A reacção química em causa é uma reacção redox, isto é, uma reacção em que há transferência de electrões e uma espécie se oxida (perde electrões) e outra se reduz (ganha electrões). As reacções redox são reacções comuns, por exemplo quando usamos lixívia ou água oxigenada (a «lixívia» delicada é uma solução de água oxigenada ou peróxido de hidrogénio) para tirar nódoas estamos a tentar oxidar o lixo corado de forma a que este não absorva no visível e não o vejamos. Nesta «limpeza» de nódoas, os electrões são transferidos directamente entre as espécies químicas envolvidas. Numa pilha, «obrigamos» a transferência de electrões a dar-se à superfície de eléctrodos ligados a um circuito externo alimentando, por exemplo, um telemóvel. No esquema seguinte é representada uma pilha de combustível em que o combustível é hidrogénio, em meio ácido.
O eléctrodo negativo (de menor potencial) ou ânodo é o eléctrodo à superfície do qual se dá a reacção de oxidação que liberta electrões, que circulam acendendo a lâmpada e são consumidos à superfície do eléctrodo positivo ou cátodo onde se dá a reacção de redução, neste caso a redução de oxigénio. As reacções envolvidas são as seguintes:
reacção catódica (redução) O2+ 4H+ + 4e- ⇒ 2H2O
reacção anódica (oxidação) ( H2 ⇒ 2H++ 2e- ) x2
reacção global O2 + 2H2 ⇒ 2 H2O
Numa era em que os dispositivos móveis fazem parte indispensável do nosso quotidiano, o seu desenvolvimento, nomeadamente a utilização de processadores mais potentes, melhores écrans e a introdução de mais funções, estava dependente da capacidade e autonomia das baterias disponíveis. E digo estava porque os últimos dias têm sido fertéis em anúncios que alterarão o cenário actual.
A Samsung há muito que anuncia o seu interesse em equipar os dispositivos móveis que vende com células de combustíveis, nomeadamente computadores portáteis, PDA's e telemóveis. A semana passada o gigante sul-coreano anunciou que lançará, muito provavelmente ainda em 2007, um portátil, o Sense Q35, alimentado por uma célula de combustível com uma autonomia assombrosa: podemos utilizá-lo oito horas por dia, cinco dias por semana durante um mês sem recarga.
Uma empresa norte-americana, a Medis, antecipou-se no entanto à Samsung e a sua página anuncia já a primeira célula de combustível comercial, o Medis 24/7 Power Pack que servirá para carregar baterias convencionais de telemóveis, ipods e dispositivos similares. Os progressos do «primo» mais potente do 24/7, que se destina a recarregar portáteis, serão apresentados no Intel Developer Forum, que começou hoje em São Francisco.
Embora quando se fala em células de combustível se pense imediatamente em pilhas de hidrogénio como a representada, na realidade pode-se usar qualquer combustível e a Samsung escolheu o metanol na sua Direct Methanol Fuel Cell. A Medis optou por hidrogénio produzido in situ a partir de um sal de borohidreto (BH4-) - não consegui descobrir qual, talvez borohidreto de sódio como utiliza a Millenium Cell.
A vantagem das pilhas de combustível em relação às restantes são óbvias: apresentam autonomia e vida útil (desde que seja fornecido o combustível e oxigénio ou ar) muito superior a todas as tecnologias de baterias actualmente disponíveis.
O Brasil será já nos dias 24, 25 e 26 do corrente mês o anfitrião de um evento, o Brasil H2 Fuel Cell Expo/Seminar 2007, em que universitários e investigadores de empresas como a General Motors ou a BASF Fuel Cells, discutirão temas relacionados com a produção, armazenamento, distribuição, tecnologia e aplicações das pilhas de hidrogénio! Como os anúncios da Samsung e da Medis indicam, a energia do futuro está a chegar!
7 comentários:
Prezada Palmira:
Como eu admiro a sua forma de explicar as coisas mais complexas de uma maneira simples.Para além de admiração, confesso-o tenho uma enorme inveja. Uma saudável inveja!
E assim nos vai mantendo a par de novidades científicas com aplicação tecnológica à mão de semear: quem não deseja uma pilha de hidrogénio muito mais durável que a Duracell (será assim que se escreve?) que dura, dura...dura!
É sempre bom realmente lembrar que as células de metanol são aquelas que estão actualmente a ser mais utilizadas. O hidrogénio é realmente o "santo graal" desta tecnologia, mas a situação está ainda muito incipiente devido a diversas limitações. O metanol, por seu lado, vai de vento em popa nesta tecnologia, sendo apenas necessário resolver os problemas de segurança (sempre é um material inflamável) e os do transporte de protões pelo electrólito (quase sempre uma membrana, local onde está a maior limitação da tecnologia).
Obrigado Palmira pela chamada de atenção para estes produtos, os quais poderão mudar, em muito, o consumo de energia no futuro.
"A semana passada o gigante norte-coreano anunciou "...
O gigante SUL-coreano, como é óbvio.
Bom texto.
Cumpts
OOps:
Obrigado caro anónimo, esta gralha de facto é imperdoável :-)
Mas está bem escrito - "sul coreano", não há gralha nenhuma.
o metanol faz também parte da composição dos quimicos para revelar fotografia?
Caro(a) Palavra Alada:
Tanto quanto saiba a única utilização de metanol em fotografia é a limpeza de lentes e outro material óptico.
Pode ser que algum leitor menos ignorante de fotografia que eu conheça outra utilização mas pelo menos as receitas que preparei a pedido de alguns amigos apaixonados por fotografia mas sem conhecimentos de química eram todas de soluções aquosas sem metanol na composição.
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