segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Conflito entre fé e ciência na Índia

O Ramayana, a «viagem de Rama», é um épico sânscrito divido em sete Kandas (cantos) com um total de 24 mil versos atribuído ao poeta/profeta Valmiki. Existem muitas dúvidas sobre a autoria dos primeiro e último cantos, aqueles que transformam o poema numa das escrituras sagradas do hinduismo, cepticismo assente nas muitas diferenças de estilo e algumas contradições de conteúdo entre esses dois cantos e o resto do livro.

Esta grandiosa obra literária conta a história de Rama, estabelecido como avatar ou reencarnação do deus Vishnu nos cantos I e VII. Vishnu integra a tríade ou trindade hindu: Brahma, Vishnu e Shiva e supostamente encarnou como Rama a pedido de Brahma e restantes deuses para matar o demónio (rakshasa) Ravana, rei da ilha de Lanka (actual Sri Lanka).

Depois de descrever intrincadas manobras políticas na corte do principado de Ayodhya que conduzem ao exílio de Rama, o Ramayana conta-nos como Sita, a esposa de Rama nesta história e uma reencarnação da deusa Lakshmi, é raptada por Ravana.

Na busca pela esposa, Rama é avistado por Sugriva ou Sugreeva, filho de Surya, o deus hindu do Sol, igualmente exilado devido a um desentendimento com o irmão Vali, o rei dos vanara ou macacos. Hanuman, concebido nalgumas versões por envolvimento de um pudim voador e cuja paternidade é atribuída ao deus do vento, Vayu, é enviado para investigar e forja uma aliança entre ambos. Com o auxílio de Rama, Sugriva torna-se rei de Kishkindha (o reino dos macacos) e ajuda por sua vez Rama a recuperar a esposa. Hanuman voa sobre as águas e confirma que Sita está presa em Lanka. Uma vez que mais ninguém tem as capacidades aladas de Hanuman, para salvar Sita, Rama e os macacos constroem uma «ponte» entre a Índia e Lanka. Rama mata o demónio, submete a esposa a uma prova de fogo, literalmente, para confirmar que não prevaricou durante o cativeiro e volta para Ayodhya.

O poema é extraordinariamente belo, inspirou, para além de diversas versões da história em todo o sudoeste asiático, inúmeros poetas e outros artistas. O problema é que há quem acredite literalmente nas mitologias e alegorias do poema, nomeadamente alguns hindus acreditam piamente que os baixios e recifes de coral conhecidos como Ram Setu - ou ponte de Adão, aparentemente os seguidores de outras escrituras acreditam que o construtor de pontes foi esta outra figura mitológica - são na realidade uma ponte construída por um bando de macacos sob ordens de Rama/Vishnu. Tal como os criacionistas, quando há conflito entre fé e ciência, recusam aceitar as evidências científicas ou distorcem essas evidências de forma a coaduná-las com as suas crenças.

Em causa está um projecto que se arrasta há aproximadamente 150 anos e que pretende ligar a baía ou estreito de Palk ao golfo de Mannar criando um canal navegável que permitirá poupar cerca de 800 quilómetros de navegação aos navios que actualmente têm de circumnavegar o Sri Lanka. Os hindus mais fundamentalistas opõem-se veeementemente ao projecto e pretendem que o governo declare o Ram Setu património mundial. Como consequência de uma petição, o Supremo Tribunal indiano suspendeu em 31 de Agosto todos os trabalhos que possam danificar a ponte divina.

O Archaeological Survey of India, ASI, depositou entretanto no Supremo um documento em que confirma que a suposta ponte é apenas uma formação natural que se deve «a milénios de acção das ondas e sedimentação». Acrescentando que os autores da petição que suspendeu os trabalhos interpretaram mal as imagens da NASA que supostamente confirmariam as pretensões religiosas e clarificando que os bancos de areia e corais não podem ser declarados monumentos nacionais ou mundiais com base em mitologias, sem qualquer suporte histórico ou científico.

O documento do ASI enfureceu ainda mais os fundamentalistas hindus que acham que está em marcha uma conspiração para denegrir as crenças e factos hindus. O presidente do partido nacionalista hindu, Bharatiya Janata Party (BJP), cujos apoiantes bloquearam estradas em protesto pelo documento do ASI, afirmou:

«O Governo pôs em curso um processo que questiona crenças religiosas. Nós lançaremos um movimento nacional se este documento blasfemo que questiona a própria existência do Senhor Ram não for retirado».

O ministro Bhardwaj já sossegou os insurgentes informando que os parágrafos «blasfemos» serão retirados e que «o Senhor Rama é parte integrante da cultura e ética indiana e não pode ser matéria de debate. Não podem existir dúvidas sobre a existência de Rama».

Não posso deixar de achar curioso que alguns fazedores de opinião descrevam como «laicidade sádica» assentar decisões políticas em evidências científicas e históricas sólidas e não na fé!

6 comentários:

Anónimo disse...

"Tal como os criacionistas, quando há conflito entre fé e ciência, recusam aceitar as evidências científicas ou distorcem essas evidências de forma a coaduná-las com as suas crenças."

Os evolucionistas, como todas as outras pessoas, têm uma visão do mundo aceite inteiramente pela fé.

Que evidências científicas existem de que o Universo explodiu por acaso a partir do nada? Se no princípio não havia nada, o que é que explodiu?

Que evidências científicas existem de que a vida surgiu por acaso a partir de químicos inorgânicos?

Que evidências existem de que as mutações aleatórias são capazes de gerar informação genética nova, codificando estruturas e funções inovadoras e mais complexas?

Que evidências existem de que a selecção natural aumenta a informação genética nos genomas?

Que evidências existem de que o sistema solar foi o produto do colapso aleatório de uma nebulosa?

Os evolucionistas, como todas as outras pessoas, têm uma visão do mundo aceite inteiramente pela fé.

Não foram os evolucionistas que distorceram o suposto "junk-DNA" para coadoná-lo com as suas crenças?

Não foram os evolucionistas que distorceram os supostos órgãos vestigiais para coadoná-lo com as suas crenças?

Não foram os evolucionistas que distoceram os Neandertais, a Lucy, o Homo Habilis, para não falar nos fraudulentos Homem de Piltdown?

Não foram os evolucionistas que "criaram" o Homem de Nebraska a partir de o dente de um porco ou o Homem de Orce a partir do crânio de um burro?

Não foram os evolucionistas que confundiram as "penas de dinossauros" com fibras de colagénio?


Tal como a visão do mundo dos indus, a mesma não pode ser confirmada empiricamente.

As mitologias antigas têm certamente traços de uma verdade original, progressivamente corrompida. É interessante notar que em mais de 150 culturas da antiguidade encontramos relatos da queda do homem e de um dilúvio global. Incluindo os Vedas.

Os evolucionistas, como todas as outras pessoas, têm uma visão do mundo aceite inteiramente pela fé.

Anónimo disse...

O criacionismo não se preocupa com mitos e lendas, que são corruptelas da verdade bíblica, mas com ciência pura e dura.

Um dos mais difíceis enigmas da ciência de hoje é a origem e a estrutura do DNA.

Trata-se de um verdadeiro puzzle.

O DNA contém a informação hereditária presente nos seres humanos e nos demais organismos.

Francis Crick afirmou que a probabilidade de o DNA surgir por acaso é simplesmente: zero!

Os evolucionistas (Dawkins, Miller, etc), pensavam que 97% do DNA era lixo, mas a ciência demonstrou que o único lixo era realmente a sua visão cientificamente empobrecida do DNA!

Para os cientistas contemporâneos, um dos maiores desafios consiste em descodificar os mistérios do maior puzzle alguma vez construído: o DNA.

Numa versão muito simplificada, poderíamos dizer que se trata de uma sequência inabarcável de letras que dão corpo a uma linguagem.

Mas o DNA é muito mais complexo, na medida em contém diferentes níveis de informação e meta-informação, isto é, informação sobre a informação, altamente complexa, integrada, interdependente e miniaturizada.

Como poderia o DNA ter surgido e evoluído de forma aleatória, cega e desconexa? Ninguém sabe.

A informação contida no DNA encontra-se armazenada num código, composto de químicos chamados nucleótidos, que são as famosas 4 letras AGCT.

Estas bases, lidas 3 de cada vez (codões) constroem até 64 diferentes palavras.

Estas, ordenadas em sequências de milhões ou até biliões, contém a informação necessária ao fabrico, manutenção e reprodução dos vários organismos, à semelhança das palavras que, num livro de instruções, dão informação sobre a forma de construir um avião ou um carro.

O DNA é um suporte de informação, como sucede com um livro.

Mas a informação, essa, não se confunde com o respectivo suporte.

Assim como a informação contida num livro tem uma origem inteligente, também a informação contida no DNA tem uma origem inteligente.

Não se conhece qualquer mecanismo não inteligente de criação de informação.

Podemos pensar no DNA como uma biblioteca com livros ou manuais de instrução.

No caso do DNA, trata-se das instruções necessárias ao fabrico de seres vivos altamente complexos.

O genoma é a biblioteca. Cada cromossoma é equiparável a um livro. Os genes são as frases. Os capítulos são grupos de genes que são lidos de forma coordenada.

Refira-se que a verdadeira realidade do DNA é ainda mais complexa, como nos revela o projecto ENCODE, o que só corrobora a posição criacionista.

Quanto mais complexo e integrado um mecanismo, tanto menos provável é o mesmo ter surgido por mero acaso.

Os cientistas admitem que o DNA é o código mais sofisticado que se conhece.

Bill Gates disse que é o software mais complexo que se conhece, com uma capacidade incrível de armazenamento de informação.

Curiosamente, os genes conseguem armazenar vários níveis de informação no mesmo espaço.

Se alguém hoje conseguisse construir alguma coisa semelhante diríamos que era um génio, com capacidades sobre-humanas.

A Bíblia afirma que o DNA foi criado por um Deus auto-descrito como VERBO, PALAVRA.

A congruência entre o DNA (a maior sequência de palavras que se conhece) e o VERBO não poderia ser maior.

Os criacionistas não vêm qualquer confliuto entre ciência e fé, mas apenas entre a a visão naturalista do mundo e a visão bíblica do mundo.

Joana disse...

Ó Jónatas Machado:

Continua sem coragem para assinar o lixo que regurgita, não é?

E continua a aldrabar, deturpar, inventar à medida da defesa eloquente dos disparates em que acredita!

Já parece o outro criacionista convicto que a Palmira linka, que embora na prisão (e por lá ficará muitos anos) por muitos anos continua a cruzada contra a ciência dos fan
aticos cristãos, a mesma do Jónatas, que por acaso até copia coisas do site dele.

E copia as tácticas mentirosas, desonestas e completamente falsas. Que incluem inventar citações de cientistas conhecidos, como o Francis Crick, um ateu menos militante que o James Watson é certo.

Não sei porque todos os criacionistas podem ser bem descritos como o Kent Hovind:

Kent Hovind: creationist liar and evil, evil, evil

Joana disse...

Só escreveu uma coisa acertada: que há conflito entre a ciência, a visão naturalista do mundo, e a fé.

Por muita treta que se escreva sobre a harmonização ciência e religião, enquanto existirem pessoas como o Jónatas que escolhem a forma mais preguiçosa e barata de resolver as coisas, que escolhem a fé e ignoram a razão, haverá conflito entre religião e ciência.

E continuará a existir até toda a gente resolver dar uso aos neurónios com que nasceram em vez de aceitar pela fé, sem questionar nem pôr à prova, todos os disparates com que os alimentam.

Unknown disse...

Joana:

Os criacionistas não produzem nada, limitam-se a pregar aos 7 ventos ai Jesus que a visão científica do mundo é um ataque às histórias da carochinha em que acreditamos.

Para suportar essas histórias da carochinha dedicam-se à tarefa mais desonesta intelectual que conheço: quote mining.

Há livros inteirinhos de aldrabões criacionistas dedicados à tarefa. Pelos vistos o Jónatas tem a colecção toda. Os comentários dele são copiados integralmente desses livros ou de sites devotados à sua divulgação.

Mentirosos e evil, evil, evil...

Ver

Talk Origins:
The Quote Mine Project
Or, Lies, Damned Lies and Quote Mines

na wikipedia

no Panda's Thumb.

Como diz o Panda:

When an anti-evolutionist attempts to publicly “explain” a scientific paper, it usually signals two things: you should read the paper for yourself, and you should not be surprised to find that the creationist “explanation” misrepresents what the paper really says.

Os disparates com que o Jónatas conspurca todos os blogs de ciência nacionais são exemplos perfeitos...

Unknown disse...

Na Wikipedia e do livro de Theodosius Dobzhansky "Nothing in Biology Makes Sense Except in the Light of Evolution":

Their [Creationists'] favorite sport is stringing together quotations, carefully and sometimes expertly taken out of context, to show that nothing is really established or agreed upon among evolutionists. Some of my colleagues and myself have been amused and amazed to read ourselves quoted in a way showing that we are really antievolutionists under the skin.

Também no Panda, Mick Matzke explica como foi vendido pelos IDiotas como anti-evolucionista através de quote-minig de um artigo que publicou na Nature :)

Anyone who has been a “creationism watcher” for any length of time is familiar with the venerable creationist tactic of “quote mining.” Since creationists, essentially universally, can’t (or don’t want to) deal with actual scientific data pertaining to evolution, they attempt maintain a facade of respectibility by quoting statements from biological authorities.

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