo desinteresse dos nossos alunos pela Química. De facto, não é muito positiva a imagem da Química no público em geral, para o que não contribuem os curricula do secundário que fazem quasi um mea culpa da Química em relação às questões da moda, aquecimento global e poluição. A associação quasi exclusiva da Química a estes problemas está muito longe da realidade. Urge divulgar, nomeadamente a nível do secundário, o que de facto é a Química hoje em dia e desfazer o estereótipo do químico como o indivíduo que se entretem a fazer explosões no laboratório e a produzir mistelas fumegantes em tubos de ensaio!
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26 comentários:
Palmira,
E é uma atitude muito positiva da sua parte a preocupação manifestada neste post. Creio que uma actuação mais aproximada entre ensino superior e secundário (acções de formação para professores, realização de manuais e participação na elaboração de programas)seria desejável. Na realidade do ensino, com todos os problemas que lhe estão associados, defendo uma coordenação entr os vários níveis de ensino.
Obrigado
Rolando Almeida
Curioso, "o estereótipo do químico como o indivíduo que se entretem a fazer explosões no laboratório e a produzir mistelas fumegantes em tubos de ensaio" foi precisamente o que me levou, há já largos anos, a ingressar em Eng.ª Química...
VR
Os meus parabéns pela análise dos números e sua interpretação. Penso que seria útil fazer o mesmo em outras áreas. Nós, no Blog Geopedrados, fazemos isso todos os ano para as Geociências:
http://geopedrados.blogspot.com/2007/09/geocincias-e-acesso-ao-ensino-superior.html
Eu sou eng.º técnico Químico (ISEP)de profissão e técnico superior de SHT de profissão, não por opção mas for "obrigação": o mercado de trabalho para licenciados (ou bacharéis) de eng.ª Química é ridículo, o desemprego é quase certo.
Isto é verdade tanto para engenheiros técnicos como para os engenheiros licenciados; Os que como eu têm trabalho é porque mandaram o "sonho" de trabalhar "no ramo" às favas e resolveram "virar-se" e trabalhar no que apareceu.
Faça-se um inquérito a nível nacional e verão que é como eu digo.
O que eu penso que acontece é que os candidatos ao ensino superior estão hoje um pouco mais bem informados sobre o estado dos mercados de trabalho e já não cometem tantas "loucuras" de perseguir uma carreira no que gostam; por outro lado há menos "excluídos" de medicina a optar, em 2ª escolha pela área de química, pelos mesmos motivos - muitos optam por enfermagem ou outros cursos na área da saúde.
Com a "implosão" dos têxteis e a "super-especialização" das engenharias - ambiente, polímeros, metalúrgica, cerâmica e do vidro, papel, etc. - os engenheiros Químicos perderam muito dos seus mercados de trabalho tradicionais.
É com uma certa amargura que vejo a minha escolha como um grande erro estratégico, talvez o maior que cometi até hoje.
Perdão ali em cima, quando digo que sou engenheiro técnico químico de "profissão" queria dizer de "formação"; da maneira que está não faz muito sentido.
Caro VR:
A mim a parte das explosões é-me indiferente mas as mistelas, fumegantes ou não, tiveram uma contribuição não despicienda pela minha opção por engenharia química :-)
Caro Björn Pål:
Não sei se o problema é tão linear como o apresenta. Nós fazemos isso já há uns anos, isto é, seguimos tanto quanto possível o percurso dos licenciados pelo Técnico, e não há grande diferença entre a Química e outras licenciaturas em relação ao trabalhar no ramo.
E por outro lado não explica a atracção de todas as licenciaturas com bio no nome, bioquímica inclusive.
Aliás, como bem defende o primeiro comentador, também eu julgo que o problema da Química, a exemplo da Matemática, reside no facto de a sua frequência no ensino superior exigir bases articuladas com o ensino secundário. Dizia-me tempos atrás, um catedrático de Química que levava grande parte do 1.º ano a ensinar as bases de Química (não fazendo parte do programa do secundário) absolutamente necessárias para caboucarem o exigente ensino universitário da Química. Ele sabia do que falava por experiência própria.Aliás, na Questão da Língua Portuguesa quantos licenciados não dão erros de palmatória? A exemplo, será que, no futuro, as faculdades ditas de Letras terão que dedicar-se a ministrarem esses conhecimentos por não terem sido ministrados no local devido e na hora própria?
Ahh, que saudades das minhas mistelas roxas de KMnO4 e das explosões de sódio metálico em H20 (bem, e de ser expulso do laboratório de química inorganica!) :-)
VR
(PS, desculpem a interrupção da interessante discussão)
Ao ler os artigos deste blogue e em seus autores, é na pessoa da Palmira (apesar de professora, que não sei se é) que os assuntos que apresenta e desenvolve são os mais credíveis, certamente por alguma competência e coerência em seu trabalho e investigação pelo conhecimento, o que não acontece com os seus restantes colegas por se arrogarem a tudo saberem e a dizerem tantos disparates, mas tantos disparates e com uma tal prepotência, que se tornam maus em todos os sentidos… É pena! Assim nessa fraca sabedoria desacreditam ainda mais o Ensino Universitário, o país e o professorado. E é por aqui nesta amostragem de textos e comentários que se entende o porquê de como tudo está e a quem se deve.
Obrigada
Não deixa de ser preocupante para os senhores responsáveis pelos cursos de Física em Aveiro, Braga, Coimbra etc..., pois a verdade é que alunos com universidades perto de casa preferem entrar em outras mais afastadas, e isto porque tal faculdade tem "melhor nome". Física e Engenharia Física, no Porto, preencheu todas as vagas. Hoje apanhei alguns caloiros (sou investigador de um instituto associado à UP) e fui-lhes mostrar o laboratório. O que para mim foi surpresa, era o local de onde vinham. Lisboa, Algarve, Evora, Pombal... melhor, vinham de todos os sitios do Pais!
Não quero com isto dizer que o curso do Porto é melhor que os outros, só quero dizer que às tantas o dep. de Física esforça-se mais para atrair alunos que os outros departamentos.
Concordo plenamente com o último post. Confirmo a história da distância, pois também tive com o Miguel durante o dia.
O departamento de Física da Universidade do Porto tem sido um departamento com sucesso, quando nos referimos à quantidade de alunos que atrai, devido às iniciativas desenvolvidas nos últimos anos. Individuos novos deram um novo ar ao departamento cheio de actividades.
Isto deve servir de exemplo para outras universidades.
Cumprimentos
Nuno Sousa
Concordo plenamente com o último post. Confirmo a história da distância, pois também tive com o Miguel durante o dia.
O departamento de Física da Universidade do Porto tem sido um departamento com sucesso, quando nos referimos à quantidade de alunos que atrai, devido às iniciativas desenvolvidas nos últimos anos. Individuos novos deram um novo ar ao departamento cheio de actividades.
Isto deve servir de exemplo para outras universidades.
Cumprimentos
Nuno Sousa
Olá Rolando:
Concordo plenamente que é necessário uma maior aproximação do ensino secundário e superior.
Mas, mais uma vez, a questão não é muito linear. Isto é, o ensino secundário é mais (ou devia ser) que a preparação para o superior. Aliás, tal como o superior devia ser mais que uma mera preparação para uma «profissão».
Eu dou Química Geral a não químicos já há uns anitos o que me permite acompanhar a evolução do resultado das várias restruturações. Ser-me-ia mais ou menos fácil desenhar curricula que evitassem o que o Rui Baptista diz e ter alunos no 1º ano bem preparados em Química o que nos permitiria dar outra Química Geral.
Mas curricula ideais para alunos universitários com Química no plano de curso não o seriam para os restantes alunos, aqueles que só veêm química no secundário. Isto é, os curricula do secundário devem ser desenhados, em minha opinião, para pôr os alunos a pensar quimicamente e dar-lhes alguma literacia química, não para os preparar para o superior.
Claro que se poderia mexer apenas no 12º ano e aí seria mais fácil. Aliás, acho que qualquer coisa seria melhor que o actual curriculo de 12º que parece feito de recortes do Reader's Digest (costumo dizer a Maria mas é um exagero) e em que a propósito de temas da «moda» se dá meio disfarçadamente alguma química.
Isto é, em vez de existir um fio condutor da matéria em que depois de esta consolidada se podem falar nesses recortes faz-se ao contrário.
Mas a existir outra reestruturação a mexida nos curricula teria de ser muito bem pensada, integrada e não remendos pontuais que transformam os programas em mantas de retalhos (com retalhos gigantescos, como o equilibrio químico, e partes fundamentais que foram simplesmente suprimidas...)
Caro Nuno Sousa:
Em primeiro lugar, parabéns à UP pela Química e Eng. Química :-)
Em relação à proveniência dos alunos, nós temos uma percentagem muito razoável de alunos de fora de Lisboa nos cursos mais procurados ( e com nota de entrada mais elevada) como Física Tecnológica, Aeroespacial, Biomédica, Arquitectura ou mesmo Civil. Nos outros nem por isso embora o esforço de divulgação seja comparável.
O Rui Rodrigues é um TóTó...
Olhando de fora (porque n�o sou especialista), acho que a Palmira tem raz�o quando afirma que a qu�mica pode ser mais do que polui�o, polui�o, polui�o. Perdoem-me a ousadia da sugest�o, mas para mim um qu�mico muito interessante � este, Michael Braungart:
http://www.mbdc.com/profile_mb.htm
E o mea culpa da qu�mica � importante... N�o se pode verdadeiramente resolver os problemas que c� est�o sem se ter uma no�o clara do (des)conhecimento que os criou. Creio que esta afirma�o n�o � tamb�m, incompat�vel com Einstein, que dizia que n�o podemos resolver certos problemas com a mesma mentalidade que os criou...
E � por isso que a qu�mica � um dom�nio t�o exigente: n�o basta fazer mistelas! � tamb�m preciso saber �desfaz�-las� de forma adequada...
Um abra�o
Adelaide Chichorro Ferreira
(No meu computador apareciam uns gatafunhos esquisitos, porque os acentos não passaram.Reenvio o meu comentário...)
Olhando de fora (porque não sou especialista), acho que a Palmira tem razão quando afirma que a química pode ser mais do que poluição, poluição, poluição. Perdoem-me a ousadia da sugestão, mas para mim um químico muito interessante é este, Michael Braungart:
http://www.mbdc.com/profile_mb.htm
E o mea culpa da química é importante... Não se pode verdadeiramente resolver os problemas que cá estão sem se ter uma noção clara do (des)conhecimento que os criou. Creio que esta afirmação não é também, incompatível com Einstein, que dizia que não podemos resolver certos problemas com a mesma mentalidade que os criou...
E é por isso que a química é um domínio tão exigente: não basta fazer mistelas! É também preciso saber desfazê-las de forma adequada...
Um abraço
Adelaide Chichorro Ferreira
17 de Setembro de 2007 22:27
Cara Adelaide:
Está a incorrer num erro comum, o de associar a química à poluição, nomeadamente quando diz que a química pode ser mais que poluição. Ou quando diz que o mea culpa da química é importante.
A química não tem que fazer mea culpa nenhuma, por exemplo, os suinicultores que continuam a querer poupar nos sistemas que a química desenvolveu para tratar os resíduos das suas explorações e os despejam na ribeira dos Milagres é que deviam não só fazer mea culpa como recorrer à química para não poluir. Ou os industriais que insistem em não tratar quimicamente os resíduos poluentes, etc..
Na realidade, se olhar bem para a história, a química não é a causa da poluição, bem pelo contrário tem dado uma contribuição completamente esquecida para evitar que a ganância de muitos agravem os problema da poluição.
Não fora a Química e, por exemplo, por questões sanitárias não teríamos água potável, etc.. A química não teve nada a ver com a poluição da Revolução Industrial ou com a poluição medieval associada às indústrias dos curtumes, etc.. A química vai tentando resolver os problemas de poluição que surgem, desfazer "mistelas" que não é a química que produz, muitas delas são consequências inevitáveis da biologia de muitos milhões de humanos e do que é necessário para os alimentar.
Agriculturas biológicas e romantismos afins são como as «quintas» da Maria Antoinette em Versalhes. Acho especialmente divertido serem os adeptos desses lirismos os mesmos que clamam por biocombustíveis. Não sei se é o bio no nome em vez de indústria química que os fascina mas ambos são completamente incompatíveis.Isto é, não se pode ter agricultura biológica e biocombustíveis ao mesmo tempo. A não ser, claro, que se reduza drasticamente a população mundial.
Em relação a Braungart e ao Greenpeace, devo confessar que quando era mais jovem (e ingénua) acreditava nas boas intenções desta organização. Um químico holandês meu amigo que trabalhou na sua juventudade (e na sua ingenuidade) para o Greenpeace abriu-me completamente os olhos.
Sou completamente céptica em relação à organização como organização embora reconheça que engana muita gente como esse meu amigo e como tal há gente muito válida a ela associada que faz um trabalho inestimável. Mas as grandes «causas» do Greenpeace são muita parra e pouca uva, infelizmente. Aliás, quase só parra e umas uvitas inconsequentes...
O M. Braungart trabalhou para a Greenpeace da mesma forma que trabalha para a indústria(como muitos outros). A mulher dele, Monika Griefahn, foi militante da Greenpeace, e mais tarde ministra do ambiente na Baixa Saxónia (Alemanha). Creio que ela faz ou fez parte do júri que atribui anualmente o Prémio Nobel Alternativo. A Greenpeace não existe em Portugal, mas apenas por razões de escala, e penso mesmo que nos fez falta isso, ao longo destes últimos 30 anos, em termos cognitivos. O livrito «craddle to craddle», a que me referi no post anterior, é interessante (tenho-o em versão inglesa e alemã, e posso emprestá-lo a quem quiser ou - vendo bem! - oferecê-lo à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra). A meu ver, aquelas ideias não são lirismos. Quanto à química ser necessária para tratar os resíduos e a água, é verdade, mas também se tem exagerado no cloro, tanto na própria composição dos resíduos como no tratamento da água. Nem toda a água que utilizamos necessitaria de ser tratada dessa forma. É claro que a química não é a culpada de tudo: a maneira como as sociedades se organizam também é, e até a cultura das pessoas! Mas eu, por exemplo, adiro convictamente à agricultura biológica. Não é lirismo, mas antes uma questão de valores, e sociológica, até. Por um lado já vi, e provei, do que a casa gasta. A agricultura biológica é um saber (e um desafio) importantíssimo que estamos em risco de perder irreversivelmente. Mas as raízes de ela ser tão posta em causa devem ser procuradas, entre outras coisas, no facto de hoje em dia se apregoar aos 4 ventos (com muita propaganda também) que a única perspectiva viável para o ser humano é viver encafuado em grandes cidades, alimentado por quilómetros a perder de vista de estufas cobertas por plásticos e «apaziguado» por batalhões de écrans.
Quanto à biologia de muitos milhões de humanos, ela biodegrada-se, ao contrário de muitos produtos sintéticos. Isto não é lirismo, mas a realidade da natureza. Por isso, concordo que a química não é a culpada de tudo! Se eu pudesse voltar atrás, estudava um pouco mais de física e de química (não sei mesmo se valeria a pena estudar economia...), mas não abdicava das Letras. Já vi que até para criticar eficazmente a química (e muitas outras coisas da nossa incultura) é preciso saber química - como o demonstram, aliás, muitos posts da Palmira. Felizmente tive oportunidade de me aperceber disso, porque leio outras línguas para além do português (no meu caso, o alemão). É uma bênção poder, vivendo e trabalhando em Portugal, olhar de vez em quando um pouco para além da borda do prato. Ou talvez não o seja assim tanto, porque também isso corre o risco de se perder.
Creio que devemos ponderar bem sobre o que está a acontecer: a colonização a que estaremos inevitavelmente sujeitos se deixarmos que se percam, entre nós, saberes importantíssimos, desde a Física à Química, passando pela Biologia, pela História e pelas línguas (obviamente que estou puxar a brasa à «minha» sardinha, a língua alemã...). E são muitas as áreas actualmente a ser afectadas por este furacão. Tudo isto merece reflexão.
Abraço
Adelaide Chichorro Ferreira
Já agora: há maneiras de tratar os resíduos das suiniculturas.Confio na Ciência! Mas creio que a Biologia também desempenha aí um papel importante, ou não? O que é mais difícil de tratar é a nossa cultura (muito machista, a bem dizer...) de adesão à «carnunça» de porco dia-sim-dia-sim, claro. Como dizia o outro, «não há necessidade». Biocombustíveis: coloca-se o problema de saber se queremos os campos para alimentar gente (ou porcos e vacas...) ou para alimentar carros. Eu acho que eles são precisos para alimentar gente, em primeiro lugar, e todos os restantes seres vivos de que dependem ecossistemas diversos. Assim como devem servir para alimentar os cavalos e bois que poderiam, muito bem, substituir na agricultura biológica artefactos como tractores, pois estes têm o inconveniente de compactar excessivamente os solos, além de os poluir.
Abraço
Adelaide Chichorro Ferreira
Voltando ao tema do post estive a fazer as contas e se os cursos de engenharia química têm uma taxa de ocupação de quase 80%, o panorama na química é muito diferente.
Há oito licenciaturas oferecidas a nível nacional com uma taxa de ocupação global é de 55 por cento.
Cara Adelaide:
Em relação ao tratamento da água com cloro é necessário um excesso de cloro para garantir que a água tratada não é contaminada desde as estações de tratamento até às nossas torneiras.
Como é óbvio, não considero que a química como ciência seja culpada de algo, assim como não considero que seja a física a culpada da bomba atómica. Aquilo que fazemos com o conhecimento científico não pode ser considerado culpa desse conhecimento mas sim de quem toma as decisões.
Em relação à substituição de tractores por bois e cavalos, não sei se sabe que o metano é um grande contributor para o efeito de estufa que apresenta um efeito entre 20 a 30 vezes superior ao do CO2.
Muito metano tem origem antropogénica essencialmente devido a explorações pecuárias e cerealíferas (plantações de arroz. De facto, é produzido em doses massivas no sistema digestivo de animais ruminantes.
A Palmira da Silva está mal informada sobre aquilo que os ambientalistas pensam do binómio agricultura- biocombustíveis, e levanta uma série de preconceitos, já habituais naqueles que se demarcam dos movimentos ambientalistas por os considerarem "atrasados" e um travão ao "progresso".
Ao contrário do diz Palmira da Silva os movimentos ambientalistas têm lutado contra a devastação de áreas enormes de floresta (Indonésia, Malásia) em nome dos biocombustíveis. Não somos cegos nem surdos. Não acreditamos que a egoísta e obesa mobilidade individual ocidental valha a destruição da biodiversidade do planeta. Também não são os bois que irão resolver o problema, nem sequer a agricultura biológica pode viver sem tractores. Ninguém propõem o regresso à Idade da Pedra. Nem o Greenpeace. O que se quer é menos desperdício e mais racionalidade. Menos carne, mais leguminosas, mais moderação alimentar. Mais ciência menos preconceitos e muito menos obscurantismo.
A agricultura biológica pode alimentar a actual população. Vários estudos o demonstram vide
http://www.ns.umich.edu/htdocs/releases/story.php?id=5936
A propósito, gostaríamos de saber onde é que o Greenpeace erra ? Quais são os pecados originais de uma organização que há-de ter (e tem) algumas ovelhas negras entre milhares de funcionários. Em que medida faz o Greenpeace um mau trabalho em prol da defesa do ambiente ?
Pela minha parte, só me posso sentir inspirado por milhares de voluntários anónimos (diga-me o nome, assim de repente, de um conhecido activista do Greenpeace?) que dão diariamente o corpo ao manifesto.
A Química, a Religião, a Política, a Ciência em geral não são o Mal, nem nunca o poderiam ser. São apenas instrumentos. Mas, em nome da Ciência cometem-se muitos crimes contra a Humanidade, contra o Planeta, e o problema é que muitos cientistas não são capazes de um auto-crítica e de colocar um travão seja à experimentação (seja a bomba atómica ou a armas biológicas)ou um modelo voraz (mais consumo = mais oportunidades de progresso científico) que nos está a deixar depauperados. Para muitos cientistas, a ciência tornou-se a religião que tudo pode resolver. Mesmo as depressões mais profundas se resolvem com químicos...será isso que queremos ? Somos mais felizes hoje do que éramos há 25 anos ? Porquê ? Porque passamos férias em Punta Cana e temos um plasma de 70 por 80 em casa ? Ou porque nos podemos empanturrar de comida com uma facilidade inimaginável há alguns anos ?
Vamos muito depressa, é certo, mas para onde ?
Apregoar a austeridade é extremamente ingrato e não granjeia popularidade nenhuma, nem dá votos. Mais vale vender ilusões como fazem os políticos.
João Vaz
Eng. Mecânico
Figueira da Foz
O problema do metano é relevante. Mas há também também grandes quantidades de metano a ser libertado para a atmosfera, de origem não antropogénica, devido ao degelo, *o que ainda mais nos deveria fazer ver que há que reduzir urgentemente o consumo de combustíveis fósseis*, porque as mudanças climáticas têm efeitos devastadores. No telejornal alemão dizia-se, no domingo passado, que já se passa entre o Atlântico e o Pacífico, próximo do pólo norte. Ver um outro vídeo (em alemão...) sobre o mesmo assunto aqui: http://www.spiegel.de/wissenschaft/natur/0,1518,388663,00.html
A zona de gelo que havia ao longo daquela zona da Gronelândia diminuiu tanto nas últimas décadas que os barcos já conseguem atravessar. Ora esta possibilidade só estaria prevista, segundo se afirmava no telejornal alemão de domingo (ARD), para daqui a 30 ou 40 anos! Portanto, não é tanto o metano de origem antropogénica que está em causa. Para cultivar arroz para vegetarianos (ou «mistos»), não são precisos assim tantos bois! O problema não é tanto o CO2 que é utilizado na produção (um tractor ou outro, etc.), mas antes aquele que é necessário emitir para transportar para longe toda e qualquer produção, com a agricultura megalómana actual. Aí é que está o busílis maior, e portanto a coisa só se resolve com uma mudança *cultural* e *política* no sentido de uma agricultura de proximidade, sem químicos de síntese ou transgénicos.
Quando digo que os tractores poluem os terrenos não estou a inventar: o mesmo acontece com auto-estradas ao lado de terrenos de cultivo. Porque não se coloca, ao menos, painéis solares fotovoltaicos ao longo das auto-estradas que temos, evitando construir muitas mais? E porque não se obtém metano (energia) a partir dos resíduos agrícolas (excluindo plásticos de síntese química, ou embalagens de pesticidas, etc.)? Era bem mais útil do que andar para aí a pespegar barragens e incineradoras por tudo quanto é sítio, para produzir energia que nem precisamos, se calhar, de gastar. Basta ver o desperdício que por aí há também...
Um abraço
Adelaide Chichorro Ferreira
Embora tenha chegado um pouco atrasado a este diálogo, gostaria de compreender os meandros da colocação dos alunos nos cursos superiores. Dou apenas dois exemplos. O primeiro refere-se ao Curso de Eng. Química do IST. Das 70 vagas 'parece' que foram preenchidas 50. Digo 'parece' porque estas 50 vagas foram preenchidas com 26 alunos que efectivamente escolheram Engenharia Química como primeira opção. Os outros 24 preferiam outros cursos muito diversificados, incluindo Medicina, Radioterapia, Eng. Espacial, etc. O caso da Faculdade de Engenharia do Porto é ainda mais difícil de entender. Dos 65 lugares preenchidos, apenas 19 escolheram Engenharia Química como primeira opção. As escolhas de primeira opção dos outros 46 alunos incluem cursos tão diversos como Medicina, Desporto, Eng. Electrotécnica e de Computadores, Enfermagem, Eng. do Ambiente, Radiologia, Fisioterapia, Eng. Industrial e de Gestão, etc. Como disse, desconheço os critérios de colocação dos alunos, e não sei se há muito a celebrar na actual situação. Cursos há em que de 40 colocados apenas 2 ou pouco mais os escolheram como primeira opção.
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